Esttica 1958 1959 Theodor W Adorno AULAS 12

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Estética 1958 -1959 Theodor W. Adorno AULAS 12 -13

Estética 1958 -1959 Theodor W. Adorno AULAS 12 -13

Aula 12/ deleite artístico é mediado �Retomando a última questão da aula anterior, experiência

Aula 12/ deleite artístico é mediado �Retomando a última questão da aula anterior, experiência estética genuína da obra de arte tem pouco a ver com o “gozo/deleite artístico” [Kunstgenuβ], uma vez que a experiência da arte não remete diretamente ao mundo empírico, mas a um âmbito separado (tese da magia secularizada), altamente mediado, “crítico ou utópico” (325). �No entanto, “na medida em que a obra de arte é algo estético, ela é experimentada em si mesma como parte da realidade corpórea” (325). O campo estético, assim, é relacional e dinâmico (idem).

Aula 12/correalização versus deleite �A relação do “gozo”/deleite artístico com o interesse do sujeito,

Aula 12/correalização versus deleite �A relação do “gozo”/deleite artístico com o interesse do sujeito, algo afeito à autoconservação, à posse de vantagens, faz com que “quanto mais alguém compreende de arte, quanto mais genuína é sua relação com a arte, menos desfrutará/se deleitará [wird die Kunst genieβen] com ela” (326). Isso porque “a relação com a obra de arte não é uma relação de consentimento passivo [eines passiven Hinnehmens]. . . que seria um gozo/deleite. . . [uma vez que] a experiência estética consiste em um determinado tipo de fazer, isto é, em um correalizar [Mitvollziehen]” (328).

Aula 12/correalização é espiritual �Adorno esclarece o quer dizer com correalizar: “esse fazer não

Aula 12/correalização é espiritual �Adorno esclarece o quer dizer com correalizar: “esse fazer não deve ser entendido como um esforço técnico. . . Mas como uma realização imaginária, espiritual [ein geistiger, ein imaginärer Vollzug], um ato de consumação da obra de arte/seguir o desempenho da obra de arte [dem Kunstwerk Folgeleistens], de correalização espiritual interna daquilo que, na verdade, a obra de arte decide a partir de si própria como aparição sensível” (328, al. 189)

Aula 12/passividade ativa estética �“O problema, naturalmente, não é tanto o que a obra

Aula 12/passividade ativa estética �“O problema, naturalmente, não é tanto o que a obra de arte dá às pessoas, mas o que as pessoas dão à obra de arte, isto é, se em uma determinada classe de passividade ativa [aktiver Passivität] ou de esforço de se entregar à coisa [angestrengtem Sich-Überlassen an die Sache] as pessoas dão à obra de arte o que elas esperam” (329). �“Aquele que goza/se deleita, a pessoa que se encontra em uma atitude culinária, no tipo de atitude que chamei de atomística, não só se equivoca quanto ao todo como sempre percebe o falso na obra de arte em geral” (329)

Aula 12/”função” da arte �“A obra de arte significa algo no momento em que

Aula 12/”função” da arte �“A obra de arte significa algo no momento em que tem uma função, em que dá testemunho de sua razão de ser no mundo, mas essa função ela possui não quando cumpre verdadeiramente um fim imediato, e sim quando aparece como um ser-em-si [An-sich. Seiendes erscheint]. Somente através desse ser-emsi, dessa constituição de sua legalidade objetiva [Gesetzmäβigkeit], a obra de arte é completamente capaz de cumprir esses efeitos de animado deleite [Beglückenden] que a consciência ingênua espera dela aqui e agora, imediatamente, a cada instante” (331).

Aula 12/arte como restauração do alienado �“Há seguramente uma classe de felicidade [Glück], ou

Aula 12/arte como restauração do alienado �“Há seguramente uma classe de felicidade [Glück], ou de gozo/deleite [Genuβ] nas obras de arte. . . As obras de arte não são manifestações divinas, mas obras humanas. . . A felicidade que provém das obras de arte, o gozo, não é imediatamente una com a experiência estética. . . A obra de arte provê felicidade quando se consegue que o sujeito se envolva com ela [hineinzuziehen]. . . O sujeito deve acompanhar as trajetórias/pistas [die Bahnen mitzugehen] que ela descreve, ele necessita que ela, desse modo, o aliene desse mundo alienado em que vivemos e por meio dessa alienação do alienado reproduza/recupere, restaure [wiederherstellt] verdadeiramente a imedatidade ou a vida não-danificada ela mesma” (333)

Aula 12/o deleite do desempenho da obra �“Se existe um certo tipo de felicidade

Aula 12/o deleite do desempenho da obra �“Se existe um certo tipo de felicidade ou de gozo/deleite [Genuβ] na experiência estética, esse deleite reside no trabalho/desempenho [Leistung] que a obra de arte realiza em nós, na medida em que nos absorve, na medida em que entramos nela e a seguimos. E nesse desempenho, sem dúvida, colabora essencialmente a qualidade estética” (333 s). Essa força da obra de arte está “em que medida seja capaz de traduzir/dar forma [ausprägen] à última de suas particularidades por meio de sua lei formal” (334).

