Simbolismo Simbolismo O simbolismo no Brasil surge em
Simbolismo
Simbolismo O simbolismo no Brasil surge em 1893, com a publicação de "Missal" e "Broquéis", de Cruz e Souza, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimarães.
Simbolismo: contexto histórico • A Europa no fim do século XIX enfrenta grandes indefinições e inquietações. A partir de 1870, a competição econômica e militar entre as grandes potência ocidentais e o avanço do movimento operário tornam a crise social inevitável. Nessa crise encontra-se a origem das duas guerras mundiais que abalarão o século XX.
• Simbolismo: contexto histórico Uma onda de pessimismo se espalha na Europa. O artista já não pode se apoiar nos sentimentos que o Romantismo serviam de filtro para a compreensão da realidade. Não acredita que a razão, chave adotada para a interpretação e a explicação do mundo depois da Revolução Industrial, seja ainda suficiente para orientar seu olhar e inspirar sua arte. Desconfia da realidade, considerando-a enganadora. Entende que o mundo visível, concreto, dá ao ser humano a sensação de conhecimento, mas que a razão não lhe permite ver o que vai além do real, não lhe dá meios para alcançar o desconhecido.
Augusto dos Anjos (1884 -1914) Versos Íntimos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de sua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
Simbolismo: o desconhecido supera o real • A arte do período refletirá esse momento de incerteza, indefinição e pessimismo. • Influenciados pelo desejo de investigar o desconhecido, os artistas do período exploraram o poder dos símbolos, e a possibilidade de estabelecer analogias entre eles para revelar as relações entre o mundo visível e o mundo de essências. Por essa razão, serão chamados de simbolistas. A arte que criaram pretende estimular os sentidos humanos e, desse modo, permitir a apreensão da realidade sem o auxílio da razão.
KLIMT, G. As três idades da mulher. (1905) A arte simbolista procura fazer com que o público perceba a relação entre a realidade aparente e a essência
Simbolismo: o desconhecido supera o real • O termo Simbolismo apareceu em 1886 quando o escritor francês Jean Moréas afirma em um artigo que a finalidade da arte simbolista não é revelar a ideia, mas sugeri-la, de modo que o público possa perceber a relação entre a realidade aparente e as essências, vivendo uma experiência sensorial. • Essa explicação deixa clara a filiação do Simbolismo à visão platônica que opõe o mundo sensível, das aparências, ao mundo das essências. Os poetas dessa estética criam símbolos para ajudar os leitores a iniciar a investigação sobre o desconhecido.
Simbolismo: o desconhecido supera o real • Para explorar o mundo, os simbolistas valorizam a intuição e os sentidos humanos (visão, tato, audição, olfato e paladar). A percepção das essências é estimulada pela experiência sensorial, que leva o ser humano a perceber a existência de uma dimensão que se esconde além da realidade concreta e que precisa ser explorada. • Misticismo: o abandono do cientificismo e do positivismo, que marcaram a segunda metade do século XIX, leva os simbolistas a buscarem a fé, manifestando um misticismo indefinido, mas ligado à tradição cristã. A crença na existência de um mundo ideal, que só se pode alcançar pela beleza pura que deve ser expressa pela poesia, resulta em uma produção literária cercada de uma clima de fluidez e de mistério.
Simbolismo: o desconhecido supera o real • Alienação social: principal interesse simbolista é a sondagem do “eu”, a decifração dos caminhos que a intuição e a sensibilidade podem descortinar. Sua busca é do elemento místico, não consciente, espiritual, imaterial. Essa é a explicação para o tom de desinteresse pelo social, que beira à alienação.
REDON, O. A carruagem de Apolo. 1907 -1910. Óleo sobre tela, 47, 6 x 29, 9 cm
Simbolismo: o desconhecido supera o real • O objetivo, no poema, é criar um verdadeiro caleidoscópio de imagens que estimule o leitor a mergulhar nas sensações que começam a ser sugeridas • O efeito dessa longa enumeração é o esvaziamento do sentido, que perde importância porque a intenção do poeta é fazer com que o leitor se desligue da realidade e embarque no mundo sensível de cores, perfumes e sons. • A linguagem precisa ser fundamentalmente sugestiva para poder evocar sensações e lembranças. Assim, os escritores recorrerão às sinestesias
Simbolismo: o desconhecido supera o real • O termo sinestesia faz referência à associação de impressões derivadas de diferentes domínios sensoriais (um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma imagem). • Outra característica da linguagem simbolista é o uso das chamadas “maiúsculas alegorizantes”, que personificam alguns elementos. A ideia é, mais uma vez, criar no leitor a impressão de que há sentidos desconhecidos, associados a esses termos, que esperam a ser descobertos. • A presença constante de reticências também contribui para tornar mais indefinido e vago o tom do texto.
