Financeirizao das economias razes tericas e consequncias econmicosociais
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Financeirização das economias: razões teóricas e consequências econômicosociais Maria de Lourdes Rollemberg Mollo
Financeirização - Definição Para Epstein (2005), financeirização, em termos amplos, significa “o papel crescente dos motivos financeiros, dos mercados financeiros, dos atores financeiros e das instituições financeiras na operação das economias domésticas e internacional. ” É vista como pouco problemática pela ortodoxia econômica, as correntes dominantes em economia, enquanto é vista como problema para as heterodoxias marxista e póskeynesiana.
Visão ortodoxa sobre a financeirização Correntes dominantes em economia defendem a regulação pelo mercado como a mais eficiente. Daí a defesa do neoliberalismo, como liberdade para as forças do mercado. O mercado ajusta por meio de flutuações de preços relativos. Quanto maior for a flexibilidade de preços ou a facilidade com que se ajustam, mais o mercado é eficiente na regulação econômica. Os mercados financeiros são aqueles onde os preços são mais flexíveis, razão pela qual para a ortodoxia eles deveriam ser os mais eficientes. Contudo, negando a visão ortodoxa, foi exatamente nos mercados financeiros que a crise em que nos encontramos desde 2007 -2008. Apesar disso, paradoxalmente, continuamos a observar a supremacia da finança.
Visão Heterodoxa: financeirização como desenvolvimento do capital fictício O desenvolvimento do sistema de crédito é uma forma do capital se desvencilhar de limites à acumulação, potencializando a produção, por meio de aumento do ritmo e da escala dos negócios. Mas o desenvolvimento do sistema de crédito conduz também à geração e desenvolvimento do que Marx chamou capital fictício. O capital é dito fictício porque ele ganha rendimentos sem ter passado pela produção ou sem comprar a força de trabalho, única capaz de gerar valor novo ou excedente.
Visão heterodoxa - Financeirização como desenvolvimento de capital fictício Capital Fictício: fruto da capitalização dos juros sem relação com a produção real, sem lastro em valor-trabalho. Ex: Títulos Públicos e Ações Títulos da Dívida Pública “porque a soma emprestada ao Estado não apenas não existe mais”, mas “não se destinava a ser despendida, empregada como capital, e só investida como tal teria podia transformar-se em valor que se mantém” (Marx, 1974, p. 535). Ações “valor de mercado se determina diversamente do valor nominal, sem que se altere o valor (embora se modifique a valorização do capital efetivo)” (p. 537).
Financeirização como desenvolvimento de capital fictício Como se desenvolveu a financeirização ou o capital fictício. Como? Mercados de crédito ligados pela globalização das economias permitiram crescimento das valorizações exageradas ações e dos papéis (capital fictício), enquanto investimento, produção e rendas cresciam menos. Faltaram rendas para continuar comprando e valorizando papéis: a crise começa aí.
Visão Heterodoxa: Minsky, a fragilização das economias e a instabilidade financeira As crises no capitalismo surgem após onda de crescimento em função do otimismo de bancos e empresas que passam a se endividar de forma cada vez mais imprudente. Unidades hedge, especulativas, e Ponzi. Resultado: fragilidade financeira quando a imprudência cresce. Se incerteza dos bancos os leva a aumentar a taxa de juros, essa taxa maior transforma empresas hedge em especulativas e estas em Ponzi. Precisam vender mercadorias e ativos para pagar dívidas e a queda de preços dificulta pagamentos mostrando a crise.
Visão Heterodoxa: A fragilização das economias e a instabilidade financeira A globalização das economias retirou controles estatais e permitiu inovações financeiras cada vez mais arriscadas – Cai grau de prudência. Com incerteza cresce preferência pela liquidez e bancos não emprestam mais. Empresas especulativas não conseguem se refinanciar e começam a vender ativos. Venda geral de ativos derruba preços de ativos e prejudica outras empresas. A crise se espalha.
