Morfologia como universal lingustico Maria Clia LimaHernandes Morfologia

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Morfologia como universal linguístico Maria Célia Lima-Hernandes Morfologia do Português I

Morfologia como universal linguístico Maria Célia Lima-Hernandes Morfologia do Português I

Morfologia Definição na Linguística: Parte da gramática de uma língua que lida com a

Morfologia Definição na Linguística: Parte da gramática de uma língua que lida com a constituição de seus itens associados ao léxico e à sua gramática. Pode ser discreta se for estudada em sincronia.

Formação de Palavras Os processos de formação de palavras reconhecem-se por um nome técnico

Formação de Palavras Os processos de formação de palavras reconhecem-se por um nome técnico na Linguística Histórica: Lexicalização

Lexicalização É processo linguístico Uso linguístico encaixa-se nos processos de formação de palavras atinentes

Lexicalização É processo linguístico Uso linguístico encaixa-se nos processos de formação de palavras atinentes à língua em questão. É processo social Sua fixação como novo item lexical sempre dependerá da adesão de usuários da língua.

Lexicalização Embute conceito de processo (deslizamento funcional ao longo de cada tempo sincrônico) de

Lexicalização Embute conceito de processo (deslizamento funcional ao longo de cada tempo sincrônico) de modo a configurar-se como uma mudança que se percebe na maioria dos casos por necessidades sociais (Diacronia de curto termo), como a dizer que a sociedade vai moldando seus usos em gradiência de usos sem descartar os usos anteriores. Couve: uma verdura verde-escura de sabor marcante. Flor: manifestação de espécies da flora, que detêm alguns traços episódicos ligados a perfume e beleza estética. Couve-flor: um tipo de couve que assume formato de flor.

Formação de Palavras As línguas são sempre apresentadas em relação aos seus morfemas lexicais

Formação de Palavras As línguas são sempre apresentadas em relação aos seus morfemas lexicais (raízes/radicais) e se prendem a morfemas gramaticais formantes (desinências e vogais temáticas) e/ou a derivacionais (afixos e clíticos). Composição: aglutinação e justaposição Derivação: prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria.

Composição • Junção de 2 ou mais morfemas para compor uma só palavra. Quanto

Composição • Junção de 2 ou mais morfemas para compor uma só palavra. Quanto à forma, pode ser classificada assim: a) Justaposição b) aglutinação

Composição por Justaposição Dois radicais que se unem sofrerem alterações na forma. Exemplos: pés-de-galinha,

Composição por Justaposição Dois radicais que se unem sofrerem alterações na forma. Exemplos: pés-de-galinha, passatempo. É produtiva? É frequente? Determina mudança de classe? Existe uma classe preferida?

Composição por aglutinação • No processo de união, um dos radicais sofre mudança de

Composição por aglutinação • No processo de união, um dos radicais sofre mudança de forma. Exemplos: planalto, aguardente, embora. É produtiva? É frequente? Determina mudança de classe? Atinge uma classe preferida?

Derivação • • • Prefixal Sufixal Parassintética Regressiva Imprópria

Derivação • • • Prefixal Sufixal Parassintética Regressiva Imprópria

Derivação Prefixal: prefixo + palavra • A palavra primitiva recebe uma partícula anteposta. Exemplos:

Derivação Prefixal: prefixo + palavra • A palavra primitiva recebe uma partícula anteposta. Exemplos: fazer (verbo) desfazer, refazer É uma derivação produtiva? É uma derivação frequente? Determina mudança de classe?

Derivação sufixal: palavra + sufixo • À palavra primitiva adiciona-se, em posição de coda,

Derivação sufixal: palavra + sufixo • À palavra primitiva adiciona-se, em posição de coda, uma partícula sufixal. Exemplos: Alegre (adjetivo) alegremente, ruidoso É uma derivação produtiva? É uma derivação frequente? Determina mudança de classe? obs. : sufixo nominal, verbal e adverbial

Derivação parassintética: prefixo + palavra + sufixo Anexação simultânea de afixos a uma palavra,

Derivação parassintética: prefixo + palavra + sufixo Anexação simultânea de afixos a uma palavra, sem a qual não existiria com a falta de um deles. Exemplos: desalmado (adjetivo) *desalma, *almado É uma derivação produtiva? É uma derivação frequente? Determina mudança de classe?

Derivação Regressiva Reduz-se a palavra primitiva. Exemplos: trabalhar (verbo) > trabalho (subst. ) Diz-se

Derivação Regressiva Reduz-se a palavra primitiva. Exemplos: trabalhar (verbo) > trabalho (subst. ) Diz-se que “trabalho” é substantivo deverbal. É uma derivação produtiva? É uma derivação frequente? Determina mudança de classe?

