SOCIEDADE E CULTURA EM TEMPOS GLOBAIS Aulas 2
SOCIEDADE E CULTURA EM TEMPOS GLOBAIS Aulas 2 e 3
Uniformes do exército brasileiro Made in China • http: //www. eb. mil. br/web/imprensa/resenha //journal_content/56/18107/860650; jsessionid =6 C 37 B 8896 C 5 DE 3 CAF 88 E 25 B 4392 DC 5 DF. lr 1? referer. Plid=18115#. VRw. HZvn. F-nk
Yukinori Yanagi América [interação generalizada em que as marcas identitárias se dissolveriam? ]
Néstor Garcia Canclini • Duplo propósito do livro: descrever as mudanças da cultura na globalização e explorar alternativas para a sua administração. • Como as sociedades e os vínculos entre elas têm sido narrados e imaginados no processo de globalização. • Compreender o processo a partir do ponto de vista da cultura – entender melhor as contradições da globalização - e interferir nele de maneira alternativa àquelas que partem do ponto de vista da economia ou da política: inexorabilidade em questão.
A Globalização Imaginada Canclini Embora a globalização seja imaginada como copresença e interação de todos os países, de todas as empresas e de todos os consumidores, é um processo segmentado e desigual ↓ ≠ conceito de globalização como unificação e homogeneização
DADOS • Há mais mobilidade agora do que em qualquer outro momento da história. • Forças demográficas, globalização, conflitos e mudanças climáticas incrementarão os fluxos migratórios nas próximas décadas. • 244 milhões de imigrantes no planeta – 173 milhões em 2000 (ONU – International Migration Report 2015). • 1 em cada 113 pessoas no planeta é solicitante de refúgio, deslocada interna ou refugiada (Tendências Globais – ACNUR – 2017) • Relatório OECD – 2016 – 5 milhões de imigrantes para os 35 países membros; 1. 6 milhões de solicitações de asilo; 1. 5 milhões de permissões para estudantes de educação superior na zona da OCDE; mais de 10% dos casamentos se dá entre cidadãos e estrangeiros. • Refugiados no mundo estimados em 65. 6 milhões (ACNUR 2017) [população maior que o Reino Unido, o 21º país mais populoso do mundo]crianças são metade da população de refugiados no mundo. • 2/3 dos imigrantes vivem na Europa (76 milhões) ou Ásia (75 milhões), seguidos pela América do Norte (54 milhões )e África (21 milhões). • Imigrantes são o grupo mais vulnerável da sociedade (ONU). • Em 2015, 67% dos imigrantes viviam em apenas 20 países (EUA é o país com maior número de imigrantes, 47 milhões). • Remessa de dinheiro 436 bilhões de dólares (BM 2015) = 3 vezes a quantia aportada por programas oficiais de assistência (mesmo com a crise mundial remessas crescem, 4, 4% 2013)→ remessas de dinheiro + remessas culturais. • Fatores de expulsão e atração = migrações livres e forçadas. • Mais da metade dos migrantes mundiais são mulheres (Europa e América do Norte), chefes de família, que deixam seus filhos (ONU). • Tecnologia (celulares, webcams) permitem contato permanente com lugar de origem – integração? • Aparecimento das margens no centro. http: //metrocosm. com/global-immigration-map/
Comércio de bens culturais (UNESCO) O comércio de bens culturais gerou US$ 212, 8 bilhões em 2013, o dobro dos números registrados em 2004, segundo novo relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco. O bom desempenho ocorreu mesmo com a recessão global e com o aumento do consumo de vídeos e de música pela internet. O comércio de jóias, principalmente as de ouro, aumentou 271% no mundo, movimentando mais de US$ 100 bilhões. Brasil Outros bens que estão sendo comercializados cada vez mais são: esculturas (+ 180%), pinturas (+ 80%) e artesanato (+ 57%). O relatório aponta o Brasil como um participante cada vez mais ativo na exportação de quadros movimentando US$ 80 milhões no período de 10 anos. Com a digitalização de notícias, filmes e músicas, o comércio global desses bens culturais caiu bastante entre 2004 e 2013. O documento nota que crescem cada vez mais as assinaturas online desses serviços, por isso o impacto negativo do comércio foi forte nessas indústrias. Era Digital A exportação de bens cinematrográficos diminuiu 88%, a de bens musicais caiu 27% e a exportação de jornais e de revistas foi 9% menor. Por outro lado, o mercado de videogames viu seu comércio subir 140% e o de livros, 20%. A China é o país líder na exportação de bens culturais, totalizando mais de US$ 60 bilhões em 2013. Na sequência estão os Estados Unidos, que gerou receitas de US$ 27, 9 bilhões. Com a transição cada vez maior dos bens culturais para o mundo digital, o relatório nota que está cada vez mais difícil obter dados precisos sobre este tipo de comércio. A recomendação é para maior cooperação entre organizações internacionais, especialmente na promoção das estatísticas sobre o comércio cultural.
