SANTOS Boaventura de Sousa A universidade no sculo
SANTOS, Boaventura de Sousa A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade São Paulo: Cortez, 2011 Profa. Dra. Maria Auxiliadora de R. Braga Marques GEPEFOR Universidade de São Paulo/FFCLRP
A ideia de Universidade: transmissão da cultura, ensino das profissões, investigação científica, educação ética e moral, compromisso social com o conhecimento produzido e a formação de quadros. No pressuposto da modernidade a racionalidade positivista e instrumental alimenta a crença na razão técnica a serviço da produção material, da técnica e do saber científico necessário ao mundo moderno. Universidade orientada para os valores, fins e objetivos democráticos: Uma questão difícil segundo Chauí, como instituição social significa que ela realiza e exprime a sociedade o que ela faz e para quem serve. A pergunta? ? Como inserir a universidade na sociedade? ? ?
Modelos tradicionais da Universidade Moderna Sec. XVII-1810 -criação Universidade de Berlim Exigência no trabalho universitário. Humboldtiano Napoleônico Primeira metade Sec XIX. Escolas especializadas
O modelo francês e o alemão, napoleônico e humboldtiano de universidade. O modelo francês inspirou-se no pensamento de Condorcet, Saint-Simon e Augusto Comte. Sua referência histórica é a Universidade de Paris, criada em 1806. O modelo alemão se constituiu sob a influência do pensamento de Fichte, Shleirmacher e Humboldt. Sua referência histórica é a Universidade de Berlim, criada em 1810.
Para Goergen (2000, p. 3), “[. . . ] a proposta da Universidade de Berlim foi uma forma de instrumentalizar e operacionalizar o projeto idealista filosófico moderno”. O marco conceitual da universidade alemã é a liberdade acadêmica, tanto do professor para pesquisar e ensinar quanto do estudante para aprender. A unidade entre pesquisa e ensino constituiu outro princípio norteador da universidade alemã. No modelo francês, a pesquisa não é tarefa primordial da universidade, havendo dissociação entre universidade que se dedica apenas ao ensino e ‘grandes escolas’, voltadas para a pesquisa e a formação profissional de alto nível. Sua missão não contempla a pesquisa. É um modelo mantido e dirigido pelo Estado voltado para a formação especializada e profissionalizante.
Universidades no Brasil O ensino superior no Brasil ocorre a partir de 1808, com a Escola de Direito em Olinda (PE), a de Medicina em Salvador (BA) e a de Engenharia no Rio de Janeiro (RJ). Todas essas universidades apresentavam currículos baseados no modelo francês. No início dos anos 1900 surgiram as primeiras Faculdades de Filosofia, preocupadas em preparar os professores para a escola secundária. A partir da década de 1930 o ensino superior ganha força com o Decreto N º 19. 851, de 11 de abril de 1931 – dispõe sobre a organização do Ensino Superior no Brasil e adota o regime universitário; e dispõe sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro
Político CONTEXT O • Projetos autoritários e modernizadores • Ideologia neoliberal • Obriga Universidade pública a produzir segundo a lógica do mercado Econômico Social e cultural • • • Concorrência com o mercado] • Capital internacional • Racionalidade técnicainstrumental • Ciência e tecnologia como produto Ética do humano Preservação ambiental Exclusão Social Sociedade do conhecimento
1990: Expansão ensino superior 1980: Novas tecnologias e novas demandas 1960 -1970: Modernização Reformas curriculares 1920 -1930: Criação de Universidades e Faculdades 2000: Ênfase Políticas neoliberais e vínculo com mercado
Sec. XX: configura-se as contradições vindas do paradigma da modernidade o qual feriu a concepção tradicional da ideia de universidade, como responsável pela produção de alta cultura, espaço para a construção do pensamento crítico, da ciência e dos princípios humanísticos e éticos necessários à vida humana. A universidade confronta-se hoje nesse emaranhado de questões que sem dúvida atingem a própria identidade histórica face as mudanças paradigmáticas da modernidade.
Boaventura Sousa Santos q Universidade como uma das instituições sociais mais antigas da modernidade q Crise no sentido social, hoje a universidade é definida com a concepção do Banco Mundial q A universidade do século XXI é confrontada com exigências para as quais não estava preparada q Ao produzir para o mercado, se transforma em espécie do próprio mercado.
MUDANÇA DE PARADIGMA: OS ÚLTIMOS 10 ANOS Crise de Hegemonia Crise de Legitimidade Crise Institucional • Deixa de ser a única instituição no domínio do ensino superior e da produção da pesquisa. • A universidade deixa de ser uma instituição consensual em face da contradição entre hierarquia dos saberes especializados e as exigências sociais e reinvindicação das igualdades de oportunidades. • Contradição entre o papel social e os critérios de produção do conhecimento, comprometimento com a empresa.
