Nous pensamento Noitica estudo das leis fundamentais do

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Nous – pensamento Noiética – estudo das leis fundamentais do pensamento Aisthesis – percepção,

Nous – pensamento Noiética – estudo das leis fundamentais do pensamento Aisthesis – percepção, sensação, conhecimento sensível Phatos – sofrimento, paixão, afeto Patética – que provoca sentimentos, o que comove a alma

Aristóteles não somente recusa a separação entre o mundo inteligível e o mundo sensível,

Aristóteles não somente recusa a separação entre o mundo inteligível e o mundo sensível, mas associa o prazer à imitação artística da natureza. Longe de submeter a arte à autoridade da filosofia e do político, ele não deseja excluir da Cidade os artistas inconvenientes; pelo contrário, devolve às artes suas cartas de nobreza e atribui à poesia , à música, à pintura e á escultura virtudes benéficas tanto para o indivíduo quanto para a sociedade (p. 211). Estaria ele assim em situação de pensar a autonomia da arte? É evidente que não. A ARTE PERMANECE EM ARISTÓTELES, LIGADA DE MÚLTIPLAS MANEIRAS AO PROJETO DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA, num sentido totalmente diferente de Platão, é verdade. A defesa da imitação Estamos lembrados que Platão condena a imitação em nome de princípios ontológicos, morais e políticos: a imitação em segundo ou em terceiro graus afasta da Forma, da Idéia; é um simulacro enganador utilizado para seduzir e corromper, cujos efeitos são nefastos sobre a educação; não há lugar para os poetas, músicos, pintores, dramaturgos imitadores na Cidade Ideal (p. 215) Ora. Tais princípios desempenham igualmente um papel essencial na defesa da imitação feita por Aristóteles, mas num sentido diametralmente oposto. Ele não admite a separação entre o mundo das Ideias e o mundo sensível. Se a Ideia existe num universo ao qual não temos acesso, ele é desconhecível e, por conseguinte, nós ignoramos até mesmo que ela é uma Ideia. Evidentemente, Platão admite a possibilidade de uma “participação” ao mundo ideal graças à reminiscência. Porem, apreender as essências supõe que nos afastemos do mundo sensível, que renunciemos às paixões e que recusemos os prazeres terrenos (p. 215)

Para Aristóteles, as Ideias não estão no além, elas existem na realidade. Admite ele,

Para Aristóteles, as Ideias não estão no além, elas existem na realidade. Admite ele, como Platão , a necessidade de aceder à verdade, ao belo e ao justo, mas a partir de uma realidade sensível que está no poder do homem conhecer graças à ciência, ao discurso, ao logos. Em outras palavras, o Ser existe, mas em lugar de refugiar-se num mundo dificilmente acessível, de brilhar, de algum modo, por sua ausência, ele está presente de diferentes maneiras no indivíduo e na natureza. (p. 215) Aristóteles julga severamente o conceito das Idéias imutáveis e exemplares que não explicam a diversidade e a mobilidade do real. . IMITAR, COPIAR, REPRESENTAR NÃO CONSTITUEM DEGRADAÇÕES DE UM MUNDO IDEAL, VISTO QUE, SEGUNDO ARISTOTELES, ESTE MUNDO NÃO EXISTE Porém, os tabus morais que desacreditavam ou proibiam esta imitação caem igualmente: a ação do homem cessa de ser orientada pela aspiração ao conhecimento de verdades eternas, pela aspiração a conformar-se ao modelo do bem. A felicidade e o prazer são reabilitados na terra, no mundo sensível, visto que procurar ser feliz faz parte da natureza do homem. O papel do filosofo não é, pois, o de fazer reluzir diante do homem um bem supremo que ele nunca irá atingir; a educação consiste em indicar alguns preceitos tendo em vista a busca da felicidade, do “soberano bem” (p. 216)

Imitar é logo definido como um ato legítimo, é uma tendência natural: “parece realmente