Derivação imprópria: mudança de classe sem alteração da forma Exemplos: Não aceito um não

Derivação imprópria: mudança de classe sem alteração da forma Exemplos: Não aceito um não como resposta. Advérbio > Substantivo. É uma derivação produtiva? É uma derivação frequente? Determina mudança de classe?

Outros Processos a) Hibridismo: entre os elementos formadores, há um item de outro idioma.

Outros Processos a) Hibridismo: entre os elementos formadores, há um item de outro idioma. Exemplos: Automóvel (grego+latim) televisão (grego+latim) Baixa consciência de formação.

b) Onomatopeico e reduplicações: formas inspiradas no som de objetos sociais. Exemplos: tique-taque zunzum

b) Onomatopeico e reduplicações: formas inspiradas no som de objetos sociais. Exemplos: tique-taque zunzum bombom pingue-pongue

c) Redução ou abreviação: inicialmente, sendo palavra longa, ganha em economia pelo uso. Cinematógrafo

c) Redução ou abreviação: inicialmente, sendo palavra longa, ganha em economia pelo uso. Cinematógrafo > cinema Pornográfico > pornô Motocicleta > moto Pneumático > pneu Light amplification by stimulated emission of radiation > laser Organização das Nações Unidas > ONU

d) Neologismo: criação de palavras antes inexistentes. Aboborar → estar deitado Adormorrer → morrer

d) Neologismo: criação de palavras antes inexistentes. Aboborar → estar deitado Adormorrer → morrer dormindo Arreleque → asas abertas em forma de leque Bedelengar → badalar (o sino) Bembaratar → gastar; empregar de forma conveniente Boólatra → amante de bois Brisbrisar → soprar a brisa (apud Guimarães Rosa. Grande sertão: Veredas)

e) combinação: com a junção de partes de duas palavras: aborrecente (aborrecer + adolescente)

e) combinação: com a junção de partes de duas palavras: aborrecente (aborrecer + adolescente) portunhol (português + espanhol)

f) Intensificação processual: acréscimo de sufixo indicativo de processo em palavra que não é

f) Intensificação processual: acréscimo de sufixo indicativo de processo em palavra que não é processual. obstar > obstaculizar protocolar > protocolizar culpar > culpabilizar

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem morfologia?

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem morfologia?

O que é a morfologia na Libras? • Configuração de unidades discretas, feixes de

O que é a morfologia na Libras? • Configuração de unidades discretas, feixes de traços distintivos, de acordo com 5 parâmetros: 1. 2. 3. 4. 5. Configuração de mão (CM) Movimento (M) Direcionalidade (Dir) Ponto de articulação (PA) Expressões faciais e corporais (EFC) ou Não manuais (NM)

Alterações para novas palavras Os morfemas lexicais ou gramaticais podem ser, diferentemente, uma raiz/radical

Alterações para novas palavras Os morfemas lexicais ou gramaticais podem ser, diferentemente, uma raiz/radical (M), um afixo (alterações em M e CM) e uma desinência, ou seja, uma marca de concordância número pessoal (DIR) ou de gênero (CM).

1. MODIFICAÇÕES POR ADIÇÃO À RAIZ • processo de modificação por adição à raiz

1. MODIFICAÇÕES POR ADIÇÃO À RAIZ • processo de modificação por adição à raiz pode ser realizado através da incorporação da negação porque:

 1. 1. como sufixo, ela se incorpora à raiz de alguns verbos que,

1. 1. como sufixo, ela se incorpora à raiz de alguns verbos que, possuindo uma raiz com um movimento em um primeiro momento, finalizam-se com um movimento oposto, que caracteriza a negação incorporada, como nos verbos QUERER / QUERER-NÃO; SABER / SABER-NÃO (VPS); GOSTAR / GOSTAR-NÃO.

Esse movimento contrário não é um item lexical para negação, seria como, em português,

Esse movimento contrário não é um item lexical para negação, seria como, em português, o prefixo {anti-}, mas que, na Libras, vem posposto à raiz, daí, a análise dele como um sufixo de negação;

² 1. 2 como infixo, ela se incorpora simultaneamente à raiz verbal através de

² 1. 2 como infixo, ela se incorpora simultaneamente à raiz verbal através de uma alternância no movimento ou através de expressão corporal (movimento da cabeça) concomitantemente ao sinal, como nos verbos: TER / TERNÃO; ENTENDER / ENTENDER-NÃO (VRJ); PODER / PODERNÃO.

