RELAO DE AJUDA Nas veredas da misericrdia Relao

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RELAÇÃO DE AJUDA Nas veredas da misericórdia

RELAÇÃO DE AJUDA Nas veredas da misericórdia

Relação & ajuda Ajuda F. Sampaio / ajudar : • Falta • Necessidade •

Relação & ajuda Ajuda F. Sampaio / ajudar : • Falta • Necessidade • Dificuldade • Problema • Sofrimento 08/01/2022 2

Relação & ajuda Relação F. Sampaio - Atenção ao outro • Estabelecer contacto •

Relação & ajuda Relação F. Sampaio - Atenção ao outro • Estabelecer contacto • Conexão • Vínculo • Conhecimento • Amizade • Laço 08/01/2022 3

Relação & ajuda Face à necessidade do outro, à falta, à dificuldade, ao problema,

Relação & ajuda Face à necessidade do outro, à falta, à dificuldade, ao problema, ao sofrimento… deixo-me ficar afectado, sensível, tocado… …Compaixão, misericórdia e estabeleço contacto, um vínculo, uma conexão, um conhecimento, um laço. . . Inicio uma relação de ajuda e torno-me próximo do outro, cuido do outro que vive a/na vulnerabilidade. F. Sampaio E esta relação é composta de atitudes e de comunicação 08/01/2022 4

Homem, ser vulnerável … O humano é vulnerável, radical(mente) vulnerável. É vulnerável em sua

Homem, ser vulnerável … O humano é vulnerável, radical(mente) vulnerável. É vulnerável em sua raiz (radix) mais íntima” (Torralba i Roselló, 2009) É por isso um ser contingente, imperfeito, limitado, dependente, enfermável, mortal… F. Sampaio 08/01/2022 5

O homem, ser vulnerável … Vulnerável, o homem necessita de ajuda, de ser cuidado.

O homem, ser vulnerável … Vulnerável, o homem necessita de ajuda, de ser cuidado. Também por isso é cuidador. E ao cuidar, humaniza-se e constrói-se como homem. «O ser humano necessita de cuidar do outro ser humano para realizar a sua humanidade, para crescer no sentido ético do termo, mas, da mesma forma, necessita do cuidado de outros para alcançar a sua plenitude, ou seja, para superar as barreiras e as dificuldades da vida humana» (Roselló) F. Sampaio 08/01/2022 6

O homem, ser vulnerável… A falta, a deficiência, sofrimento arranca o homem a si

O homem, ser vulnerável… A falta, a deficiência, sofrimento arranca o homem a si mesmo, arranca-o da arrogância e da auto suficiência. Obriga-o a confrontar-se com os seus limites, a tomar consciência da sua finitude (Cf M. Fleming). Por isso a deficiência, a doença e o sofrimento são, entre outras, manifestações eloquentes da contingência humana, da fragilidade, da vulnerabilidade que tornam o cuidar uma necessidade, uma emergência. F. Sampaio 08/01/2022 7

Homem, ser relacional No contexto da ajuda social e da saúde, a relação e

Homem, ser relacional No contexto da ajuda social e da saúde, a relação e a comunicação têm uma particular relevância ao nível do cuidar: Não basta querer fazer o bem. É necessário fazê-lo bem. Não basta ser profissional, voluntario, ministro da comunhão, estar no acolhimento… É necessário ser também humano, cuidar ao jeito humano, como acontece no cuidar materno; é necessária uma relação dialogante, respeitosa e calorosa… A relação e a comunicação podem ser por isso factores de personalização, significação e humanização ou de marginalização, despersonalização e desumanização F. Sampaio 08/01/2022 8

O sofrimento pede a palavra O homem, enquanto ser simbólico, precisa de ser contido

O sofrimento pede a palavra O homem, enquanto ser simbólico, precisa de ser contido na concha simbólica da linguagem … E é pela palavra e na palavra que a falta, a deficiência, a solidão, o sofrimento pode ser simbolicamente contido e tornado tolerável. O problema está no facto de o sofrimento (com suas expressões) ser mudo, inibir a expressão, paralisar o pensamento e não suscitar a palavra, ao contrário do amor que emite sinais e gera a palavra (cf. Fleming). F. Sampaio 08/01/2022 9