Aula 12/conflito entre estético e moral �Uma vez que a alienação do mundo alienado

Aula 12/conflito entre estético e moral �Uma vez que a alienação do mundo alienado que a arte perfaz se realiza apenas no plano na aparência, dá-se na arte o conflito “entre o moral, isto é, a pretensão de mudar o mundo, e o especificamente estético, isto é, a insuportabilidade do mundo assim como ele é” (335). �A esse respeito, Adorno remete à novela de Tolstoi, Sonata a Kreutzer, em que se estabelece que “quanto mais adequada resulta a experiência artística, mais se fortalece a relação de deslumbramento/ contexto de ofuscamento [Verblendungszusammenhang], tanto mais se mantém o horrível da realidade da qual se tem a intenção de fugir” (336)

Aula 12/relação com a práxis �Por outro lado, Adorno volta ao tema na Teoria

Aula 12/relação com a práxis �Por outro lado, Adorno volta ao tema na Teoria Estética: “As obras de arte são menos e mais do que a práxis. Menos porque. . . retrocedem ante o que deve ser feito, talvez até o obstaculizem. . . A arte é mais do que a práxis porque, ao separar-se dela, denuncia a torpe falsidade da práxis” (citado p. 337, nota)

Aula 12/a ruptura da arte, dissolução do sujeito �Há um momento liberador na obra

Aula 12/a ruptura da arte, dissolução do sujeito �Há um momento liberador na obra de arte, em que a vida comum é absorvida na obra de arte, uma experiência de transbordamento/irrupção, ruptura [Durchbruch], que ativa um “sentimento de ser retirado do contexto, um sentimento de transcendência face à mera existência. . . um estado feliz [Beglückung]. . . no qual o espírito da obra de arte, ou seu significado, se atualiza e ocorre como se experimentássemos de maneira imediata, quase corporal. . . Do estar fascinado, de se esquecer de si, da dissolução do sujeito [Auslöchung des Subjekts]” (340).

Aula 12/arte “anti-hedonista” �Há, assim, na verdade, um momento “anti- hedonista” na arte, uma

Aula 12/arte “anti-hedonista” �Há, assim, na verdade, um momento “anti- hedonista” na arte, uma vez que “a experiência da arte não é uma experiência que redunda em benefício do sujeito em sentido usual, e sim algo que leva consigo o sujeito/leva embora o sujeito [von dem Subjekt wegführt] (341).

Aula 12/caráter “incompreensível” da arte �A questão da compreensão das obras de arte é

Aula 12/caráter “incompreensível” da arte �A questão da compreensão das obras de arte é frequentemente abordada sob o prisma da apropriação [Aneignung] e da participação [Teilhabe], como se a teoria pudesse fazer da obra de arte a sua propriedade (342). Assim, a “relação genuína com as obras de arte não é, na verdade, uma relação de compreensão”, pelo fato de que a obra, “ser, em primeira instância, algo incompreensível”, isto é, ela se “subtrai a essa igualação [Gleichmachung] conosco, com o sujeito, que o conceito de compreensão exige” (343)

Aula 12/correalização e enigma �Trata-se de “superar a coisidade/caráter de coisa [Dinglichkeit] pressuposta no

Aula 12/correalização e enigma �Trata-se de “superar a coisidade/caráter de coisa [Dinglichkeit] pressuposta no conceito de compreensão”, em favor de uma abordagem da experiência estética como “correalização” [Mitvollzug] e “estar-dentro” [Drinsein], que preserva o momento de enigma da obra de arte. Assim, ao invés da pergunta “o que significa isto? ” que se faz diante da obra, se assume um outro tipo de atitude de tentar “entrar na coisa mesma”, de realizar sua “conexão de sentido” (343).

Aula 12/ compreender é “seguir a obra de arte” �Seria possível pensar em um

Aula 12/ compreender é “seguir a obra de arte” �Seria possível pensar em um novo tipo de compreensão da obra de arte, esse da correalização, o de “seguir a obra de arte, mas sem adivinhar o que ela pensa/quer dizer” [dem Kunstwerk folgen, nicht aber erraten, was es meint] (344, al. 199). �“Compreender uma obra de arte. . . [seria] compreender a lógica que conduz de um acorde a outro, de uma cor a outra, de um verso a outro”, sem dissolver, ao mesmo tempo, seu caráter de enigma (344).

