ANLISE DOS POEMAS POTICA ANA CRISTINA CSAR 3

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ANÁLISE DOS POEMAS POÉTICA ANA CRISTINA CÉSAR (3)

ANÁLISE DOS POEMAS POÉTICA ANA CRISTINA CÉSAR (3)

A poética que desafina “Lá vai a morte afinando o coro que desafina …

A poética que desafina “Lá vai a morte afinando o coro que desafina … Se desse tempo eu falava do salto de Ana Cristina” TRECHO DE Cacaso ‘SURDINA’

COMPOSIÇÃO DA OBRA Poética é composta de seis livros, cuja organização foi cronológica, embora

COMPOSIÇÃO DA OBRA Poética é composta de seis livros, cuja organização foi cronológica, embora muitos leitores de Ana César prefiram começar com o livro Inéditos e Dispersos, pois sua temática e forma parece mais próxima ao que comumente aliamos à poesia. 1) Cenas de Abril – 1979 2) Correspondência Completa – 1979 3) Luvas de Pelica – 1980 4) A Teus Pés – 1982 – reúne os livros Cenas de Abril, Correspondência Completa, Luvas de Pelica 5) Inéditos e Dispersos* – 1985 – organizado por Armando Freitas Filho 6) Antigos e soltos – 2008 – poemas e prosas da pasta rosa 7) O livro ainda possui uma seção intitulada “Visita à oficina”. Nela estão poemas inéditos de Ana César.

Características marcantes da obra ANA CRISTINA CÉSAR Poética

Características marcantes da obra ANA CRISTINA CÉSAR Poética

1 - PRESENÇA DO FEMININO v O eu poético criado por Ana César é

1 - PRESENÇA DO FEMININO v O eu poético criado por Ana César é delicadamente aberto sobre o corpo e a sexualidade. v. Um mundo intimista puramente feminino revela se em vários de seus poemas. v. Adjetivação no gênero feminino. v. Presença do cotidiano.

OBSERVE: PRESENÇA DO FEMININO 1. Samba Canção; 2. Anônimo; 3. Arpejos; 4. Conversas de

OBSERVE: PRESENÇA DO FEMININO 1. Samba Canção; 2. Anônimo; 3. Arpejos; 4. Conversas de Senhora; 5. Noite de Natal; e 6. Cabeceira.

SAMBA-CANÇÃO Tantos poemas que perdi. Tantos que ouvi, de graça, pelo telefone – taí,

SAMBA-CANÇÃO Tantos poemas que perdi. Tantos que ouvi, de graça, pelo telefone – taí, eu fiz tudo pra você gostar, fui mulher vulgar, meia bruxa, meia fera, risinho modernista arranhando na garganta, malandra, bicha, bem viada, vândala, talvez maquiavélica, e um dia emburrei me, vali me de mesuras (era comércio, avara, embora um pouco burra, porque inteligente me punha logo rubra, ou ao contrário, cara pálida que desconhece o próprio cor de rosa, e tantas fiz, talvez querendo a glória, a outra cena à luz de spots, talvez apenas teu carinho, mas tantas, tantas fiz. . .

ANÔNIMO Sou linda; quando no cinema você roça o ombro em mim aquece, escorre,

ANÔNIMO Sou linda; quando no cinema você roça o ombro em mim aquece, escorre, já não sei mais quem desejo, que me assa viva, comendo coalhada ou atenta ao buço deles, que ternura inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no cinema é escuro e a tela não importa, só o lado, o quente lateral, o mínimo pavio. A portadora deste sabe onde me encontro até de olhos fechados; falo pouco; encontre; esquina de Concentração com Difusão, lado esquerdo de quem vem, jornal na mão, discreta.

ARPEJOS* "Acordei com uma coceira terrível no hímen. Sentei no bidê com um espelhinho

ARPEJOS* "Acordei com uma coceira terrível no hímen. Sentei no bidê com um espelhinho e examinei minuciosamente o local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa não percebem que um rouge a mais tem significado a mais. Passei uma pomada branca até que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante. Com essa murcharam igualmente meus projetos de ir de bicicleta à ponta do Arpoador. O selim poderia reavivar a irritação. Em vez decidi me dedicar à leitura. " *Sequência de todas as notas de um acorde.

NOITE DE NATAL Estou bonita que é um desperdício. Não sinto nada, mamãe Esqueci

NOITE DE NATAL Estou bonita que é um desperdício. Não sinto nada, mamãe Esqueci Menti de dia Antigamente eu sabia escrever Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída com desvelo técnico. Freud e eu brigamos muito. Irene no céu desmente: deixou de trepar aos 45 anos Entretanto sou moça estreando um bico fino que anda feio, pisa mais que deve, me leva indesejável pra perto das botas pretas pudera.

