Sistema Financeiro no Brasil Resistncia a Choques No
Sistema Financeiro no Brasil: Resistência a Choques, Não Dolarização, mas com Esforço para Promover o Crescimento Ilan Goldfajn Katherine Hennings Helio Mori III Conferência Anual CREDPR para a América Latina Universidade de Stanford – Novembro de 2002 1
Sistema Financeiro no Brasil: Principais Tópicos Objetivo do Trabalho: Descrever o Sistema Financeiro Brasileiro e Resumir os Diversos Estudos realizados no Brasil Estrutura: Ø Fatos estilizados do Sistema Financeiro Brasileiro Ø Reestruturação do sistema financeiro Ø O papel do sistema financeiro na preservação do valor real da poupança privada Ø Desafios para promover o crescimento Ø Recente progresso no fortalecimento do Sistema Financeiro Brasileiro 2
Sistema Financeiro no Brasil: Perguntas Mais Freqüentes 1. Como a intermediação financeira sobrevive às altas taxas de juros? Quem pede emprestado a taxas tão altas? 1. Como o sistema lida com a alta volatilidade? (inflação alta até 1994; depois disso, taxas de juros e taxa de câmbio) 2. Por que o sistema bancário é considerado sólido? (reestruturação desde 1995, reformas importantes desde 1999) 3. Como a recente crise no Brasil está afetando os bancos? 3
Sumário Ø O Sistema Bancário Brasileiro é bem capitalizado, lucrativo, e capaz de resistir a riscos de mercado e de crédito privados (é resistente a choques). Ø Apesar do ambiente macroeconômico instável no passado, não houve substituição de moeda. Ø Estímulo ao papel que o sistema financeiro desempenha no apoio ao crescimento econômico: os spreads bancários ainda são elevados e o crédito em relação ao PIB ainda é baixo, mas as tendências estão mudando. Ø Medidas microeconômicas para aperfeiçoar a eficiência do sistema foram adotadas desde as reformas de 19992002. 4
Fatos Estilizados do Sistema Financeiro Brasileiro 5
Uma Breve Visão do Sistema Financeiro Brasileiro Ø Os ativos totais do sistema financeiro brasileiro representam cerca de 160% do PIB. Ø Consolidação do número de bancos (depois da alta inflação). Ø Menor presença do setor público (ainda há dois grandes Bancos Federais). Maior participação dos bancos estrangeiros. Ø Índice de Adequação de Capital (Basiléia) é de cerca de 15%, acima do exigido 11% (e do mínimo de 8% do Acordo de Basiléia). Ø O Retorno Médio do Patrimônio tem sido em torno de 15 -20%. Ø Os spreads bancários ainda estão altos (30%) e o crédito em relação ao PIB ainda está baixo (30%), mas a tendência é positiva. 6
Bancos: Instituições e Agências 1988 Itens Bancos Comerciais 1994 2002 (Junho) Instituições Agências 106 13 837 28 4 160 24 380 Bancos Múltiplos 0 0 173 11 305 146 14 874 Caixas Econômicas 5 2 374 2 1 935 1 1 694 111 58, 2 203 59, 8 171 72, 6 Total 1/ 1/ razão PIB/agências (R$ milhões/agências) Fonte : Banco Central do Brasil, Departamento Econômico Nota : O Banco do Brasil se tornou um banco múltiplo em 2001 7
Número de Bancos e Conglomerados Bancários, 1994 -2001 250 225 200 175 150 125 I II 1994 I II 1995 I II 1996 Bancos Fonte: Rocha, 2001 I II 1997 I II 1998 I II 1999 I II 2000 Conglomerados Bancários 8
Ativos Bancários Totais por Tipo de Controle Dezembro de 1993 e Junho de 2002 Instituições (por controlador) Bancos Públicos 1993 (Dezembro) CR$ bilhões 2002 (Junho) % R$ milhões % 46 947 50, 94 329 949 33, 41 Federais 36 189 39, 27 291 137 29, 48 Estaduais 10 758 11, 67 38 812 3, 93 Bancos Privados 45 213 49, 06 657 674 66, 59 Domésticos 37 226 40, 39 357 925 36, 24 Estrangeiros 7 987 8, 67 299 749 30, 35 92 160 100, 00 987 623 100, 00 Total Fonte: Banco Central do Brasil, Departamento Econômico 9