Crise institucional: q Boaventura assume que esta é a mais grave das três, e esta concentrou há pelo menos 2 séculos na Universidade pública porque a autonomia científica e pedagógica da universidade se assentou na dependência financeira do Estado. q Nas últimas décadas a alteração nas relações entre conhecimento e sociedade alterou a própria concepção do conhecimento que a universidade produz e para qual sociedade ele serve.
Crise da legitimidade q Perda de prioridade das políticas públicas e sociais; q Legitimo comprometimento com o desenvolvimento econômico q Comprometimento com a ideologia neoliberal q Redução da autonomia da universidade na produção do conhecimento crítico q Atendimento aos interesses do mercado produtivo q Projetos modernizadores de alta expressão tecnológica. q A falta da ética na formação humanista e critica.
A Crise da hegemonia q Ponto crucial e alvo da crítica social. q Implicações epistemológicas. q O sujeito do conhecimento descontextualizado em relação à sociedade e seu cotidiano. q A definição dos problemas de investigação ocorre em relações estreitas entre pesquisadores e seus utilizadores.
Hegemonia Ideologia q O aspecto essencial da hegemonia da classe dirigente reside em seu monopólio intelectual, isto é: a atração que seus próprios representantes suscitam nas demais camadas de intelectuais: ”os intelectuais da classe que historicamente exerce o poder, subordinando assim os intelectuais de outros grupos sociais (. . . ). q Mercantilização da docência universitária submetendo o conhecimento e a formação a performatividade e eficiência segundo as leis do mercado neoliberal.
Hegemonia em Gramsci q A hegemonia seria a capacidade de um grupo social unificar em torno de seu projeto político um bloco mais amplo não homogêneo, marcado por contradições de classe. q O grupo ou classe que lidera este bloco é hegemônico porque consegue ir além de seus interesses econômicos imediatos, para manter articuladas forças heterogêneas, numa ação essencialmente política, que impeça a irrupção dos contrastes existentes entre elas. q Tal concepção articula-se perfeitamente com a visão de Estado ampliado, pois, nas condições do capitalismo contemporâneo, uma classe mantém a dominação se for capaz de exercer uma liderança moral e intelectual, fazendo certas concessões a seus aliados, numa perspectiva não economicista, a ultrapassar os interesses meramente corporativos. (Gramsci, 1978)
Nessa acepção hegemonia é dominação consentida, especialmente de uma classe social ou nação sobre seus pares. Na sociedade capitalista, a burguesia detém a hegemonia mediante a produção de uma ideologia que apresenta a ordem social vigente, e sua forma de governo em particular, a democracia, como se não perfeita, a melhor organização social possível. Quanto mais difundida a ideologia, tanto mais sólida a hegemonia e tanto menos necessidade do uso de violência explícita. Gramsci (1978).
Hegemonia e Legitimidade Como se expressam? q O progresso científico e tecnológico subsidiam a universidade (as elites) q A Universidade ignora os problemas sociais, ambientais, dimensão humana da sociedade q A identidade universitária: Ensino, Pesquisa e Extensão sob a responsabilidade do mercado q Transnacionalização do conhecimento, formação e da cultura acadêmica da q As ações afirmativas aparecem como inclusão excludente aos interesses da universidade.
Hegemonia do capital financeiro e a universidade q Paradigma da ciência moderna sob os imperativos da ideologia neoliberal q Domínio da razão instrumental no ENSINO e PESQUISA q Internacionalização dos resultados (pauta de discussão) q A identidade da docência representa o projeto hegemônico de universidade e sua sintonia com as demandas sociais q As relações entre universidade e sociedade se estreitam no balcão de oferta de produtos que coadunam com as exigências e interesses da sociedade do conhecimento (Currículo, formação profissional e ciência e tecnologia) q Transformação da cultura acadêmica em valor econômico q A incerteza do sentido do mundo acadêmico para o que possa oferecer a sociedade e a preservação do planeta.
GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO q David Harvey (2008), em seu texto O neoliberalismo: história e implicações, mostra como as mudanças estruturais na economia, promovidas pelas reformas neoliberais, deslocam o poder de classe, com a perda da qualidade de vida pela parcela da população correspondente à classe média e à classe baixa, e com a ascensão de um novo grupo de pessoas muito ricas relacionadas com as operações no sistema financeiro e com os novos ramos da produção, como as novas tecnologias de informação, a biotecnologia, as multinacionais de produção de energia, de cultivo de sementes transgênicas, etc. Esse grupo poderia ser definido como uma espécie de classe hegemônica transnacional.