Escuta, por favor O sofrimento pede o outro para se dizer por palavras ou

Escuta, por favor O sofrimento pede o outro para se dizer por palavras ou gestos e sons de dor… Precisa do outro para ser narrado, pois na palavra é simbolicamente contido. O sofrimento procura “o escutar” do outro. De um outro que escute não apenas os sons e ruídos das palavras, mas também o ruído das lágrimas, os sentidos e sem-sentidos escondidos na flexão das palavras. O doente necessita de relação densa de humanidade e de comunicação verdadeira F. Sampaio 08/01/2022 10

Relação e comunicação Ajudar, F. Sampaio cuidar exige: üuma relação que seja ajuda humana,

Relação e comunicação Ajudar, F. Sampaio cuidar exige: üuma relação que seja ajuda humana, hospitaleira, compassiva, calorosa … üE uma comunicação que transmita e produza o sentimento de ser escutado e compreendido 08/01/2022 11

Modalidades de ajuda Não basta prometer ajuda ou prontificar-se para cuidar graciosamente Nem toda

Modalidades de ajuda Não basta prometer ajuda ou prontificar-se para cuidar graciosamente Nem toda a ajuda é efectivamente ajuda Há formas de ajuda que magoam, desprezam, marginalizam, inferiorizam Há diferentes modos de conceber e desenvolver a ajuda, e os resultados são diferentes F. Sampaio 08/01/2022 12

Modalidades de ajuda Há Ø modos de ajuda que não são humanos O cuidador

Modalidades de ajuda Há Ø modos de ajuda que não são humanos O cuidador bonzinho não confia, infantiliza, culpabiliza, paralisa ou causa revolta; Ø O cuidador autoritário proíbe, dá ordens e impede o outro de ser ele em sua própria pele; Ø Um cuidador ansioso manipula, gera mal-estar, insegurança, desconfiança; Ø Um cuidador parasita aproveita-se da fragilidade ou das necessidades do outro; Ø Um cuidador abandónico gera solidão, desamparo, … F. Sampaio 08/01/2022 13

Modalidades de ajuda Para uma ajuda humana e calorosa: - Não posso impor a

Modalidades de ajuda Para uma ajuda humana e calorosa: - Não posso impor a ajuda - O outro deve querer/consentir a ajuda - A ajuda está relacionada com a necessidade, mas sobretudo para com a pessoa - Não deve ir para além daquilo que é pedido - Respeitar a vida / intimidade /espaço /autonomia - Deve ser uma ajudar que permita ao outro levantar-se por si mesmo; que o leve a ser ele próprio, a retomar a sua autonomia e liberdade 08/01/2022 14 O cuidador empático é humano e caloroso, confia no outro e respeita-o F. Sampaio

Estilos de relação RA Directiva Estilo autoritário RA orientada para o problema Fazer por

Estilos de relação RA Directiva Estilo autoritário RA orientada para o problema Fazer por Uso do poder Ser com Estilo democrático F. Sampaio Estilo paternalista RA orientada para a pessoa Estilo participativo / empático RA facilitadora 08/01/2022 15

Existem 4 modelos de relação de ajuda Autoritário Democrático Paternalista Empático F. Sampaio problema

Existem 4 modelos de relação de ajuda Autoritário Democrático Paternalista Empático F. Sampaio problema + directividade - cooperativo problema + facilitador pessoa + directividade - participativo pessoa + facilitador 08/01/2022 16

Estilo paternalista - Centra-se na pessoa e tem em conta a forma como o

Estilo paternalista - Centra-se na pessoa e tem em conta a forma como o doente vive o problema. - A intervenção é directiva: tendência a colocar o outro sob protecção, sente-se responsável por ele, não confia no ajudado. Exemplo: - “A vida não tem sentido” - “ Vá, reage. Isso vai melhorar, vais ver”… F. Sampaio 08/01/2022 17

Estilo autoritário –(manager) - O ajudante centra-se no problema do ajudado - Aponta uma

Estilo autoritário –(manager) - O ajudante centra-se no problema do ajudado - Aponta uma solução de forma directiva - Estabelece uma relação de domínio-submissão. - O ajudado deve executar a solução. Exemplo: - “A vida não tem sentido” - “ Não seja lamechas. Deixa de te lamentares e começa a pensar”… F. Sampaio 08/01/2022 18

Estilo empático – participativo Centra-se na pessoa e está atento à sua experiência. Não

