Razes do Brasil Srgio Buarque de Holanda Razes
Raízes do Brasil Sérgio Buarque de Holanda
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982) • 1921 Bacharel em Direito • Escritor, jornalista, historiador, crítico literário • Diretor do Museu Paulista 1946 1956 • Catedrático da USP • Leitor de Weber
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Problemática: Identidade brasileira • O que é o Brasil? • O que nós somos? • O que nos faz ser como somos?
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Objetivo: Quer entender a modernidade brasileira; Quer entender os rumos da sociedade brasileira que transita do mundo da tradição para a sociedade urbana e moderna. Quer pensar os momentos de tensão entre a tradição e a modernidade brasileira. Sociologia política Elementos da tradição (persistência da tradição) X Elementos da modernidade (urbanização e surgimento das sociedades de classe) = embate brasileiro
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Explicações sobre o Brasil no século XIX: • Explicações Raciais e explicações evolucionistas (raça inferior) • Romântica sobre nossas origens Índio • Brasileiro como algo exótico
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Geração de 1930 (modernistas): • Gilberto Freire – Casa Grande Senzala • Caio Prado Junior – Formação do Brasil Contemporâneo • Sérgio Buarque de Holanda – Raízes do Brasil Sociólogos e historiadores que repensam sobre o Brasil.
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) O que difere o Brasil de outros povos? • A força da família patriarcal na nossa história. • A família tem uma força tão intensa que em todas nossas relações sociais buscamos intimidade, proximidade, familiaridade. • Temos distância do que é impessoal, burocrático
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) • Cordes: Coração • Homem dominado pelo coração, pelos impulsos, pela emoção. • Brasileiro age mais pelo coração do que pela razão. • Subjetividade brasileira!
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo o “ homem cordial”. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “ boas maneiras” , civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo — ela pode exprimir se em mandamentos e em sentenças. Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chega a ponto de confundir se, por vezes, com a reverência religiosa. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência — e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no “ homem cordial” : é a forma natural e viva que se converteu em fórmula.
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) • Não significa que o brasileiro é apenas afável e doce. • Cordial não quer dizer bonzinho, passivo, submisso. . . • Homem cordial também é violento
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Diminutivo: “INHO” • Traz afetividade, proximidade, intimidade. “No domínio da lingüística, para citar um exemplo, esse modo de ser parece refletir se em nosso pendor acentuado para o emprego dos diminutivos. A terminação “inho” , aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê los mais acessíveis aos sentidos e também de aproximá los do coração. ”
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) O que difere o Brasil de outros povos ? • A força da família na nossa história. • A família tem uma força tão intensa que em todas nossas relações sociais buscamos intimidade, proximidade, familiaridade. “No Brasil, pode dizer se que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrário, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal. Dentre esses círculos, foi sem dúvida o da família aquele que se exprimiu com mais força e desenvoltura em nossa sociedade. E um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente, do núcleo familiar — a esfera, por excelência dos chamados “ contatos primários” , dos laços de sangue e de coração — está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem assentar a sociedade em normas antiparticularistas. ”
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Origens do Homem Cordial • Herança da Família Patriarcal. • Pai tem direito de vida e morte sobre todos. • Sua autoridade é inquestionável.
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) Jean Baptiste Debret A transposição quase literal do espaço privado para o universo público. Esta transposição é feita com uma regra muito clara: hierarquia muito rígida. A família patriarcal invade o espaço público e se perpetua infinitamente por esse espaço. Assim, a esfera doméstica impõe sua lógica a esfera pública. Patriarca – filhos – esposa (grávida) – Ama (com bebê) – escrava
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) “Nesse ambiente, o pátrio poder é virtualmente ilimitado e poucos freios existem para sua tirania. Não são raros os casos como o de um Bernardo Vieira de Melo, que, suspeitando a nora de adulté rio, condena a à morte em conselho de família e manda executar a sentença, sem que a Justiça dê um único passo no sentido de impedir o homicídio ou de castigar o culpado, a despeito de toda a publicidade que deu ao fato o próprio criminoso. ” (Raízes do Brasil, página 83)
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) • Ele escreve em 1936 (Estado Novo Vargas), para pensar o passado brasileiro, mas, sobretudo, para projetar um futuro: de radicalização da democracia e de inclusão social. • Para o Brasil crescer, deveria aperfeiçoar se, deveria usar mais a razão. • A principal herança do Brasil, a família Patriarcal, é um dilema para o Brasil. Nós só poderíamos ter um estado republicano se tivermos uma res publica – coisa pública. • Ainda hoje a política brasileira é regida pelo privado!
Raízes do Brasil - O Homem Cordial (1936) • Políticos muito famosos criam uma familiaridade ou intimidade: Vargas era o “Pai dos Pobres” • Patrimonialismo: Ver o que é público como privado. Se apropriar do público como algo privado. Transformar o público em privado. Exemplos: Quando um político quer ter vantagem usando o próprio cargo. Ou quando nos apropriamos também do espaço público de forma privada. Corrupção!
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