CABECEIRA Intratável. Não quero mais pôr poemas no papel nem dar a conhecer minha

CABECEIRA Intratável. Não quero mais pôr poemas no papel nem dar a conhecer minha ternura. Faço ar de dura, muito sóbria e dura, não pergunto "da sombra daquele beijo que farei? " É inútil ficar à escuta ou manobrar a lupa da adivinhação. Dito isto o livro de cabeceira cai no chão. Tua mão que desliza distraidamente? sobre a minha mão

NOITE CARIOCA Diálogo de surdos, não: amistoso no frio Atravanco na contramão. Suspiros no

NOITE CARIOCA Diálogo de surdos, não: amistoso no frio Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo.

2 CONFESSIONAL, NÃO AUTOBIOGRÁFICO v. Evidencia um trabalho intimista. v. Cria uma escrita que

2 CONFESSIONAL, NÃO AUTOBIOGRÁFICO v. Evidencia um trabalho intimista. v. Cria uma escrita que instiga o leitor a saber da intimidade do autor construída literariamente (não são textos de um diário da vida particular de Ana). v Limite permeável entre a confissão e o fingimento. v. Uso de primeira pessoa.

OBSERVE: CONFESSIONAL, NÃO AUTOBIOGRÁFICO 1. Jornal íntimo; 2. 16 de junho; 3. 18 de

OBSERVE: CONFESSIONAL, NÃO AUTOBIOGRÁFICO 1. Jornal íntimo; 2. 16 de junho; 3. 18 de fevereiro; 4. 33ª poética; 5. Meia noite, 16 de junho; e 6. Correspondência completa.

JORNAL ÍNTIMO à Clara 30 de junho Acho uma citação que me preocupa: “Não

JORNAL ÍNTIMO à Clara 30 de junho Acho uma citação que me preocupa: “Não basta produzir contradições, é preciso explicá-las”. De leve recito o poema até sabê-lo de cor. Célia aparece e me encara com um muxoxo inexplicável. 29 de junho Voltei a fazer anos. Leio para os convidados trechos do antigo diário. Trocam olhares. Que bela alegriazinha adolescente, exclama o diplomata. Me deitei no chão sem calças. Ouvi a palavra dissipação nos gordos dentes de Célia. 27 de junho Nossa primeira relação sexual. Estávamos sóbrios. O obscurecimento me perseguiu outra vez. Não consegui fazer as reclamações devidas. Me sinto em Marienbad*** junto dele. Perdi meu pente. Recitei a propósito fantasias capilares, descabelos, pelos subindo pelo pescoço. Quando Binder perguntou do banheiro o que eu dizia respondi “Nada” funebremente. * obnubilada - escurecida ** Mike Binder (Detroit, 2 de junho de 1958) é um premiado cineasta, roteirista, produtor e ator norteamericano ***L'Année dernière à Marienbad (O ano passado em 27 de junho Marienbad) é um filme multinacional lançado em 1961, com Célia sonhou que eu a espancava até quebrar seus direção de Alain Resnais e roteiro original de Alain Robbedentes. Passei a tarde toda obnubilada*. Grillet Datilografei até sentir câimbras. Seriam culpas suaves. Binder ** diz que o diário é um artifício, que não sou sincera porque desejo secretamente que o leiam. Tomo banho de lua.

JORNAL ÍNTIMO 26 de junho Célia também deu de criticar meu estilo nas reuniões.

JORNAL ÍNTIMO 26 de junho Célia também deu de criticar meu estilo nas reuniões. Ambíguo e sobrecarregado. Os excessos seriam gratuitos. Binder prefere a hipótese da sedução. Os dois discutem como gatos enquanto rumbas me sacolejam. 25 de junho Quando acabei o jardim de caminhos que se bifurcam uma urticária me atacou o corpo. Comemos pato no almoço. Binder me afaga sempre no lugar errado. 27 de junho O prurido* só passou com a datilografia. Copiei trinta páginas de Escola de mulheres no original sem errar. Célia irrompeu pela sala batendo com a língua nos dentes. Célia é uma obsessiva. * prurido: comichão/ desejo intenso/ estado de indecisão 28 de junho Cantei e dancei na chuva. Tivemos uma briga. Binder se recusava a alimentar os corvos. Voltou a mexericar o diário. Escreveu algumas palavras. Recurso mofado e bolorento! Me chama de vadia para baixo. Me levanto com dignidade, subo na pia, faço um escândalo, entupo o ralo com fatias de goiabada. 30 de junho Célia desceu as escadas de quatro. Insisti no despropósito do ato. Comemos outra vez aquela ave no almoço. Fungo e suspiro antes de deitar. Voltei ao

