MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE Jos M
MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE José M. Ressano Garcia Lamas Capítulo 3 3. 4. O DESENHO URBANO NO RENASCIMENTO E NO BARROCO 1
Renascimento e Barroco n n n n Períodos Origem e Evolução Integração entre arquitetura e urbanística Princípios renascentistas Organizações espaciais Diferenças entre renascimento e barroco Elementos morfológicos compositivos 2
Períodos > Itália > desde os princípios do século XV > até fins do século XVIII DISTINGUEM-SE DUAS FASES: • 1420 à 1500 > o primeiro renascimento, essencialmente restringido à Itália; • 1500 à 1600 > o renascimento tardio; • 1600 à 1765 > o barroco; • 1750 à 1900 > o rococó e o neoclássico; • (estas datas possuem variações de país para país e de região para região). 3
Origem e Evolução RENASCIMENTO > significa “voltar a nascer”, ou seja, voltar às formas de arte da antiguidade romana e grega, como motivos de inspiração. > se estabeleceu um quadro intelectual de mudanças e de “oposição” ao misticismo medieval; > se assume um novo estilo na pintura, na escultura, na arquitetura e no urbanismo. 4
ORIGEM > surgiu em Florença, propagando-se no resto da Itália, onde o gótico não teve grande aceitação, (e onde a população, os intelectuais e artistas estavam familiarizados com as obras romanas do passado - com as suas ruínas), atingindo mais tarde toda a Europa. 5
Fatos significativos • 1412 > descoberta dos escritos de Vitruvio • 1521 > publicação dos escritos de Vitruvio De Architectura - os escritos de Vitruvio adquirem um significado cultural e místico, talvez superior ao seu valor real, em uma época em que os artistas já imitavam e interpretavam os monumentos antigos. • 1453 > o afluxo de muitos artistas gregos à Itália, motivados pela conquista de Constantinopla pelos turcos. 6
Integração entre arquitetura e urbanística Novos Esquemas Arquitetônicos e Urbanísticos: • Primeira fase > desenvolvidos através de cenários da pintura; > são os pintores quem primeiro “constroem”o espaço urbano, produzindo em seus quadros a cidade renascentista. > pintores, geometras, matemáticos, vão explorando a descoberta da ciência da perspectiva, desenhando paisagens urbanas(realizadas séculos seguintes) Organização do Espaço: > grande eixo ladeado de edifícios nem sempre iguais e simétricos; 7
A invenção da Imprensa: > difusão das teorias; > desenhos imaginados por arquitetos renascentistas alcançam os centros europeus; > deixa de ser necessário construir as obras para exemplificar as idéias arquitetônicas; > os livros encarregavam-se dessa tarefa; > os urbanistas renascentistas iriam se expressar mais facilmente na Imprensa do que nas cidades, ultrapassando as necessidades existentes nas realizações urbanas; > aparecem numerosos tratados de arquitetura, de desenho e de construção de cidades. 8
Princípios renascentistas • do século XV em diante: > o desenho de arquitetura > as teorias estéticas > os princípios de urbanismo • irão obedecer a idéias semelhantes: > desejo de ordem; > disciplina geométrica; > nítido contraste com a irregularidade urbana medieval; • em discursos, tratados, esquemas, projetos e realizações: > a forma da cidade é subordinada à unidade e racionalidade 9
Princípios renascentistas • Alberti: > a cidade deve constituir-se com o objetivo do prazer austero da geometria. • a forma radiocêntrica consusbstancia esta perfeição geométrica (como na proposta de Filarete) onde radiais ligam as portas da cidade ao seu centro-praça - lugar dos edifícios públicos. • a forma radiocêntrica é objeto de numerosas especulações renascentistas perfilando-a para o traçado da cidade ideal. 10
Princípios renascentistas • A integração entre a arquitetura e urbanística existirá desde o início do Renascimento até o século XIX. • A arquitetura absorve primeiro as novas idéias nas realizações, • O urbanismo se desenvolve apenas em termos teóricos, desde a concepção da cidade ideal aos tratados de arquitetura e desenho de cidades. 11
