Quinhentismo ou Literatura Informativa 1500 1601 A feio

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Quinhentismo ou Literatura Informativa (1500 – 1601)

Quinhentismo ou Literatura Informativa (1500 – 1601)

“A feição deles é serem pardos, quase avermelhados, de rostos regulares e narizes bem

“A feição deles é serem pardos, quase avermelhados, de rostos regulares e narizes bem feitos, andam nus sem nenhuma cobertura, nem se importam de cobrir nenhuma coisa, nem de mostrar suas vergonhas. E sobre isto são tão inocentes, como em mostrar o rosto”. Esse fragmento pertence ao primeiro texto escrito no Brasil: a Carta, de Pero Vaz de Caminha, escrivão-mor da esquadra liderada por Cabral quando do descobrimento oficial do Brasil, em 1500. Essa carta e muitos outros textos em forma de cartas de viagem, diários de navegação e tratados descritivos formam a chamada literatura de informação ou de expansão, cultivada em Portugal à época das grandes navegações. O objetivo desses textos,

escritos em prosa, era narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com

escritos em prosa, era narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que pudesse interessar aos governantes portugueses. Embora guardem pouco valor literário, esses escritos têm importância hoje principalmente pelo seu significado como documentação histórica, seja como testemunho do espírito aventureiro da expansão marítima e comercial nos séculos XV e XVI, seja como registro do choque cultural entre colonizadores e colonizados.

Ao longo do século XVI – e já de início com a Carta, de

Ao longo do século XVI – e já de início com a Carta, de Pero Vaz de Caminha – foi sendo produzida na Colônia uma literatura que visava a fornecer à Metrópole o perfil da nova descoberta. Eram relatórios, tratados, histórias, diários ou discussão de problemas de catequisação produzidos pelos portugueses, jesuítas ou leigos, que, de alguma forma, aqui aportaram.

Esses textos revelam o espanto do europeu diante do mundo desconhecido e da natureza

Esses textos revelam o espanto do europeu diante do mundo desconhecido e da natureza peculiar e exuberante; contam, admirados, do selvagem, de seus hábitos e de sua vida. Se tais obras não podem ser consideradas ficção, tornam-se de um valor documental inestimável. (SANCHEZ, Amauri M. Tonucci. Panorama da literatura no Brasil. São Paulo, Abril Educação, 1982).

Ainda não podemos falar em literatura do Brasil, aquela que reflete a cosmovisão do

Ainda não podemos falar em literatura do Brasil, aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim uma literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil, mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.

Momento histórico A Europa do século VI vive o auge do Renacimento, com a

Momento histórico A Europa do século VI vive o auge do Renacimento, com a cultura humanística desmantelando os quadros rígidos da cultura medival; o capitalismo mercantil avança com o desenvolvimento da manufatura e do comércio internacional; o êxodo rural provoca um surto de urbanização. Em consequência dessa nova realidade econômica e social, século XVI também marca uma crise na Igreja: de um lado, as novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestante; de outro, as forças tradicionais ligadas à cultura medieval e aos dogmas católicos –

reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos tribunais da Inquisição e em seu Índex

reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos tribunais da Inquisição e em seu Índex (relação de livros proibidos) – no movimento reconhecido como Contra-Reforma. Assim é que o homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta em pleno século XVI duas precupações distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante, no caso português, do movimento de Contra-Reforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literária. S do Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc. ), e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese.

4. Naufrágio da nau de São Paulo

4. Naufrágio da nau de São Paulo

7. As caravelas e os transatlânticos

7. As caravelas e os transatlânticos

Os textos eram desprovidos de intenção literária; eram, na verdade, uma tentativa de catalogar

Os textos eram desprovidos de intenção literária; eram, na verdade, uma tentativa de catalogar e de descrever a terra e o povo que aqui habitava

Visão medieval da natureza: a beleza com que se deparam é manifestação divina

Visão medieval da natureza: a beleza com que se deparam é manifestação divina

13. O paraíso no Brasil

13. O paraíso no Brasil

11. O ponto de vista de portugueses e índios

11. O ponto de vista de portugueses e índios

Literatura de catequese: a Bíblia aparece como fonte de todo o conhecimento

Literatura de catequese: a Bíblia aparece como fonte de todo o conhecimento

Literatura dramática, a fim de converter o elemento indígena

Literatura dramática, a fim de converter o elemento indígena

14. A imagem do índio

14. A imagem do índio

18. O índio entrando na moda

18. O índio entrando na moda

A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada como a “certidão de nascimento”

A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada como a “certidão de nascimento” do Brasil;

O texto da Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil mostra

O texto da Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impusionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã. Observe o fragmento: “Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro; nem lho vimos. A terra, porém, em si, é de muito bons ares. (. . . ) Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”.