Globalização do conhecimento Natureza do conhecimento Ethos acadêmico Globalização Maior controle: ensino pesquisa Mercado (Chauí, 2008)
Globalização do conhecimento (Chauí, 2008). q Envolve as universidades e está estritamente associado à própria natureza do saber contemporâneo q Mascara um processo de corporativização do conhecimento de origem acadêmica q Cria um novo ethos acadêmico, instrumental, utilitário de valor mercadológico q Maior controle da pesquisa pelas empresas, ou seja, de aplicação comercial.
A descapitalização da universidade publica q As universidades foram levadas a responder com a modificação estrutural dos seus programas e com o aumento de interesses das intencionalidades do Banco Mundial em consonância com o Acordo Geral Sobre o Comércio de Serviços (GATS). q Implica em transformações econômicas e políticas profundas. q Modelo hegemônico: como “único modelo eficaz e emancipatório de enfrentar a globalização neoliberal seria uma globalização contra hegemônica”
Universidade: mercado universitário? q A revolução nas Tecnologias de Informação e de Comunicação q As desigualdades entre universidades do Norte e universidades do Sul agravam enormemente q A globalização neoliberal destrói o projeto nacional de sociedade e de Universidade de fato, a qual se expressa na Universidade pública.
Alguns indicadores desse mercado q Sociedade de informação q A gestão, a qualidade e a velocidade da informação são essenciais à competitividade econômica q Dependência da mão-de-obra muito qualificada, as tecnologias de informação e de comunicação têm a característica de não só contribuírem para o aumento da produtividade e novos serviços q A economia baseada no conhecimento exige cada vez mais capital e aptidões nos constantes processos de reciclagem a que a nova economia obriga.
Como foi possível passar da ideia da universidade como instituição social a organização prestadora de serviços? ? q O modelo de capitalismo fragmenta todas as esferas q A sociedade aparece como rede móvel –ilegítima q As relações entre universidade e natureza q As estratégias tecnológicas e a intervenção como poder q O ensino como instrumento operacional q Cumprimento carga horária e transmissão rápida e mínima dos saberes q A pesquisa controlada pelos interesses do mercado
Do conhecimento universitário ao conhecimento pluriuniversitário. (Boaventura, 2011). q O conhecimento universitário– o conhecimento científico produzido nas universidades– foi, ao longo do século XX, um conhecimento predominantemente disciplinar, com autonomia científica descontextualizado da sociedade como um todo. q. O conhecimento pluriversitário é um conhecimento contextualizado na medida em que o princípio organizador da sua produção é a aplicação que lhe pode ser dada.
Universidade como instituição social = universalidade = docência = ensino + pesquisa + extensão q A passagem do conhecimento universitário para o conhecimento pluriuniversitário é, portanto, um processo muito mais amplo que a mercantilização da universidade e do conhecimento por ela produzido. É um processo mais visível hoje nos países centrais. q A transformação altamente desestabilizadora para a universidade, uma transformação que, estando articulada com a globalização neoliberal, não tem apenas dimensões econômicas nem se reduz à mercantilização da universidade. É, pelo contrário, uma transformação eminentemente política. q A crise de identidade instalou-se no próprio pensamento crítico e no espaço público (privado) universitário.
Universidade (Chauí, 1999) A universidade deve assumir o compromisso com a ética. Cultura contemporânea que orienta a universidade “compressão do espaço-temporal” (p. 24 texto) Fragmentação e a globalização da produção econômica são características da Universidade com relação ao conhecimento e a formação profissional. A ideia de universidade pública sob nova perspectiva precisa exigir que o Estado não entenda a educação com gasto e sim como investimento.
Universidade Pública q A definição do que é universidade é crucial para que a universidade possa ser protegida da concorrência predatória e para que a sociedade. q A luta pela definição de universidade permite dar à universidade pública um espaço para a legitimidade. q Ir além dos limites da racionalidade científico-técnico para o sentido epistemológico do conhecimento. q Ensino e Pesquisa são funções centrais da universidade pública, a extensão como elo para conquistar a legitimidade.
“lutar para a definição de universidade” q Não temos soluções modernas para recuperar a definição de Universidade q Os problemas atuais de Legitimidade e hegemonia são atuais e a Universidade está inserida nesse processo. q Os ideais dos últimos 2 séculos colocaram a Universidade num emaranhado de funções que culminou no domínio de uma lógica instrumental onde o mercado detém o espaço acadêmico e impõe interesses econômicos e arranjos políticos. q Os ideais da Ideologia do Progresso e da modernização prevalecem na atualidade.
