SIMBOLISMO O Simbolismo foi um movimento artstico que
SIMBOLISMO
O Simbolismo foi um movimento artístico que surgiu na França em fins do século XIX, sendo manifestado nas artes plásticas, no teatro e na literatura. No final do século XIX, muitas transformações científicas e teóricas como o positivismo, materialismo e nas áreas da psicologia, mudou profundamente a mentalidade da sociedade europeia. No entanto, essa mudança foi, em grande parte, negativa para os escritores simbolistas que priorizavam sobretudo, a exploração dos aspectos humanos. Foi, portanto, em meio à crise espiritual do final do século que surge o Simbolismo. O Simbolismo teve como marco inicial a publicação da obra “As Flores do Mal” (1857) do escritor francês Charles Baudelaire (1821 -1867). Na França, merecem destaque os escritores Paul Verlaine (1844 -1896), Arthur Rimbaud (1854 -1891) e Stéphane Mallarmé (1842 -1898).
SÍMBOLO Representa, substitui algo, geralmente abstrato; Evoca, ou seja, traz algo à imaginação, à lembrança; Pode ter valor mágico, místico; Pode admitir mais de uma interpretação.
A literatura simbolista vai se opor ao Realismo / Naturalismo / Parnasianismo, buscando redescobrir e valorizar o mundo interior do homem, sede dos valores espirituais e afetivos. A atitude do poeta é agora subjetiva, bastante semelhante à dos românticos do início do século XIX. No entanto, enquanto os românticos “estacionaram” no nível da emoção, os simbolistas levam a afeito um mergulho mais profundo: chegam ao subconsciente e ao inconsciente e lá deparam com fenômenos, ocorrências e sensações que a lógica não é capaz de explicar. No Brasil, os principais representantes são: Alphonsus de Guimaraens, Cruz e Sousa e Emiliano Perneta. O marco inicial do Simbolismo no Brasil é a publicação de Missal, (prosa poética) e de Broquéis (poesia), de Cruz e Souza, em 1893. No Brasil, o Simbolismo encontrou resistência porque ainda era grande o prestígio da estética parnasiana, que angariava um maior número de seguidores.
CARACTERÍSTICAS Linguagem simbólica, sugestiva Subjetividade Antimaterialismo e antirracionalismo Religiosidade e misticismo Transcendentalismo Interesse pelo inconsciente e subconsciente, pela loucura e pelo onírico (relativo a sonho) Uso de metáforas, sinestesias, aliterações, assonâncias. Letra maiúscula, reticências Cor branca – brumas, neblina, luar Musicalidade – sonoridade
CRUZ E SOUSA João da Cruz e Sousa (Cisne Negro) nasceu em 24 de novembro de 1861, em Florianópolis (SC). Era filho de ex-escravos e ficou sob a proteção dos antigos proprietários de seus pais, após receberem alforria. Por este motivo, recebeu uma educação exemplar no Liceu Provincial de Santa Catarina. Além disso, o sobrenome Sousa é advindo do ex-patrão, o marechal Guilherme Xavier de Sousa. Apesar disso, Cruz e Sousa teve que enfrentar o preconceito racial que era muito mais evidente na época do que é hoje em dia. No entanto, isso não foi pretexto para desmotivá-lo, uma vez que é conhecido como o mais importante escritor do Simbolismo.
Vida obscura Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres. Embriagado, tonto dos prazeres, O mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste num silêncio escuro A vida presa a trágicos deveres E chegaste ao saber de altos saberes Tornando-te mais simples e mais puro. Ninguém Te viu o sentimento inquieto, Magoado, oculto e aterrador, secreto, Que o coração te apunhalou no mundo. Mas eu que sempre te segui os passos Sei que cruz infernal prendeu-te os braços E o teu suspiro como foi profundo!
Cárcere das almas Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa, soluçando nas trevas, entre as grades do calabouço olhando imensidades, mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza quando a alma entre grilhões as liberdades sonha e sonhando, as imortalidades rasga no etéreo Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas nas prisões colossais e abandonadas, da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério? !
Cavador do Infinito Com a lâmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderáveis, Vai abafando as queixas implacáveis, Da alma o profundo e soluçado grito. nsias, Desejos, tudo a fogo, escrito Sente, em redor, nos astros inefáveis. Cava nas fundas eras insondáveis O cavador do trágico Infinito. E quanto mais pelo Infinito cava mais o Infinito se transforma em lava E o cavador se perde nas distâncias. . . Alto levanta a lâmpada do Sonho. E como seu vulto pálido e tristonho Cava os abismos das eternas ânsias!
Acrobata da Dor Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta. Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado salta, gavroche, salta clown, varado pelo estertor dessa agonia lenta. . . Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa nessas macabras piruetas d'aço. . . E embora caias sobre o chão, fremente, afogado em teu sangue estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Sinfonias do Ocaso Musselinosas como brumas diurnas Descem do ocaso as sombras harmoniosas, Sombras veladas e musselinosas Para as profundas solidões noturnas. Sacrários virgens, sacrossantas urnas, Os céus resplendem de sidéreas rosas, Da Lua e das Estrelas majestosas Iluminando a escuridão das furnas. Ah! por estes sinfônicos ocasos A terra exala aromas de áureos vasos, Incensos de turíbulos divinos. Os plenilúnios mórbidos vaporam. . . E como que no Azul plangem e choram Cítaras, harpas, bandolins, violinos. . .
ALPHONSUS DE GUIMARAENS Afonso Henrique da Costa Guimarães, conhecido como Alphonsus de Guimaraens, foi um poeta brasileiro, um dos principais representantes do Movimento Simbolista no Brasil. Marcado pela morte de sua prima e amada Constança, sua poesia é quase toda caracterizada pelo tema da morte da mulher amada. Todos os outros temas que explorou como religião, natureza e arte, de alguma forma, se relacionam com o mesmo tema da morte.
Hão de Chorar por Ela os Cinamomos. . . Hão de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tombar do dia. Dos laranjais hão de cair os pomos, Lembrando-se daquela que os colhia. As estrelas dirão — "Ai! nada somos, Pois ela se morreu silente e fria. . . " E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria. A lua, que lhe foi mãe carinhosa, Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa. Os meus sonhos de amor serão defuntos. . . E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos? "
A Catedral Entre brumas ao longe surge a aurora, O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus!" O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a benção de Jesus. E o sino clama em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus!" Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Poe-se a luz a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu tristonho Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus!" O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem acoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus!"
Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar. . . Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar. . . Queria subir ao céu, Queria descer ao mar. . . E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar. . . Estava longe do céu. . . Estava longe do mar. . . E como um anjo pendeu As asas para voar. . . Queria a lua do céu, Queria a lua do mar. . . As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par. . . Sua alma, subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar. . .
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