Empréstimos e Spreads Bancários p. p. R$ bilhões 250 80 70 210 60 170 50 130 40 90 30 50 1998 1999 2000 2001 Total de Recursos Livres Fonte : Banco Central do Brasil, Departamento Econômico 2002 Spread 10
Crédito no Brasil % do PIB Recursos livres Pessoas Físicas Pessoas Jurídicas Vinculados ao câmbio Recursos direcionados Habitação Agricultura BNDES Outros Leasing Setor Público Total 2000 2001 2002* 14, 17 4, 72 6, 32 3, 12 12, 86 4, 62 2, 49 5, 25 0, 51 1, 26 1, 16 29, 45 16, 38 5, 90 7, 08 3, 40 9, 87 1, 79 2, 21 5, 53 0, 33 0, 97 0, 83 28, 05 17, 40 6, 15 7, 13 4, 11 10, 76 1, 72 2, 34 6, 60 0, 11 0, 82 0, 87 29, 85 Fonte : Banco Central do Brasil, Nota para Imprensa de Política Monetária, Outubro de 2002 * Setembro 11
Taxas de Juros Média e Spreads Captação (% a. a. ) Aplicação (% a. a. ) Spread (p. p. ) 2001 Dez 20, 3 49, 0 28, 7 2002 Set 13, 5 43, 6 30, 1 Fonte : Banco Central do Brasil, Nota para Imprensa de Política Monetária, Outubro de 2002 12
Taxas de Juros e Spreads Taxa de Juros (% a. a. ) Pré Fixada Pessoas Jurídicas Pessoas Físicas Spreads (p. p. ) Pós Flutuante 2/ Pré Fixada 1/ Fixada Pós Fixada 1/ Flutuante 2/ 2001 43, 8 71, 8 25, 4 28, 4 39, 9 4, 4 9, 3 2002* 42, 3 74, 7 6, 5 25, 9 39, 4 13, 3 8, 0 Fonte: Banco Central do Brasil, Nota para Imprensa de Política Monetária, Outubro de 2002 1/ Indexado à depreciação cambial 2/ Indexado aos certificados de depósito interbancários (CDI) * Setembro 13
Reestruturação do Sistema Financeiro 15
Trajetória Inflacionária, Índice de Preços ao Consumidor Amplo, Variação Mensal, 1991 -2002 % a. m. 50 40 30 20 10 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Fonte: Banco Central do Brasil, Departamento Econômico 16
Número de Instituições Liquidadas, sob Intervenção ou RAET e Fusões e Aquisições, 1994 -2002 Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002* Total Instituições liquidadas, sob intervenção ou RAET Fusões e Aquisições 10 18 5 10 6 1 2 4 1 57 0 1 8 6 11 2 10 3 5 46 Fonte: Banco Central do Brasil e Rocha, 2001 * Até 15 de Outubro de 2002 1/ RAET: Regime de Administração Especial Temporária 17
Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER) Ø 1995 - 1997 Ø Novas operações do PROER requerem uma autorização específica (Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF) Ø Procedimentos diferenciados para os grandes bancos e para as pequenas e médias instituições Ø Custo: 0, 88% do PIB (30 de junho de 2002) Ø Aumento da capacidade do BCB de gerenciamento de problemas e prevenção de crises 18
Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (PROES) Ø No início eram 35 instituições financeiras estaduais, 32 usaram PROES Situação dos bancos Número de Instituições Liquidadas Privatizadas 10 15 Em processo Reestruturadas Agências de Desenvolvimento Autorizadas 5 4 16 Fonte: Banco Central do Brasil, Gedes Ø Custo: 5, 7% do PIB 19
Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais (PROEF ) Ø Processo iniciado em 1995, embora o PROEF tenha sido criado apenas em 2001 Ø Ações: – Transferência do risco de crédito para o Tesouro Nacional ou para Empresa de Objeto Exclusivo – Troca de ativos de baixa liquidez e baixa taxa de juros por outros mais líquidos, com taxas de juros de mercado – Aumento de capital em três dos quatro bancos Ø Custo: 2, 1 % do PIB 20