Princípios renascentistas A aplicação dos princípios renascentistas à urbanística foi condicionada: • pelo crescimento demográfico • e transformações de renovação no casco urbano. • O tamanho contido da cidade medieval não oferecia de início possibilidades de intervenções em grande escala. • No início do Renascimento, a Europa não necessitava de novos núcleos, dada a armadura territorial urbana que se havia constituído e completado na Idade Média. 12
Princípios renascentistas Só do Renascimento de 1500 -1600 se criaram novas cidades • por razões militares, como Palma Nuova, Neuf-Brisach e Almeida, • ou de poderio e prestígio como Ville-Richelieu, aplicando-se aí os princípios urbanísticos renascentistas. 13
Organizações espaciais A urbanística renascentista manifesta-se em alguns campos específicos: • construção de sistemas de fortificações; • modificação de zonas da cidade com a criação de espaços públicos ou praças e arruamentos retilíneos; • reestruturação de cidades pela abertura de nova rede viária; • construção de novos bairros; • expansões urbanas, utilizando quadrículas regulares (o Bairro Alto, em Lisboa). 14
Organizações espaciais • Benevolo: situa a primeira manifestação de “urbanismo moderno” na expansão renascentista de Ferrara, “desenhada” por Biaggio Rossetti, • Outros autores: consideram a Via Nuova, em Gênova, em 1470, a primeira obra de urbanismo renascentista, pelo ordenamento consciente de edifícios, ao longo de uma rua retilínea. 15
Organizações espaciais • A partir de finais do século XVII, todas as realizações serão influenciadas pelo Renascimento. • A Europa entra em definitivo em uma nova era cultural e estética cujos princípios no campo urbanístico e arquitetônico só seríam definitivamente abandonados no século XX, com o Movimento Moderno. 16
Diferenças entre renascimento e barroco Há distinções entre o primeiro Renascimento e a segunda metade do século XIX, embora exista uma interligação e um fio condutor entre a arquitetura e o urbanismo do primeiro Renascimento e o Barroco e o Clássico dos séculos XVIII e XIX. 17
Diferenças entre renascimento e barroco • Wolfflin: “. . . em contraste com a arte do Renascimento, que tende à permanência e imobilidade de todas as coisas, o Barroco manifesta, desde o seu início, um grande sentido de direção e movimento (. . . )”. 18
Diferenças entre renascimento e barroco “A arte do Renascimento é a arte da calma e da beleza. . . As suas criações são perfeitas; não revelam que nada foi forçado ou inibido, nem inquietação ou agitação. Não estamos equivocados se vemos nesta calma e satisfação celestiais a mais alta expressão do espírito artístico desta época”. 19
Diferenças entre renascimento e barroco “O Barroco propõe operar de outro modo. Recorre ao poder da emoção para comover e subjugar com a força do seu impacte; tende a dar uma impressão instantânea, . . . o impacte de uma obra do Renascimento é mais suave e lento, e também mais duradouro - um modo que não se deseja mais abandonar. O momentâneo impacte que exerce o Barroco é poderoso, mas abandona-nos logo, deixando-nos um sentimento de desolação”. 20
Diferenças entre renascimento e barroco • Wolfflin quanto ao campo urbanístico: A organização espacial renascentista aspira a um sossegado equilíbrio, completo em si mesmo, num espaço limitado e em repouso; O urbanismo Barroco propõe um espaço e de grande dinamismo e movimento; EXEMPLO COMPARATIVO: • Piazza della Annunziata, Florença = espaço estático, equilibrado e calmo; COM • Praça do Capitólio, de Miguel Angelo, • ou a Praça de S. Pedro, em Roma 21
Elementos morfológicos compositivos Tais elementos: • serão constantes até o século XIX; • variam na sua expressão estética; • variam a disposição no terreno; • produzem diferentes espaços. 22
Elementos morfológicos compositivos Elementos que integraram a composição da cidade a partir do Renascimento: • as fortificações; • a rua; • o traçado reticular - a quadrícula; • a praça; • a fachada; • os edifícios singulares; • o quarteirão; • espaços verdes; • outras tipologias - o Crescent, o Circus, o Square - invenções inglesas do séc. XVIII. 23
