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Universidade de São Paulo (USP) Escola de Comunicação e Artes (ECA) Departamento de Jornalismo

Universidade de São Paulo (USP) Escola de Comunicação e Artes (ECA) Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO Código: CJE 0517 (disciplina obrigatória para alunos do curso de Jornalismo) Semestre: 2º Semestre de 2020 Período: matutino (6ª feira, das 08 h 00 às 09 h 45) e noturno (4 a feira, das 21 h 10 às 22 h 45) Docente responsável: Prof. Dr. Antônio David Aula 03

"Uma nação [. . . ] é um grupo de pessoas unidas por um

"Uma nação [. . . ] é um grupo de pessoas unidas por um erro comum sobre sua ancestralidade e por uma comum aversão por seus vizinhos" (Deutsch [1969] apud Sand, 2009, p. 1).

“Qualquer historiador que tenha passado a maior parte de sua carreira estudando esse período

“Qualquer historiador que tenha passado a maior parte de sua carreira estudando esse período antigo de formação étnica e migração só pode observar o desenvolvimento do nacionalismo politicamente consciente e do racismo com apreensão e desdém, especialmente quando essas ideologias pervertem e se apropriam da história como sua justificativa. Essa pseudohistória parte do princípio de que os povos da Europa são distintos e estáveis, unidades socioculturais objetivamente identificáveis, e são diferenciados pela língua, pela religião, pelos costumes e pelo caráter nacional, que não são ambíguos nem mutáveis” (Geary, 2005, p. 22). “Os povos da Europa sempre foram muito mais fluidos, complexos e dinâmicos do que imaginam os nacionalistas modernos. Os nomes dos povos podem soar familiares após mil anos, mas as realidades sociais, culturais e políticas encobertas por esses nomes eram radicalmente diferentes do que são hoje” (Geary, 2005, p. 24).

“Além disso, reivindicam-se a autonomia política de um grupo étnico específico e, ao mesmo

“Além disso, reivindicam-se a autonomia política de um grupo étnico específico e, ao mesmo tempo, o direito de tal povo governar seu território histórico, geralmente definido de acordo com as ocupações ou reinos medievais, independentemente de quem vive nele atualmente. [. . . ] Implícita nessas reivindicações está a pressuposição de que houve um momento de 'aquisição primária' – o século I para os alemães, o século V para os francos, os séculos VI e VII para os croatas, os séculos IX e X para os húngaros e assim por diante –, que estabeleceu definitivamente os limites geográficos da posse legítima das terras. Após esse momento da aquisição primária, de acordo com esse raciocínio circular, as migrações, invasões ou incorporações políticas subsequentes, embora semelhantes às anteriores, foram todas ilegítimas. Em muitos casos, isso implica a obliteração de 1. 500 anos de história” (Geary, 2005, p. 22).

Fonte: Wikipedia.

Fonte: Wikipedia.

“Durante a Baixa Idade Média e o início da Renascença, a 'nação' – assim

“Durante a Baixa Idade Média e o início da Renascença, a 'nação' – assim como a religião, a família, a propriedade e o estrato social – proporcionava um dos meios em comum pelos quais as elites politicamente ativas se identificavam e organizavam em ações colaborativas. Entretanto, o sentimento de pertencer a uma nação não constituía o mais importante desses vínculos. Nem mesmo uma identidade nacional comum unia o abastado e o necessitado, o senhor e o camponês, em uma forte comunhão de interesses. E os intelectuais e as elites sociais naturalmente não se identificavam pela projeção de suas identidades nacionais no passado remoto do período das invasões bárbaras. Pelo contrário, quando se voltavam para um passado distante em busca de vínculos, identificavam-se conscientemente com a sociedade e cultura romanas” (Geary, 2005, p. 31).

“[…] Civilis convocou, em um bosque sagrado, os principais da nação [primores gentis] e

“[…] Civilis convocou, em um bosque sagrado, os principais da nação [primores gentis] e a gente mais disposta, sob o pretexto de oferecer-lhes um banquete. Vendo que a noite e a alegria haviam aquecido os espíritos, começou por exaltar a glória da nação [gloriaque gentis]; depois, enumerou as injustiças, os crimes e os diversos males da servidão. […] Suas palavras foram acolhidas com entusiasmo. À sua causa, Civilis todos uniu, por meio de ritos bárbaros e maldições pátrias” (Tácito, Histórias, IV, 13 -14).