Custos de Crises Bancárias País Período Países de Alta Renda (média) 1/ Argentina Brasil Chile Colômbia Indonésia Malasia México Tailandia Uruguai Venezuela Países de Média e Baixa Renda (média) Custos fiscais e quase fiscais/PIB 12, 1 1980 -1982 1995 1994 -1996 1981 -1983 1982 -1987 19971985 -1988 1994 -1995 1983 -1987 19971981 -1984 1994 -1995 55, 3 1, 6 5 – 10 ( 8, 6 ) 41, 2 5, 0 50 - 55 4, 7 20, 0 1, 5 42, 3 31, 2 20, 0 17, 6 Fonte: Hoggarth, Reis e Saporta, 2002 1/ Custo médio de: Finlândia. Japão, Coréia, Noruega, Espanha, Suécia e Estados Unidos 21
Índice Hirschman-Herfindal para Depósitos Totais e Empréstimos Totais, 1994 -2001 0, 16 0, 14 0, 12 0, 1045 0, 1023 0, 0974 0, 0833 0, 10 0, 08 0, 06 0, 04 0, 02 0, 00 I II 1994 I II 1995 I II 1996 I II 1997 I II 1998 I II 1999 I II 2000 Empréstimos - total do setor bancário Empréstimos – setor de bancos privados Depósitos - total do setor bancário Depósitos - setor de bancos privados Fonte: Rocha, 2001 22
O Papel do Sistema Financeiro na Preservação do Valor de Compra da Poupança Privada 24
Sistema Bancário Brasileiro ØA história econômica do Brasil moldou a estrutura do sistema financeiro e suas características, tornando-o resiliente a choques econômicos ØO país experimentou vários períodos de alta inflação, que não desencadearam em processos de mudança de moeda 25
Baixo Nível de Dolarização nos mercados emergentes ao final de 1996 País Proporção de dolarização Bolívia Hungria 97, 9 36, 9 México Peru 32, 1 80, 5 Polônia Chile 24, 1 14, 2 Brasil Israel 11, 6 18, 2 Fonte: Ize, Alain and Eduardo Levy-Yeyati, Dollarization of Financial Intermediation: Causes and Policy Implications, IMF, WP/98/28, 1998 Nota: A proporção de dolarização é obtida pela razão da média dos depósitos totais em dólar sobre os depósitos totais nacionais e transfronteiriços no período 26
Depósitos Totais em Bancos Brasileiros, Junho 1994 - Junho 2002 R$ bilhões 160 120 80 40 Jul 94 Nov Mar Jul 95 Nov Mar Jul 96 Nov Mar Jul 97 Nov Mar Jul 98 Nov Mar Jul 99 Nov Mar Jul 00 Nov Mar Jul 01 Nov Mar 0 Bancos Estrangeiros Bancos Privados Nacionais Fonte : Banco Central do Brasil, Departamento Econômico Bancos Públicos 28
Investimentos Financeiros, 1995 -2002 % PIB 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Julho 11, 6 16, 3 16, 2 17, 1 24, 2 28, 2 30, 2 27, 6 9, 8 9, 2 11, 1 11, 8 11, 5 10, 3 10, 0 10, 6 Depósitos a prazo 12, 6 10, 3 10, 0 9, 7 9, 8 8, 3 9, 1 10, 2 Total 35, 8 37, 3 38, 5 45, 6 46, 8 49, 3 48, 4 Fundos Mútuos Poupança 34, 0 Fonte: Banco Central do Brasil, Departamento Econômico 29
Desafios para Promover o Crescimento 31
Desafios para Promover o Crescimento 1. Brasil 1. Instabilidade macroeconômica inflação alta, variáveis nominais voláteis gerenciamernto de liquidez e riscos idiosincráticos 2. Crescimento Econômico (Carneiro de Matos) – Crédito para o Setor Privado – Residentes mantém ativos no sistema financeiro nacional 34
Teste de Crescimento Econômico Ø Carneiro de Matos (2002) testou a causalidade entre desenvolvimento financeiro (D) e crescimento econômico (Y) adotando a seguinte especificação: k m j =1 DYt = a + å b j. DYt - j + å c j. DDt - j + d. U t -1 + ut k m j =1 DDt = a + å b j. DYt - j + å d j. DDt - j + d. Vt -1 + u t onde U e V são termos de correção do erro; k e m, defasagens de Y e D respectivamente. 35
Desafios 1. Ineficiências 1. Crédito de Longo Prazo Governo 2. Elevado Spread Bancário 3. Auto-Financiamento Baixo Crédito em relação ao PIB 2. Elevado Spread Bancário 1. Nakane Fatores Macroeconômicos 2. Afanasieff, Lhacer e Nakane Fatores Microeconômicos 3. E. Cardoso Senhoriagem 3. Desenvolvimento com Estabilização Econômica – Expansão do Crédito – Redução do Spread 36
Decomposição Contábil dos Spreads Bancários Despesas de Inadimplência 16% Margens Líquidas Bancárias 36% Custos Administrativos 19% Impostos Diretos 21% Fonte: Banco Central do Brasil, 2001 Impostos Indiretos 8% 37
