O DIREITO EDUCAO E O DESAFIO DA QUALIDADE

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O DIREITO À EDUCAÇÃO E O DESAFIO DA QUALIDADE DO ENSINO GILDA CARDOSO DE

O DIREITO À EDUCAÇÃO E O DESAFIO DA QUALIDADE DO ENSINO GILDA CARDOSO DE ARAUJO

O QUE SIGNIFICA QUALIDADE? CF de 1988= perspectiva mais universalizante dos direitos sociais no

O QUE SIGNIFICA QUALIDADE? CF de 1988= perspectiva mais universalizante dos direitos sociais no mesmo contexto de necessidade de redimensionamento do papel do Estado (discurso da qualidade em oposição ao discurso da democratização). Polissemia do termo: o que significa uma educação de qualidade? O que significa uma escola de qualidade? Educação brasileira teve três significados distintos de qualidade (representações e práticas sociais). Gilda Cardoso de Araujo 2

QUALIDADE CONDICIONADA PELA OFERTA Primeiro significado condicionado pela oferta limitada de oportunidades de escolarização

QUALIDADE CONDICIONADA PELA OFERTA Primeiro significado condicionado pela oferta limitada de oportunidades de escolarização (acesso para poucos = analfabetismo). Qualidade da escola do passado= exclusividade. Mariano Enguita: “Presumia-se que o que era ou parecia ser bom para os que até então vinham desfrutando-o com exclusividade também o seria para os demais. Entretanto, a única coisa que com segurança tinha de indiscutivelmente“bom” era a sua exclusividade, e isto foi justamente a primeira coisa que foi perdida. Perdida essa característica, era apenas uma questão de tempo que os setores recém-incorporados a cada nível de ensino, e inclusive os mesmos que já o freqüentavam antes, se perguntassem sobre se necessariamente tinha este que continuar sendo o que era ou se, pelo contrário, deveria adaptar-se melhor à diversidade de expectativas e interesses de seu público ampliado” (“A face oculta da escola”, p. 97). Gilda Cardoso de Araujo 3

QUALIDADE E O DESAFIO DA PERMANÊNCIA Expansão da escolarização = construção de escolas sem

QUALIDADE E O DESAFIO DA PERMANÊNCIA Expansão da escolarização = construção de escolas sem reflexão sobre a qualidade. Dificuldades no processo de democratização do ensino foram transferidos do acesso para a permanência com sucesso = exame de admissão. Fim do exame de admissão (Lei 5692/71) = novo tipo de seletividade (evasão e repetência)= segundo indicador de qualidade incorporado ao debate educacional: fluxo (entrada e saída de alunos) = final de 1970 e 1980. Gilda Cardoso de Araujo 4

O DESAFIO DE DEBATER A DIMENSÃO QUALITATIVA DO DIREITO À EDUCAÇÃO Programas de correção

O DESAFIO DE DEBATER A DIMENSÃO QUALITATIVA DO DIREITO À EDUCAÇÃO Programas de correção do fluxo escolar (aprovação automática, ciclos, aceleração da aprendizagem)= evitar mecanismos internos de seletividade escolar , incidindo sobre os índices de “produtividade” dos sistemas. Problema: esses índices deixam de ser medida adequada para aferir qualidade. Incorporação do terceiro indicador de qualidade= capacidade cognitiva dos alunos mediante testes padronizados em larga escala. Algumas evidências= necessidade de debater dimensão qualitativa do direito à educação. Gilda Cardoso de Araujo 5

ASPECTOS JURÍDICOS DO DESAFIO DA QUALIDADE CF de 1988 Art. 206. O ensino será

ASPECTOS JURÍDICOS DO DESAFIO DA QUALIDADE CF de 1988 Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: . . . VI- garantia de padrão de qualidade Art. 211. A União, os Estado, o Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração os seus sistemas de ensino. Parágrafo 1 o- A União organizará o sistema federal de ensino e o dos territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização das oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Gilda Cardoso de Araujo 6

ASPECTOS JURÍDICOS DO DESAFIO DA QUALIDADE LDB Art. 4 o – O dever do

ASPECTOS JURÍDICOS DO DESAFIO DA QUALIDADE LDB Art. 4 o – O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: . . . IX- padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensinoaprendizagem. Art. 75 - A União, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de oportunidades educacionais para o ensino fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade. Gilda Cardoso de Araujo 7

Em que consistiria ou o que integraria o “padrão de qualidade” do ensino brasileiro?