16 DE JUNHO "Posso ouvir minha voz feminina: estou cansada de ser homem. ngela

16 DE JUNHO "Posso ouvir minha voz feminina: estou cansada de ser homem. ngela nega pelos olhos: a woman left lonely*. Finda se o dia. Vinde meninos, vinde a Jesus. A Bíblia e o Hinário no colinho. Meia branca. Órgão que papai tocava. A bênção final amém. Reviradíssima no beliche de solteiro. Mamãe veio cheirar e percebeu tudo. Mãe vê dentro dos olhos do coração mas estou cansada de ser homem. ngela me dá trancos com os olhos pintados de lilás ou da outra cor sinistra da caixinha. Os

18 DE FEVEREIRO Me exercitei em escritos burocráticos, cartas de recomendações, anteprojetos, consultas. O

18 DE FEVEREIRO Me exercitei em escritos burocráticos, cartas de recomendações, anteprojetos, consultas. O irremediável trabalho da redação técnica. Somente a dicção nobre poderia a tais alturas consolar me. Mas não o ritmo seco dos diários que me exigem!

 33ª POÉTICA estou farto da materialidade [embrulhada do signo estou farta dessa falta

33ª POÉTICA estou farto da materialidade [embrulhada do signo estou farta dessa falta enxuta da metalinguagem narcísica dos [poetas dessa ausência de objetos rotundos* e contundentes do texto de espelho em punho [revirando os óculos do conluio entre cifras e cifrantes modernos da lista (política raquítica sifilítica) de super signos cabais: “duro ofício”, “espaço em branco”, da feminil hora quieta da palavra “vocábulo delirante”, “traço infinito” * redondos

POÉTICA - MANUEL BANDEIRA Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do

POÉTICA - MANUEL BANDEIRA Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador (. . . ) Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

MEIA-NOITE, 16 DE JUNHO Não volto às letras, que doem como uma catástrofe. Não

MEIA-NOITE, 16 DE JUNHO Não volto às letras, que doem como uma catástrofe. Não escrevo mais. Não milito mais. Estou no meio da cena, entre quem adoro e quem me adora. Daqui do meio sinto cara afogueada, mão gelada, ardor dentro do gogó. A matilha de Londres caça minha maldade pueril, cândida sedução que dá e toma e então exige respeito, madame javali. Não suporto perfumes. Vasculho com o nariz o terno dele. Ar de Mia Farrow*, translúcida. O horror dos perfumes, dos ciúmes e do sapato que era gêmea perfeita do ciúme negro brilhando no gogó. As noivas que preparei, amadas, brancas. Filhas do horror da noite, estalando de novas, tontas de buquês. Tão triste quando extermina, doce, insone, meu amor. * Mia Farrow, nome artístico de Maria de Lourdes Villiers Farrow (Los Angeles, 9 de fevereiro de 1945) é uma atriz norte americana. A atriz e Frank Sinatra casaram se em 1966.

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA Aqui, em vez do texto, serão incluídos comentários: vÉ um eu impreciso,

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA Aqui, em vez do texto, serão incluídos comentários: vÉ um eu impreciso, a um só tempo preocupado e irônico; v. Algumas palavras remetem à ditadura “gatos pingados”, “Notícias imprecisas”, “” Medo de dar bandeira” v. Há uma menção a Roberto Carlos. v. Propõe uma contradição entre vida e trabalho. v. Menciona Thomas (o suposto companheiro/ a quem parece indiferente) e os colegas Gil (Armando) e Mary (Heloísa) v. Metalinguagem: “Escrever é a parte que chateia, fico com dor nas costas e remorso de vampiro”. v. A remetente é Júlia. E o destinatário é um genérico “ My Dear” v. Há dois P. S. . O primeiro dá um caráter íntimo “Não quero que T. leia nossa correspondência, por favor”. E o segundo falando de um erro de datilografia (falta do H em chorar) que não corrigirá para “não perder um certo ar perfeito” e chama a atenção para a “paginação geomatic”.

3 - O LEITOR É UM DESTINATÁRIO v Há uma constante travessia dos escritos

3 - O LEITOR É UM DESTINATÁRIO v Há uma constante travessia dos escritos de Ana César em direção ao outro. v. Esse “outro”, o leitor, não é um coletivo, é um destinatário que, embora singular, “não é pessoal porque necessariamente anônimo”(não tem nome próprio, mas a quem é endereçado, por exemplo, o livro/poema Correspondência completa: o assinalado “My dear”).

