INTRODUO AOS ESTUDOS CLSSICOS II Entre Aristfanes e

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS CLÁSSICOS II Entre Aristófanes e Plauto: COMÉDIA NOVA por Bárbara da Costa e Silva (doutoranda - USP/FAPESP) Relevo romano (República ou Início do Império), Relevo de um poeta cômico sentado com máscara de comédia, Roman, Princeton University Art Museum

OBJETIVO DA AULA Fornecer um panorama da comédia grega em suas fases tardias, apresentando as principais características formais e de conteúdo das peças produzidas nesse período e entendendo-as em seu contexto histórico.

CONTEÚDO DA AULA I. Apresentação: as fases da comédia grega II. Comédia Antiga e Comédia Média III. Comédia Nova IV. Menandro e sua obra

I. AS FASES DA COMÉDIA GREGA • Origem obscura; • κωμῳδία (comoidia) - κῶμος (komos) + ᾠδή (oide) = “procissão de bêbados” + “canto” • Aristóteles (séc. IV a. C. ) na Poética afirma que se originou dos cantos fálicos e que representa seres inferiores a nós; • Registrada a partir de fins do século IV a. C. (Susarião) em Atenas e na Sicília (“comédia dórica”, expoente seria Epicarmo); • Produzida para competições em dois grandes festivais: Leneias (janeiro) e Grandes Dionísias (março-abril).

PERÍODOS DA COMÉDIA GREGA ARCHAIA/ ANTIGA MESE/MÉDIA NEA/NOVA 580 456 386 340 290 240 Susarião de Megara - “pai” da comédia grega Nascimento de Aristófanes Morte de Aristófanes Nascimento de Menandro Morte de Menandro Lívio Andrônico Fabula Palliata • Essa divisão foi proposta pelos primeiros críticos literários da Antiguidade, os filólogos que trabalharam na biblioteca de Alexandria entre os séculos III e I a. C. ; • Um tratado sobre isso sobreviveu: PLATÔNIO, “Sobre as diferenças da comédia” - ele propõe explicações históricas para essas fases distintas; • As comédias passam por mudanças de ordem estrutural e de conteúdo que podem ser entendidas em contexto.

II. COMÉDIA ANTIGA (c. 580 – 380 a. C. )

• Apenas onze peças preservadas integralmente, todas de Aristófanes, e inúmeros fragmentos de outros poetas (Eupôlis, Cratino, Crates, Frínico, Platão Cômico, etc. ), além de fragmentos do próprio Aristófanes; • Acarnenses (425 a. C. ), Cavaleiros (424 a. C. ), Nuvens (423 a. C. ), Vespas (422 a. C. ), Paz (421 a. C. ), Aves (414 a. C. ), Lisístrata, As Tesmoforiantes (411 a. C. ), Rãs (405 a. C. ), A Assembleia de Mulheres (392 a. C. ), Riqueza (388 a. C. ) • Enredos e personagens são fantasiosas (coro de nuvens, de vespas, de rãs); e. g. em Lisístrata, as mulheres fazem greve de sexo para forçar os homens a encerrar a guerra contra Esparta (contexto da Guerra do Peloponeso); • Presença de um coro integrado ao enredo e de parábase (momento em que o coro se direcionava ao público diretamente, quebrando a ilusão dramática); • Tom político (crítica aos governantes, à guerra, etc. ) e sátira pessoal (Sócrates em Nuvens); • Duas últimas comédias (Assembleia de Mulheres e Riqueza) apresentam diferenças quando comparadas às demais, como uma atrofia do coro.

II. COMÉDIA (c. 380 – 340 a. C. )

• A crise política e econômica instaurada em Atenas forçou que os gêneros teatrais se reinventassem (colapso da tragédia, instituição de reencenações, reinvenção da comédia); • Regime dos Trinta Tiranos e Dominação Macedônica (fim da democracia, 322 a. C. ); • Nenhuma peça preservada, apenas fragmentos e títulos (expoentes seriam Antífanes e Alexis); • Atrofia coral ou embolima (”coro postiço”) – fim da coregia; • Temática mitológica (“burlescos mitológicos”) – menos espaço para a res publica; • Ainda tem certa crítica a figuras públicas, mas menos pungente do que na Comédia Antiga.

