05 Teoria 2 A teoria dos atos de

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05. Teoria 2: A teoria dos atos de fala (Austin, Searle, Currie)

05. Teoria 2: A teoria dos atos de fala (Austin, Searle, Currie)

John L. Austin: How to do things with words (1955 / 1962) • Ponto

John L. Austin: How to do things with words (1955 / 1962) • Ponto de partida: uma filosofia da linguagem que considerou somente o valor de verdade de asserções • Não todos os enunciados são asserções • Enunciados como os seguintes são performativos: Ø Eu prometo chegar às 20 hs. Ø Eu te dou meu carro como presente Ø (Pastor: ) Eu os declaro homem e mulher Ø (Juíz: ) Gol! Ø Eu batizo esse barco “Argos”

 • Até os atos assertivos são atos performativos • Atos de fala como

• Até os atos assertivos são atos performativos • Atos de fala como todos os atos implicam uma intenção por parte do emissor • Atos de fala podem ser bem sucedidos (“happy performances”) e fracassar como todos os atos humanos • As condições para o sucesso do ato performativo podem ser diversos

Condições felizes (A. 1) There must be an accepted conventional procedure having a certain

Condições felizes (A. 1) There must be an accepted conventional procedure having a certain conventional effect, that procedure to include the uttering of certain words by certain persons in certain circumstances, and further, (A. 2) the particular persons and circumstances in a given case must be appropriate for the invocation of the particular procedure invoked (B. 1) The procedure must be executed by all participants correctly (B. 2) and completely (G. 1) Where the procedure is designed for use by persons having certain consequential conduct on the part of any participant in and so invoking the procedure must in fact have those thoughts and feelings, and the participants must intend ~so to conduct themselves, and further (G. 2) must actually so conduct themselves subsequently. (Austin, 1986: 15)

 • Importante: os elementos verbais devem corresponder a uma “atitude interna” do emissor

• Importante: os elementos verbais devem corresponder a uma “atitude interna” do emissor e permanecer coerentes com sua atuação em geral • “Infelicities”: • atos realizados de forma forçada • atos realizados por engano ou sem intenção • atos realizados por pessoas em estados mentais inapropriados (ou outros que excluem ou reduzem a responsabilidade do falante)

“other kinds of ill which infect all utterances” • “A performative utterance will, for

“other kinds of ill which infect all utterances” • “A performative utterance will, for example, be in a peculiar way hollow or void if said by an actor on the stage, or if introduced in a poem, or spoken in soliloquy. This applies in a similar manner to any and every utterance – a sea-change in special circumstances. Language in such circumstances is in special ways – intelligibly used not seriously, but in ways parasitic upon its normal use – ways which fall under the doctrine of the etiolations of language. All this we are excluding from consideration. ” (Austin, 1986: 22)

John Searle: Speech Acts (1969) Análise do uso pragmático da linguagem • Cada enunciação

John Searle: Speech Acts (1969) Análise do uso pragmático da linguagem • Cada enunciação implica diferentes atos: • Enunciado (utterance): a frase enunciada – “Pedro, não fume tanto. ” • Ato de enunicação: proferimento de uma frase – Eu falei: “Pedro, não fume tanto!” • Ato de referência: – “Pedro” se refere à pessoa deste nome • Ato ilocucionário: – mandar que ele não fume • Proposição: o conteúdo semântico da frase: – Pedro fuma

John Searle: “The Logical Status of Fictional Discourse” (1975) • Caráter particular do discurso

John Searle: “The Logical Status of Fictional Discourse” (1975) • Caráter particular do discurso ficcional • Rejeição da posição que a narrativa ficcional constitui uma classe particular de atos ilocucionários • Os atos linguísticos da ficção correspondem às classes gerais dos atos de fala, mas são proferidos de forma “não séria” / parasitária • Essa modalidade do uso depende da intenção do emissor e deve ser entendido pelo receptor para que a comunicação é bem sucedida • Nos atos ficcionais se suspende os atos de referência • A narrativa consiste, na maior parte por atos assertivos • Dentro do texto ficcional há asserções não ficcionais