OBSERVE: O LEITOR É UM DESTINATÁRIO 1. Correspondência Completa; 2. Ciúmes; 3. Final de

OBSERVE: O LEITOR É UM DESTINATÁRIO 1. Correspondência Completa; 2. Ciúmes; 3. Final de uma ode;

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA My dear, Chove a cântaros. Daqui de dentro penso sem parar nos

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA My dear, Chove a cântaros. Daqui de dentro penso sem parar nos gatos pingados. Mãos e pés frios sob controle. Notícias imprecisas, fique sabendo. E de propósito? Medo de dar bandeira? Ouça muito Roberto: quase chamei você, mas olhei para mim mesmo etc. Já tirei as letras que você pediu. O dia foi laminha. Célia disse: o que importa é a carreira, não a vida. Contradição difícil. A vida parece laminha, e a carreira é um narciso em flor. O que escrevi em fevereiro é verdade, mas vem junto drama de desocupado. Agora fiquei ocupadíssima, ao sabor dos humores, natureza chique, disposição ambígua (signo de gêmeos). [. . . ] Penso pouco no Thomas. Passou o frio dos primeiros dias. Depois, desgosto: dele, do pau dele, da política dele, do violão dele. Mas não tenho mexido no assunto. Entrei de férias. Tenho medo que o balanço acabe. O Thomas de hoje é muito mais velho do que eu, não liga mais, estuda, milita e amor na sua Martinica de longos peitos e dentes perfilados, tanta perfeição. [. . . ]

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA Deu discussão hoje com Mary*[. . . ](*Trata se de Heloisa Buarque

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA Deu discussão hoje com Mary*[. . . ](*Trata se de Heloisa Buarque de Hollanda, a destinatária desta carta. ) [. . . ] Na mesa do almoço, Gil (Trata se do poeta Armando Freitas Filho). quis saber a verdadeira identidade de um Jean Luc, e diante de todos fez clima de conluio, julgando adivinhar tudo. Na saída me fez jurar sobre o perfil dos sepulcros santos – Gil está sempre jurando ou me fazendo jurar. E depois você ainda diz que eu não respondo. Ainda aguardando. Beijo Júlia P. S. 1 – Não quero que T. leia nossa correspondência, por favor. Tenho paixão, mas também tenho pudor! P. S. 2 – Quando reli a carta, descobri alguns erros datilográficos, inclusive a falta do h no verbo chorar. Não corrigi para não perder um certo ar per feito – repara a paginação gelomatic, agora que sou artista plástica.

CIÚMES Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma Tão distraidamente.

CIÚMES Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma Tão distraidamente.

FINAL DE UMA ODE Acontece assim: tiro as pernas do balcão de onde via

FINAL DE UMA ODE Acontece assim: tiro as pernas do balcão de onde via um sol de inverno se pondo no Tejo e saio de fininho dolorosamente dobradas as costas e segurando o queixo e a boca com uma das mãos. Sacudo a cabeça e o tronco incontrolavelmente, mas de maneira curta, entendem? Eu estava dando gargalhadinhas e agora estou sofrendo nosso próximo falecimento, minhas gargalhadinhas evoluíram para um sofrimento meio nojento, meio ocasional, sinto uma dó extrema do rato que se fere no porão, ao que outra dor súbita, ai que estranheza e que lusitano torpor me atira de braços abertos sobre as ripas do cais ou do palco ou do quartinho. Quisera dividir o corpo em heterônimos medito aqui no chão, imóvel tóxico do tempo.

4 MANIPULAÇÃO DA LINGUAGEM v. Jogos de som. v. Destruição e reconstrução do cotidiano.

4 MANIPULAÇÃO DA LINGUAGEM v. Jogos de som. v. Destruição e reconstrução do cotidiano. v. Dizer desdizendo. v. Texto colagem: apropria se de outros autores, distorcendo os, reescrevendo os, parafraseando ou parodiando (Alguns críticos chamam essa característica de vampirismo). v. Linguagem cinematográfica.

OBSERVE: MANIPULAÇÃO DA LINGUAGEM 1. Quando entre nós só havia (Várias figuras) 2. Tenho

OBSERVE: MANIPULAÇÃO DA LINGUAGEM 1. Quando entre nós só havia (Várias figuras) 2. Tenho uma folha em branco a minha espera (ambiguidade ‘mudo convite’) 3. O nome do gato assegura minha vigília(metalinguagem) 4. Trilha sonora; (paradoxo) 5. Cartilha da cura; (Várias figuras) 6. Atrás dos olhos das meninas cegas; (Brincadeira semântico sonora) 7. Olho muito tempo o corpo de um poema (Aliteração /assonância) 8. Exterior. Dia (Linguagem do cinema) 9. Estou atrás (desconstrução)

QUANDO ENTRE NÓS SÓ HAVIA Quando entre nós só havia uma carta certa a

QUANDO ENTRE NÓS SÓ HAVIA Quando entre nós só havia uma carta certa a correspondência completa o trem os trilhos a janela aberta uma certa paisagem sem pedras ou sobressaltos meu salto em equilíbrio o copo d’agua a espera do café

COMENTÁRIO: “QUANDO ENTRE NÓS SÓ HAVIA” Poema de apenas uma estrofe, sem pontuação alguma.