ONU • 50 maiores multinacionais têm uma receita anual maior do que o PIB de 70% dos países. • 29 das cem maiores economias do mundo são empresas multinacionais e não países. • Receita das multinacionais fora do seu país de origem ronda 40 trilhões de dólares, ou mais da metade do PIB mundial, com seus 73, 5 trilhões de dólares em 2013. O total de exportações dos países está próximo de 20 trilhões de dólares, a metade do que fazem as multinacionais fora do seu país de origem. • Oito homens concentram a riqueza equivalente de 3, 6 bilhões de pessoas, a metade mais pobre da população mundial (Oxfam, 2017) 8
• Durante o século XIX e boa parte do XX → cada pessoa pertencia a uma nação e era dessa perspectiva que ela imaginava suas relações com os outros. • Nação servia como continente para a cidadania e de mediadora das interações para além das fronteiras.
Mapas culturais não correspondem mais às fronteiras geográficas ↓ culturas deslocam-se, misturam-se, transformam-se
• Diversidade cultural: característica incontornável da paisagem do século XXI • Gestão da diversidade: grande desafio do nosso tempo • Processos de interculturalidade transnacionais • A questão do outro, o drama do reconhecimento, talvez seja hoje a questão política central.
Globalização • • Discrepância na datação refere-se ao modo pela qual é definida: Século XVI: aspecto econômico Meados do século XX: dimensão política e cultural Nova configuração do globo Complexificação das tramas
¿Qué es la globalización? Ulrich Beck (1997) “Globalización significa la perceptible pérdida de fronteras del quehacer cotidiano en las distintas dimensiones de la economía, la información, la ecología, la técnica, los conflictos transculturales y la sociedad civil, y, relacionada básicamente con todo esto, una cosa que es al mismo tiempo familiar e inasible – difícilmente captable -, que modifica a todas luces con perceptible violencia la vida cotidiana y que fuerza a todos a adaptarse y responder. El dinero, las tecnologías, las mercancías, las informaciones y las intoxicaciones ‘traspasan’ las fronteras, como si estas no existieran. Inclusive cosas, personas e ideas que los gobiernos mantendrían, si pudieran, fuera del país consiguen introduzirse. ” (p. 42)
A Era do Globalismo Octavio Ianni (1997) • Configuração histórico-social → complexo jogo de forças. • Produto e condição de múltiplos processos sociais, econômicos, políticos e culturais, em geral sintetizados no conceito de globalização. • Na base está o capitalismo, como modo de produção global: presente em todas as nações, regimes políticos, tradições culturais. • Emerge de forma particularmente evidente, em suas configurações e em seus movimentos, no fim do século XX, a partir do desabamento do mundo bipolarizado capitalismo/comunismo. [Beck = capitalismo sem impostos] • Ruptura histórica drástica com implicações práticas e teóricas
Octavio Ianni • Expansão das empresas, corporações e conglomerados transnacionais • Nova divisão transnacional do trabalho • Emergência das cidades globais • Declínio do estado-nação • Estados nacionais: elos da sociedade global • Estruturas de poder globais: FMI, BM, OMC • Novos movimentos sociais – sociedade civil global? Ver Appadurai p. 36
Octavio Ianni • Percepção global da existência: ‘todos são levados a perceber algo além do horizonte visível, a captar configurações e movimentos da máquina do mundo’ • Não só as sociedades nacionais são atingidas = modos de vida e pensamento de indivíduos e coletividades (cultural) • Globalização do mundo acelerada com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação • Problemática ambiental: sistema global • Nomadismo
Octavio Ianni • Globalização ≠ Homogeneização • Sociedade global = totalidade dinâmica, complexa e contraditória • Diversidades, desigualdades, tensões e antagonismos; articulações, associações e integrações regionais, transnacionais e globais • Local – Global • Nova realidade: integra, subsume e recria singularidades, particularidades, nacionalismos, provincianismos, etnicismos, identidades, fundamentalismos • Multiplicação da diversidade do mundo – caleidoscópio desconhecido
A Fonte das Mulheres Dirigido por Radu Mihaileanu (Romênia, França) ITA/BEL/FRA, 2011
Alighiero Boetti (Italiano, 1940– 1994)
Intensificação das dependências recíprocas: assimetria dos fluxos = processo segmentado e desigual. De um mundo multicultural = justaposição de etnias ou grupos em uma cidade ou nação ↓ mundo intercultural globalizado = os diferentes se encontram em um mesmo mundo e devem conviver em relações de negociação, conflito e trocas recíprocas confrontação e entrelaçamento Martín-Barbero: “Interculturalidade nomeia a impossibilidade de uma diversidade cultural compreendida de cima”
Ao intensificar as interdependências, a globalização exige maior disponibilidade para conviver diariamente com os diferentes e aumenta os riscos – reais e imaginários – de que essas diferenças se tornem conflituosas. O incremento dos choques indica que suportamos mal tanta proximidade. 25
Néstor García Canclini Conflictos Interculturares “A relação entre cada cultura e um território específico, sem desaparecer, está sendo alterada pelo deslocamento de enormes massas de imigrantes, exilados, turistas e outros viajantes, assim como pela crescente interdependência de cada sociedade com muitas outras, próximas e longínquas. “
Néstor García Canclini Conflictos Interculturares • “A interculturalidade já não se limita a países vizinhos. Se globalizou criando interdependências para as quais não estávamos preparados. Por mais que os guardiões de fronteiras erijam novos muros, os africanos, asiáticos e latino-americanos seguem chegando aos Estados Unidos e à Europa. Os livros, as músicas e as artes visuais se comunicam mundialmente, apesar dos mercados oferecerem oportunidades desiguais ao norte e ao sul. ”
TENSÃO
Diversidade em Convergência Jésus Martín-Barbero • A globalização é um movimento que, ao fazer da comunicação e da informação a chave de um novo modelo de sociedade, empurra todas as sociedades para uma intensificação de seus contatos e conflitos, expondo as culturas umas às outras de modo inédito (p. 24).