Negação como exemplo A negação, além de poder ser expressa por esses processos morfológicos

Negação como exemplo A negação, além de poder ser expressa por esses processos morfológicos de adição de um afixo à raiz, pode também ser uma construção sintática, porque através dos sinais ‘NÃO’ e ‘NADA’ pode-se fazer a negativa, como nos verbos: SABER NÃO (VRJ); ENTENDER NÃO (VSP); ENTENDER NADA (VRJ)

2. MODIFICAÇÃO INTERNA DA RAIZ Uma raiz. M pode ser modificada através de cinco

2. MODIFICAÇÃO INTERNA DA RAIZ Uma raiz. M pode ser modificada através de cinco mecanismos de modificação interna, que são: a) a flexão para pessoa do discurso que, marcando as pessoas do discurso, através da direcionalidade - movimentos retilíneos ou semicirculares, faz com que a raiz M se inverta ou até adquira uma forma em arco para flexionar em relação às pessoas do discurso. (Ver exemplos em anexo);

b) a flexão para aspecto verbal que, marcando os casos modais, através de mudanças

b) a flexão para aspecto verbal que, marcando os casos modais, através de mudanças na frequência ou na velocidade do movimento da raiz. M, acrescenta essas informações sintático-discursivas;

c) a flexão para gênero que, marcando a concordância de gênero (animado – pessoa,

c) a flexão para gênero que, marcando a concordância de gênero (animado – pessoa, animal e inanimado – coisa e veículo), através de configurações de mão específicas, funciona como classificadores. Exemplo: o verbo ‘CAIR’ modifica sua raiz a partir de configurações de mão (classificadores), que obrigatoriamente concordam com o sujeito da frase (FELIPE, 2002).

d) a incorporação do numeral que, representando os numerais de um até quatro, através

d) a incorporação do numeral que, representando os numerais de um até quatro, através de configurações de mão, acrescenta à raiz um quantificador.

Na Libras, esse tipo de modificação interna da raiz é muito produtivo e, segundo

Na Libras, esse tipo de modificação interna da raiz é muito produtivo e, segundo Felipe (1998 b), está presente no seu sistema pronominal para representar as pessoas do discurso (dual, trial, quatrial e plural), como também no seu sistema de classificadores e em alguns advérbios: ANTEONTEM, UMA-VEZ, DUAS-VEZES, TRÊS-VEZES, PRIMEIRO-ANDAR, SEGUNDO-ANDAR, DOIS-DIAS, TRÊS-DIAS, etc;

e) a incorporação do intensificador MUITO ou de casos modais que alteram também a

e) a incorporação do intensificador MUITO ou de casos modais que alteram também a frequência do movimento da raiz. M. Exemplos: incorporação do advérbio “rapidamente” (movimento repetido e acelerado) e do intensificador “muito” (movimento lento e alongado para a frente do emissor: TRABALHARmuito TRABALHARrapidamente, ANDARmuito ANDARrapidamente, ESCREVERmuito ESCREVERrapidamente;

PROCESSOS MIMÉTICOS OU ICÔNICOS A Libras, como outras línguas de sinais, devido à sua

PROCESSOS MIMÉTICOS OU ICÔNICOS A Libras, como outras línguas de sinais, devido à sua característica gestual-visual, pode introduzir, no contexto discursivo, a mímica e por isso um objeto, uma qualidade de um objeto, um estado, um processo ou uma ação pode mimeticamente ser representada juntamente com a estrutura frasal.

Esse processo de formação de palavra, altamente produtivo, permite uma economia, já que expressões

Esse processo de formação de palavra, altamente produtivo, permite uma economia, já que expressões faciais e corporais podem complementar os itens lexicais estabelecendo contextos discursivos baseados em convenções da língua.

O processo mimético transforma a mímica em uma forma linguística que representa iconicamente o

O processo mimético transforma a mímica em uma forma linguística que representa iconicamente o referente a partir dos parâmetros de configuração sígnica e da sintaxe da língua. Na verdade, não se faz a mímica simplesmente. Ela é incorporada pela língua e se estrutura a partir dos parâmetros de cada língua de sinais, como as onomatopéias nas línguas oral-auditivas.

A mímica é a substância do plano de expressão gerida a partir das regras

A mímica é a substância do plano de expressão gerida a partir das regras fonomorfo-sintáticas, gerando a forma do plano de expressão. Exemplo: para se dizer que, em um contexto determinado, havia um homem em pé com um jornal embaixo do braço direito e com um saco de pipoca na mão esquerda, basta utilizar os sinais HOMEM JORNAL PIPOCA e representar a situação.