COMENTÁRIO: “QUANDO ENTRE NÓS SÓ HAVIA” Poema de apenas uma estrofe, sem pontuação alguma. Há, na poesia, uma dose forte de intimidade, característica da autora. Percebemos também metáforas na poesia, a partir metáforas das palavras como: "trilho, trem, janela aberta, paisagem", que podem representar as fases de sua vida. Também encontramos aliterações: "o trem os aliterações

TENHO UMA FOLHA BRANCA Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo

TENHO UMA FOLHA BRANCA Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma cama branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma vida branca e limpa à minha espera.

O NOME DO GATO ASSEGURA MINHA VIGÍLIA O nome do gato assegura minha vigília

O NOME DO GATO ASSEGURA MINHA VIGÍLIA O nome do gato assegura minha vigília e morde meu pulso distraído perder em traços a visão contígua finjo escrever gato, digo: pupilas, focinhos de coisa que surge aos saltos e patas emergentes. Mas onde repousa o nome, ataque e fingimento, estou ameaçada e repetida e antecipada pela espreita meio adormecida do gato que riscaste por te preceder e no tempo, ameaçando de morte a própria forma ameaçada do desenho e o gato transcrito que antes era marca do meu rosto, garra no meu seio.

TRILHA SONORA Trilha sonora ao fundo (. . . ) Agora silêncio (. .

TRILHA SONORA Trilha sonora ao fundo (. . . ) Agora silêncio (. . . ) Eu tenho uma ideia. Eu não tenho a menor ideia. (. . . ) Muito sentimental. Agora pouco sentimental. (. . . ) Esta é a minha vida. Atravessa a ponte.

CARTILHA DA CURA As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de

CARTILHA DA CURA As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.

COMENTÁRIO: CARTILHA DA CURA Poema muito curto, composto por apenas uma estrofe de dois

COMENTÁRIO: CARTILHA DA CURA Poema muito curto, composto por apenas uma estrofe de dois versos. Nele se verifica a ironia e, ao mesmo tempo, a ironia profundidade sentimental do eu lírico. profundidade sentimental Perceba que quando o navio afunda, as primeiras pessoas a se salvar são “as mulheres e crianças”, aqui, ocorre o contrário, nem uma nem outra quer afundar o navio. Ou seja, não querem se salvar portanto, devem se manter como estão, a margem das decisões.

ATRÁS DOS OLHOS DAS MENINAS CEGAS Aviso que vou virando um avião. Cigana do

ATRÁS DOS OLHOS DAS MENINAS CEGAS Aviso que vou virando um avião. Cigana do horário nobre do adultério. Separatista protestante. Melindrosa basca com fissura da verdade. Me entenda faz favor: minha franqueza era meu fraco, o primeiro side car* anfíbio nos classificados de aluguel. No flanco do motor vinha um anjo encouraçado, Charlie’s Angel** rumando a toda para o Lagos, Seven Year Itch***, mato sem cachorro. Pulo para fora (mas meu salto engancha no pedaço de pedal? ), não me afogo mais, não abano o rabo nem rebolo sem gás de decolagem. Não olho para trás. Aviso e profetizo com minha bola de cristais que vê novela de verdade e meu manto azul dourado mais pesado do que o ar. Não olho para trás e sai da frente que essa é uma rasante: garras afiadas, e pernalta. * Uma motocicleta side car é um veículo de três rodas com uma roda lateral que não é alinhada diretamente com a roda traseira da motocicleta, e é normalmente tracionado apenas pela roda traseira. ** Anjos de Charlie ou As Panteras: é uma série de televisão norte americanaproduzida por Aaron Spelling e Leonard Goldberg para a emissora ABC, levada ao ar em cinco temporadas de 1976 a 19811. *** The Seven Year Itch (br/pt: O Pecado Mora ao Lado) é um filme americano de 1955, uma comédia romântica baseada na peça teatral de George Axelrod, levada aos palcos da Broadway em 1952.