Estilo empático – participativo Centra-se na pessoa e está atento à sua experiência. Não ignora o problema , mas interessa-lhe o impacto que tem para a pessoa o problema. Interessa-se que tome consciência e que aprofunde o conhecimento de si mesma, das suas dificuldades e dos seus recursos. Exemplo: - “A vida não tem sentido, mais valia morrer”… - “O momento por que estás a passar é tão difícil que te perguntas se vale a pena continuar a viver” F. Sampaio 08/01/2022 19

Estilo empático-participativo Olha a pessoa de uma forma holística: tem em conta as dimensões

Estilo empático-participativo Olha a pessoa de uma forma holística: tem em conta as dimensões físsica, emotiva, cognitiva, social e espiritual-religiosa O objectivo é ser suporte/companheiro da pessoa na crise para a ajudar a sair de sua angústia, culpa, isolamento, alienação… (ou gerir de forma adaptativa a sua situação) F. Sampaio 08/01/2022 20

O que dizer? Marta, 64 anos, 3 filhos, marido doente, passou pelo acolhimento da

O que dizer? Marta, 64 anos, 3 filhos, marido doente, passou pelo acolhimento da paróquia e pediu um conselho «O meu marido sempre trabalhou e o médico diz que ele tem cancro. Os nossos filhos sabem disso, mas não querem que o pai o saiba. Dizem que é melhor assim para que mantenha o ânimo elevado. Só tem 64 anos, ainda é novo. Temos uma vida bonita… Mas as coisas vão-se complicar. Não sei que fazer se dizer, oou se não dizer. O que lhe parece? Daqui a pouco já não será possível esconder mais…» . F. Sampaio 08/01/2022 21

O que dizer? Claro, tem de lhe dizer para que ele se prepare e

O que dizer? Claro, tem de lhe dizer para que ele se prepare e porque mais dia menos dia vai sabê-lo. No seu lugar conversava com os filhos e dizia-lhes que o pai é adulto e tem direito a saber o que se passa com ele. Parece sentir-se indecisa entre acolher a opinião dos seus filhos e contar ao seu marido o que se passa com ele… F. Sampaio …. 08/01/2022 22

O que dizer? Claro, tem de lhe dizer para que ele se prepare e

O que dizer? Claro, tem de lhe dizer para que ele se prepare e porque mais dia menos dia vai sabê-lo R/ Autoritáia No seu lugar conversava com os filhos e dizia-lhes que o pai é adulto e tem direito a saber o que se passa com ele R/paternalista Parece sentir-se indecisa entre acolher a opinião dos seus filhos e contar ao seu marido o que se passa com ele… R/ Empática F. Sampaio …. 08/01/2022 23

O que dizer? O João, 67 anos, teve um AVC e encontra-se num lar

O que dizer? O João, 67 anos, teve um AVC e encontra-se num lar devido à sua situação de dependência. Quando uma auxiliar se aproxima, diz: «É preferível morrer. Ter de continuar assim preso a uma cadeira de rodas para o resto da vida é muito sofrimento. Que mal fiz eu para ter de suportar isto? » F. Sampaio 08/01/2022 24

O que dizer? Vá, não deve desanimar tanto, coragem. Vai ver que vai melhorar.

O que dizer? Vá, não deve desanimar tanto, coragem. Vai ver que vai melhorar. Porque diz essas coisas, sr João? Vamos olhar para a frente, não desanime. O futuro angustia-o, Sr João, e preferia morrer… E pensa que não merecia tanto sofrimento… … F. Sampaio 08/01/2022 25

O que dizer? F. Sampaio Vá, não deve desanimar tanto, coragem. Vai ver que

O que dizer? F. Sampaio Vá, não deve desanimar tanto, coragem. Vai ver que vai melhorar. R/ Paternalista Porque diz essas coisas, sr João? Vamos olhar para a frente, não desanime. R/ Autoritaria O futuro angustia-o, Sr João, e preferia morrer… E pensa que não merecia tanto sofrimento… R/ Empática … 08/01/2022 26

Relação de ajuda Fazer o bem… Mas fazê-lo bem! Dispor-se a aprender, ter critérios

Relação de ajuda Fazer o bem… Mas fazê-lo bem! Dispor-se a aprender, ter critérios e sentido crítico, acolher a crítica e sugestões, avaliar… F. Sampaio 08/01/2022 27