Decomposição Econométrica do Spread de Longo Prazo Equação Estimada: ln spread t = -0. 003 Tendt + 0. 503 ln selic t + 1. 554 ln admt + 0. 219 ln risco t + 0. 723 ln impt (2. 94) (2. 86) (4. 37) (3. 55) (2. 12) onde Spread: proporção da taxa de juros de empréstimo no juros de certificado de depósito Selic: taxa de juros corrente adm: proporção das despesas administrativas no total de empréstimos Risk: spread entre C- bond e obrigações do Tesouro com mesmo vencimento imp: taxa de imposto indireto 38
Decomposição Econométrica do Spread de Longo Prazo Impostos Indiretos 19% Percepção de Risco 45% Custos Administrativos 20% Taxa Selic 16% Fonte: Nakane e Koyama, 2001 39
Progresso Recente Ø Banco Central está trabalhando por uma redução dos spreads bancários: – Política de redução gradual do requerimento de reserva – Cortes na taxa de tributação do mercado financeiro – Outras medidas Ø Efeitos: spreads bancários mostram uma tendência declinante, com uma maior oferta de crédito até meados de 2001. 40
Composição do Spread – Fatores Cíclicos e Persistentes 4, 0% Spread Persistente Cíclico 3, 2% 0, 0% 2, 8% Fonte: Afanasieff, Lhacer e Nakane, 2001 Set/01 Mai/01 Jan/01 Set/00 Mai/00 -0, 4% Jan/00 2, 0% Set/99 -0, 2% Mai/99 2, 4% Cíclico 0, 2% Jan/99 Spread e Persistente 3, 6% 0, 4% 41
Progresso Recente no Fortalecimento do Sistema Financeiro Brasileiro Tem havido aperfeiçoamento em grande escala no que diz respeito aos padrões internacionalmente aceitos do setor financeiro, códigos e boas práticas. 44
Cenário a ser mudado Ø Melhorar o papel do Sistema Financeiro – Macroeconômico: consolidação fiscal focar o “crowding out” - Microeconômico: - Supervisão e Regulação - Informação e Transparência 45
Supervisão e Regulação Ø Adaptação de várias regulamentações e práticas de supervisão aos Princípios Fundamentais da Basiléia Ø Inspeção Global Consolidada Ø Nova regulação visando classificação de empréstimos e sistema de provisão planejados Ø Nova Regulação Prudencial para risco cambial e de mercado 46
Informação e Transparência 1. Divulgação de informações básicas sobre taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras 2. Revisão do Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif) 3. Central de Risco de Crédito 4. Transparência da Política Monetária: atas e relatórios. 5. Gerência Executiva de Relacionamento com 47
Recentes Reformas Estruturais 1. Novo Sistema de Pagamentos – em operação desde 22 de Abril de 2002 2. Nova Lei de Falência – Proposta no Congresso 3. Fundo Garantidor de Crédito – FGC 4. Nova Lei de Governança Corporativa - Novo Mercado 5. Outras Medidas para melhorar a liquidez nos mercados financeiro e de capital (aumento da poupança e intermediação mais eficiente) 48
Conclusões 49
Conclusões Ø O Sistema Financeiro Brasileiro é resistente a choques Ø Apesar do ambiente macroeconômico instável, não houve substituição de moeda Ø Espaço para melhora do papel do sistema financeiro visando sustentar o crescimento econômico Ø O spread bancário ainda é alto e o crédito em relaação ao PIB ainda é baixo, mas as tendências estão mudando Ø Medidas microeconômicas para melhorar a eficiência do sistema estão sendo tomadas 50
Sistema Financeiro no Brasil: Resistência a Choques, Não Dolarização mas com Esforço para Promover Crescimento Ilan Goldfajn Katherine Hennings Helio Mori III Conferência Anual CREDPR para a América Latina Universidade de Stanford – Novembro de 2002 51
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