Imitar é logo definido como um ato legítimo, é uma tendência natural: “parece realmente que a poesia deve, em geral, sua origem a duas causas e duas causas naturais. Imitar é natural nos homens e manifesta-se já na infância (o homem difere dos outros animais por ser capaz de imitaçãoo e é através dela que adquire seus primeiros conhecimentos) e, em segundo lugar, todos os homens gostam das imitações. (p. 218) Observemos que a poesia designa aqui também a música que acompanha os poemas. A importância da imitação é apreciada em dois pontos: de um lado, no plano do artista criador, ela assume desde a infância uma FUNÇÃO DE CONHECIMENTO; graças a ela aprendemos. De outro lado, ela TRAZ PRAZER àquele que imita quanto ao publico (p. 218) A imitação concerne a qualquer objeto: belas ações ou atos vulgares. Aristóteles constata simplesmente que os gêneros, como a tragédia ou a epopéia, desenvolvem-se e se ornam, pouco a pouco, CONFORMES À SUA PROPORIA NATUREZA: assim, Sófocles, sobretudo, seu Édipo, melhora a tragédia em relação a Ésquilo: na Ilíada e na Odisséia, Homero levou a epopéia à perfeição (p. 218) A oposição a Platão é flagrante. Em primeiro lugar, imitar concerne a coisas ou ações concretas e não mais a ideias abstratas. O prazer que delas deriva é uma das primeiras etapas em direção à felicidade; ele pode ser vil ou nobre, segundo sua natureza. Em seguida, Aristóteles admite uma evolução possível das formas artísticas: elas cessam de obedecer a uma forma de beleza imutável e eterna. Enfim, a poesia em geral, tragédia ou comédia, é reconhecida como um gênero maior; ELA É MAIS “FILOSÓFICA” DO QUE A HISTÓRIA, pois a imitação é enriquecedora pela imaginação do criador. ESSE ÚLTIMO NÃO PINTA AS COISAS COMO SÃO; ELE AS IMITA COMO DEVERIAM SER. Não somente Sófocles mas os outros trágicos ou autores de narrativas épicas, como Homero, encontram novamente seu lugar na Cidade (p. 219)

Cauqelin: É preciso notar, antes de mais nada, que Aristóteles coloca como principio o

Cauqelin: É preciso notar, antes de mais nada, que Aristóteles coloca como principio o fato de a arte fazer parte das atividades humanas, sem a submeter a um a priori desfavorável. A arte pertence ao conjunto das atividades humanas, que pode assim ser definida: uma espécie de atividade que produz com vistas a um fim exterior, e essa espécie iria distinguir-se das outras atividades cujo fim é inerente à ação Por isso, é preciso distinguir a ação de, por exemplo, bem comer (que mantém a saúde do corpo) da arte do médico que age com o objetivo de tratar. Portanto, Aristóteles pode definir a arte no sentido lato do termo, como «uma disposição para produzir acompanhada de regras» . Produzir é “trazer à existência uma das coisas que são suscetíveis de ser ou de não ser e cujo principio de existência reside no artista”. Nessa ótica, uma produção é julgada por sua conformidade às regras “verdadeiras” que foram seguidas. Caso tenha seguido regras falsas, a produção terá falhado. . O que importa ao teórico da arte é, então, enunciar essas regras verdadeiras e, diante disso, avaliar os meios e a matéria da produção de acordo com os fins que ela se dispõe a alcançar. Tallon-Hugon: A Poetica interessa -se por esta arte da mimesis, a que hoje chamaríamos literatura. O termo mimesis não tem em Aristóteles as conotações negativas que tinha em Platão; por duas razões principais: por um lado, a metafísica aristotélica não induz a mesma hostilidade em relação ao mundo dos sentidos e, por consequência, em relação àquilo que esse mundo imita; por outro, aqui, a imitação não significa cópia servil. É verdade que a imitação se serve do real (neste caso, ela imita bem «homens em ação» ), mas é para dar origem a um objeto que é novo: um ser de ficção. Trata do possível, não do existente. Esta arte da mimesis tem por finalidade não o verdadeiro, como a história, mas o verosímil. Portanto, a mimesis é fabricação; imita a natureza no sentido em que produz como a natureza, repete o seu processo.

Cauquelin: a mimesis produz do mesmo modo como a natureza produz, com meios análogos,

Cauquelin: a mimesis produz do mesmo modo como a natureza produz, com meios análogos, com vista a dar existncia a um objeto ou a um ser; a diferença se deve ao fato de que esse objeto será um artefato, que esse será um ser de ficção. O produto de uma ficção é tão real quanto o gerado pela natureza, apenas não pode ser avaliado de acordo com os mesmos critérios. Para a natureza, os seres que ela produz são como são. . . Não acontece a mesma coisa com os seres de ficção; o que é processo interior na natureza está, no artefato, submetido à exterioridade e, portanto, á contingência Há, pois, um afastamento necessário em toda ficção, pois a produção não pode ser senão um analogon do processo natural. . . A ficção não repete, ela compõe, e sua preocupação é com o VEROSSÍMIL, não com a verdade Vemos aqui que a mimesis aristotélica em nada se assemelha à copia de Platão: ela é ativa, tem sua própria natureza, e não pretende de modo algum muda-la para procurar o verdadeiro O que o afastamento anuncia é a possibilidade de as coisas serem diferentes do que elas são. Em outras palavras, é um universo do possível instaurado pela ficção (nós diríamos: o mundo do imaginário)