O desafio da relação e comunicação empáticos É um modo de relação e uma

O desafio da relação e comunicação empáticos É um modo de relação e uma arte de comunicação: ü Caracteriza-se pela não directividade: não decide no lugar do outro ü Funda-se no respeito incondicional do outro: não julga ü Promove a autonomia e a responsabilidade: não dá ordens ou soluções ü Enfatiza a pessoa e suas capacidades: estimula o outro a tomar iniciativa ü Integra as fragilidades como potencialidade F. Sampaio 08/01/2022 28

O desafio da relação e comunicação empáticos A relação de ajuda empático-participativa é uma

O desafio da relação e comunicação empáticos A relação de ajuda empático-participativa é uma aliança estratégica entre ajudante e ajudado, entre cuidador e cuidado, entre agente de pastoral e aquele que pede ajuda; É um vínculo que cria proximidade e expressa interesse pela pessoa do outro, mas mantem ao mesmo tempo a distância adequada para garantir a autonomia e liberdade, bem como para impedir a fusão destruidora do outro. F. Sampaio 08/01/2022 29

O desafio da relação e comunicação empáticos A relação de ajuda dá conta de

O desafio da relação e comunicação empáticos A relação de ajuda dá conta de um compromisso do ajudante em tornar-se companheiro nas experiências difíceis da pessoa ajudada, e aceite por esta, a fim de que aconteça uma mudança significativa e positiva na vida da pessoa ajudada. Ajudar, deste modo, é tornar-se companheiro para acolher os seus sentimentos e emoções (alegria, tristeza, angústia medo raiva, amor surpresa, vergonha), as suas dores e fracassos, as suas alegrias e esperanças. F. Sampaio 08/01/2022 30

O desafio da relação e comunicação empáticos “Ajudar” «é promover uma mudança construtiva na

O desafio da relação e comunicação empáticos “Ajudar” «é promover uma mudança construtiva na mentalidade e no comportamento de alguém» . Esta mudança, no dizer de G. Dietrich, tem como suporte o estabelecimento de uma relação entre ajudante e ajudado que deve ser caracterizada por atitudes de acolhimento, benevolência, compreensão e recusa em dar soluções ou orientações. A finalidade é procurar auxiliar o ajudado a ter ideias claras sobre si mesmo e seus problemas, a desenvolver os seus próprios recursos em vez de contar com os recursos dos outros, a ajudar-se a si mesmo na resolução dos seus conflitos e a adquirir a capacidade de F. Sampaio 08/01/2022 31

O desafio da Relação e da comunicação empáticos Metáfora: “caminhar juntos” Expressa o risco

O desafio da Relação e da comunicação empáticos Metáfora: “caminhar juntos” Expressa o risco de se tornar companheiro, de viver a confiança, a gratuitidade. De perscrutar juntos o caminho; de interpretar juntos a direcção a seguir. De partilhar juntos temores, dificuldades, angústias, esperanças … F. Sampaio 08/01/2022 32

 A 1– Olá, boa tarde. Está bem disposta? R 1– Boa tarde. A

A 1– Olá, boa tarde. Está bem disposta? R 1– Boa tarde. A 2– Então, como é que se chama? R 2 – Rosa Maria. A 3 – D. Rosa, como é que se sente? R 3 – Estou bem. Olhe, cá estou. . . Já estou melhor. A 4 – O que é que tem? R 4 – Fui operada aos intestinos há um ano e fiquei a fazer para um saco. Agora fui outra vez operada para fazerem a ligação. A 5 – Quando é que foi operada? F. Sampaio R 5 – Há uma semana. 08/01/2022 33

 A 6 – E está tudo a correr bem? R 6 – Não

A 6 – E está tudo a correr bem? R 6 – Não sei. . . Também me tiraram um ovário. Disseram-me que havia lá qualquer coisa e acharam melhor tirá-lo. . . Bem, já não me faz falta. Não estou a pensar ter mais filhos. . A 7 – Então, vá lá, não pode desanimar assim. Tem que ter confiança. . Vai correr tudo bem. . . Tem que ter força. R 7 – Deus queira que sim, mas não sei. . . Os médicos não me dizem nada. Dizem que correu tudo bem, mas não sei. . . A 8 – Então, mas a D. Rosa não se sente bem, não se sente melhor? R 9 – Sinto. . . A 9 – O intestino já funciona bem, já funciona normalmente? . . . R 9 – Sim já funciona qualquer coisita. . . É, vai aos poucos. Esteve muito tempo parado, mas há-de ir. F. Sampaio 08/01/2022 34

