SEM NTICA ESTRUTURAL Disciplina CBD 05283 Informao e
SEM NTICA ESTRUTURAL Disciplina: CBD 05283 Informação e linguagem Profa. Dra. Vânia Mara Alves Lima Profa. Dra. Cibele A. C. Marques dos Santos Profa. Dra. Giovana Deliberali Maimone PPGCI/ECA/USP 2017
SEM NTICA • Ciência das significações das linguas naturais. • Interessa-se pelas relações entre os signos na fala, no discurso, compreendido como a atualização da língua na fala. • Investiga a relação existente entre as expressões linguísticas e o mundo. A semântica, portanto, passa a considerar como objeto de estudos os signos, mas em situação de enunciação (aquilo que foi efetivamente proferido). • Semântica linguística 2 • Semântica semiótica
SEM NTICA LINGUÍSTICA • Objetiva estudar a forma do plano do conteúdo das línguas naturais. Inclui: • estudo do léxico • o estudo das estruturas gramaticais (morfologia) • Deve ser abrangida pela Semiótica (no sentido das relações pragmáticas).
SEM NTICA SEMIÓTICA Estuda a significação dos sistemas sígnicos secundários. Expressa a proposta de tratar separadamente os diferentes meios de expressão. . 4
CINCO GRANDES LINHAS DE PESQUISA • Estruturalista (Saussure e Hjelmslev) • Lógica (Trier) • Contextual (Pottier) • Contextual-situacional (Ducrot) • Gerativa (Katz e Fodor) • Transformacional (Chomsky) 5
SAUSSURE • Pioneiro da semântica estrutural quando: • concebe o signo como uma unidade significante mais significado; • postula que uma palavra deveria ser descrita a partir do conjunto de relações que a situam: • nas classes da langue (paradigmática) • nos enunciados da parole (sintagmática) 6
SAUSSURE • A parole se desenvolve sintagmaticamente, ao longo de um eixo virtual de sucessões, onde cada elemento (palavra) ocupa uma posição significativa. • O significado provém: • da posição que o elemento ocupa em relação aos outros elementos co-ocorrentes em seu contexto (eixo sintagmático); • do elementos ausentes desse mesmo contexto, mas por ele 7 evocados, na memória implícita da langue (eixo paradigmático).
SAUSSURE • Signo linguístico = significante + significado • Distingue: • as relações intra-sígnicas: relações verticais no interior de um mesmo signo entre o significante e o significado; • das relações intersígnicas: aquelas que cada signo mantêm com os demais signos presentes no mesmo 8 enunciado.
SAUSSURE • O significado de um elemento linguístico fica determinado num duplo enquadramento: • o sintagmático • o paradigmático (associativo) Todo e qualquer elemento da langue se deixa colocar no interior de uma classe onde se associa a outros membros formando sistema: “escola”; “aprendizagem” ; “ ensino” são memorizáveis como elementos da mesma classe de sentidos (“Educação”) porque possuem a mesma marca semântica na sua base ( o sema “Educação”). 9
SAUSSURE • Relações paradigmáticas: são relações entre elementos comutáveis no mesmo contexto. Exemplo: marido e mulher; bom e mau • Relações sintagmáticas: são as que unem por exemplo: cabelos e loiros, latir e cão, bater e pés. • Saussure coloca-se como o pioneiro de uma semântica estrutural, ao postular que uma palavra deveria ser descrita a partir do conjunto de relações que a situam, como palavra-tipo, nas classes da língua (paradigmática) situando-a, ao mesmo tempo como palavra-evento, nos enunciados da parole (sintagmática). 10
HJELMSLEV • Sema: unidades menores do que o signo, componentes do signo, que ordenadas em feixes constroem sememas. Homem: macho, humano, adulto S 1 S 2 S 3 11
HJELMSLEV Análise componencial de sentido • Homem Mulher Criança • Touro Vaca Bezerro • Galo Galinha Pintinho Componente semântico = Sema = aquilo que as palavras dos diferentes grupos possuem em comum. 12
SEM NTICA (SAUSSURE + HJELMSLEV) • Isolar os semas. • Descrever o mecanismo de sua combinatória semêmica. • Descrever coerentemente a organização interna dos diferentes campos semânticos das línguas naturais. • Descrever o mecanismo através dos quais esses diferentes campos semânticos se integram formando sistema na unidade maior que forma a estrutura semântica própria a cada língua natural. 13
SEM NTICA LÓGICA • Hipótese de base da semântica estrutural: os significados constituem estruturas dentro das línguas naturais e a introdução de uma nova palavra no léxico da língua não altera a estrutura semântica da língua, pois cada nova unidade léxica é absorvida no interior de um campo semântico afim. 14 • As palavras se agrupam em campos semânticos.