Elementos morfológicos as fortificações: > a evolução das técnicas militares e a generalização do canhão tornam obsoletas as muralhas medievais. Estratégias de Defesa > irão apoiar-se em muralhas e na distância entre o sistema de fortificações e a cidade que deveria obrigar o assaltante a parar antes que os seus canhões pudessem atingir a cidade. Criam-se Complexos Sistemas > de fossos, rampas, baluartes e muralhas, segundo técnicas que Vauban desenvolveria e sistematizaria no século XVII; 24
Elementos morfológicos A EFICÁCIA DOS SISTEMAS DEFENSIVOS > altera a estrutura urbana; > enquanto a muralha medieval podia ser substituída em anéis concêntricos, > o sistema de fortificações renascentista é estático, custoso e pesado, > impede o crescimento da cidade, > comprime-a, com consequências na elevação das densidades; 25
Elementos morfológicos A FORMA DA CIDADE RENASCENTISTA > é muito condicionada pelas fortificações > assume grande importância física e visual > estende-se até o século XIX com processos e sistemas diferentes • EXEMPLO: > quase no final do século XIX, em Paris, 1871, os prussianos são detidos por linhas defensivas. Nesta época os sistemas defensivos já são transformados, > a evolução das estratégias militares irá transferir as batalhas do cerco às cidades para o campo aberto, tornando as muralhas obsoletas. 26
Elementos morfológicos a rua ou o traçado: > irá tornar-se um elemento de grande importância. A RUA RENASCENTISTA > será um percurso retilíneo que mantém função de acesso aos edifícios , mas será pela primeira vez, eixo de perspectiva, traço de união e de valorização entre elementos urbanos. A rua deixa de ser apenas um percurso funcional - como na Idade Média -, para tornar-se também um percurso visual, decorativo, de aparato, próprio ao deslocamento por carruagem e organizador de efeitos cênicos e estéticos. 27
Elementos morfológicos A RUA RENASCENTISTA E AS SUAS VARIAÇÕES MAIS ELABORADAS: • As avenidas > são retilíneas > por razões estéticas e de perspectiva > para resolver problemas viários pois > generaliza-se a utilização de carroças e coches, cujo o tráfego as tortuosas e estreitas ruas medievais não se encontravam preparadas. 28
Elementos morfológicos • A rua renascentista > importante sistema de circulação. • A rua barroca > corredor para as grandes movimentações, procissões, cortejos e paradas - em cenário. Encontra-se na rua o suporte do sistema social que se serve da arquitetura como meio de ostentação - a burguesia e a nobreza, que necessitam das fachadas de seus palácios para ostentarem o poder e a magnificência. É no período clássico (da Renascença ao Barroco) que se estabelecerá a perfeita identidade entre o traçado e as fachadas dos edifícios que a marginam. 29
Elementos morfológicos O TRAÇADO > adquire grande unidade e intensidade estética através do desenho das fachadas, que em muitos casos se repetem com ordem e disciplina. > torna-se o elemento gerador da forma das cidades, hierarquizando-se pela sua importância funcional e perfil. > as árvores passam também a ser utilizadas no traçado por razões funcionais, climáticas e estéticas. > o grande traçado barroco que une pontos da cidade é delimitado pelas fachadas dos edifícios que integra arborização, sendo pontuado pelos monumentos. 30
Elementos morfológicos O TRAÇADO RETICULAR - A QUADRÍCULA GEOMÉTRICA: > resulta do processo de cruzamento ortogonal de ruas e permitia, como nos períodos precedentes, uma adequada subdivisão do solo. > continua a servir as necessidades distributivas, de organização habitacional e divisão cadastral; > adapta-se na perfeição ao ideal renascentista de uniformização estética e disciplina racional do espaço; > permite a hierarquização das diversas ruas (como na Baixa Pombalina , em Lisboa); 31
Elementos morfológicos A QUADRÍCULA > constitui outro elemento importante da forma urbana - a praça; ELEMENTOS PRINCIPAIS DA ESTRUTURA URBANA: • os traçados • as praças > o sistema reticulado estendido uniformemente a todo o espaço urbano sería perigosamente monótono, por isso necessitava de complementaridade de outros elementos: os grandes traçados, tantas vezes, em diagonal, as praças e os largos. 32