O desafio da relação e comunicação empáticos A relação de ajuda teve origem na

O desafio da relação e comunicação empáticos A relação de ajuda teve origem na Psicologia Humanista e Existencial, com Rogers. A orientação é não directiva. Tem numa visão positiva do homem: acredita nas suas capacidades de transformação e de crescimento, na possibilidade de enfrentar e resolver os seus próprios conflitos Enfatiza a condição relacional da natureza humana e promove a autonomia da pessoa, bem como a liberdade e a responsabilidade. F. Sampaio 08/01/2022 É usada por profissionais de saúde, bem como por agentes de pastoral e voluntários especializados em cuidados paliativos. 35

Paradigmas da relação de ajuda empática Paradigmas de ajuda empática F. Sampaio • Deus

Paradigmas da relação de ajuda empática Paradigmas de ajuda empática F. Sampaio • Deus escuta o seu Povo e decide libertá-lo • O bom samaritano desce do seu cavalo e cuida o homem caído na estrada • Jesus escuta o grito do cego de nascença, de Jairo… • Jesus repara em Zaqueu no cimo da árvore e vai almoçar a sua casa • Jesus torna-se companheiro dos discípulos de Emaús 08/01/2022 36

Tríade rogeriana: Atitudes relacionais a aprender e adoptar Autenticidade Aceitação ou congruência incondicional ou

Tríade rogeriana: Atitudes relacionais a aprender e adoptar Autenticidade Aceitação ou congruência incondicional ou consideração positiva Empatia F. Sampaio 08/01/2022 37

Atitude de Autenticidade É a capacidade de ser si mesmo, coerente com os seus

Atitude de Autenticidade É a capacidade de ser si mesmo, coerente com os seus próprios valores, sentimentos e pensamentos. Capacidade de ser adulto, de fazer a integração dos medos, angústias, sentimentos, zangas, perdas… de por nomes nos sentimentos, emoções, temores… Da conta da vontade de ser e de expressar como é, na vida e no pensamento. A autenticidade confere, por isso, uma autoridade interna e intensa à pessoa, levando o outro a acreditar nela. Capacita para uma atitude e comunicação empáticas, bem como para F. Sampaio 08/01/2022 38 acolher o outro incondicionalmente, mesmo que não esteja de acordo com ele.

Atitude de consideração positiva ou aceitação incondicional A atitude de consideração positiva ou aceitação

Atitude de consideração positiva ou aceitação incondicional A atitude de consideração positiva ou aceitação incondicional, podendo também falar-se de respeito ou de estima, dá conta de uma atitude calorosa, positiva e receptiva do outro, sem condições prévias ou preconceito. A aceitação incondicional promove a dignidade do outro. Fá-lo sentir-se respeitado, considerado, valorizado, reconhecido. É condição para a empatia. Cordialidade no trato, amabilidade na relação, amar o outro como ele é, como pessoa única; não julga; não moralizar; não impor critérios pessoais, de grupo, religiosos ou outros; dispor-se a compreender o outro com as suas contradições, dificuldades, F. Sampaio 08/01/2022 39

Atitude empática Ø Ø F. Sampaio a empatia é a atitude fundamental da relação

Atitude empática Ø Ø F. Sampaio a empatia é a atitude fundamental da relação de ajuda Significa colocar-se no lugar do outro para o compreender segundo a sua perspectiva, a partir da sua mente, a partir da sua perpectiva Significa compreender o seu mundo interior, o impacto nele da sua experiênia de sofrimento, das suas necessidades, emoções, temores, alegrias, esperanças … …e transmitir essa compreensão de forma a que o outro se sinta compreendido. Requer, por isso, a comunicação empática. 08/01/2022 40

Atitude de empatia A empatia requer: a) - A capacidade para captar o significado

Atitude de empatia A empatia requer: a) - A capacidade para captar o significado da experiência do outro (alegria, esperança, sofrimento, medo, ansiedade, solidão …): compreender o que diz, o pensamento. b) – E a capacidade para captar/compreender os sentimentos presentes Para depois comunicar por palavras suas: - esse significado e os sentimentos presentes F. Sampaio 08/01/2022 Se assim acontecer, a pessoa sente-se compreendida, amada. 41

Quem é empático: Ø Ø Não dá conselhos, soluções, ordens… Não tem como primeira

Quem é empático: Ø Ø Não dá conselhos, soluções, ordens… Não tem como primeira intenção consolar, tranquilizar… Ø Não julga, moraliza, culpabiliza… Não tem pressa, impaciência, ansiedade … Ø Está atento ao doente, escuta-o com atenção e interesse … Ø F. Sampaio 08/01/2022 42