CAMPOS SEM NTICOS • Se forma coerentizando internamente determinada parte do material léxico da cada língua, e, ao mesmo tempo, delimitando-se exteriormente por outros campos semânticos da mesma língua. • Divide-se em subsistemas que incluem novas divisões, formando campos associativos, graças ao mecanismo de produção de metonímias e das metáforas. 15
• Embarcação veleiro canoa iate jangada proa casco popa vela Veleiro = /embarcação/ + /vela/ Jangada = /embarcação/ + /de paus roliços/ Os elementos da primeira coluna pertencem à mesma classe paradigmática, porque qualquer um deles pode designar, por si mesmo, uma embarcação e, no tocante a essa designação, a presença de um deles, numa frase, exclui automaticamente a presença de qualquer outro membro da mesma classe na frase. 16
GREIMAS • Signo = conjunto significante (significante + significado) • Significantes: elementos que tornam possível o surgimento da significação, ao nível da percepção e que são exteriores ao homem. Podem ser classificados como: • de ordem visual (mímica, gestos, escrita) • de ordem auditiva (música, linguas naturais) • de ordem táctil (linguagem dos cegos) 17
SIGNIFICANTES • De diferente categoria perceptiva podem comportar significados idênticos (música e línguas naturais) • De diferente categoria perceptiva podem coexistir lado a lado numa só linguagem (fala e gestos) 18
SIGNIFICADO • Não pode ser classificado; • A significação é independente da natureza do significante que a manifesta. 19
OBJETO DA SEM NTICA • Descrever as línguas naturais na qualidade de conjunto significantes. • Problema: as línguas naturais só se deixam traduzir em si mesmas ou por outra língua natural. O universo semântico se fecha sobre si mesmo. • É necessário estabelecer a hierarquia da linguagem, isto é, a relação de pressuposição lógica entre dois conteúdos ou sentidos: a percepção de um sentido pressupõe a 20 percepção de outros sentidos que o definam.
Níveis de Significação • São 2 os níveis de significação em um conjunto significante: • o da língua-objeto (objeto do nosso estudo) • o da metalíngua (língua que usamos para estudar a língua-objeto) • Toda e qualquer tradução de sentidos é um exercício metalinguistico. • A semântica deve formalizar-se numa metalinguagem científica. 21
GREIMAS • Adota a Sincronia • A língua é feita de oposições. • A significação manifesta-se a partir da percepção de descontinuidades, ou desvios diferenciais da realidade. • Perceber é apreender diferenças percebemos formas: • iguais (conjunção) • diferentes (disjunção) Através das 22
Primeira definição de estrutura de Greimas: “ presença de dois termos vinculados por uma relação”. • Um único termo-objeto não comporta nenhum tipo de significação; • A significação pressupõe a interveniência de uma relação. Sem relação não há significação. 23
• A relação é um mecanismo perceptual conjuntivo e disjuntivo • Para que possamos apreender conjuntamente dois termos-objeto, é necessário que eles tenham alguma coisa em comum (problema da redundância, da semelhança e da identidade). • Para que dois termos-objetos possam ser distinguidos, é necessário que eles sejam de algum modo diferentes ( é o problema das variantes, da diferença e da não-identidade) 24
Cada termo da relação possui dois termos sendo um deles conjuntivo e o outro disjuntivo. disjunção • governo federal x governo estadual conjunção É ao nível dessa estrutura elementar e não ao nível dos termos-objeto que devem ser procuradas as unidades significativas elementares. 25
EIXOS SEM NTICOS • No plano semântico as oposições branco/preto, grande/pequeno discrimina-se dentro de um eixo comum a cada par de termos opostos. Coloração no primeiro e Medida de grandeza no segundo são os eixos semânticos dessas relações. • A função do eixo semântico é a de totalizar as articulações (opostas) que lhe são inerentes, tornando-as implícitas. 26
DESCRIÇÃO ESTRUTURAL DA RELAÇÃO • A / está em relação (S) com / B ou • A / r (S) com B Conteúdo da relação = Eixo semântico = resultado da descrição totalizadora que reúne, as semelhanças e as diferenças que opõem A e B. S pertence à metalinguagem descritiva. 27 (r) pertence a linguagem metodológica, isto é, a linguagem que estabelece as condições de validade da descrição semântica aqui proposta.
