MTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS APLICADOS S IFES Profa

MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS APLICADOS ÀS IFES Profa. Uyguaciara V. C. Branco Prof. Paulo H. Nakamura

TEMA A utilização de métodos quantitativos em Análise de Discurso

• Fonte: CASTELO BRANCO, Uyguaciara Velôso. A construção do mito do meu filho doutor. Fundamentos históricos do acesso ao ensino superior no Brasil-Paraíba. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife: mimeo, 2004. • Material discursivo coletado: redações dos(as) candidatos(as) ao Processo Seletivo Seriado (PSS 2003), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que escolheram como tema o “Diploma Universitário: sonho de muitos, realização de poucos”. • Foram selecionadas 936 redações, obedecendo à seguinte divisão, por curso: 108 (11, 5% do total) do curso de Agronomia, 264 (28, 2%) do curso de Medicina, 160 (17, 1%) do curso de Ciências da Computação e 404 (43, 2%) do curso de Direito. • A escolha dos cursos deveu-se, principalmente, por serem os mais concorridos, em suas áreas de conhecimento, ou seja, respectivamente, ciências agrárias, ciências da saúde, ciências tecnológicas e ciências humanas. • Foi escolhida, para análise de conteúdo, uma amostra de 188

Fundamentação teórica: Discurso: “(. . . ) um texto, um exemplo de prática discursiva e um exemplo de prática social”, como aponta Fairclough (2001, p. 22). Compreensão apoiada na Teoria Social do Discurso, que conceitua o discurso, numa perspectiva tridimensional, e acrescenta: a dimensão do ‘texto’ cuida da análise lingüística de textos. A dimensão da ‘prática discursiva’, como ‘interação’, na concepção ‘texto e interação’ de discurso, especifica a natureza dos processos de produção e interpretação textual – por exemplo, que tipos de discurso (incluindo ‘discursos’ no sentido mais socioteórico) são derivados e como se combinam. A dimensão de ‘prática social’ cuida de questões de interesse na análise social, tais como as

Fundamentação teórica: Objetivo: estudar a história do mito do “meu filho doutor” compreendida numa perspectiva da multitemporalidade (BRAUDEL, 1992, p. 41), dentro de uma articulação permanente e dialética entre o ritmo da longa duração, o das conjunturas (média duração) e os acontecimentos, que movem o passado recente e se colocam na curta duração. Não poderíamos deixar de “(. . . ) considerar a importância do uso da análise lingüística como um método para estudar a mudança social”, as múltiplas facetas de uma realidade em constante (re)construção (FAIRCLOUGH, 2001, p. 19). Optamos pelo método da análise histórica: “a análise de discurso deveria focalizar a estruturação ou os processos ‘articulatórios’ na construção de textos, e na constituição a longo prazo de ‘ordens de discurso’

Fundamentação teórica: “Intertextualidade”: “os textos são construídos por meio de articulação de outros textos de modos particulares, modos que dependem de circunstâncias sociais e mudam com elas” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 28). Bakhtin (1981, apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 134) afirma: “nossa fala. . . é preenchida com palavras de outros, variáveis graus de alteridade e variáveis graus do que é de nós próprios, variáveis graus de consciência e de afastamento. Essas palavras de outros carregam com elas suas próprias

Fundamentação teórica: Kristeva (1987): a intertextualidade tem como pressuposto a inserção da história em um texto e, por conseqüência, do referido texto na história, ou seja, os textos incorporam e são construídos por textos do passado, dando-lhes respostas, retrabalhando-os e reacentuando-os de acordo com as novas/velhas questões da contemporaneidade.

Diagrama para análise de discurso

Metodologia utilizada: • Sistematização e operacionalização da análise dos dados: metodologia proposta por Bardin (1977, p. 160), compreendendo-se a análise de conteúdo como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens”. • Na técnica proposta por Bardin (1977), há uma ênfase indiscutível na avaliação quantitativa dos dados, porém não desconsiderou-se, em nenhum momento da análise proposta em nosso estudo, a intrínseca relação entre qualitativo e quantitativo,