Alguns problemas da teoria de Searle • Não há diferenças formais nos textos que

Alguns problemas da teoria de Searle • Não há diferenças formais nos textos que assinalam a modalidade ficcional • O autor é quem finge os atos de fala ficcionais na narrativa em terceira pessoa • O autor é quem finge o narrador em primeira pessoa • Na peça de teatro é o ator que finge os atos • A peça de teatro funciona como uma receita de bolo

Felix Martínez-Bonati: “The Act of Writing Fiction” (1979) • “it is not possible to

Felix Martínez-Bonati: “The Act of Writing Fiction” (1979) • “it is not possible to imagine narrated and described events if they are not actually narrated and described, but only pretended to be so. ” (429) • “fictional discourse is not a merely pretended, unfulfilled speech of the author, but a fully performed and authentic fictitious speech of someone else. ” (431) • We will not relate it [the discourse] to the author as being his speech act, but only to the image he created. We will accept this speech as one that originates from and is sustained by a source that might be very vague or quite well characterized, but will always be a part of the created imaginary object that is the novel. ” (432) • Author: text / narrator: fictitious discourse

Gregory Currie: “What Is Fictional Discourse? ” • O “determination principle” de Searle (a

Gregory Currie: “What Is Fictional Discourse? ” • O “determination principle” de Searle (a enunciação contém marcadores formais que determinam o ato ilocucionário) não funciona: “Você vai para o teatro. ” • Quando o autor “pretende” realizar atos assertivos (Searle) ele de fato realiza os atos. • Uma e a mesma frase dentro de textos ficcionais e factuais pode ter a mesma forma sem marcar a modalidade • Importante não é se o autor pretende algo mas que o leitor intende que atitude ele deve tomar diante o texto: o leitor “faz como se” (make-believe) as asserções fossem sérias e joga um jogo internalizado

 • O público literário pode atribuir o estatuto “ficcional” a um texto, diferente

• O público literário pode atribuir o estatuto “ficcional” a um texto, diferente das intenções do autor (exemplo: Defoe) • Uma obra é ficcional (sentido nuclear) quando resulta de uma intenção de make-believe e quando o texto não está vinculado por uma corrente de informações pelo acontecimento referido • Quem realiza um ato ilocucionário é o autor, não o ator • O ato da comunicação ficcional é bem sucedido completamente quando inclui um “make-believe” em relação àquelas frases que são verdadeiras na história ficcional. • O discurso ficcional implica uma estrutura dupla : • Intenção do autor que o leitor assume a atitude do makebelieve • Os leitores assumem essa atitude diante os elementos do discurso e a outros que são convercionalmente implícitos (Grice) • As obras ficcionais podem conter frases não ficcionais

Remigius Bunia: Faltungen (2007) • Metodologia: fazer distinções (Laws of form / Differenztheorie, Spencer-Brown,

Remigius Bunia: Faltungen (2007) • Metodologia: fazer distinções (Laws of form / Differenztheorie, Spencer-Brown, Luhmann) • “Faltung” (convolution / dobramento): distinção do idêntico • “Semântica da realidade” se baseia na distinção entre real e não-real • A semântica da ficção se apoia na semântica da realidade mas não constitui uma semântica oposta, mas realidades alternativas • A realidade pode ser entendida como a construção de um mundo real, a ficção como constituição o criação de um mundo fictício

 • Mundos fictícios devem ser distinguidos do mundo real • Descrições ficcionais somente

• Mundos fictícios devem ser distinguidos do mundo real • Descrições ficcionais somente precisam ser consistentes com o mundo ficcional. Descrições fatuais devem ser harmonizados com descrições do mundo real • Ficções são considerados seriamente como descrições com vigor delimitado • O mundo fictício é criado pela ficção, ele existe somente no mundo fictício, não no mundo real • Operações ficcionais produzem mundos fictícios, descrições que não produzem mundos são “nãoficcionais”