Efeitos da empatia no doente - permite uma boa comunicação - dá ao doente

Efeitos da empatia no doente - permite uma boa comunicação - dá ao doente a percepção de que está a ser compreendido - centra a relação e a comunicação no doente Deste modo: Estimula no doente a auto exploração Favorece a auto confiança Favorece o diálogo crítico Favorece a auto aceitação de si mesmo Favorece o desabafar, a descarga afectiva Permite uma maior autenticidade da parte do doente F. Sampaio 08/01/2022 43

Como pôr-se no lugar do outro? A Escuta activa - instrumento da empatia -

Como pôr-se no lugar do outro? A Escuta activa - instrumento da empatia - Escutar com os olhos … + Observação: Atenção física (escutar com os olhos) Compreender a linguagem para-verbal F. Sampaio 08/01/2022 44

Escuta activa Leva à humildade, à capacidade para estabelecer relações horizontais, a ser companheiro

Escuta activa Leva à humildade, à capacidade para estabelecer relações horizontais, a ser companheiro Ilumina na escuridão, mata a solidão, anula o isolamento, é ponte de para a comunhão, satisfaz a necessidade de ser reconhecido, comunica interesse, expressa amor genuíno. Compromete a pessoa toda: implica a sua linguagem verbal e para -verbal F. Sampaio 08/01/2022 45

Escuta activa Condições para escutar: Escutar é mais do que ouvir Libertar de preconceitos

Escuta activa Condições para escutar: Escutar é mais do que ouvir Libertar de preconceitos Ter/dar tempo Desinchar o Ego Criar silêncio Fazer discernimento F. Sampaio 08/01/2022 46

Escuta activa A escuta não se ajusta com a gritaria, com não deixar falar

Escuta activa A escuta não se ajusta com a gritaria, com não deixar falar o outro A escuta não é possível se o outro me deixa inquieto, ansioso, com medo A escuta transforma o estranho em companheiro, abre a alma do outro Quem escuta dispõe-se a aprender com o outro F. Sampaio Quem escuta liberta-se da ansiedade, cria espaço interior para o outro 08/01/2022 47

Escuta activa A escuta faz-se com silêncio e acolhendo o silêncio A escuta aceita

Escuta activa A escuta faz-se com silêncio e acolhendo o silêncio A escuta aceita a crítica e faz autocrítica A escuta é uma arte de amar A escuta é libertadora e fomentadora da esperança A escuta apazigua a alma Não ter quem escute é um terrível drama/sofrimento F. Sampaio 08/01/2022 48

Obstáculos à escuta activa Ø A ansiedade – preocupação consigo próprio, imagem pessoal, que

Obstáculos à escuta activa Ø A ansiedade – preocupação consigo próprio, imagem pessoal, que dizer, receio de perguntar, temores… Ø A superficialidade – dificuldade em deter-se nos sentimentos do doente. Generalizar, racionalizar, fugir dos temas, sobretudo dos temas perturbadores… Ø Tendência a julgar – Impor os seus critérios humanos ou religiosos, valores, princípios ideológicos … Ø Impaciência, impulsividade impedindo o outro de se expressar, de terminar as frases, de ter o ser rítmo… Ø Passividade – Tendência a dar razão em tudo ao doente pelo facto de estar doente; não manifestar capacidade de confrontação no momento oportuno… F. Sampaio 08/01/2022 49

Caso: Maria, 84 anos, foi internada devido a dores abdominais. Foi empregada doméstica de

Caso: Maria, 84 anos, foi internada devido a dores abdominais. Foi empregada doméstica de uma senhora, mais ou menos da mesma idade, desde muito jovem. Foi-lhe muito dedicada, ficando dependentes uma da outra. A. 1 – Boa noite, posso entrar? … Como passaram o dia? (Maria olha e os olhos se lhe humedecem. Sento-me na cama, pego-lhe na mão…). Maria, diga-me, que se passa consigo? (Baixa os olhos, deixa cair a cabeça. . . As lágrimas correm pela cara). M. 1 – A minha Senhora. . . já vivia com ela há 60 anos. Estava sempre comigo. Queria-a como se fosse minha mãe (os soluços afogavam-lhe cada vez mais a voz), e Deus levou-ma (Chora compulsivamente). A. 2 – É a lei da vida, Maria. Há sempre uns que vão mais cedo que outros! M. 2 – Bem podia ter ido eu antes! (Soluça) Queria-a muito. Era tão boa. . . A. 3 – Quem sabe, talvez Deus precisasse dela lá. . . (Maria vai-se acalmando e olha-me nos olhos). M. 3 F. Sampaio – Deus não precisava dela. Já lá tem muita gente e eu estou só. Eu não tenho 08/01/2022 ninguém. Só a tinha a ela e Deus tirou-ma. Não é justo. 50