OLHO MUITO TEMPO O CORPO DE UM POEMA olho muito tempo o corpo de

OLHO MUITO TEMPO O CORPO DE UM POEMA olho muito tempo o corpo de um poema até perder de vista o que não seja corpo e sentir separado dentre os dentes um filete de sangue nas gengivas

EXTERIOR. DIA “EXTERIOR. DIA. Trocando minha pura indiscrição pela tua história bem datada. Meus

EXTERIOR. DIA “EXTERIOR. DIA. Trocando minha pura indiscrição pela tua história bem datada. Meus arroubos pela tua conjuntura. MAR, AZUL, CAVERNAS, CAMPOS E TROVÕES. Me encosto contra a mureta do bondinho e choro. Pego um táxi que atravessa vários túneis da cidade. Canto o motorista. Driblo a minha fé. Os jornais não convocam para a guerra. Torça, filho, torça, mesmo longe, na distância de quem ama e se sabe um traidor. Tome bitter* no velho pub da esquina, mas pensando em mim entre um flash e outro de felicidade. Te amo estranha, esquiva, como outras cenas mixadas ao sabor do teu amor. ” * amargo/ Bitter ou bíter é uma bebida alcoólica com sabor de essências herbais, caracterizado por um sabor amargo ou agridoce

ESTOU ATRÁS do despojamento mais inteiro da simplicidade mais erma da palavra mais recém

ESTOU ATRÁS do despojamento mais inteiro da simplicidade mais erma da palavra mais recém nascida do inteiro mais despojado do ermo mais simples do nascimento a mais da palavra

5 O CORPO E A SENSUALIDADE v. Menções aos anseios sexuais. v. Desencontro entre

5 O CORPO E A SENSUALIDADE v. Menções aos anseios sexuais. v. Desencontro entre amor e sexo.

OBSERVE: O CORPO E A SENSUALIDADE 1. Nestas circunstâncias o beija flor vem sempre

OBSERVE: O CORPO E A SENSUALIDADE 1. Nestas circunstâncias o beija flor vem sempre aos milhares; 2. Arpejos; 3. Anônimo; 4. 19 de abril; 5. Vai se o inútil salmo, o inútil amor; 6. Enquanto leio meus seios estão a descoberto.

NESTAS CIRCUNST NCIAS O BEIJA-FLOR VEM SEMPRE AOS MILHARES Este é o quarto Augusto.

NESTAS CIRCUNST NCIAS O BEIJA-FLOR VEM SEMPRE AOS MILHARES Este é o quarto Augusto. Avisou que vinha. Lavei os sovacos e os pezinhos. Preparei o chá. Caso ele me cheirasse. . . Ai que enjoo me dá o açúcar do desejo.

ARPEJOS "Acordei com uma coceira terrível no hímen. Sentei no bidê com um espelhinho

ARPEJOS "Acordei com uma coceira terrível no hímen. Sentei no bidê com um espelhinho e examinei minuciosamente o local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa não percebem que um rouge a mais tem significado a mais. Passei uma pomada branca ate que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante. Com essa murcharam igualmente meus projetos de ir de bicicleta à ponta do Arpoador. O selim poderia reavivar a irritação. Em vez decidi me dedicar à leitura. "

ANÔNIMO Sou linda; quando no cinema você roça o ombro em mim aquece, escorre,

ANÔNIMO Sou linda; quando no cinema você roça o ombro em mim aquece, escorre, já não sei mais quem desejo, que me assa viva, comendo coalhada ou atenta ao buço deles, que ternura inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no cinema é escuro e a tela não importa, só o lado, o quente lateral, o mínimo pavio. A portadora deste sabe onde me encontro até de olhos fechados; falo pouco; encontre; esquina de Concentração com Difusão, lado esquerdo de quem vem, jornal na mão, discreta.

19 DE ABRIL Era noite e uma luva de angústia me afogava o pescoço[.

19 DE ABRIL Era noite e uma luva de angústia me afogava o pescoço[. . . ] Era inverno e a mulher sozinha [. . . ] Galguei a ladeira com caretas, antecipando o frio e os sons eróticos povoando a sala esfumaçada.

VAI-SE O INÚTIL SALMO, O INÚTIL AMOR “Vai se o inútil salmo, o inútil

VAI-SE O INÚTIL SALMO, O INÚTIL AMOR “Vai se o inútil salmo, o inútil amor em cada começo o fio e a agulha Em cada som um nome só: fim”

ENQUANTO LEIO MEUS SEIOS ESTÃO A DESCOBERTO I Enquanto leio meus seios estão a

ENQUANTO LEIO MEUS SEIOS ESTÃO A DESCOBERTO I Enquanto leio meus seios estão a descoberto. É difícil concentrar me ao ver seus bicos. Então rabisco as folhas deste álbum. Poética quebrada pelo meio. II Enquanto leio meus textos se fazem descobertos. E difícil escondê los no meio dessas letras. Então me nutro das tetas dos poetas pensados no meu seio.