Van Veen, De Romeinen onder Cerealis verslaan Claudius Civilis door het verraad van een

Van Veen, De Romeinen onder Cerealis verslaan Claudius Civilis door het verraad van een Bataaf, 1613. Doek, 38 x 52 cm, Rijksmuseum Amsterdam. Disponível em <https: //commons. wikimedia. org/wiki/File: De_Romeinen_onder_Cerealis_verslaan_Claudius_Civilis_door_het_verraad_van_een_Bataaf_Rijksmuseum_SK-A-431. jpeg >

Bol, Negotiations between Civilis and the Romans, ca. 1658. Disponível em <https: //www. ucl.

Bol, Negotiations between Civilis and the Romans, ca. 1658. Disponível em <https: //www. ucl. ac. uk/dutchstudies/an/SP_LINKS_UCL_POPUP/SPs_english/batavian_myth/image_bol-bataaf_lrg. html>

Flinck/Ovens, De nachtelijke samenzwering van de Bataven onder Claudius Civilis. c. 1559 -1562. Doek

Flinck/Ovens, De nachtelijke samenzwering van de Bataven onder Claudius Civilis. c. 1559 -1562. Doek 500 cm x 500 cm. Amsterdam, Koninklijk Paleis. Disponível em <https: //commons. wikimedia. org/wiki/File: Flinck, _Govaert_%26_Ovens, _J%C 3%BCrgen_-_The_Conspiracy_of_the_Batavians_under_Claudius_Civilis_-_Google_Art_Project. jpg >

Rembrandt, De samenzwering van de Batavieren onder Julius Civilis, ca. 1661 -1662. Doek, 196

Rembrandt, De samenzwering van de Batavieren onder Julius Civilis, ca. 1661 -1662. Doek, 196 x 309 cm, Stockholm, Nationalmuseum. Disponível em <https: //www. rijksmuseum. nl/nl/claudius-civilis>

“[. . . ] apesar do apelo emocional dessas reivindicações de base históricolinguística, nada

“[. . . ] apesar do apelo emocional dessas reivindicações de base históricolinguística, nada na história as justifica. A congruência entre os 'povos' da Alta Idade Média e os contemporâneos é um mito. [. . . ] Tanto em Estados fortes e hegemônicos como em movimentos pela independência, afirmações como 'nós sempre fomos um povo' são, no fundo, apelos para que se tornem povos – apelos sem base histórica que na verdade são tentativas de criar a história. O passado, como sempre foi dito, é um país estrangeiro, e nunca nos encontraremos por lá” (Geary, 2005, p. 51). “’[. . . ] o nacionalismo pode fabricar a própria nação” (Geary, 2005, p. 30).

“Pouco habituados a estar no centro da disputa política, os historiadores dedicados à Alta

“Pouco habituados a estar no centro da disputa política, os historiadores dedicados à Alta Idade Média se dão conta de que o período histórico que estudam é o pivô de uma disputa política pelo passado, e que suas afirmações estão sendo usadas como base para reivindicações para o presente e o futuro. [. . . ] Provavelmente, nenhum outro período da história foi tão obscurecido pela academia nacionalista e chauvinista. Essa própria obscuridade propicia a propaganda do nacionalismo étnico” (Geary, 2005, p. 19).

Fonte: Wikipedia.

Fonte: Wikipedia.

“Por uma série de circunstâncias sociais, este grandioso 600 aniversário da Batalha de Kosovo

“Por uma série de circunstâncias sociais, este grandioso 600 aniversário da Batalha de Kosovo tem lugar em um ano em que a Sérvia, depois de muito tempo, depois de muitas décadas, recuperou seu Estado e sua integridade nacional e espiritual” (Slobodan Milosevic, Discurso de Gazimestan, 28 jun. 1989). “Mesmo depois, quando se criou a Iugoslávia socialista, neste novo Estado os dirigentes sérvios seguiam divididos, com tendência a contemporizar, em detrimento de seu próprio povo. As concepções que muitos líderes sérvios fizeram às custas de seu povo não se podem aceitar, nem histórica nem eticamente, por nenhuma nação no mundo, sobretudo porque os sérvios, em toda a sua história, nunca conquistaram nem exploraram outros. Sua existência nacional e histórica foi, durante toda a sua história, inclusive depois das duas guerras mundiais, tão libertária como o é hoje. Libertaram-se a si mesmos e, quando puderem, também ajudaram à liberdade de outros. O fato de que nesta região se encontre uma grande nação não é um pecado nem uma vergonha para a Sérvia, é uma vantagem que não utilizou contra outros, mas devo dizer aqui, neste grande e legendário campo de Kosovo, os sérvios tampouco utilizaram a vantagem de sua grandeza para seu próprio benefício” (Slobodan Milosevic, Discurso de Gazimestan, 28 jun. 1989).

