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Os Guarani

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 Esta oficina é uma introdução ao mundo dos Guarani de hoje na região

Esta oficina é uma introdução ao mundo dos Guarani de hoje na região das fronteiras entre Brasil, Argentina e Paraguai. São cerca de 100. 000 pessoas distribuídas em aproximadamente 500 aldeias e/ou comunidades nos três países. Os Guarani constituem uma das populações indígenas de maior presença territorial no continente sul-americano. Vamos apresentar onde vivem, como se denominam seus lugares e quais são as ameaças de destruição de seu espaço de vida.

Os Guarani são um povo?

Os Guarani são um povo?

São um povo sim: “povo é um conjunto de indivíduos que falam a mesma

São um povo sim: “povo é um conjunto de indivíduos que falam a mesma língua, têm costumes e hábitos idênticos, afinidade de interesses, uma história e tradições comuns” (Novo Aurélio, Sec XXI, 1999). Aqui tomamos a palavra como um “conjunto de pessoas que tem uma origem étnica comum”, que foram se diferenciando entre si no decorrer da história.

Uma cultura de múltiplas expressões Os Guarani que hoje vivem nesta região são: èOs

Uma cultura de múltiplas expressões Os Guarani que hoje vivem nesta região são: èOs Mbya; èOs Avá Guarani, no Brasil denominados Guarani ou Ñandeva; èOs Kaiowá; e è Os Ache-Guayakí.

Como se vê, Os Guarani se denominam a si próprios com palavras que em

Como se vê, Os Guarani se denominam a si próprios com palavras que em sua língua significam que eles são verdadeiras e autênticas pessoas e têm consciência de serem gente e povo.

Na realidade pode-se falar de um grande “território guarani”, e assim o viram os

Na realidade pode-se falar de um grande “território guarani”, e assim o viram os antigos conquistadores europeus e os colonos que os conheceram.

Essa identidade se fundamenta num “guarani reko” um modo de ser e proceder, com

Essa identidade se fundamenta num “guarani reko” um modo de ser e proceder, com características próprias. Seu território, o solo que se pisa, é um tekoha, o lugar físico, o espaço geográfico onde os guarani são o que são, onde se movem e onde existem.

As Línguas guarani hoje A unidade de origem e a diversidade se traduzem também

As Línguas guarani hoje A unidade de origem e a diversidade se traduzem também na língua, a língua guarani pertence à família linguística Tupi-Guarani e apresenta uma grande unidade com variedades, que, por sua vez, podem ser consideradas línguas diferentes. Algo assim como o castelhano e o português.

Durante a época colonial criou-se uma língua guarani comum, que é falada na atualidade

Durante a época colonial criou-se uma língua guarani comum, que é falada na atualidade por uns seis milhões de paraguaios. Na realidade, os quatro povos guarani falam outras variedades da língua guarani, nem sempre compreensíveis entre si e diferentes do guarani paraguaio moderno.

Em que crêem os Guarani? A vida dos Guarani em todos os seus momentos

Em que crêem os Guarani? A vida dos Guarani em todos os seus momentos importantes – concepção, nascimento, nominação, iniciação, paternidade e maternidade velhice e morte – se baseia na “palavra-alma” que cada pessoa recebe.

O nome, ao nascer, é uma “palavraalma” que estrutura o ser humano, a pessoa

O nome, ao nascer, é uma “palavraalma” que estrutura o ser humano, a pessoa individual, inserindo-a no conjunto social de seres humanos e meio ambiente, ou seja, no mundo guarani.

Os pais das Palavras-Almas, desde seus respectivos céus, se comunicam, ordinariamente, através do sonho

Os pais das Palavras-Almas, desde seus respectivos céus, se comunicam, ordinariamente, através do sonho com aquele que será seu pai. E é a palavra sonhada que, comunicada à mulher, toma assento nela e começa a concepção do novo ser humano.

A cultura guarani reconhece a necessidade das relações sexuais para a existência da gravidez,

A cultura guarani reconhece a necessidade das relações sexuais para a existência da gravidez, mas elas não suficientes para assegurar a concepção. A criatura é enviada por aqueles de Cima. “O pai a recebe em sonho, conta o sonho à mãe e esta fica grávida” (Egon Schaden, Aspectos fundamentais da Cultura Guarani, 1974, p. 108).