Diversidade em Convergência Jésus Martín-Barbero • Globalização: perversidade e possibilidades (Milton Santos) • “Comunidades culturais estão se convertendo em um âmbito crucial de recriação do sentido das coletividades, de reinvenção das suas identidades, de renovação dos usos de seus patrimônios, de sua reconversão em espaço de articulação produtiva entre o local e o global. ” (p. 19) • Condições do traduzível e do indecifrável de cada cultura ao mesmo tempo (limites do intercâmbio). • Sustentabilidade cultural (p. 21)
Papel facilitador das tecnologias • Martín-Barbero: “Atravessamos uma revolução tecnológica cuja peculiaridade não reside tanto em introduzir uma quantidade inusitada de novas máquinas e nossas sociedades, mas, sim, em configurar um novo ambiente ou ecossistema comunicativo. ” – novos modos de habitar o mundo, novas relações e formas do laço social. Novas representações e escrituras. (ver 27)
Néstor García Canclini El mundo entero como lugar extraño • “A interculturalidade e as comunicações globalizadas nos tornam estrangeiros não apenas das paisagens que nos eram próprias e para nossos pais. Somos convidados ou pressionados a viver em outras ‘pátrias’. “
Paradoxo • Percepção da dimensão global da existência dos problemas globais que se apresentam aos indivíduos, das possibilidades que as novas tecnologias trazem por meio de redes interconectadas • Percepção de que é necessário agir em âmbito micro, local, da maneira mais orgânica possível 45
Atividades Transfronteiriças Local↔Global 46
Marc Augés Não-lugares • “Se os imigrantes inquietam tanto (e muitas vezes de maneira tão abstrata) as pessoas instaladas, talvez seja, em primeiro lugar, porque eles lhes demonstram a relatividade das certezas inscritas no solo. ” • “A experiência do não-lugar é hoje um componente essencial de toda existência social. ” • Lugar = cultura localizada no tempo e no espaço • Não-lugar = espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico.
globalização popular e sistema mundial não hegemônico
Feira Kantuta – São Paulo
William Kentridge • Felix in Exile (2007): https: //vimeo. com/66485044 • More Sweetly Play the Dance (2015): https: //www. youtube. com/watch? v=o. BZYd. In. Wn. M
• https: //noticias. uol. com. br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/09/15/lider-que-levou-o-googlea-aldeias-indigenas-denuncia-sofrer-ameacas-de-morte. htm#foto. Nav=1 SURUÍ
CALAIS, França
CALAIS, França
O Medo ao Pequeno Número Arjun Appadurai • Globalização: problema da incerteza social – medo às minorias – ansiedade da maioria – ansiedade da incompletude • Preocupação com as dimensões culturais da globalização • Mundo vertebrado para mundo celular (face sombria e face clara – democratização celular = outras novas formas transnacionais de organização)
Arjun Appadurai • Moderno estado-nação: ideia de um ethnos nacional; singularidade étnica; soberania; território estável - população contida e contável; benesses do Estado. • Minorias = sensação de incompletude → traição ao projeto nacional clássico (pequeno número = facilmente descartável) • Medo de que as minorias tornem-se maioria (presumivelmente maiorias externamente) • ‘A violência requer minorias’ (culpa) = limpeza, guetificação • Incerteza social – certeza ideológica • Ver p. 96
Néstor García Canclini • “Passamos da diversidade como riqueza para a interculturalidade como desordem. O século XXI começa com perguntas sobre como melhorar a convivência com os outros, e se é possível não apenas admitir as diferenças, mas valorizá-las sem cair em discriminações. ”
Cultura é uma longa conversa Hoje, uma fala global. . .
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