Em que consistiria ou o que integraria o “padrão de qualidade” do ensino brasileiro? Questões: 1 - discutir qualidade não significa entender que o problema do acesso esteja resolvido; 2 - não se trata de estabelecer padrões sem considerar a diversidade de expectativas e demandas da sociedade em relação aos sistemas de ensino; 3 - múltiplas e diversas representações sociais sobre indicadores de qualidade devem integrá-los de forma dinâmica (definição de indicadores é tarefa técnica, mas, sobretudo, política)= custos, condições reais, objetivos e expectativas sociais; 4 - qualidade social = baseada nos direitos de cidadania e não na relação custobenefício (lógica do mercado) Gilda Cardoso de Araujo 8

Em que consistiria ou o que integraria o “padrão de qualidade” do ensino brasileiro?

Em que consistiria ou o que integraria o “padrão de qualidade” do ensino brasileiro? Políticas de melhoria da qualidade têm enfatizado insumos ou resultados ( na teoria dos sistemas, a entrada e a saída). Diferentes representações sociais sobre a qualidade não deve inviabilizar a definição de uma linguagem comum que permita campos de ação. Um bom conjunto de indicadores avalia a qualidade das escolas e TAMBÉM dos sistemas. Três categorias de indicadores usualmente aceitos em países com políticas de definição e de avaliação da qualidade: investimento, realidade educativa e sucesso/fracasso escolar. Gilda Cardoso de Araujo 9

Em que consistiria ou o que integraria o “padrão de qualidade” do ensino brasileiro?

Em que consistiria ou o que integraria o “padrão de qualidade” do ensino brasileiro? Indicadores de investimento= investimento, proporção de alunos por professor, custo-aluno etc. Indicadores da realidade educativa = clima e cultura organizacional, gestão, projeto pedagógico, ensino, currículo, cultura de sala de aula. Indicadores de sucesso/fracasso escolar = alcance dos objetivos de aprendizagem (desde competências/habilidades específicas a gosto pela literatura, artes etc. ). Brasil= desses indicadores temos o gastoaluno confundido com custo-aluno e os testes padronizados (não temos padrões e padronizamos os testes). Gilda Cardoso de Araujo 10

Os cinco principais desafios para a qualidade do ensino 1 -Desafio do conhecimento=> numa

Os cinco principais desafios para a qualidade do ensino 1 -Desafio do conhecimento=> numa sociedade baseada no conhecimento, a organização dos sistemas educativos deve reestruturarse em função das mutações do mundo do trabalho e da vida social, através de uma aprendizagem ao longo da vida. 2 -Desafio da descentralização=> num contexto educativo que atribui cada vez maior autonomia e responsabilidade às escolas, o desafio político consiste em reconhecer a existência de diferenças e zelar pela sua transformação em oportunidades ( e não em desigualdades). 3 -Desafio dos recursos => política de ajuste fiscal cujo objetivo é não sobrecarregar o orçamento estatal. Gilda Cardoso de Araujo 11

Os cinco principais desafios para a qualidade do ensino 4 -Desafio da inserção social

Os cinco principais desafios para a qualidade do ensino 4 -Desafio da inserção social => trata-se provavelmente do principal desafio que se coloca aos sistemas educativos. Na realidade, estes devem fomentar a integração dos alunos não só no mundo do trabalho mas, sobretudo, nos direitos de cidadania. 5 -Desafio dos dados comparabilidade => e da num contexto educativo extremamente diversificado, o desafio reside na dificuldade de obter dados comparáveis. Gilda Cardoso de Araujo 12

Boa escola: evidências do SAEB Projeto pedagógico “Clima” da Escola Bom relacionamento entre alunos

Boa escola: evidências do SAEB Projeto pedagógico “Clima” da Escola Bom relacionamento entre alunos Salas de aulas adequadas Material pedagógico adequado e suficiente Acesso: biblioteca, laboratórios e esportes Professores: - Acreditar no sucesso de seus alunos - Ter remuneração condizente - Obter formação inicial e continuada Gilda Cardoso de Araujo 13

Boa Escola: Evidências do SAEB Gestão Escolar: - Diretor com qualificação específica - Quadro

Boa Escola: Evidências do SAEB Gestão Escolar: - Diretor com qualificação específica - Quadro permanente de professores - Integração da comunidade ao cotidiano escolar - Redução da reprovação e do abandono - Parcerias com universidades e instituições de pesquisa - Autonomia administrativa e pedagógica - Criação de Conselhos escolares Gilda Cardoso de Araujo 14

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas Estudo qualitativo de escolas com bons resultados

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas Estudo qualitativo de escolas com bons resultados em sete países latinoamericanos =Laboratorio Latinoamericano de Evaluación de la Calidad de la Educación =LLECE (2002) =“Primeiro Estudo Internacional Comparativo sobre Linguagem, Matemática e Fatores Associados” (2000) = UNESCO/Chile Escolas com bons resultados: 1 - os alunos têm papel principal no processo de aprendizagem. Se observa a transformação da classe numa atividade grupal de análise e reflexão conjunta. O docente motiva, coordena, dirige, mas não é o único ativo; Gilda Cardoso de Araujo 15

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 2 - a ordem (negociada e participativa)