A. 4 – Não se pode julgar a Deus, Maria. Talvez esteja a pôr

A. 4 – Não se pode julgar a Deus, Maria. Talvez esteja a pôr a sua fé à prova? M. 4 – Sim, talvez, mas é uma prova muito dura. (Está mais tranquila. É ela agora que me afaga a mão). A. 5 – E sabe, Maria, você não está só. Tem aqui uma companheira simpática. Reparei também que o pessoal gosta muito de si e a trata com carinho. Sabe, e também me tem a mim para o que precisar. M. 5 – Sim, obrigado. . . (baixa o olhar e solta-me a mão), porém todos se vão. Todas as pessoas boas se vão embora. (Entristece-se). A. 6 – Não, Maria, sempre que precisar tem-nos aqui. Esta noite pode oferecer os seus sofrimentos ao Senhor. Verá como fica mais tranquila (Dou-lhe um aperto de mão e vou-me retirando pouco a pouco, saudando as duas). F. Sampaio 08/01/2022 51

Comunicar de forma empática Técnicas de comunicação: resposta empática Reformulação consiste em dizer por

Comunicar de forma empática Técnicas de comunicação: resposta empática Reformulação consiste em dizer por palavras minhas o que acaba de ser dito pelo doente (o pensamento) e os sentimentos veiculados. - É uma resposta em espelho. Dá ao doente o sentimento de ser compreendido e de ser escutado É uma resposta inusual, desconcertante que necessita ser aprendida F. Sampaio 08/01/2022 52

Como reformular? Técnicas 1 - Reiteração - consiste em devolver em poucas palavras o

Como reformular? Técnicas 1 - Reiteração - consiste em devolver em poucas palavras o que acaba de ser dito. Pode-se utilizar a última palavra, as primeiras palavras, a palavra mais importante… 2 - Iluminação – ordenação de temas- Consiste em por ordem os temas verbalizados 3 - Clarificação – é um pedido para que clarifique um ou outro aspecto menos claro ou um sentimento sugerido, mas não expresso. (Deve ser feito com cuidado) 4 – Devolução do sentimento - devolver o sentimento presente ou fundo emocional F. Sampaio 08/01/2022 53

 Outras técnicas: Personalização Confrontação Persuasão Intenção paradoxal …. F. Sampaio 08/01/2022 54

Outras técnicas: Personalização Confrontação Persuasão Intenção paradoxal …. F. Sampaio 08/01/2022 54

M. 5 – “. . . Quando era pequeno fui coroinha, mas depois, sabe?

M. 5 – “. . . Quando era pequeno fui coroinha, mas depois, sabe? , a gente torna-se adulto e começa a pensar noutras coisas. . . pensa que não precisa de minguem, que é capaz de tudo. . Comecei a fazer outra vida e pronto. . . acabei por abandonar a fé. Mas eu nunca me esqueci de Deus (olhando muito sério para mim, como que dizendo que fez uma pausa na fé, que necessitou de experimentar a vida, a liberdade. . . ), sempre tive um sentimento interior por Ele, embora muitas vezes dissesse para aos meus amigos que era agnóstico. . . Quando a minha doença se tornou crónica e cortei a perna senti a minha vida andar para trás e recordei-me da minha infância. . . nesse tempo ía à igreja. . . fiz a catequese e a primeira comunhão, ajudava o padre na igreja. . . andava próximo de Deus. . . senti vontade de regressar. . . Eu já quis ir à igreja e falar com um padre, mas tenho tido dificuldades devido a não ter a perna e ainda não conseguir andar F. Sampaio 55 com a prótese e também porque a minha situação de saúde se tem 08/01/2022 complicado. Tenho tido vários internamentos. . . A igreja também é longe de minha casa. . .