A MÍMESIS ARISTOTÉLICA É UM CONTRAPONTO À MÍMESIS DE PLATÃO, NÃO DEFINE O VALOR

A MÍMESIS ARISTOTÉLICA É UM CONTRAPONTO À MÍMESIS DE PLATÃO, NÃO DEFINE O VALOR ARTÍSTICO (BAIXO) MAS VEM RESGATAR O VALOR DE VERDADE: SE, PARA PLATÃO, A IMITAÇÃO ERA O DISTANCIAMENTO DA VERDADE E O LUGAR DA FALSIDADE E DA ILUSÃO, PARA ARISTÓTELES, A IMITAÇÃO É O LUGAR DA SEMELHANÇA E DA VEROSSIMILHANÇA, O LUGAR DO RECONHECIMENTO E DA REPRESENTAÇÃO. A função mimética, em Aristóteles, nem é uma exclusividade das artes poéticas, ela se apresenta também, por exemplo, na linguagem humana em sua função de representar as coisas. Tal função, a de adequar o nome ou signo em geral à coisa significada, é a função mimética ou representativa da linguagem, lugar em que pode acontecer o verdadeiro ou o falso. Esta compreensão da mímesis mais afinada com as ideias de representação, linguagem e educação resgata o valor tradicional da poesia grega: EDUCADORA E FORMADORA DA CULTURA TRADICIONAL. Resgata a ideia que ressoa no que atestou Heródoto: Homero e Hesíodo, os educadores da Hélade. 4 Mas, se resgata este valor de verdade, resgata-o dentro da compreensão de mímesis, originalmente platônica

Uma vez reabilitada a mimese, a única questão realmente importante é a de saber

Uma vez reabilitada a mimese, a única questão realmente importante é a de saber qual forma poética é a mais elevada. . De fato, é uma questão de nuança. Pois a tragédia e a epopéia apresentam eminentes qualidades idênticas. A tragédia, todavia, tem uma leve vantagem, pois se desenvolve em menor tempo do que o da leitura. “Prefere-se o que é mais comprimido ao que é disperso durante longo tempo. . sobretudo, ela se beneficia da musica e do espetáculo, isto é, de meios muito seguros de produzir prazer”. A purgação das paixões O prazer causado pela tragédia é específico. Aristóteles o define como: “a tragédia é a imitação de uma ação de caráter elevado e completo, de certa extensão, numa linguagem marcada por tipos especiais de atrativos, segundo as diferentes partes, imitação que é feita por personagens em ação, e não por meio de uma narrativa, e que suscitando piedade e medo, opera a purgação própria a tais emoções (p. 220) A essência da tragédia reside na ação, não na narrativa, ação representada dentro de um tempo limitado. O prazer resulta das emoções sentidas: medo e piedade. Tudo isto é claro. Aristóteles menciona a causa e os efeitos. Porém, sobre o mecanismo da operação há poucos detalhes! Há um só termo bastante inesperado: purgação, catarse. Pode-se dizer também “purificação”. . Julgamos compreender que há uma relação entre a imitação, a mimese e a purgação, a catarse: diante de um espetáculo que representa ações dolorosas, tenho tendência a sentir mesmo a emoção que se procura provocar em mim. A representação de sentimentos violentos ou opressivos, por exemplo o terror, o medo ou a piedade, embora mimados e, portanto, fictícios, desencadeia no publico, na realidade, sentimentos análogos.

Esta reação é banal na vida corrente; demasiados acontecimentos reais, assustadores ou aflitivos, suscitam

Esta reação é banal na vida corrente; demasiados acontecimentos reais, assustadores ou aflitivos, suscitam emoções correspondentes, por exemplo, compaixão pelas vitimas. Mas este problema é mais surpreendente quando se trata de um espetáculo criado totalmente imaginado. Ele supõe uma identificação com um personagem e não mais com uma pessoa. Evidentemente, esta identificação tem seus limites, pois não se trata de imitar, copiar, nem de transpor para a vida real as ações que se desenvolve no palco. (p. 221) Esta transferência da ficção para a realidade será, todavia, tão inconcebível? Para nós, infelizmente não. Mas para Aristóteles, certamente sim. EXPERIMENTANDO SENTIMENTOS ANÁLOGOS AOS QUE A TRAGÉDIA PROVOCA EM MIM, LIBERTO-ME DO PESO DESTES ESTADOS AFETIVOS DURANTE E APÓS O ESPETÁCULO. DELe SAIO COMO QUE PURGADO, PURIFICADO, APAZIGUADO. Tais emoções preexistem em mim em estado latente e o espetáculo contentou-se em despertá-las: ? OU então, tê-las-á totalmente provocado? . . . Aristóteles não o diz A Poética não corresponde realmente à expectativa da Política. Aqui, também Aristóteles evocara a catarse, mas unicamente no que dizia respeito à musica. . Em compensação, a Política fornece algumas precisões que não encontramos na Poética: ao medo e à piedade acrescenta-se o “entusiasmo”. A respeito deste estado de exaltação, Aristóteles faz referência explícita ao sentido terapêutico do termo: “certos indivíduos possuem uma receptividade particular para este tipo de emoções [o entusiasmo], e vemos tais pessoas, sob o efeito dos cantos sagrados, recuperarem a calma sob a ação de uma “cura médica” ou de uma purgação. Na Política, o próprio Aristóteles sugere que a catarse diz respeito igualmente à tragédia, isto é, à vista e não somente à escuta do que ele chama cantos éticos, dinâmicos ou exaltantes. . . Mimese de ação e de sentimentos reais, a tragédia concentra a realidade no tempo e no espaço; ela exagera, impele as paixões a seu paroxismo a fim de esclarecer o publico sobre as eventuais conseqüências de seus atos: vejam o que aconteceria, se por acaso tivéssemos de imitar realmente essas infelizes vítimas da fatalidade! (p. 222/223)