O Padre José de Anchieta foi importante figura da época, desenvolvendo enorme trabalho de

O Padre José de Anchieta foi importante figura da época, desenvolvendo enorme trabalho de pacificação e catequese dos índios

Anchieta nos legou, sempre como parte de um exaustivo trabalho de catequese, a primeira

Anchieta nos legou, sempre como parte de um exaustivo trabalho de catequese, a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos, várias poesias, seguindo a tradição do verso medieval, vários autos – também de natureza medieval, segundo o modelo deixado por Gil Vicente, misturando a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas, com a preocupação de caracterizar os extremos, como o Bem e o Mal, o Anjo e o Diabo.

ü Obras refinadas: poemas e monólogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas

ü Obras refinadas: poemas e monólogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas necessidades espirituais mais profundas. ü Obras didáticas: hinos, canções e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristão nos índios. ü Os autos: Obras teatrais onde o autor tenta conciliar os valores católicos com os mitos indígenas. . Há um confronto entre o bem e o mal. O bem é defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo e subjugam o mal, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os demônios da tradição católica.

Segundo Alfredo Bosi, a particularidade de sua produção poética está justamente na conformação do

Segundo Alfredo Bosi, a particularidade de sua produção poética está justamente na conformação do idioma tupi, empregado em vários de seus versos, a formas medievais. Assim, palavras tupis aparecem em versos que seguem a métrica trovadoresca, composta em versos de cinco ou sete sílabas – as redondilhas menores e maiores das formas populares portuguesas – e esquemas rítmicos inspirados na tradição medieval. Muitas vezes, os versos aparecem na forma de diálogos, o que imprime forte carga dramática e contribui para o poder de comunicação dos poemas, cuja função primordial era aculturar o indígena e aproximá-lo da doutrina cristã.

De Olho no Vestibular Os modernistas de primeira fase, ao retomar o tema da

De Olho no Vestibular Os modernistas de primeira fase, ao retomar o tema da brasilidade, fizeram diversas referências ao Quinhentismo. Observe:

Texto I Ali andavam, entre eles, três ou quatro moças, bem moças e bem

Texto I Ali andavam, entre eles, três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, caídos palas espáduas abaixo; e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as olharmos muito bem, não tínhamos nenhuma vergonha. (Pero Vaz de Caminha. Carta. In: Carlos Voght e J. A. G. Lemos. Cronistas e viajantes, cit. )

Texto II as meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e

Texto II as meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha Oswald de Andrade

Texto III erro de português Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva

Texto III erro de português Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. Oswald de Andrade

Enem 2004 brasil O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da

Enem 2004 brasil O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem - Sois cristão? - Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu - Sim pela graça de Deus Canhem Babá Cum! E fizeram o Carnaval Oswald de Andrade

Questão 20 Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como

Questão 20 Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é (A) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem. (B) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira. (C) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos. (D) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas. (E) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade.

GABARITO: A

GABARITO: A

Questão 21 A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do

Questão 21 A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do (A) poeta e do colonizador apenas. (B) colonizador e do negro apenas. (C) negro e do índio apenas. (D) colonizador, do poeta e do negro apenas. (E) poeta, do colonizador, do índio e do negro.

GABARITO: E

GABARITO: E

Leia ainda: • “Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. [. . . ]” •

Leia ainda: • “Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. [. . . ]” • “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade. [. . . ]” Oswald de Andrade, trechos do Manifesto da Antropofagia

Momento musical

Momento musical

Desenredo (G. R. E. S. Unidos do Pau Brasil)

Desenredo (G. R. E. S. Unidos do Pau Brasil)

Texto V Desenredo (G. R. E. S. Unidos do Pau Brasil) O dia em

Texto V Desenredo (G. R. E. S. Unidos do Pau Brasil) O dia em que o jovem Cabral chegou por aqui, ô ô Conforme diversos anúncios na televisão Havia um coro afinado da tribo tupi Formado na beira do cais cantando em inglês Caminha saltou do navio assoprando um apito em free bemol Atrás vinha o resto empolgado da tripulação Usando as tamancas no acerto da marcação Tomando garrafas inteiras de vinho escocês Partiram num porre infernal por dentro das matas, ô ô Ao som de pandeiros chocalhos e acordeão Tamoios, Tupiniquins, acarajés ou Carijós (sei lá quem mais. . . )

