CRONOLOGIA DA HISTORIA DO TEATRO NO BRASIL Sculo
CRONOLOGIA DA HISTORIA DO TEATRO NO BRASIL
Século XVI – No princípio do período colonial, os jesuítas utilizam o teatro para catequizar os índios. O padre José de Anchieta encena seus autos com os nativos e os primeiros colonos. As peças são faladas em tupi-guarani, português e espanhol.
José de Anchieta
Evangelho nas Selvas (Padre Anchieta), por Benedito Calixto (1893). Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Século XVII – As apresentações teatrais passam a fazer parte, oficialmente, das comemorações cívicas. O baiano Manuel Botelho de Oliveira, escreve duas comédias inspiradas na dramaturgia espanhola e na língua espanhola, sendo o primeiro brasileiro a publicar sua dramaturgia.
Século XVIII – Casas de ópera (como chamavam os teatros) são construídas a partir da segunda metade do século. Antônio José da Silva se destaca com o texto “O Judeu”. No entanto, por ter vivido em Portugal desde os 8 anos, não é considerado um dramaturgo brasileiro.
Século XIX – A tragédia romântica Antônio José, ou O Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães, é a primeira peça de tema nacional escrita por um brasileiro. É levada à cena pelo ator João Caetano.
A comédia afirma-se como gênero dramático brasileiro e ainda nos acompanha com êxito de platéia a mais de um século. Martins Pena, fundador da comédia de costumes brasileira , e Arthur Azevedo figuram com grande qualidade e destaque.
Martins Pena (1815 -1848), escritor brasileiro
Os escritores românticos Gonçalves Dias e José de Alencar incursionam pela dramaturgia. De Gonçalves Dias destaca-se o drama Leonor de Mendonça, e de José de Alencar, O Demônio Familiar.
Século XX – A primeira metade do século se caracteriza por um teatro comercial. As companhias são lideradas pelos primeiros atores, que se convertem na principal atração, mais que as peças e temáticas apresentadas.
Também aconteceram encontros felizes e fora da linha comercial, como mo do autor Oduvaldo Vianna com os grandes intérpretes Procópio Ferreira e Dulcina de Moraes. Oduvaldo é o introdutor da prosódia brasileira no teatro, atrelado, ainda à falas aportuguesadas.
Procópio Ferreira Dulcina de Morais
O REI DA VELA 1933 - 1937 Oswald de Andrade 1890 - 1954 Focaliza a decadência da economia cafeeira, os dramas da incipiente indústria nacional sem mercado interno, a luta de classes dentro das classes no poder; a burguesia industrial, vinda da agiotagem, deixando-se envolver pelo imperialismo norte-americano para assim conservar as suas regalias.
Analisa a usura e as traficâncias do mundo dos negócios, a decadência do amor burguês e da própria sociedade capitalista. A peça só será encenada em 1967, num período em que a cultura brasileira entrava em contato com a Contracultura, pelo Grupo de Teatro Oficina, valorizando o lúdico, o experimental e a agressividade carnavalesca.
"E O rei da vela (viva o mau gosto da imagem) iluminou um escuro enorme do que chamamos realidade brasileira numa síntese quase inimaginável. E ficamos bestificados quando percebemos que o teto desse edifício nos cobria também, era a nossa mesma realidade brasileira que ele ainda iluminava. Sob ele encontramos o Oswald grosso, antropófago cruel, implacável, negro, apresentando tudo a partir de um cogito muito especial: Esculhambo, logo existo. " Zé Celso Martinez Corrêa, 1967
“A peça é fundamental para a timidez artesanal do teatro brasileiro de hoje, tão distante do arrojo estético do cinema novo. Eu posso cair no mesmo artesanato, já que há um certo clima no teatro brasileiro que se respira, na falta de coragem de dizer e mesmo possibilidade de dizer o que se quer e como se quer. ”
“Eu padeço talvez do mesmo mal do teatro do meu tempo, mas dirigindo Oswald eu confio me contagiar um pouco como todo elenco, com sua liberdade. Ele deflorou a barreira da criação no teatro e nos mostrou as possibilidades do teatro como forma, isto é, como arte. Como expressão audiovisual. E principalmente como mau gosto. ”
“Única forma de expressar o surrealismo brasileiro. Fora Nelson Rodrigues, Chacrinha talvez seja o seu único seguidor sem sabê-lo. ” Zé Celso Martinez Corrêa
1927– O teatro comercial e considerado de baixo de qualidade começa a ser transformado com Álvaro Moreyra, autor de Adão, Eva e Outros Membros da Família e líder do grupo O Teatro de Brinquedo. Formado por amadores, o grupo propõe um teatro de elite.
1938 – Estréia no Rio de Janeiro (RJ) o Teatro do Estudante do Brasil, concebido e dirigido por Paschoal Carlos Magno com elenco de universitários. A primeira montagem é Romeu e Julieta, protagonizada por Paulo Porto e Sônia Oiticica, com direção de Itália Fausta.