Definir qual universidade: condição para a legitimidade q Como a universidade poderá lutar pela sua legitimidade: é a questão da definição da universidade. q O mercado do ensino superior pode auto-designar o seu produto como universidade sem ter de assumir todas as funções desta, selecionando as que se lhe afiguraram fonte de lucro e concentrandose nelas. q As reformas devem partir do pressuposto que no século XXI só há universidade quando há formação graduada e pós-graduada, pesquisa e extensão.
Áreas e/ou funções da universidade q Acesso q Extensão q Pesquisa-ação q Ecologia dos Saberes q Relação entre Universidade e Educação Básica q Universidade e Indústria
Extensão q É indissociável do Ensino e Pesquisa q Agência de serviço com centralidade voltada para as relações entre Universidade x Empresa x Mercado q Inovação, promoção da cultura científica e técnica q Prestação de serviços a setores bem definidos q A extensão deveria atuar como a via de mão-dupla entre a Universidade e a sociedade (movimentos sociais, educação básica, comunidades locais e regionais q Levar a universidade a diferentes realidades sociais.
Pesquisa-Ação q É área de legitimação da universidade por meio das funções afins (pesquisa-formação). q Consiste na definição e execução participativa de projetos de pesquisa, envolvendo as comunidades e organização sociais populares com objetivos claros na contrapartida dos resultados. q Interesses científicos são articulados aos interesses sociais. q Possibilidades: utilidade metodológica da pesquisa acadêmica.
Ecologia dos Saberes q “A única utopia possível é a utopia ecológica e democrática, porque chegamos ao limite entre um ecossistema finito e uma acumulação capitalista infinita”(. . . ) Santos(1995, p. 115). q O paradigma emergente para uma sociedade decente q Existência de conhecimentos plurais, diálogo entre saber científico e humanístico, entre saber acadêmico e saberes populares q Pensamento complexo capaz de religar os diferentes saberes com as dimensões da sociedade e do planeta.
Universidade x Escola Pública q Vinculo entre Universidade x Educação Básica q A globalização neoliberal tem se aproximado por meio de organizações não-governamentais assumindo algumas funções, porém, estratégicas q O desenvolvimento de pesquisas utilizando metodologias quantitativas com objetivos de avaliação e diagnóstico que servem a interesses econômicos q Categorias neoliberais como: Eficiência, competição, performance ganham centralidade nos objetivos q Servem como suporte para fundamental as reformas.
CONTRADIÇÕES • Mão de obra qualificada • Rigidez na formação • Currículo segmentado • Resultados práticos no saber fazer • Enfâse no operacional • Embobrecimento do valor social do conhecimento • Competitividade e liderança do mercado • Impactos sociais, ambientais e culturais
Algumas indagações (. . . ) q Lutar pela democratização do bem público q Lutar pela definição e esclarecimento da crise q Crise de Hegemonia e de Legitimidade são essenciais q Revisitar as funções da Universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão e suas atuações (Graduação e pós-graduação) q Ensino, pesquisa e extensão se estabelecem em territórios distintos, com interesses particulares, não articulados q Criar uma nova institucionalidade democrática e emancipatória depende de compreender o teor da crise e o seu aprofundamento no cerne da ideologia neoliberal
q Habermas: o que determina a ação dos cientistas/pesquisadores são as regras técnicas que as justificam por si mesmas (valor econômico e a tecnologia) e não por valores sociais(. . . ) q Há o domínio do conhecimento utilitarista, num mundo em que a competitividade é canalizada nas relações de produção do trabalho acadêmico.
? PERSPECTIVAS q Identidade enquanto q q q instituição social Construção de sociedades do conhecimento social e ético Ciência, Tecnologia e Inovação que atendam benefícios sociais Projetos éticos e políticos Compromisso intelectual Concepção de Formação
(. . . ) OS PROTAGONISTAS. . . para uma reforma estrutural Universidade e o Estado, opção política pela globalização neoliberal. Cidadãos organizados, individual ou coletivamente, grupos sociais, sindicatos. Projeto de defesa da universidade pública, democrática comprometida com os interesses sociais que deve representá-la e justificá-la como Instituição social.
Bases fundamentais: q Enfrentar o novo com o novo q Lutar pela definição de Universidade q Definir e buscar novos sentidos da pesquisa, ensino fundamentalmente, e a extensão a luz de princípios éticos e democráticos emancipadores q O que ensinar? q O que pesquisar? q Quem vai ensinar e pesquisar?
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