MONET, C. O jardim de Monet em Véthevil. Óleo sobre tela, 150 x 120 cm A arte impressionista também explora o poder de sugestão da linguagem da pintura.
Simbolismo brasileiro: além do real e próximo da morte • Considera-se que o Simbolismo brasileiro iniciou-se no ano de 1893, quando Cruz e Sousa lançou dois livros: Missal (prosa) e Broquéis (poesia). • Dois nomes se destacaram entre os adeptos da nova estética: João da Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. Cada um deles trilhou caminhos diferentes, mas ambos fizeram uso de uma linguagem claramente simbolista.
O Simbolismo no Brasil: Cruz e Sousa • Cruz e Sousa é considerado o maior representante do movimento simbolista entre nós. • O que impressiona em sua poesia é a profundidade filosófica e a angústia metafísica. Outra característica que inconfundível é o uso de um vocabulário em que predominam, de modo obsessivo, termos associados à cor branca. Essa recorrência indica uma busca incessante pela “pureza das Formas eternas, das Essências das coisas”
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas! Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas. . . Incensos dos turíbulos das aras Antífona, de Cruz Sousa e Formas do Amor, constelarmante puras, De Virgens e de Santas vaporosas. . . Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas. . . Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume. . . Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume. . . Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes. . . Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes. . .
Alucinação, de Cruz e Sousa Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas, Ondas em convulsões, ondas em rebeldia, Desespero do Mar, furiosa ventania, Boca em fel dos tritões engasgada de pragas. Velhas chagas do sol, ensanguentadas chagas De ocasos purpurais de atroz melancolia, Luas tristes, fatais, da atra mudez sombria Da trágica ruína em vastidões pressagas. Para onde tudo vai, para onde tudo voa, Sumido, confundido, esboroado, à-toa, No caos tremendo e nu dos tempo a rolar? Que Nirvana genial há de engolir tudo isto - Mundos de Inferno e Céu, de Judas e de cristo, Luas, chagas do sol e turbilhões do Mar? !
O Simbolismo no Brasil: Alphonsus de Guimaraens • Sua poesia é marcada pela religiosidade e misticismo. • Em toda a obra de Alphonsus de Guimaraens, a morte será tematizada direta e indiretamente, com inúmeras referências aos elementos a ela associados (círios, esquifes, etc. ). Para Alphonsus, a morte é acolhida como momento de passagem, de transformação, que abre as portas da eternidade, pondo fim ao sofrimento humano.
O Simbolismo: Análise de Ismália, de Alphonsus de Guimaraens Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar. . . Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar. . . Queria subir ao céu, Queria descer ao mar. . . E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar. . . Estava perto do céu, Estava longe do mar. . . E como um anjo pendeu As asas para voar. . . Queria a lua do céu, Queria a lua do mar. . . As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par. . . Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar. . .
Augusto dos Anjos (1884 -1914) Um dos grandes poetas brasileiros simbolistas, embora, muitas vezes, sua obra apresente características pré-modernas. Patrono da cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras, publicou um livro intitulado "Eu" e foi chamado de "Poeta da morte" uma vez que seus poemas exploram temas sombrios.
Augusto dos Anjos (1884 -1914) Psicologia de um Vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Produndissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância. . . Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme -- este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos (1884 -1914) O Deus-Verme Fator universal do transformismo, Filho da teleológica matéria, Na superabundância ou na miséria, Verme — é o seu nome obscuro de batismo. Jamais emprega o acérrimo exorcismo Em sua diária ocupação funérea, E vive em contubérnio com a bactéria, Livre das roupas do antropomorfismo. Almoça a podridão das drupas agras, Janta hidrópicos, rói vísceras magras E dos defuntos novos incha a mão. . . Ah!Para ele é que a carne podre fica, E no inventário da matéria rica Cabe aos seus filhos a maior porção!
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