Chegaram e foram formando aquele imenso cordão, meu Deus que bão E então de

Chegaram e foram formando aquele imenso cordão, meu Deus que bão E então de repente invadiram a Avenida Central, mas que legal E meu povo, vestido de tanga adentrou ao coral Um velho cacique dos pampas sacou do piston E deu como aberto, em decreto mais um carnaval E assim, a Vinte e Dois daquele mês de Abril Fundaram a Escola de Samba Unidos do Pau-Brasil Gonzaguinha

Permanência da escola literária

Permanência da escola literária

Trailer Caramuru, a invenção do Brasil

Trailer Caramuru, a invenção do Brasil

Caramuru: fragmentos e documentário

Caramuru: fragmentos e documentário

21. Outros fatos de caramuru e Paraguaçu

21. Outros fatos de caramuru e Paraguaçu

A linguagem

A linguagem

12. Idiomas no Brasil

12. Idiomas no Brasil

Caramuru

Caramuru

17. Surgimento das civilizações

17. Surgimento das civilizações

Para saber mais

Para saber mais

 • Como era gostoso o meu francês, de Nelson Pereira dos Santos, Brasil,

• Como era gostoso o meu francês, de Nelson Pereira dos Santos, Brasil, 1970 Para assistir Quando o filme foi lançado, o diretor afirmou que sua intenção era de que “o público se identificasse com o índio que, através da antropofagia, come o francês e seus companheiros para vencer seus inimigos”. Nelson Pereira dos Santos não utiliza apenas os relatos do alemão Hans Staden, mas inclui crônicas do francês (daí o nome) Jean de Léry. Realizado em pleno movimento tropicalista, sugere uma aproximação com a cultura antropofágica modernista idealizada por Oswald de Andrade.

 • Desmundo, de Alain Fresnot, Brasil, 2003 Adaptação do livro de Ana Miranda,

• Desmundo, de Alain Fresnot, Brasil, 2003 Adaptação do livro de Ana Miranda, ambientado no Brasil colonial, o filme conta a história de jovens órfãs, enviadas pela rainha de Portugal, para se casarem com os primeiros colonizadores. A trama se centra na vida de uma delas, a jovem Oribela. Obrigada a se casar com o rude Francisco de Albquerque e seguir com o marido para um engenho de açúcar, a moça não aceita seu destino e tenta fugir para sua terra natal.

Para ler Veja os principais documentos que compõem a nossa literatura informativa: 1. Carta

Para ler Veja os principais documentos que compõem a nossa literatura informativa: 1. Carta do descobrimento (Pero Vaz de Caminha): foi escrita no ano de 1500 e publicada pela primeira vez em 1817. 2. Tratado da terra do Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): foi escrito por volta de 1570 e impresso pela primeira vez em 1826. 3. História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): foi editado em 1576. 4. Diálogo sobre a conversão dos gentios (Padre Manuel da Nóbrega): foi escrito em 1557 e impresso em 1880. 5. Tratado descritivo do Brasil (Gabriel Soares de Sousa): escrito em 1587 e impresso por volta de 1839.

Pela web • http: //www. multirio. rj. gov. br/historia/modulo 01/feitorias. html Site elaborado pela

Pela web • http: //www. multirio. rj. gov. br/historia/modulo 01/feitorias. html Site elaborado pela Secretaria de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro. Apresenta textos bastante simples, mas faz abordagens variadas sobre o momento da conquista da terra brasileira pelos europeus. As imagens ilustram bem os textos.

Bibliografia • Literatura: História e Texto I Samira Youssef Campedelli Editora Saraiva • Literatura

Bibliografia • Literatura: História e Texto I Samira Youssef Campedelli Editora Saraiva • Literatura sem segredos Clenir Bellezi de Oliveira Editora Escala Educacional • Literatura Brasileira em diálogo com outras literaturas e outras linguagens William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães Atual Editora

 • Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias José de Nicola Editora Scipione

• Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias José de Nicola Editora Scipione • Literatura Brasileira: Tempos, leitores e leituras Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara Editora Moderna • Português, Língua e Literatura Maria Luiza Abaurre, Marcela Nogueira Pontana e Tatiane Fadel Editora Moderna