6 INTERTEXTO Os textos de Ana César frequentemente dialogam com outros de valor universal.

6 INTERTEXTO Os textos de Ana César frequentemente dialogam com outros de valor universal. A seguir, mostrar se ão algumas dessas ligações. v

OBSERVE: INTERTEXTO 1. Artimanhas de um gasto gato: dialoga com ‘Old Possum’s book of

OBSERVE: INTERTEXTO 1. Artimanhas de um gasto gato: dialoga com ‘Old Possum’s book of practical Cats’ (Livro do velho gambá sobre gatos travessos) de T. S. Eliot; com J Alfred Prufrock e com Carlos Drummond de Andrade. 2. Cartas de Paris: rico em referências a escritores franceses (Baudelaire em Cartas de Paris é Charles, também mencionada em “ 21 de fevereiro”). 3. Flores do Mais: dialoga com ‘Les fleurs du mal’ (‘ As Flores do Mal’ )de Baudelaire. 4. Psicografia, O Poeta é um fingidor e Final de uma Ode: dialogam com Fernando Pessoa. 5. O Poema e a Trégua: dialoga com João Cabral de Melo Neto. 6. Nada, esta espuma: dialoga com Mallarmé

ARTIMANHAS DE UM GASTO GATO: ANA CÉSAR ↔T. S. ELIOT Artimanhas de um gasto

ARTIMANHAS DE UM GASTO GATO: ANA CÉSAR ↔T. S. ELIOT Artimanhas de um gasto gato Não sei desenhar gato. Não sei escrever gato. Não sei gatografia Nem a linguagem felina das suas artimanhas Nem as artimanhas felinas da sua não linguagem Nem o que o dito gato pensa do hipopótamo (não o de Eliot) Eliot e os gatos de Eliot (“Practical Cats”) Os que não sei e nunca escreverei na tua cama. O hipopótamo e suas hipopotas ameaçam gato (que não é hopogato) Antes hiponímico. Coisa com peso e forma de peso e o nome do gato? J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes? o nome do gato é nome de estação de trem o inverno dentro dos bares a necessidade quente de tê lo onde vamos diariamente fingindo nomear eu – o gato – e a grafia de minhas toma: lê o que eu escrevo em teu rosto a parte que em ti é minha – é gato leio onde te tenho gato e a gatografia que nunca sei aprendi na marca no meu rosto aprendi nas garras que tomei e me tornei parte e tua – gata – a saltar sobre montanhas como um gato e deixar arco irisado esse meu salto saltar nem ao menos sabendo que desenho e escrita esperam gato saltar felinamente sobre o nome de gato ameaçado o nome de GATO ameaçado o nome de GASTO ameaçado de morrer na gastura de meu nome repito e me auto ameaço: não sei desenhar gato não sei escrever gato não sei gatografia Nem…

CARTAS DE PARIS: ANA CÉSAR ↔BAUDELAIRE I Eu penso em você, minha filha. Aqui

CARTAS DE PARIS: ANA CÉSAR ↔BAUDELAIRE I Eu penso em você, minha filha. Aqui lágrimas fracas, dores mínimas, chuvas outonais apenas esboçando a majestade de um choro de viúva, águas mentirosas fecundando campos de melancolia, tudo isso de repente iluminou minha memória quando cruzei a ponte sobre o Sena. A velha Paris já terminou. [. . . ] II Paris muda! mas minha melancolia não se move. Beaubourg, Forum des Halles*, metrô profundo, ponte impossível sobre o rio, tudo vira alegoria: minha paixão pesa como pedra. Diante da catedral vazia a dor de sempre me alimenta. Penso no meu Charles**, com seus gestos loucos e nos profissionais do não retorno, que desejam Paris sublime para sempre, sem trégua, e penso em você, minha filha viúva para sempre, prostituta, travesti, bagagem do disk jockey que te acorda no meio da manhã, e não paga adiantado, e desperta teus sonhos de noiva protegida, e penso em você, * quartier des Halles é mais antigo mercado da capital e com mais história. Com a maior estação de metrô da Europa, já o Centre Beaubourg, ou Georges Pompidou, aberto em 1977, tem amplo acervo de mais de 60 mil obras, entre pinturas, fotográficas e audiovisuais. ** Charles Baudelaire

FLORES DO MAIS: ANA CÉSAR ↔BAUDELAIRE Flores do mais Devagar escreva uma primeira letra