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 2 - a ordem (negociada e participativa) está na base dos processos que constroem o ambiente de aprendizagem. A norma se configura freqüentemente de forma solene em algum documento. O documento normativo adquire maior efetividade quanto maior consenso e participação tiverem a comunidade escolar; 3 - os docentes colaboram e trabalham em equipe num ambiente com escassa ênfase na hierarquia; 4 - racionalidade e afetividade como processos complementares; 5 - pais como atores significativos; 6 - busca de inovações. Os docentes inovam com êxito suas estratégias e princípios de ação para o sucesso da aprendizagem; Gilda Cardoso de Araujo 16

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 7 - organização cuja gestão leva em

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 7 - organização cuja gestão leva em consideração toda ou a maior parte da comunidade escolar; 8 - clima de relações não autoritárias; 9 - ambiente atrativo de trabalho para os docentes; 10 -busca de estabilidade organizacional com menor rotatividade de profissionais; 11 - espaço para a iniciativa dos atores, inclusive para exercer o controle organizacional; 12 - respeito, cordialidade e expressões de afetividade caracterizam a forma de fazer as coisas ; Gilda Cardoso de Araujo 17

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 13 - junto compromisso e o prazer

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 13 - junto compromisso e o prazer que manifestam os atores, vai se configurando um clima organizacional onde é possível identificar uma coletividade, onde cada membro se sente pertencente ao grupo (trabalho coletivo que ameniza absenteísmo e descompromisso docente); 14 - se fundamenta, mais do que nos recursos, numa visão pedagógica e na inter-relação entre os atores educativos; Gilda Cardoso de Araujo 18

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 15 - uso eficiente do espaço pedagógico

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 15 - uso eficiente do espaço pedagógico e físico; 16 - importância do diagnóstico de cada estudante, permitindo tomar em consideração tanto as diferenças individuais, como fazer um prognóstico do avanço potencial do grupo; 17 - atividades integradas na vida do aluno, vinculando escola e comunidade; 18 - uso não tradicional do erro. Admite-se que o docente pode se equivocar. O erro é problematizado nas experiências relatadas, sendo transformado numa potencialidade educativa; 19 - clima de confiança entre estudantes e professores; 20 - a escola é um lugar agradável para os alunos; Gilda Cardoso de Araujo 19

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 21 - importância das rotinas diárias. Nas

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 21 - importância das rotinas diárias. Nas rotinas diárias, a classe se conduz num ritmo dado pela conjunção entre alunos, docente e a atividade pedagógica, o que não significa disciplina no sentido tradicional, pois, apesar de uma aparente desordem, podem e devem predominar rotinas diárias que permitam a interação entre professores e alunos; 22 - capacitação docente como base para a elaboração de estratégias pedagógicas; 23 - problemas e conflitos são aceitos e conduzidos adequadamente; Gilda Cardoso de Araujo 20

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 24 - os docentes enfatizam a prática

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 24 - os docentes enfatizam a prática da leitura entre os alunos; 25 - se observa o esforço para contextualizar o ensino de matemática; 26 - outro elemento que favorece o aprendizado da matemática é o trabalho em grupo (resolução coletiva de problemas); 27 - não se enfatizam as tarefas ou deveres para casa. A tarefa para casa não aparece como recorrente nas estratégias pedagógicas. A tendência é desenvolver atividade intensa na escola, de tal modo que o aluno continue esse processo fora da escola, mas não como “tarefa”. 28 - se enfatiza a adaptação de planos e programas às características dos alunos (planejamento); 29 - respeito à jornada escolar completa; 30 - relação adequada de quantidade de alunos por professor; Gilda Cardoso de Araujo 21

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 31 - predomina a tendência de não

Clima e cultura organizacionais: algumas evidências latino-americanas 31 - predomina a tendência de não classificar os alunos, o que, sem dúvida, põe em questão as formas tradicionais de avaliação; 32 - os docentes esperam que os alunos aprendam muito e que a promoção seja alta; 33 -não há um padrão comum em termos de origem destas escolas: há escolas grandes, médias e pequenas, urbanas e rurais, privadas e estatais, laicas e religiosas. Gilda Cardoso de Araujo 22

Características docentes: 1. favorecem participação dos alunos na aquisição de conhecimentos, se expressando com

Características docentes: 1. favorecem participação dos alunos na aquisição de conhecimentos, se expressando com uma linguagem clara e corretamente, orientando adequadamente para os objetivos propostos, relacionando os novos conteúdos com aqueles já desenvolvidos e utilizando adequados meios de ensino; 2. demonstram ter um adequado domínio do conteúdo e segurança no tratamento do mesmo; 3. manifestam com clareza os propósitos e, em geral, propiciam que os alunos compreendam o valor da nova aprendizagem; 4. planejam seu trabalho considerando como são e o que podem fazer os alunos (diagnóstico). Gilda Cardoso de Araujo 23