“Seis séculos mais tarde, estamos comprometidos em novas batalhas, que não são armadas, embora

“Seis séculos mais tarde, estamos comprometidos em novas batalhas, que não são armadas, embora tal situação não possa ainda ser excluída. Em qualquer caso, as batalhas não podem ganhar-se sem a vontade, esforço e sacrifício, sem as qualidades nobres que estavam presentes nos campos de Kosovo naqueles dias do passado. [. . . ] Para esta batalha, nós realmente precisamos de heroísmo, claro que de um tipo diferente, mas com uma coragem sem a qual nada sério e grande pode ser mudado e melhorado” (Slobodan Milosevic, Discurso de Gazimestan, 28 jun. 1989). “Há seis séculos, Sérvia defendeu-se heroicamente a si mesma no campo de Kosovo, mas também naquela ocasião defendia a Europa. Sérvia era então o bastião que defendeu a cultura europeia, a religião e a sociedade europeia em geral. Portanto, hoje parece injusto, não histórica e absurdo entender a Sérvia como algo distinto da Europa. Sérvia foi parte da Europa incessantemente, agora como no passado, e de uma maneira própria, mas sem perder nunca sua própria dignidade. Neste espírito, nós estamos agora empenhados em construir uma sociedade rica, democrática e assim contribuir para a prosperidade deste lindo país, este país de sofrimentos injustos, mas também para contribuir com os esforços de toda a gente que se esforça para fazer progredir o mundo e fazê-lo melhor e mais feliz” (Slobodan Milosevic, Discurso de Gazimestan, 28 jun. 1989).

“Aqueles que desejam evocar a ideia de uma nação como um grupo delimitado que

“Aqueles que desejam evocar a ideia de uma nação como um grupo delimitado que persiste no tempo devem manipular valores éticos centrais – tais como esforço, rebelião, honestidade e sacrifício – como expressões de identidade nacional. Essa estratégia acarreta na criação da ilusão de que os Sérvios que lutaram contra os turcos em Kosovo em 1389 são de algum modo os mesmos Sérvios lutando pela sobrevivência da Sérvia nacional hoje” (Petrovic, 2000, p. 170).

“Assim, dentro de um espírito antropológico, proponho a seguinte definição de nação: uma comunidade

“Assim, dentro de um espírito antropológico, proponho a seguinte definição de nação: uma comunidade política imaginada – e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana” (Anderson, 1991, p. 32).

“[. . . ] estava ocorrendo uma transformação fundamental nos modos de apreender o

“[. . . ] estava ocorrendo uma transformação fundamental nos modos de apreender o mundo, a qual, mais do que qualquer outra coisa, possibilitou o 'pensar' a nação” (Anderson, 1991, p. 52). “[. . . ] a mentalidade cristã medieval não concebia a história como uma cadeia interminável de causas e efeitos, nem imaginava separações radicais entre passado e presente” (Anderson, 1991, p. 53). “O que ocupou o lugar da concepção medieval da simultaneidade-ao-longo-dotempo é, recorrendo novamente a Benjamin, uma ideia de 'tempo vazio e homogêneo', em que a simultaneidade é, por assim dizer, transversal, cruzando o tempo, marcada não pela prefiguração e pela realização, mas sim pela coincidência temporal, e medida pelo relógio e pelo calendário” (Anderson, 1991, p. 54). “[. . . ] uma brusca clivagem entre cosmologia e história [. . . ]. [início da] busca, por assim dizer, de uma nova maneira de unir significativamente a fraternidade, o poder e o tempo” (Anderson, 1991, p. 69 -70).

Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32. Parque do Ibirapuera, São Paulo. Foto: Governo do

Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32. Parque do Ibirapuera, São Paulo. Foto: Governo do Estado de São Paulo (divulgação). Disponível em <https: //parqueibirapuera. org/areas-externas-do-parque-ibirapuera/obelisco-do-ibirapuera/>

Disponível em <https: //twitter. com/Cmdo. CML/status/1033055114754490369>

Disponível em <https: //twitter. com/Cmdo. CML/status/1033055114754490369>

[Soberana] “Imagina-se a nação soberana porque o conceito nasceu na época em que o

[Soberana] “Imagina-se a nação soberana porque o conceito nasceu na época em que o Iluminismo e a Revolução estavam destruindo a legitimidade do reino dinástico hierárquico de ordem divina. Amadurecendo numa fase da história humana em que mesmo os adeptos mais fervorosos de qualquer religião universal se defrontavam inevitavelmente com o pluralismo vivo dessas religiões e com o alomorfismo entre as pretensões ontológicas e a extensão territorial de cada credo, as nações sonham ser livres – e, quando sob dominação divina, estão diretamente sob Sua égide. A garantia e o emblema dessa liberdade é o Estado Soberano” (Anderson, 1991, p. 34). [Comunidade] “[. . . ] a nação é sempre concebida como uma profunda camaradagem horizontal”; “fraternidade” (Anderson, 1991, p. 34).