IV. COMÉDIA NOVA

• Período de expansão e de profissionalização da cultura teatral para além de Atenas (trupes de atores saíram de Atenas e viajavam a Grécia, os chamados “Artistas de Dioniso”) – assim a comédia grega chegou em Roma; • Encenação de comédias em festivais a outros deuses (e. g. Heraia em Samos, Ptomolomaia em Delos); • Esse cenário levou a mudanças temáticas e estruturais (evolução natural do gênero); • Enredos de temática universal (amor, dinheiro, família), pouca ou nenhuma topicalidade, personagens-tipo;

Meados do séc. V a. C. , atores usando coturnos; Boston, Museum of Fine Arts. Representação de máscara de jovem, sécs. II-I a. C.

Mosaico da máscara trágica, Pompeia.

Cena de tragédia, Pompeia. • Notar máscaras anguladas e coturnos altos; • Atores trágicos são tradicionalmente representados com uma túnica longa de mangas longas e presa por um cinto na cintura;

Estátua de um ator trágico, séc. I a. C. , Roma. Paris, Musée du Petit Palais

Reconstrução do teatro de Priene (séc. III a. C. ), Turquia.

CANÔNE DA NOVA MENANDRO DE ATENAS (c. 340 -290) • Escreveu aproximadamente 108 peças; 98 títulos preservados; ganhou o primeiro prêmio 8 vezes; • Apenas o Dyskolos foi integralmente preservado; fragmentos grandes de Samia, Epitrepontes e Aspis; • Adaptações pelos latinos: Eunuchus, Andria, Heauton Timorumenos e Adelphi de Terêncio; Stichus e Bacchides de Plauto; DÍFILO DE SINOPE (contemporâneo a Menandro) • Escreveu 100 peças; 58 títulos preservados; • Teria composto comédias de tema mitológico (Hecate, Herakles, Theseus) – filiação à comédia; • Comédias suas são adaptadas por Plauto (Casina - Κληρούμενοι, Asinaria - Ὀναγός, Rudens – comédia não identificada); FILEMÃO DE SIRACUSA (contemporâneo a Menandro) • Escreveu 97 peças; • Teria sido mais exitoso que seus contemporâneos (venceu nas Leneias 3 vezes e Menandro apenas 1); • Adaptações latinas: Mercator (Emporos), Trinummus (Thesauros) e Mostellaria (Phasma) de Plauto.

PERSONAGENS-TIPO personagens caracterizadas (ações, figurino, máscara) de acordo com um padrão esperado (a prostituta, o escravo sabichão, o velho tarado, o soldado fanfarrão, etc. ) – E. G. : EVOLUÇÃO DO PARASITA Antiga – satíras a bajuladores de homens ricos, como Cálias e Tímon, que se aproveitavam de seus anfitriões; Média – Alexis mesclou essa sátira de bajuladores à crítica a sacerdotes que comiam de graça em templos (parasitas); Nova – parasita passou a designar qualquer personagem que usasse da bajulação para conseguir comida.

IV. MENANDRO

• Uma única comédia preservada, “O Díscolo” ou “O Misantropo”, que venceu as Leneias de 316 a. C. ; • Paradoxo de Menandro – extremamente popular em períodos posteriores, em especial no começo do Império, então por que suas comédias não sobreviveram? • Comediógrafo reconhecido por mesclar os elementos típicos de personagens e individualizá-las; suas personagens não são caricaturas cômicas aos modos plautinos; • E. g. Samia (”A mulher de Samos”).

Enredo Demeas, pai de Mosquião, vive com Críside, uma prostituta de Samos, em uma relação conjugal não oficial. Demeas e o vizinho, Nicerato, viajam a negócios. Críside está grávida e pretende expor o bebê. Mosquião engravida a vizinha por quem é apaixonado, Plangon. O bebê de Críside nasce, mas logo morre. Ela, então, se oferece para cuidar do bebê de Plangon como se fosse o dela. Demeas volta de viagem e, ao bisbilhotar a conversa de um escravo, descobre o bebê é de Mosquião. Ele, então, acredita que o filho teve um caso com sua “esposa”. O engano é esclarecido e, no final, acontece o happy ending entre Mosquião e Plangon. ASPECTOS INESPERADOS: - Prostituta de nome “Dourada” não age como uma meretriz interesseira; Demeas é velho que ama.