É o líder religioso que deve encontrar, mediante a inspiração e as longas orações,

É o líder religioso que deve encontrar, mediante a inspiração e as longas orações, o nome da pessoa, segundo o lugar espiritual de onde vem. O nome é parte integrante da pessoa.

Os Guarani não “se chamam” de tal ou qual maneira, eles “são” tal ou

Os Guarani não “se chamam” de tal ou qual maneira, eles “são” tal ou qual. Os Guarani acham estranho que o sacerdote católico, por exemplo, tenha que perguntar aos pais o nome da criança, pois ele mesmo é quem deveria saber e dar a conhecer esse “nome”. O nome é parte integrante da pessoa.

 A doutrina da concepção do ser humano difere entre os grupos guarani, mas

A doutrina da concepção do ser humano difere entre os grupos guarani, mas está sempre referida a descida da alma de origem divina que toma assento entre os seres humanos, renovando a relação entre deuses e homens.

Nas aldeias não pode faltar a “casa de reza”, que adquire formas diferentes em

Nas aldeias não pode faltar a “casa de reza”, que adquire formas diferentes em cada um dos povos. Nessas casas e nos pátios abertos em sua frente é onde se desenvolvem os rituais, onde se canta e dança durante longas horas.

Com muita propriedade tem-se dito que “toda a vida mental dos Guarani” converge para

Com muita propriedade tem-se dito que “toda a vida mental dos Guarani” converge para “O além”. . . o seu ideal de cultura é de outra ordem; é a vivência mística da divindade, que não depende das qualidades éticas do indivíduo, mas da disposição espiritual de ouvir a voz da revelação. Essa atitude e esse ideal é que lhe determinam a personalidade”.

Dar e receber Um aspecto importante da vida dos Guarani é a economia chamada

Dar e receber Um aspecto importante da vida dos Guarani é a economia chamada de reciprocidade, mediante a qual se comunicam seus bens, dando e recebendo dons gratuitos. Os Guarani não são nômades nem vivem somente de caça, da coleta e da pesca.

 São agricultores, e bons agricultores, que produziam abundância de comida. Quando os europeus

São agricultores, e bons agricultores, que produziam abundância de comida. Quando os europeus chegaram ao lugar que hoje é Assunção, no Paraguai, ficaram maravilhados com a “divina abundância” que encontraram.

Contatados pelos europeus, desde 1505, ao Guarani manifestaram uma grande unidade linguística e cultural.

Contatados pelos europeus, desde 1505, ao Guarani manifestaram uma grande unidade linguística e cultural. Viviam em aldeias de duas, três ou quatro casas grandes, onde habitavam mais de 100 pessoas. Sua cerâmica era de notável beleza estética e sua arte plumária muito delicada e atrativa. Tudo isso desapareceu quase por completo.

O que segue muito presente é seu sistema de intercâmbio de produtos e coisas,

O que segue muito presente é seu sistema de intercâmbio de produtos e coisas, que se rege pelo dom. assegurada a subsistência familiar, tem-se algo ou muito para dar. Este é o sentido da festa, do Arete, o “dia verdadeiro”. No verão quando é abundante a colheita do milho, da mandioca e de outros produtos, como a batata o feijão e abóboras, são frequentes as festas.

A festa guarani não é somente para consumo de excedentes, é o motivo de

A festa guarani não é somente para consumo de excedentes, é o motivo de renovar relações de amizade e de trabalho em comum. Sem festas a produção baixa, sensivelmente. A palavra Jopói, comum a todos os povos guarani, significa abrir as mãos mutuamente. Esta é a lei fundamental da economia guarani, a lei da casa e das casas entre si.

Quando se pensa a respeito da auto sustentabilidade das comunidades indígenas, deve-se ter em

Quando se pensa a respeito da auto sustentabilidade das comunidades indígenas, deve-se ter em mente, em primeiro lugar, que ela só pode ser efetivada por meio do acesso à terra. Em qualquer sociedade indígena este elemento é primordial para a manutenção de seus valores culturais.