Resultado dessa mímica: HOMEM JORNAL coisa –arredondada. COLOCAR-EMBAIXO-DO-BRAÇO-ESQUERDO PIPOCA coisa-arredondada. SEGURAR-COM-A-MÃODIREITA.

Resultado dessa mímica: HOMEM JORNAL coisa –arredondada. COLOCAR-EMBAIXO-DO-BRAÇO-ESQUERDO PIPOCA coisa-arredondada. SEGURAR-COM-A-MÃODIREITA.

Derivação Ocorre através da mimese da ação realizada, acrescentando, à raiz -movimento, alternância de

Derivação Ocorre através da mimese da ação realizada, acrescentando, à raiz -movimento, alternância de expressões facial e corporal. Exemplos: SALTITAR, DESFILAR, CAMBALEAR, que derivam do verbo ANDAR. Esse verbo pode também, através da imitação do modo como a ação está sendo de fato realizada, acrescentar, à sua rede semântica, um caso modal: ANDARligeiramente, ANDARdevagar.

Processos de composição No PB, utilizam-se itens lexicais que são morfemas livres que se

Processos de composição No PB, utilizam-se itens lexicais que são morfemas livres que se justapõem ou se aglutinam para formarem um novo item lexical. Na Libras, podem ser dos seguintes modos.

a) Justaposição de dois itens - dois sinais formam um terceiro sinal. ² CAVALO^LISTRA-PELO-CORPO

a) Justaposição de dois itens - dois sinais formam um terceiro sinal. ² CAVALO^LISTRA-PELO-CORPO > (CAVALO + LISTRA-PELOCORPO = “zebra”); ² MULHER^BEIJO-NA-MÃO (MULHER + BEIJO-NA MÃO = “mãe”); ² CASA^ESTUDAR (CASA + ESTUDAR “escola”). ² ASSINAR^SEPARAR (ASSINAR + SEPARAR = “divórcio”); ² COMER^MEIO-DIA (COMER +MEIO-DIA = “almoço”)

b) Justaposição de classificador + item lexical Nesse processo, o classificador não é uma

b) Justaposição de classificador + item lexical Nesse processo, o classificador não é uma marca de gênero e funciona como um clítico. São exemplos desse processo os sinais: ² coisa-pequena^PERFURAR “alfinete”; ² coisa-pequena^APLICAR-NO-BRAÇO “agulha”; ² DORMIR^pessoa+ “alojamento”

c) Justaposição da datilologia da palavra em português Usando sinal que representa a ação

c) Justaposição da datilologia da palavra em português Usando sinal que representa a ação realizada pelo substantivo que, na sede semântica da ação verbal, seria seu caso instrumental. ² COSTURAR-COM-AGULHA^ A-G-U-L-H-A “agulha”.

Referências bibliográficas indicação de fontes para leitura EKMAN, P. Facial Signs: Facts, Fantasies and

Referências bibliográficas indicação de fontes para leitura EKMAN, P. Facial Signs: Facts, Fantasies and Possibilities. SEBEOK, T. (ed. ). Sight, Sound and Sense. Bloomingto, Ind. : Indiana University Press, 1978. FELIPE, T. A. (2006). Os processos de formação de palavra na Libras. ETD Educação Temática Digital, 7(2), 200 -217. FELIPE, T. A; LIRA, G. A. Dicionário da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Rio de Janeiro, Acessibilidade Brasil - CORDE. Versão 2. 0, 2005 FELIPE, T. A. O Signo Gestual-Visual e sua Estrutura Frasal na Língua dos Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1988. KARNOPP, L. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. 1994. Dissertação (Mestrado) –Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 1994. TAYLOR, J. R. Linguistic Categorization - Prototypes in Linguistic Theory. New York: Clarendon Press Oxford. 1991

Voltemos às perguntas da aula anterior q Existiriam formas rizotônicas e formas arrizotônicas na

Voltemos às perguntas da aula anterior q Existiriam formas rizotônicas e formas arrizotônicas na LIBRAS? q Existem morfemas na LIBRAS? q É possível lidar com frequência type e token na Libras? q É possível lidar com produtividade em Libras? q É possível depreender critérios morfológicos na Libras?

Fenômenos estudados na Morfologia Lexical (composição, derivação. . . ) Processos de lexicalização Processos

Fenômenos estudados na Morfologia Lexical (composição, derivação. . . ) Processos de lexicalização Processos de gramaticalização Como as línguas são diferentes entre si na morfologia lexical, lidar com processos permite apreender movimentos e dinâmicas como universais linguísticos.