O remédio não será pior do que o mal? Um espetáculo brando não seria

O remédio não será pior do que o mal? Um espetáculo brando não seria mais propicio à serenidade, à volta ao equilíbrio? Aristóteles não coloca a questão. Sua “cura médica” é homeopática: trata-se o mal através do mal, as paixões excessivas através do excesso de emoções A POLÍTICA DE ARISTÓTELES BASEIA-SE NA FILOSOFIA DA TEMPERANÇA, DA MODERAÇÃO, DO MEIO TERMO. . Multiplicar os espetáculos trágicos, atrair a multidão ao teatro, significa permitir que a catarse opere não somente no indivíduo, mas coletivamente. Significa também distrair os cidadãos, desviar sua atenção do problema do momento – as guerras incessantes – e permite a expulsão de uma má consciência que começa a assediar um povo em decadência. . . (p. 223) Trata-se aqui de uma explicação quase psicanalítica no sentido atual do termo: o espetáculo acalma as paixões porque permite viver de forma fictícia, de maneira inocente e inofensiva para a pessoa e para a sociedade, paixões que, se fossem reais, as colocariam em perigo. A catarse autorizaria então uma espécie de desrecalque. (p. 223) Fala-se de desrecalque. Não é um acaso de ter Freud escolhido o termo catarse para designar a finalidade do tratamento psicanalítico: a volta das pulsões recalcadas à consciência. Nada há de mais prejudicial ao equilíbrio do indivíduo e da sociedade do que comprazer-se no mal-estar e no sofrimento de paixões e de pulsões condenada ao mutismo, repelidas para o âmago do inconsciente. (p. 224) .

Esta interpretação estabelece um elo entre a Poética e a Política. . Mais recentemente,

Esta interpretação estabelece um elo entre a Poética e a Política. . Mais recentemente, Brecht baseou sua teoria e suas prática teatral neste elo entre estética e política. . Brecht critica com virulência a catarse e seus efeitos anestesiantes em relação à realidade pouco agradável do mundo atual. Mas é menos Aristóteles que ele denuncia do que a “dramaturgia aristotélica”, a tradição do teatro clássico e “carunchado”. Censura-o também por insistir na identificação entre o espectador e os personagens a fim de engendrar um prazer ilusório que desvia o publico da realidade concreta. A esta demasiada proximidade que visa, em sua opinião, mistificar o espectador, ele opõe o distanciamento. Este último tem como efeito instaurar precisamente uma distância crítica. Ela permite que o publico tome consciência dos interesses políticos e ideológicos da ação fictícia representada em cena

Estética e Patética Mas o Sócrates da República não denegriu a poesia apenas por

Estética e Patética Mas o Sócrates da República não denegriu a poesia apenas por seu caráter mimético, capaz de produzir falsidades e sofismas. As razões que levaram Sócrates a expulsar os poetas da cidade que se quer conservar justa vão além do problema de conteúdo falso das representações miméticas: vão alcançar O CARÁTER SEDUTOR DA OBRA DE ARTE (O VALOR PROPRIAMENTE ESTÉTICO) E TAMBÉM A SUA CAPACIDADE DE PRODUZIR SENTIMENTOS (O PODER PATÉTICO). Para o Sócrates da República, a beleza sensível da obra de arte serve para atrair pelo prazer o jovem incauto para as garras maléficas da falsidade e dos sentimentos fracos. Especialmente AS ARTES DRAMÁTICAS AMOLECERIAM OS SENTIMENTOS DOS JOVENS, DESVIRTUANDO-LHES O CARÁTER: a comédia torna-os propensos ao despudor, enquanto a tragédia lhes incute as fraquezas do terror e da compaixão