1943 – Estréia no Rio de Janeiro a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, encenada pelo grupo amador Os Comediantes e dirigida pelo polonês Ziembinski. Inaugurado, em São Paulo, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), uma casa de espetáculos e grupo teatral de repertório.
Nelson Rodrigues
No ano seguinte (1944), o TBC se profissionaliza, com a contratação de atores e do diretor italiano Adolfo Celi. O TBC produziu repertório eclético com montagem de textos clássicos e modernos e comédias de bom nível.
Vereda da Salvação, 1964.
Liderado por Franco Zampari, o TBC, ajuda a marcar uma das mais importantes fases do teatro brasileiro. O TBC encerra suas atividades em 1964
No mesmo período, outras companhias se formam: o Teatro Popular de Arte, de Maria Della Costa, a Cia. Nydia Lícia-Sérgio Cardoso o Teatro Cacilda Becker a Cia. Tônia-Celi-Autran.
Mais grupos teatrais estão à frente da renovação do teatro brasileiro: o Grupo de Teatro Experimental (GTE), de Alfredo Mesquita, e o Grupo Universitário de Teatro (GUT), de Décio de Almeida Prado.
1948 - Alfredo Mesquita, pertencente à família paulistana proprietária do jornal O Estado de S. Paulo funda a Escola de Arte Dramática (EAD) em São Paulo, que ocupa uma posição estratégica na formação técnica e estética de diversas gerações de artistas cênicos em São Paulo.
1953 – Fundação do Teatro de Arena de São Paulo, por José Renato. A princípio apenas uma tentativa de inovação espacial, acaba sendo responsável pela introdução de elementos renovadores na dramaturgia e na encenação brasileiras.
Augusto Boal dirigindo Sérgio Ricardo no Teatro de Arena. São Paulo, 1968.
1958 - Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri introduz a luta de classes como temática. Sob a liderança de Augusto Boal, o Arena forma novos autores e adapta textos clássicos expondo a realidade brasileira nessas adaptações.
Eles não usam black tie. Teatro de Arena, São Paulo, 1958. Gianfrancesco Guarnieri e Eugênio Kusnet. (FUNARTE/CEDOC)
Década de 60 – Uma vigorosa geração de dramaturgos irrompe na cena brasileira nessa década. Entre eles destacam-se Plínio Marcos, Antônio Bivar, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro e José Vicente.
Plínio Marcos
1964 – O Opinião no Rio de Janeiro, adapta shows musicais para o palco e desenvolve um trabalho teatral de caráter político. Lança de Zé Keti e Maria Bethânia, realiza a montagem da peça Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar.
1971 Gal Costa e Robertinho Silva Show no Teatro Opinião Rio de Janeiro, RJ. Rodas de samba do Teatro Opinião. Clementina de Jesus Nelson Cavaquinho.
1968 – A estréia Cemitério de Automóveis, de Antônio Arrabal e O Balcão, de Jean Genet, dirigidas por Victor Garcia e produzidas por Ruth Escobar, marcam o ingresso do teatro brasileiro numa fase de ousadias cênicas, espaciais e temáticas.
Década de 70 – Com a ditadura e a censura, a dramaturgia passa a expressar-se por meio de metáforas. Apesar disso, Fauzi Arap escreve peças que refletem o teatro, as opções alternativas de vida e a homossexualidade. Surgem diversos grupos teatrais formados por jovens atores e diretores.
No Rio de Janeiro destaca-se o Asdrúbal Trouxe o Trombone, cujo espetáculo Trate-me leão retrata toda uma geração de classe média. Em São Paulo surge a Royal Bexiga’s Company, com a criação coletiva O Que Você Vai Ser Quando Crescer;
Ainda em 1970 estréia o Pessoal do Vítor, grupo formado na EAD, com a peça Vítor, ou As Crianças no Poder, de Roger Vitrac; o grupo Pod Minoga, de alunos de Naum Alves de Souza, lança-se profissionalmente com a montagem coletiva de Follias Bíblicas, em 1977;
sob a liderança de Carlos Alberto Soffredini, O Mambembe estréia Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu; e o Teatro do Ornitorrinco, de Cacá Rosset e Luís Roberto Galizia, que inicia sua carreira nos porões do Oficina, em espetáculos como Os Mais Fortes e Ornitorrinco Canta Brecht-Weill, de 1977.
1974 – Após a invasão do Teatro Oficina pela polícia, Zé Celso parte para o auto-exílio em Portugal e Moçambique. Regressa ao Brasil em 1978, dando início a uma nova fase do Oficina, que passa a se chamar Uzyna-Uzona.
1978 – Estréia Macunaíma, com o grupo Pau Brasil e dirigido por Antunes Filho. Surge uma nova linguagem cênica brasileira, onde as imagens têm a mesma força da narrativa. Antunes Filho cria o Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), desenvolvendo intenso estudo teatral, até nossos dias.