SEMA O EIXO SEM NTICO É METALINGUÍSTICO • Sua expressão operacional é portadora de tantos elementos de significação quantos sejam diferentes termos-objetos implicados na relação. • No Exemplo /p/ : /b/ o eixo da sonoridade (S) pode ser interpretado como a relação (r) entre o elemento sonoro (s 1) e o elemento nãosonoro (s 2). • Assim, o termo-objeto B (/b/) possuirá a propriedade s 1 (sonoro) e o termo-objeto A (/p/) terá a propriedade s 2 (não-sonoro). /p/ (não-sonoro) vs /b/ (sonoro) A (s 2) r B (s 1) 28
Portanto, s 1 e s 2 são elementos mínimos de significação denominados semas • uma estrutura elementar de significação pode ser concebida quer sob a forma de um eixo semântico, quer sob a forma de uma articulação sêmica, isto é, de traços distintivos, semas. • no eixo semântico privilegia-se o que os termosobjetos A e B possuem em comum: ela é conjuntiva; • na descrição sêmica privilegia-se as qualidades polares que, situadas no mesmo eixo semântico, 29 distinguem A e B: ela é disjuntiva.
Termos sêmicos Positivo Negativo Neutro Complexo Representação Conteúdo sêmico correspondente s presença do sema s não-s presença do sema não-s -s ausência de s e de não-s s + não-s presença do eixo semântico S 30
SEMA NO MESMO EIXO SEM NTICO A PRIMEIRA DESCRIÇÃO PRIVILEGIA O QUE A E B TEM EM COMUM: É CONJUNTIVA, NA SEGUNDA PRIVILEGIA A DIFERENÇA: É DISJUNTIVA • Na relação: • moça r (sexo) moço • A r (S) B • moça (feminilidade) r moço (masculinidade) • A (s 1) r B (s 2) 31
QUADRADO SEMIÓTICO (GREIMAS E RASTIER) • O eixo semântico S, que representa a substância do conteúdo, articula-se, ao nível da forma do conteúdo, em dois semas contrários, s 1 e s 2: S • s 1 s 2 • relação hierárquica hiponímica: s 1 e s 2 são partes de S. • Greimas utiliza a estrutura elementar s 1 e s 2 para descrever os modos pelos quais o sentido emerge, nos usos metalinguisticos 32 das línguas naturais
QUADRADO DOS OPOSTOS Paixão Amor Ódio Simpatia Antipatia Ausência de Ódio Ausência de Amor Ausência de Paixão 33
SEM NTICA DAS LÍNGUAS NATURAIS 34 • Do ponto de vista da lógica temos as seguintes relações lógicas: • (a) partindo dos semas, s 1, s 2, para o todo, S = relação hiponímica; • (b) partido do todo, S, para os semas, s 1, ou s 2, = relação hiperonímica; • (c) partindo de um sema (s 1, ou s 2) para o sema contrário (s 2, ou s 1 ), pertencentes ambos, à categoria S = relação antonímica.
• É no ato concreto da comunicação, na instância da manifestação linguística, que o significante encontra o significado. • Significante e significado não são duas unidades isomórficas. • As diferenças de conteúdo não se deduzem das diferenças de significantes, mas sim das diferenças observáveis no modelo das articulações lógicolinguísticas que constituem a estrutura profunda das línguas naturais. 35
É no ato da comunicação que o significante encontra o significado, mas significante e significado não são duas unidades isomórficas. Ex: baixa e faixa ( a diferença no plano do significantes designa apenas outro sentido e não um sentido determinado e constante) No eixo semântico baixa opõe-se a alta a qual pode ser interpretada com a ajuda da categoria (S) “quantidade relativa 36 de uma grandeza”
“quantidade relativa” ======> Eixo semântico da Espacialidade S s 1 /grande quantidade/ s 2 vs /pequena quantidade/ alto baixo (dimensão vertical) longo curto (dimensão horizontal) largo estreito(dimensão lateral) grosso fino (ao volume) 37
38 Espacialidade Dimensionalidade Horizontalidade Não-dimensionalidade Verticalidade (alto/baixo) Perspectividade (longo/curto) Volume (vasto/x) Lateralidade (largo/estreito) Superfície (espesso/delgado)
SEMAS São unidades metalinguisticas de cuja combinatória resulta um conjunto sêmico provisório capaz de descrever o plano do conteúdo (semema) que pode assumir diversas coberturas lexemáticas na instancia de manifestação das LN. Sememas lexicalizados = Lexemas 39
cada lexema caracteriza-se pela presença de alguns semas e pela ausência de outros da esquerda para à direita => relações hiperonímicas da direita para à esquerda => relações hiponímicas 40
(a) cada lexema caracteriza-se pela presença de alguns semas e pela ausência de outros; 41 (b) se lermos a tabela da esquerda para a direita (do todo para suas partes), interpretamos o lexema segundo suas relações hiperonímicas; (c) se lermos da direita para à esquerda, (das partes para o todo, que é o lexema) interpretamos o lexema segundo suas relações hiponímicas. Descrevemos assim o lexema como um conjunto de semas ligados entre si por relações hierárquicas. Importante: o lexema pertence à parole e por isso está subordinado à história e à cultura.