Desenvolvimento da Financeirização 1. Mercados de crédito ligados pela liberalização e desmonte das previdências públicas disponibilizaram grandes volumes de recursos para aplicação em poucos mercados desenvolvidos e em menor proporção poucos mercados emergentes. Resultado: valorização enorme dos papéis e durante muito tempo. 2. Liberalização acirrou concorrência e pressionou empresas na busca de lucros rápidos, especulativos, que não retornavam à produção. Caem relativamente os investimentos de médio e longo prazo e a demanda (Epstein (Ed. ) 2005; Chesnais (Ed. ), 1994, 1996; Brunhoff, et al. 2006). 3. Transformação de instituições financeiras especializadas (bancos comerciais, de investimento, de desenvolvimento, etc. ) em bancos universais ou múltiplos, reduziu possibilidade de fiscalização e inovações financeiras arriscadas surgiram em massa (Chesnais, 1994). Desregulamentação generalizada estimulou inovações financeiras arriscadas (Gutmann, 1994, 1996, 2008; Zerbato, 2001). Inovações arriscadas foram transferidas como produtos estruturados passando o risco adiante.
Desenvolvimento da Financeirização 4. Remoção de controles de câmbio estimulou a especulação com moedas porque aumentou as flutuações das cotações. 5. Abertura ao movimento de capitais ampliou tais flutuações e a especulação possível. Daí a ideia de “mistura explosiva”(Aglietta, 1986). 6. A lógica especulativa se espalhou e contaminou a economia toda (Parenteau, 2005). Empresários, pressionados pela concorrência. Fundos de pensão para atrair cliente mostrando resultados a curto prazo. Fundos hedge acompanhando o movimento geral, porque perdas são mais facilmente perdoadas se generalizadas.
Desenvolvimento da Financeirização 7. Enquanto a especulação crescia, o investimento e a produção cresciam menos ou caiam, isso prejudicava o emprego e com isso a demanda e a produção caiam ou cresciam pouco( Chesnais, 1994, 1996; Plihon, 1996; Crotty, 2005 ; Husson, 2006; Freeman, 2006; Duménil et Lévy, 2000, 2005; Salama, 2005; Epstein & Jayadev, 2005). 8. Valores de derivativos negociados nos mercados de balcão, conforme informado pelo BIS (Fahri e Cintra, 2009), muito maiores que produção mundial conforme o FMI. Valor nocional de US$414, 8 trilhões contra produção mundial de US$48, 1 trilhões em 2006 (valor de derivativos 8, 6 vezes maior do que a produção mundial) e em 2007 de US$595, 3 trilhões contra produção real de US$ 55 trilhões (valor de derivativos 10, 8 vezes maior do que a produção mundial ).
Supremacia da finança mesmo após a crise Sintomas: Importância das agências de rating, apesar da sua responsabilidade na crise. Generalização de políticas de austeridade que só beneficiam a finança, já que a produção perde demanda. As dívidas não foram reestruturadas para dividir o peso entre devedores e credores. Daí a desigualdade maior entre e dentro dos paises. (Akyuz, 2014) Os empréstimos para saída da crise foram dados principalmente para instituições financeiras, e em menor proporção para as empresas e nada para famílias (Silvers, 2013). Consequências: Aumento da fragilidade financeira Aumento da desigualdade
Indicadores de aumento da desigualdade As políticas de austeridade afetaram em particular os países menos desenvolvidos (Ortiz e Cummings, 2013). Mesmo depois da crise, a desigualdade cresceu. Conforme Pikety e Saez (2013), os 10% mais ricos nos EUA ganharam: 1929 - 50% da renda total. 1940 -1970 - 35% da renda total 2010 – 50 % da renda total O Sistema de tributação protegeu os mais ricos, cujos pagamentos de impostos foram reduzidos embora a maior parte da desigualdade esteja nos 1% mais ricos. (Pikety & Saez, 2013).
Renda Global – US$bilhões Taxa de Câmbio Corrente Verde: Aumento da renda global - 1988 a 2011 (US$ bi) Vinho: 1% mais ricos Fonte: OXFAM
A desigualdade no Brasil Cf. Medeiros, Souza e Castro (2015) Gobetti e Orair (2015) temos: Décimo mais rico = Metade da renda Centésimo mais rico = ¼ da renda total Milésimo mais rico = 1/10 da renda
Conclusões A financeirização por si só provoca problemas sérios de instabilidade e desigualdade. A liberalização financeira amplia as rendas especulativas e isso aumenta em muito a desigualdade. A liberalização financeira por trás da financeirização permite aplicações arriscadas e inovações financeiras especulativas que levam a crises. É essa liberalização que ao impedir ou dificultar a fiscalização, ao entregar à concorrência a operacionalização dos mercados, permite o desenvolvimento de práticas irregulares ou fraudulentas como as que serão tratadas neste evento.