UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA ADMINISTRAO
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO Economia Política Clássica REC 2401 / 2020
30ª videoaula Livro III de O Capital (conclusão)
Igualdade na totalização de valores e preços de produção. Ele sabia que os preços de custo de uma mercadoria poderiam diferir dos valores dos meios de produção, e que uma análise mais detalhada teria que examinar como em cada setor esses valores ensejariam, com o processo de ajuste, os preços de produção. Marx visualiza que o mercado se encarregaria dessa tarefa e que a falha da teoria em não acompanhar todo esse processo não era algo realmente digno de preocupação. O que ele considera demonstrada é a igualdade na totalização de valores e preços de produção.
Revisando: O trabalho abstrato é a substância do valor. Os preços são a forma empírica dessa substância. Preços apresentam diversas causas empiricamente observáveis. Mas há uma ligação quantitativa entre valores e preços.
O problema da transformação Trata-se de destrinchar causas e efeitos sobre os preços, a fim de encontrar teoricamente a relação quantitativa entre a substância (valor) e sua manifestação empírica (preço).
Trabalho vivo (LV) e trabalho morto (Lm) Lm =valor incorporado nos meios de produção Lv= trabalho empregado no período corrente de produção w = Lm + L v
Trabalho necessário (Ln) e trabalho excedente (Le) L v= L n + L e w = L m + L n+ L e
Processo concreto de determinação dos preços Os capitalistas calculam os custos de produção e somam uma margem percentual (= taxa socialmente média de lucro). p = c + v + r(c + v). Fórmula em termos de custos monetários e taxa de lucro.
Correspondência entre fórmulas: Fórmula com os vários tipos de trabalho: w = Lm + Ln+ Le Fórmula com os componentes de custo do preço: p = c + v + r(c + v).
Falhas nessa correspondência: Taxa de lucro: r = (s/v)/(1 +(c/v)) Jornadas de trabalho e salários uniformes: mesma taxa de mais-valia (s/v) entre diferentes setores. Mesma taxa de lucros dada a arbitragem entre setores. A composição orgânica (c/v) teria de ser a mesma entre eles!
No volume III do Capital, Marx supõe que as várias indústrias trabalham com diferentes composições orgânicas do capital c/v de modo que p w. Mostra-se, de início, que a mesma taxa de maisvalia em diferentes indústrias com diferentes composições do capital leva a diferentes taxas de lucro. No exemplo numérico da tabela adiante, supõe-se o mesmo capital total C para todas elas e que em cada caso somente uma parcela do capital total é consumida.
Observa-se na tabela que em todas as indústrias a taxa de mais-valia é de 100% já que s = v. O capital total é $100 como aparece no cálculo da taxa de lucro na última coluna, então apenas uma parcela dele é consumida durante um período de produção, já que c + v < 100. Nota-se que cada indústria apresenta diferente relação c/v e que em cada qual calcula-se uma taxa de lucro diferenciada das demais.
O problema da desigualdade nas taxas de lucro O problema para a teoria de Marx que este simples exemplo numérico coloca é que a hipótese realista de diferentes composições de capital entre as indústrias leva à desigualdade nas taxas de lucro, mesmo que as taxas de mais-valia sejam iguais. Este resultado é incompatível com o modelo de concorrência que tende a igualar a taxa de lucro de todas as indústrias.
Hipótese de mesma taxa de lucro Se fixarmos uma mesma taxa de lucro para todas, digamos de 20%, a maisvalia s seria de 20 em todas as indústrias e neste caso as taxas de mais-valia seriam:
Como justificar diferentes taxas de mais-valia? Se as taxas de salários e a duração da jornada de trabalho são iguais entre todos os setores, respectivamente pela arbitragem entre mercados e por imposição legal, as taxas de mais-valia teriam de ser iguais e não diferentes como na tabela anterior.
A solução ao aparente paradoxo A solução consiste em separar dois conceitos de taxa de mais-valia: 1. como relação s/v (relação de valores) 2. como a relação entre trabalho excedente e trabalho necessário (relação de tempos)
Interpretação proposta: A taxa de mais-valia expressa em tempo de trabalho excedente/tempo de trabalho necessário é a mais-valia realizada na esfera da produção (tende a ser a mesma entre todos os setores apesar das diferenças em c/v). A mais-valia como s/v é criada na esfera da circulação (quando diferem c/v entre setores, as próprias forças da concorrêcia que igualam as taxas de lucro asseguram que s/v não seja igual entre eles).
A razão tempo de trabalho excedente/tempo de trabalho necessário é sempre a mesma em todos os setores independentemente das diferenças nas composições orgânicas do capital. A mais-valia na esfera da circulação (s/v) não precisa ser igual entre os setores.
q. Se a razão s/v é diferente entre os setores, isto não está em contradição com o modelo de Marx, pois ele só iguala as taxas de mais-valia medidas em tempo de trabalho!
Escreve Marx:
Os vários desvios observados preços de produção em relação ao valor se cancelam dentre todos os setores. Portanto, o total das mercadorias produzidas conjuntamente consideradas apresenta valor e preço de produção igualados. Os desvios em cada caso só ocorrem porque as composições orgânicas do capital são diferentes da média.
Uma mercadoria que tem uma proporção entre insumos fixos e variáveis igual a da economia como todo tem o seu preço determinado exatamente pelo valor. Ela poderia ser usada como um numerário já que seu preço não se desvia do valor. Então o numerário é qualquer mercadoria produzida composição média de capital da economia.
A solução de Marx ao problema do numerário foi criticada por marxistas que se debruçaram no problema. Piero Sraffa, no século XX, demonstrou que com uma medida invariável do valor não se estabelece necessariamente o vínculo apropriado entre valores medidos em trabalho e preços.
Um livro inacabado O livro III de fato não chegou a ser completado e lacunas na construção de Marx foram percebidas pelos seus seguidores.
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