 • O mundo fictício deve ser considerado independente da narração que se refere

• O mundo fictício deve ser considerado independente da narração que se refere a ele • Trata-se de ficção quando se deve (ou pode) distinguir a instância da produção da instância da mediação (autor / narrador): princípio de equivalência Distinções: • Narrador: voz responsável pela narração • Autor modelo (Eco): instância não antropomórfica, responsável para a representação do mundo fictício • Ficção é um dobramento porque não existem especificidades textuais que permitem a classificação de ficção ou não

 • Poiesis: introdução de uma nova distinção • Ficção é poiesis por definição

• Poiesis: introdução de uma nova distinção • Ficção é poiesis por definição • Poiesis não necessáriamente “inventa” algo • Representação: descrição de vivência (sempre vinculado a um meio) • O autor age / o autor modelo vivência • Quem é confrontado com uma representação não pode perceber os objetos representados nem precisa crer na sua existência • Representações podem ser ficcionais e não-ficcionais • Representações são descrições de vivência, não de atos

 • A gravação permite copiar uma impressão da realidade em si e imediatamente

• A gravação permite copiar uma impressão da realidade em si e imediatamente • Gravações são subjetivas somente na seleção do enquadramento • Representações comtêm somente as observaçoes do sujeito • Gravações contêm todos os elementos que o aparelho técnico gravou em seu alcance • Gravações permitem observações de primeira mão, representações não • Representações são descrições controladas, gravações não

Distinções: • história / narração (discourse, narrative, récit) e texto • Diegese é o

Distinções: • história / narração (discourse, narrative, récit) e texto • Diegese é o mundo fictício na medida em que está sendo representado pela narração • Diegese é a parte narrado dos eventos fictícios que são pensados como independentes da narração • Diegese e o significado imediato da narração • O leitor constroi o mundo fictício, fazendo inferências a partir da diegese • Diegese refere àquilo que é dado imediatamente pela narração; o quasificcional é o que é dado de forma mediada

 • Narrador oniciente extradiegético não pertence à diegese, mas ao mundo fictício •

• Narrador oniciente extradiegético não pertence à diegese, mas ao mundo fictício • Complementos quasificcionais / interpolações Ø inferências a partir de dados ficcionais Ø inferências a partir de dados reais • Hipotipose: evidência, o impacto de um acontecimento pela cumulação de detalhes

Bibliografia AUSTIN, JOHN, L. Zur Theorie der Sprechakte (How to do things with words.

Bibliografia AUSTIN, JOHN, L. Zur Theorie der Sprechakte (How to do things with words. 1962). Tr. SAVIGNY, EIKE VON. Stuttgart: Reclam, 2002. BRANDOM, ROBERT B. Begründen und Begreifen. Eine Einführung in den Inferentialismus. Frankfurt a. M. : Suhrkamp, 2001. ———. Expressive Vernunft. Begründung, Repräsentation und diskursive Festlegung. Tr. VETTER, EVA GILMER &HERMANN. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 2000. BUNIA, REMIGIUS. "Diegesis and Representation: Beyond the Fictional World, on the Margins of Story and Narrative. " Poetics Today 31, n. 4 (2010): 679 -720. ———. Faltungen. Fiktion, Erzählen, Medien. Berlin: Erich Schmidt, 2007.

CURRIE, GREGORY. "Was ist fiktionale Rede? (1985). " In Fiktion, Wahrheit, Wirklichkeit. Philosophische Grundfragen

CURRIE, GREGORY. "Was ist fiktionale Rede? (1985). " In Fiktion, Wahrheit, Wirklichkeit. Philosophische Grundfragen der Literatur, ed. REICHER, MARIA E. , 37 -53. Paderborn: Mentis, 2006. KAYSER, WOLFGANG. "Wer erzählt den Roman? [1957]. " In W. K. : Die Vortragsreise. Studien zur Literatur, 82 -101. Bern: Francke, 1958. MARTÍNEZ-BONATI, FELIX. "The Act of Writing Fiction. " New Literary History 11 (1979/80): 425 -34. SEARLE, JOHN R. "The Logical Status of Fictional Discourse. " New Literary History 6, n. 2 (1975): 319 -32. ———. Sprechakte: Ein sprachphilosophischer Essay. Frankfurt a. M. : Suhrkamp, 1983.