Metodologia utilizada: • Seguimos, rigorosamente, como análise inicial dos dados, as três etapas propostas por Bardin (1977, p. 161 -162): I. Pré-análise: organização do material e seleção dos documentos. II. Descrição analítica: análise profunda dos documentos, tendo por base nossas hipóteses e referenciais teóricos, momento em que foram criadas as temáticas para estudos e a codificação utilizada para a classificação e/ou categorização. III. Interpretação referencial: estabelecimento de relações entre o objeto de análise e seu contexto mais amplo, a partir dos dados empíricos e informações coletadas, estabelecendo-se

Metodologia utilizada: • Em todo o processo de codificação (com informações relativas a localização no arquivo e ao curso do candidato) e digitação, utilizou-se de uma planilha eletrônica, em software específico (Microsoft Excel) e, para a análise quantitativa (depuração, freqüências, cruzamentos, impressão de listagens), foi construído pelo Prof. Dr. Paulo Hideo Nakamura , em Linguagem Pascal, um programa para busca de fragmentos de textos contendo palavras-chave escolhidas. O programa gerava listagens com fragmentos de discurso agrupados segundo

Tratamento e análise de dados: • Ilustração: análise, de caráter mais superficial, feitas nas 188 redações que permitiu uma divisão destas, baseada nas palavras contidas nos trechos selecionados, em dois grupos: • universo lingüístico da inclusão, em que aparecem as palavras: tod [o, os] (78), acesso [s] (99), direito [s] (32), muit [o, os] (68), empreg [o, ar] (47), trabalh [o, ar] (78), igual [dade] (3), democra[cia, tizar, tização] (11), possi [possível, bilidade] (22), facil [fácil, idade] (28), inclu [são, ir] (5), igual [dade] (22), universal [ização] (3), public [público, pública, publicizar] (146), desenv [imento, er, vido] (38), progre [sso, dir] (7), ascen [der, são] (12), globali [zar, zação] (12), cota/quota [s] (30); • universo lingüístico da exclusão, com as palavras: sonh [o, os, ar] (72), pouc [o, os, a, as], (66), dific [difícil, uldade] (49), utopi [a, co] (4), algu [m, ns, mas] (33), desigual [dade] (21), imposs [ível, ibilidade] (16), exclu [ir, são] (19), esperanç [a, as] (18), privil [égio, égios, egiar, egiado] (24), aspira[r, ção] (4), ideal [is] (4), priva [do, tizar, tizado] (30). • Entre colchetes encontram-se exemplos de variações possíveis

Tratamento e análise de dados: • Numa análise mais complexa e ampla, fizemos uma divisão das temáticas em quatro grandes eixos, tentando compreender o lastro histórico e as contingências que possibilitaram aqueles discursos. As temáticas permitiram a discussão das novas/velhas mentalidades sobre o ensino superior em quatro sub-itens: a) O Ensino Superior: entre a nobilitação, a ascensão social e a inclusão; b) O Ensino Superior e(é) desenvolvimento; c) A entrada na Universidade: entre o público e o privado no contexto societário da globalização; d) O Ensino Superior para todos é igual a Educação para Todos? • Esses grandes temas foram discutidos e construídos por meio de um importante e necessário diálogo teórico-metodológico que possibilitou a construção de uma narrativa histórica e a percepção dos códigos ordenadores dos discursos. • Funcionalidade da Análise de Discurso: não apenas como uma interpretação do conteúdo das coisas, mas sobretudo como uma

Referências: BAKHTIN, Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981. ____. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. KRISTEVA, Julia. No princípio era o amor, psicanálise e fé. São Paulo: Brasiliense 1987. BARDIN, Lawrence. Análise de conteúdo. Tradução Luis Antero Reto e Augusto Pinheiro, Lisboa: Edições 70, 1977. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992. CASTELO BRANCO, Uyguaciara Velôso. A construção do mito do meu filho doutor. Fundamentos históricos do acesso ao ensino superior no Brasil. Paraíba. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife: mimeo, 2004. ____. A utilização de métodos quantitativos em Análise de Discurso. In: DINIZ, Ariosvaldo da S. ; BRASILEIRO, Maria Dilma Simões; LATIESA, Margarita. (orgs. ) Cartografias das novas investigações em Sociologia. João Pessoa: EDU-UFPB/Manufatura, 2005, p. 205 -218. FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Tradução Izabel Magalhães. Brasília: UNB, 2001. PEDROSA, Cleide Emília Faye. Retrato Falado. Uma análise das "falas" de