Historicamente percebe-se que tal necessidade foi desconsiderada durante o processo de colonização do continente

Historicamente percebe-se que tal necessidade foi desconsiderada durante o processo de colonização do continente americano, sendo que a maioria dos povos indígenas foi desapropriada de seus territórios tradicionais.

Muitos povos vivem em territórios que não condizem com suas necessidades. No oeste do

Muitos povos vivem em territórios que não condizem com suas necessidades. No oeste do Paraná, o povo Guarani luta para reconquistar um espaço para viver, sendo que algumas áreas são originariamente desse povo.

Na atualidade, existem seis ocupações de terras na região, as quais seguem: Tekoha Y

Na atualidade, existem seis ocupações de terras na região, as quais seguem: Tekoha Y Hovy, Tekoha Marangatu e Tekoha Porã – Município de Guaíra; Tekoha Araguaju – Município de Terra Roxa; Município de Santa Helena; Tekoha Vy’a Renda Poty. Essas comunidades vivem em precárias condições de saúde, saneamento básico e educação, estando geralmente cercadas pelas plantações de soja e milho.

Dados apontam que em meados do século XX aproximadamente 30 aldeias Guarani desapareceram no

Dados apontam que em meados do século XX aproximadamente 30 aldeias Guarani desapareceram no estado do Paraná. Tal caso é resultado de uma política de expansão agropecuária que faz com que muitos grupos sejam reunidos em um único local, como ocorreu, por exemplo, na Reserva Indígena Rio das Cobras (municípios de Nova Laranjeiras e Espigão Alto do Iguaçu), onde grupos Guarani passaram a viver em um território Kaingang.

Sabe-se que estas duas etnias vivem uma rivalidade histórica, tendo costumes extremamente distintos, o

Sabe-se que estas duas etnias vivem uma rivalidade histórica, tendo costumes extremamente distintos, o que nos permite refletir sobre a política do então Serviço de Proteção ao Índio, hoje extinto e substituído pela FUNAI.

Agrega-se à frente de expansão econômica do século XX, a construção da hidrelétrica de

Agrega-se à frente de expansão econômica do século XX, a construção da hidrelétrica de Itaipu Binacional, que inundou várias aldeias, tanto do lado brasileiro, como do lado paraguaio. Com este episódio, muitos grupos se dispersaram, alguns deles se dividindo e se incorporando à outras aldeias.

Décadas se passaram e o Estado, mesmo tendo construído a maior usina hidrelétrica do

Décadas se passaram e o Estado, mesmo tendo construído a maior usina hidrelétrica do mundo, não demonstrou nenhum compromisso em rever as terras inundadas. O rezador Onório Benitez comenta sobre a aldeia de Jacutinga, que ficou submersa nas águas do lago de Itaipu:

 ”A saída de Jacutinga foi assim, Itaipu estava fechando a barragem e antes

”A saída de Jacutinga foi assim, Itaipu estava fechando a barragem e antes disso entrou o Incra que mandou os índios saírem, queimou as casas deles para vê se eles iam embora e depois eles deram um pedacinho lá para o Fernando que ficou lá mais um tempo, depois que ele saiu para cá para o Ocoy. A terra de Jacutinga ficou debaixo da água. Vinte famílias foram lá para Rio das Cobras. Fui para Laranjeiras, depois fui para o Ocoy. Está fazendo doze anos que voltei para cá. ” (BENITEZ, O. 2010).

 A respeito da aldeia de Jacutinga Adriana Albernaz faz a seguinte afirmação: [.

A respeito da aldeia de Jacutinga Adriana Albernaz faz a seguinte afirmação: [. . . ] Existiram dois momentos específicos de diáspora dos que viviam na área indígena de Jacutinga, antes da transferência oficial realizada pela Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional, segundo os relatos dos Ava-Guarani. O primeiro se deu pela pressão feita pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), por volta de 1975,

 que destinou a área que era habitada pelos Ava-Guarani à criação de pequenos

que destinou a área que era habitada pelos Ava-Guarani à criação de pequenos lotes para alojar os agricultores que haviam sido retirados do local onde foi fundado o Parque Nacional do Iguaçu em 1939. O segundo aconteceu quando começaram a circular as notícias de que o local onde habitavam seria alagado. Mediante estas duas formas de pressão, vários Ava-Guarani abandonaram Jacutinga. (ALBERNAZ, 2007)