SEMEMA • É o lugar (virtual) de encontro de semas hierarquizados, provenientes de diferentes sistemas sêmicos. Pode ser definido: • a partir do sema (ex. no sistema sêmico da espacialidade) • a partir do lexema (unidade linguistica pela qual se manifesta na instância da parole) • Exemplo: lexema “cabeça” = parte (do corpo) unida ao corpo pelo pescoço; recoberta pele e cabelos, unicamente a parte óssea. • Dessa definição derivam todos os sentidos figurados que a palavra cabeça assume nos diferentes contextos em 42 que possa aparecer.
• Situado em diferentes contextos o lexema “cabeça” 43 possui uma constelação de sentidos diferentes, mas qualquer que seja a diferença perceptivel em relação ao sentido contextualizado, é evidente que parte do sentido de “cabeça” permanece invariável através de todas as frases. • A esse conteúdo positivo inváriável de um lexema (semema), Greimas chama núcleo sêmico. • Núcleo sêmico = subconjunto de semas invariantes • Portanto, as variações de sentido só podem provir do contexto semas contextuais
NÚCLEO SÊMICO • Conteúdo positivo invariável de um lexema (semema). Exemplos: • quebrar a cabeça (meditar sobre um problema) • ser um cabeça dura (teimoso) • não caber na cabeça (ser inadmissível) • bater a cabeça (cometer tolices) • todas tem um único “efeito de sentido” capaz de ser traduzido por “parte óssea da cabeça”, pois óssea contém os traços semânticos /objeto/+/material/+/rígido/ e pode combinar-se na mesma frase com quebrar, caber, bater. 44
SEMEMA • Efeito de sentido resultante da combinatória de um núcleo sêmico mais semas contextuais. Semema (Sm) = Núcleo Sêmico (Ns) + Semas Conceituais (Sc) 45
CLASSEMAS (SEMAS CONTEXTUAIS) • Sema comum à classe toda. - em cão, raposa, cachorro-do-mato o classema é latir. - em Sócrates, policial, político o classema é humano. 46
SEMA CONTEXTUAL • Deve pertencer, forçosamente, ao núcleo sêmico de outros sememas que formam sintagma com o semema que desejamos descrever. 47
• Os eixos semânticos de articulações sêmicas diferentes, em que essas articulações sêmicas diferentes traduzem caracterizações diferentes de ver o mundo (substância do conteúdo), através de recortes diferentes (formas de conteúdo) que definem formas diferentes e específicas de cultura e de civilização: • Inglês mutton Português Francês Inglês (a carne desse animal) sheep (o animal carneiro) ape carneiro Portugês macaco mico singe monkey bugio sagui 48
REFERÊNCIAS • GREIMAS, A. J. (1973). Estrutura elementar da significação. _____. Semântica estrutural. São Paulo; Cultrix, 1973. p. 27 -41. • LOPES, E. (1987). A semântica estrutural de Greimas. In: ____. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo : Cultrix. cap. 6. 4, p. 310 -335. • FIORIN, J. L. (1995? ). As abordagens estruturais em semântica. In: MARI, H. ; DOMINGUES, I. ; PINTO, J. , org. Estruturalismo: memória 49 e repercussões. Rio de Janeiro : Diadorim ; UFMG. p. 79 -84. (Textos apresentados no Simpósio Nacional Estruturalismo: memória e repercussões, 1995
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