“Mas, exatamente por ser um modelo conhecido na época, ele impunha certos 'padrões' que

“Mas, exatamente por ser um modelo conhecido na época, ele impunha certos 'padrões' que impossibilitavam desvios muito acentuados. Mesmo a pequena nobreza atrasada e reacionária da Hungria e da Polônia tinha dificuldade em não armar um vasto espetáculo de 'convites' aos seus compatriotas oprimidos (mesmo que fosse só para a cozinha). Digamos que era a lógica da 'peruanização' de San Martín que estava em funcionamento. Se os 'húngaros' mereciam um Estado nacional, isso então significava os húngaros, todos eles; significava um Estado em que o locus último da soberania tinha de ser a coletividade que falava e lia húngaro; e significava também, no devido tempo, o fim da servidão, o fomento da educação popular, a ampliação do direito de voto, e assim por diante. Dessa maneira, o caráter 'populista' dos primeiros nacionalismos europeus, mesmo quando liderados demagogicamente pelos grupos sociais mais retrógrados, foi mais profundo do que os americanos: a servidão tinha de sumir, a escravidão legal era inimaginável – quando menos porque o modelo conceitual assim o exigia irretorquivelmente” (Anderson, 1991, p. 125 -6).

Anderson sugere que, na Europa, o nacionalismo – tido como projeto político envolvido na

Anderson sugere que, na Europa, o nacionalismo – tido como projeto político envolvido na criação de direitos universais – descreve um âmbito da realidade que podemos chamar de aparente, uma vez que, apesar dos direitos, as relações sociais e econômicas são assimétricas e recortadas por opressões e violências. (Mas não podemos esquecer que a aparência é parte da realidade e, como tal, possui eficácia social, inclusive na defesa dos direitos conquistados, contra sua redução e/ou por sua ampliação). No Brasil, não se deu semelhante universalização de direitos, de modo que, ainda hoje, parcela majoritária da população vive em condições precárias, sendo que parte dela na extrema pobreza; ademais, no Brasil não parece haver a “fraternidade” pressuposta na noção de “comunidade” (mesmo que em nível aparente); para coroar, nos plenários e salas dos órgãos dos poderes, crucifixos são ostentados, contrariando outro critério da definição, a “soberana”. (Seria o caso de pesquisar a presença de um imaginário teológico-político atravessando as práticas e representações políticas no Brasil). Todavia, o nacionalismo existe entre nós. Na hipótese de que, no Brasil, o nacionalismo não cumpre uma função descritiva – uma vez que não descreve sequer as aparências –, então que função (ou que funções) cumpre? E o que essa função ou essas funções revelam ou exprimem a respeito do nacionalismo como forma de consciência em geral?

“Mesmo que não contássemos com pesquisas, cada um de nós experimenta no cotidiano a

“Mesmo que não contássemos com pesquisas, cada um de nós experimenta no cotidiano a forte presença de uma representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmos. Essa representação permite, em certos momentos, crer na unidade, na identidade e na indivisibilidade da nação e do povo brasileiros, e, em outros momentos, conceber a divisão social e a divisão política sob a forma dos amigos da nação e dos inimigos a combater, combate que engendrará ou conservará a unidade, a identidade e a indivisibilidade nacionais” (Chaui, 2013, p. 149. ).

“Meu partido é o Brasil” Que função cumpre essa ideologia?

“Meu partido é o Brasil” Que função cumpre essa ideologia?

Bibliografia: Anderson, B. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo.

Bibliografia: Anderson, B. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução Denise Bottman. São Paulo: Compnhia das Letras, 2008. Chaui, M. Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. André Rocha (org). Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013. Geary, P. O mito das nações. A invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad, 2005. Petrovic, E. "Ethnonationalism and the Dissolution of Yugoslavia". In: Halpern, J. M. ; Kideckel, D. A. (ed. ). Neighbors at War: anthropological perspectives on Yugoslav ethnicity, culture, and history. University Park: The Pennsylvania State University Press, 2000. Sand, S. The invention of the jewish people. Translated by Yael Notan. London, New York: Verso, 2010. Tácito. (Tacite). Oeuvres complètes. Préface et nouvelles traductions de Catherine Salles. Paris: Éditions Robert Laffont, 2014. Fontes: Discurso de Gazimestan, 28 jun. 1989. Disponível em <https: //www. ersilias. com/discurso-de-gazimestan/>