Aula 13/”estar dentro da obra” �“A relação adequada com a obra de arte” é

Aula 13/”estar dentro da obra” �“A relação adequada com a obra de arte” é reflexiva, mas a compreensão não é um processo simples, de apreensão exterior do seu objeto, e sim o de um correalização interna da obra, de sua “disciplina”, um acompanhar o seu movimento interno, a correlação de seus momentos parciais, um “estar dentro da obra” [im Kunstwerk Drinsein] (348). �Essa atitude estética visa, na obra de arte, o seu conteúdo [Gehalt], que é eminentemente espiritual (e não meramente sensível), acessível ao pensamento das suas mediações imanentes (350)

Aula 13/reflexão e compreensão �O conceito de reflexão [Reflexion] na arte a liga à

Aula 13/reflexão e compreensão �O conceito de reflexão [Reflexion] na arte a liga à racionalidade em geral, descreve um processo de relação à obra de arte que começa com um “entregarse” [Sich Überlassen] cego à obra e se desdobra em uma compreensão [Verstehen], uma captação/entendimento [Begreifen] do sentido integrado dos momentos parciais da obra, da “necessidade de sua relação”, que é uma experiência espiritual, das mediações imanentes da obra – por isso é uma (auto)reflexão (352).

Aula 13/tradução, comentário e crítica �O processo reflexivo, a experiência estética genuína da obra

Aula 13/tradução, comentário e crítica �O processo reflexivo, a experiência estética genuína da obra de arte tem suas manifestações mais essenciais na tradução, no comentário e na crítica, processos que, longe de lhes serem exteriores, revelam a “profunda afinidade [da arte] com a filosofia”, pelo qual a arte “se transforma em filosofia e exige a partir de si mesma algo como filosofia” (353).

Aula 13/problema do espiritual na arte �Com relação à dialética da obra de arte,

Aula 13/problema do espiritual na arte �Com relação à dialética da obra de arte, comentando Kandinsky, que demandava da arte uma distância do sensível e uma pura expressão do espiritual (354), Adorno comenta o caráter problemático dessa noção, uma vez que, a partir de Hegel, assume-se uma perda da unidade substancial entre o sensível e o espiritual (355), algo que se prolonga, na arte moderna, na reserva diante do elemento meramente sensível na arte (idem) e em um sincretismo estilístico pouco existente, entregue à contingência das formas (356).

Aula 13/arbitrariedade da simbólica do sensível �Na arte moderna, a soberania do artista diante

Aula 13/arbitrariedade da simbólica do sensível �Na arte moderna, a soberania do artista diante de seu material lhe permite jogar com as formas disponíveis, numa dinâmica em que a relação de mediação entre os momentos sensíveis e o momento espiritual fica obscurecida, em sua necessidade (357). É a situação, por exemplo, em que um significado espiritual é arbitrariamente associado a um determinado elemento sensível, como no expressionismo e sua simbólica das cores – aqui a mera convenção se faz valer (358).

Aula 13/espiritualização não é do sensível isolado �Assim, “esse processo inexorável de espiritualização dos

Aula 13/espiritualização não é do sensível isolado �Assim, “esse processo inexorável de espiritualização dos momentos sensíveis na arte nunca pode ser orientado a algo sensivelmente particular. . . Nada sensivelmente particular em si é algo absolutamente espiritual, um portador absoluto de expressão, que se baste a si mesmo para produzir o espiritual” (359). Adorno dás os exemplos dos acordes dissonantes surgidos na “música nova” e dos contrastes violentos de cores no expressionismo (cf. tb, p. 363): eles “não efetuam precisamente sozinhos essa espiritualização, mas a força de espiritualização. . . se encontra exclusivamente na configuração de seus momentos” (360).

Aula 13/construção como o espiritual? �Adorno aborda o “problema do construtivismo” na arte, em

Aula 13/construção como o espiritual? �Adorno aborda o “problema do construtivismo” na arte, em sentido amplo, isto é, a da exigência moderna de construção, que deveria supostamente ser responsável por ser o princípio portador do espiritual (uma vez que o espiritual não pode efetuarse pelo sensível particular) – na forma de uma “conexão estrutural” dos diversos momentos sensíveis da obra de arte, em “uma lógica plenamente desenvolvida” (361).

Aula 13/historicidade do sensível �A construção designa a “estruturação do todo” (361), a “organização

Aula 13/historicidade do sensível �A construção designa a “estruturação do todo” (361), a “organização interna da obra de arte” e é ela que efetuaria a espiritualização (362). �Adorno indica a historicidade da percepção estética do “estímulo sensível” na arte, seja no que ela tem de “feio” ou “dissonante”, que faz com que estes possam também vir a ser percebidos como “estimulantes”, no sentido do “sensivelmente satisfatório” (363)

Aula 13/espiritual no sensível �“Sobre a dialética entre os momentos sensíveis e os momentos

Aula 13/espiritual no sensível �“Sobre a dialética entre os momentos sensíveis e os momentos espirituais na obra de arte” (364) vale o juízo de que não se pode falar de um “conteúdo metafísico” isolado, posto abstratamente (365), supostamente presente nas obras de arte “espirituais” e supostamente ausente nas obras de arte “sensuais” [sinnenfrohe](364 s). �Ao contrário, “uma determinada forma de imergir no sensível, de hedonismo da obra de arte, que se separa de toda forma de transcendência espiritual, pode, através desse isolamento, se converter em uma expressão de conteúdo metafísico: isto é, podem converter-se em expressão do luto [Trauer] metafísico ou do abandono de Deus [Gottverlassenheit]” (366, al. 214)