FLORES DO MAIS: ANA CÉSAR ↔BAUDELAIRE Flores do mais Devagar escreva uma primeira letra escreva nas imediações construídas pelos furacões; devagar meça a primeira pássara bisonha que riscar o pano de boca aberto sobre os vendavais; devagar imponha o pulso que melhor souber sangrar sobre a faca das marés; devagar imprima o primeiro olhar sobre o galope molhado dos animais; devagar peça mais e mais

PSICOGRAFIA: ANA CÉSAR ↔FERNANDO PESSOA Também eu saio à revelia e procuro uma síntese

PSICOGRAFIA: ANA CÉSAR ↔FERNANDO PESSOA Também eu saio à revelia e procuro uma síntese nas demoras cato obsessões com fria têmpera e digo do coração: não sou e digo a palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena e vivo como quem despede a raiva de ter visto

FINAL DE UMA ODE: ANA CÉSAR ↔FERNANDO PESSOA Acontece assim: tiro as pernas do

FINAL DE UMA ODE: ANA CÉSAR ↔FERNANDO PESSOA Acontece assim: tiro as pernas do balcão de onde via um sol de inverno se pondo no Tejo e saio de fininho dolorosamente dobradas as costas e segurando o queixo e a boca com uma das mãos. Sacudo a cabeça e o tronco incontrolavelmente, mas de maneira curta, entendem? Eu estava dando gargalhadinhas e agora estou sofrendo nosso próximo falecimento, minhas gargalhadinhas evoluíram para um sofrimento meio nojento, meio ocasional, sinto uma dó extrema do rato que se fere no porão, ao que outra dor súbita, ai que estranheza e que lusitano torpor me atira de braços abertos sobre as ripas do cais ou do palco ou do quartinho. Quisera dividir o corpo em heterônimos medito aqui no chão, imóvel tóxico do tempo.

O POEMA E A TRÉGUA: ANA CÉSAR ↔CABRAL DE MELO NETO As vozes do

O POEMA E A TRÉGUA: ANA CÉSAR ↔CABRAL DE MELO NETO As vozes do poema O livro escapando para convidam ao exercício as águas o vento a inócua da magia transparência Falam do completo Repetem de memória cantos ilhas esquecimento da palavra anti esquecida de si mesma antilira destruída.

O POEMA E A ÁGUA – CABRAL DE MELO NETO As vozes líquidas do

O POEMA E A ÁGUA – CABRAL DE MELO NETO As vozes líquidas do poema O livro aberto nos joelhos convidam ao crime o vento nos cabelos Ao revólver olho o mar Falam par mim de ilhas Os acontecimentos de água que mesmo os sonhos põem se a se repetir não alcançam. na memória.

NADA, ESTA ESPUMA: ANA CÉSAR ↔MALLARMÉ Por afrontamento do desejo insisto na maldade de

NADA, ESTA ESPUMA: ANA CÉSAR ↔MALLARMÉ Por afrontamento do desejo insisto na maldade de escrever mas não sei se a deusa sobe à superfície ou apenas me castiga com seus uivos. Da amurada deste barco quero tanto os seios da sereia.

VALE A PENA OBSERVAR EM ‘NADA, ESTA ESPUMA’ Por afrontamento do desejo(1) ≈ Ambiguidade:

VALE A PENA OBSERVAR EM ‘NADA, ESTA ESPUMA’ Por afrontamento do desejo(1) ≈ Ambiguidade: ≈ Metalinguagem ↔ insisto na maldade de escrever(2/3) ≈ ↔ mas não sei se a deusa sobe à superfície (4) ≈ ou apenas me castiga com seus uivos. Da amurada deste barco(5) ≈ quero tanto os seios da sereia. (6) ≈ (1) causa ou finalidade (Porque o desejo me afrontou ou para afrontar o desejo? ) ≈ (2) escrever mal ou cruelmente? ↔ (3) ato de refletir sobre a escrita ≈ (4) a deusa sobe à superfície para aprovar o meu canto ou me condenar por escrever mal ≈ (5) quero tanto cantar como a sereia ou quero silenciar a sereia que me reprova.

NADA, ESTA ESPUMA - MALLARMÉ Nada, esta espuma, virgem verso A não designar mais

NADA, ESTA ESPUMA - MALLARMÉ Nada, esta espuma, virgem verso A não designar mais que a copa; Ao longe se afoga uma tropa De sereias vária ao inverso. Navegamos, ó meus fraternos Amigos, eu já sobre a popa Vós a proa em pompa que topa A onda de raios e de invernos; Uma embriaguez me faz arauto, Sem medo ao jogo do mar alto, Para erguer, de pé, este brinde Solitude, recife, estrela A não importa o que há no fim de um branco afã de nossa vela. Tradução de Guilherme de Almeida