P. 5 – “Você tem passado por várias etapas na sua vida, também a

P. 5 – “Você tem passado por várias etapas na sua vida, também a sua relação com Deus tem passado por vários momentos, momentos de aproximação e momentos de separação, e agora parece que é importante para si aproximar-se novamente de Deus neste momento em que atravessa uma situação difícil de saúde. . . ” F. Sampaio 08/01/2022 56

M. 6 – “É, Padre, a minha vida está complicada. . . (emocionou-se e

M. 6 – “É, Padre, a minha vida está complicada. . . (emocionou-se e deixou cair algumas lágrimas. ) “Não sei o que hei-de fazer, nem o que hei-de pensar. . . o corte da minha perna foi dramático e tem-me custado adaptar à prótese, apesar de já ter começado a fisioterapia. . . Sabe, adaptei também a minha casa e comprei um carro com uma adaptação especial para que possa conduzir. . . Gostava tanto de o voltar a fazer, há muitas coisas ainda que eu gostava de fazer!. . . Mas agora. . . a situação parece estar a complicar-se. O médico falou-me da possibilidade de perder alguns dedos do outro pé ou o pé inteiro. É duro, Padre, muito duro. . . Não bastava a outra perna? ” (A cara contraiu-se para evitar chorar, e deixou evadir o olhar. ) P. 6 – “Sente como muito dura, Mário, a situação por que está a passar neste momento”. . . (e coloquei a minha mão sobre a dele que ele acolheu e 08/01/2022 apertou com F. Sampaio 57 força).

M. 7 - “Não sei o que me passa. (E largou-me a mão). .

M. 7 - “Não sei o que me passa. (E largou-me a mão). . . Sinto-me perturbado. . . abalado. . . (As palavras custavam sair e eram tão pesadas como o silêncio e as lágrima que caíam do seu rosto. A expressão, por sua vez, era triste e o olhar vago. ). . . Parece que Deus não me ouve. . . e também já nem consigo concentrarme e rezar. . . Não sei o que fiz de tão grave para que Deus me castigue assim. . . A minha consciência não me acusa. . . (Silêncio). . . É certo que durante uma parte da minha vida não pratiquei. . . Mas, mesmo em todo esse tempo não fiz nada de tão grave para merecer este castigo. . . Procurei fazer bem aos outros mesmo quando me faziam mal. . . Procurei fazer o meu trabalho com seriedade. . . Houve pessoas que me fizeram mal e eu perdoei e esqueci. . . Mas porquê tudo isto, que mal fiz eu? . . P. 7 – (Causou-me dano interiormente a dor do Mário e senti dificuldade em F. Sampaio 08/01/2022 acompanhá-lo ) “Sente-se injustiçado e abandonado por Deus. . . Sente que até 58 parece que Deus o está a castigar. . . e ao olhar para a sua vida e ao procurar na

M. 8 –. . “Parece que Deus está surdo, cego e mudo. . .

M. 8 –. . “Parece que Deus está surdo, cego e mudo. . . parece que no momento em que mais precisamos d’Ele, Ele não aparece. . . Por vezes até ponho em dúvida a sua existência. . . Não sei o que se passa comigo, sinto-me perturbado. . . Estava a conseguir rezar e o que estava a acontecer comigo era tão bom. . . Agora não consigo concentrar-me, não consigo rezar. . . e eu preciso que Ele me ajude. . . que me ajude agora. . . (E di-lo com raiva, quase que exigindo, e deixa cair algumas lágrima). . . Parece que o mundo está a cair sobre mim. . . Porquê? . . . Que vou fazer? . . . Agora se me cortam o outro pé. . . que vou fazer? . . . Porqué tudo isto? (As palavras saíram com alguma raiva. ) F. Sampaio P. 8 – “Hmmm. . . ” 08/01/2022 59

M. 9 – (Depois de um longo silêncio) “É certo que eu passei um

M. 9 – (Depois de um longo silêncio) “É certo que eu passei um longo período sem ligar a Deus, parecia que não precisava dele. . . Sabe, a minha vida não foi de um santo. . . ” (e começou a evocar a vida num sentido de confissão. ) P. 9 – “A sua vida teve alguns momentos dos quais sente vergonha e culpa. Você hoje gostaria que as coisas tivessem sido de outra forma. . Parece-lhe que essas situações de que sente vergonha e culpa levaram a que Deus o castigasse com esse sofrimento tão grande por que está a passar? F. Sampaio 08/01/2022 60