Suas montagens fazem carreira internacional: Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno; Romeu e Julieta; Xica da Silva, de Luís Alberto de Abreu; A Hora e a Vez de Augusto Matraga, adaptado de Guimarães Rosa; Nova Velha História, Chapeuzinho vermelho para adultos; Vereda da Salvação, de Jorge Andrade
A Pedra do Reino no teatro de Antunes Filho
1979 – A censura deixa de ser prévia e volta a ter caráter apenas classificatório. É liberada e encenada no Rio de Janeiro a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, que fora premiada num concurso do Serviço Nacional de Teatro e, em seguida, proibida.
Década de 80 – A diversidade é a principal marca do teatro dos anos 80. O período se caracteriza pela influência do pós-modernismo movimento marcado pela união da estética tradicional à moderna.
O expoente dessa linha é o diretor e dramaturgo Gerald Thomas. Montagens como Carmem com Filtro, Eletra com Creta e Quartett apresentam um apuro técnico inédito. Seus espetáculos dão grande importância à cenografia e à coreografia.
Novos grupos teatrais, como o Ponkã, o Boi Voador e o XPTO, também priorizam as linguagens visuais e sonoras. O diretor Ulysses Cruz, da companhia Boi Voador, destaca-se com a montagem de Fragmentos de um Discurso Amoroso, baseado em texto de Roland Barthes.
Boi Voador
Boi Voador
Têm seus trabalhos reconhecidos: José Possi Neto (De Braços Abertos), Roberto Lage (Meu Tio, o Iauaretê) e Cacá Rosset, diretor do Ornitorrinco, que consegue fenômeno de público com Ubu, de Alfred Jarry.
Na dramaturgia predomina o besteirol, comédia de costumes que explora situações absurdas. O movimento cresce no Rio de Janeiro e tem como principais representantes Miguel Falabella e Vicente Pereira.
Em São Paulo surgem nomes como Maria Adelaide Amaral, Flávio de Souza, Alcides Nogueira, Naum Alves de Souza e Mauro Rasi. Trair e Coçar É Só Começar, de Marcos Caruso e Jandira Martini, torna-se um dos grandes sucessos comerciais da década.
Luís Alberto de Abreu – que escreve peças como Bella, Ciao e Xica da Silva – é um dos autores com obra de maior fôlego, atravessando também os anos 90.
1987 – A atriz performática e dramaturga Denise Stoklos, desponta internacionalmente em carreira solo. O seu espetáculo Mary Stuart é apresentado em Nova York, nos Estados Unidos, e obtém grande reconhecimento. Ela continua atuando e desenvolvendo sua reflexão teatral e política.
Seu trabalho é chamado de teatro essencial porque utiliza o mínimo de recursos materiais e o máximo dos próprios meios do ator. Possui uma reflexão pessoal da atriz sobre o mundo globalizado e as relações entre os indivíduos.
Década de 90 – No campo da encenação, a tendência à visualidade convive com um retorno gradativo à palavra por meio da montagem de clássicos. Dentro dessa linha tem destaque o grupo Tapa, com Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues e A Megera Domada, de William Shakespeare.
O experimentalismo continua e alcança sucesso de público e crítica nos espetáculos Paraíso Perdido (1992) e O Livro de Jó (1995), de Antônio Araújo. O diretor realiza uma encenação ritualizada e utilizase de espaços cênicos nãoconvencionais – uma igreja e um hospital, respectivamente.
As técnicas circenses também são adotadas por vários grupos. Em 1990 é criado os Parlapatões, Patifes e Paspalhões. A figura do palhaço é usada ao lado da dramaturgia bem-humorada de Hugo Possolo, um dos membros do grupo.
Também ganha projeção a arte de brincante do pernambucano Antônio Nóbrega. Pertencente ao movimento Armorial, que ajuda a criar junto com Ariano Suassuna, o ator, músico e bailarino explora o lado lúdico na encenação teatral, empregando músicas e danças regionais.
Outros encenadores de destaque são Bia Lessa e Gabriel Villela. No final da década ganha importância o diretor Sérgio de Carvalho, da Companhia do Latão. Seu grupo realiza um trabalho de pesquisa sobre o teatro dialético de Bertolt Brecht, resultando nos espetáculos Ensaio sobre o Latão e Santa Joana dos Matadouros.
1993 – O diretor Zé Celso reabre o Teatro Oficina, com a montagem de Hamlet, clássico de Shakespeare. Zé Celso opta por uma adaptação que enfoca a situação política, econômica e social do Brasil.
1998 – Estréia Doméstica, de Renata Melo, espetáculo que tem forte influência da dança. Essa encenação dá seqüência ao trabalho iniciado em 1994, com Bonita Lampião. Sua obra se fundamenta na elaboração da dramaturgia pelos atores, por meio do estudo corporal das personagens.
1999 – Antunes Filho apresenta Fragmentos Troianos, baseada em As Troianas, de Eurípedes. Pela primeira vez, o diretor monta uma peça grega. Essa montagem é resultado da reformulação de seu método de interpretação, alicerçado em pesquisas de impostação da voz e postura corporal dos atores.
- Slides: 101