Elementos morfológicos a praça: verdadeira criação mediterrânica, italiana e francesa - piazza ou place. a composição urbana clássica apresentará uma perfeita complementaridade entre os três elementos geradores principais: > o traçado retilíneo > a quadrícula > a praça DISTINGUE-SE : “praça” de “recintos espaciais” 33
Elementos morfológicos • Morris: Distingue três categorias de recinto: 1. “os espaços destinados ao tráfego e formando parte da rede principal de vias urbanas, usada tanto por peões como por veículos”; 2. “os espaços residenciais, pensados só para o acesso pelo tráfego local aos edifícios, e com propósitos recreativos”; 3. “espaços pedonais , nos quais é excluido o tráfego rodado”. Esta classificação ressalta as diferenças que o “largo” e a “praça” irão adquirir na estrutura urbana. 34
Elementos morfológicos A praça • é entendida como um recinto ou lugar especial - e não apenas como um vazio na estrutura urbana; • é o lugar público onde se concentram-se os principais edifícios e monumentos - quadro importante da arte urbana; • adquire valor funcional e político-social - e também o máximo valor simbólico e artístico; • é o elemento básico da energia e criatividade do desenho urbano e da arquitetura; • é também cenário, espaço embelezado, manifestação de vontade política e de prestígio; 35
Elementos morfológicos As praças: • podiam ser delimitadas por edifícios públicos, por igrejas ou edifícios religiosos, por filas de habitação ou palácios; • eram lugares de cenário urbano e decoração, suporte e enquadramento de monumentos (obeliscos, estátuas ou fontes); • lugares de vida social e de manifestações do poder; • tinham por vezes razões meramente estéticas: a Place Albertas, em Aix-em-Provence, ou o caso das praças na Rua do Século, no Bairro Alto. 36
Elementos morfológicos • A Place Albertas foi desenhada para servir de enquadramento e “respiração” ao palácio do mesmo nome, sendo apenas uma “fachada” que recobre edifícios cuja profundidade em alguns pontos atinge só 2 a 3 metros. • As praças da Rua do Século são também cenários para os palácios fronteiros. • A Place des Vosges (inicialmente Place Royale) é outro exemplo da conjugação de fins utilitários com a arte: resolveu um programa habitacional e teve logo funções recreativas, sendo afastada do tráfego, num exercício de desenho notável. 37
Elementos morfológicos A fachada: • Itália > nasce a necessidade de ordem visual no espaço, uma das primeiras manifestações do Renascimento, ou, da influência do passado romano. • Sienna > após a conclusão da Câmara (1310 -1344), decretou-se que as restantes construções na Praça do Campo deviam ter janelas semelhantes. > retomava-se uma preocupação que os romanos já haviam manifestado ao unificarem o forum de Pompéia com uma arcada igual que sustentaria edifícios diferentes. Essa preocupação, esquecida na Idade Média é retomada no Renascimento. 38
Elementos morfológicos A fachada dos edifícios > vai autonomizar-se como elemento do espaço urbano, • seja pelo cuidado no seu desenho e organização - como símbolo de prestígio, nobreza e poder • quer como elemento da própria composição urbanística. Os princípios arquitetônicos renascentistas > são aplicados às fachadas como obras pictóricas, na busca do equilíbrio, desenhado através da simetria, proporção e ritmo. 39
Elementos morfológicos A fachada > ostentará uma ordem intelectual • abstrata e métrica no primeiro Renascimento. • sensoriale exuberante no Barroco e no Rococó, autonomizando-se em relação ao próprio edifício, justificando sacrifícios interiores, para que a construção não fuja aos cânones de beleza, proporções e ritmos de estética clássica. Estes princípios nascem da arquitetura erudita e serão assimilados nas construções correntes. Aplicados sistematicamente a vários lotes, conferirão ao espaço urbano grande unidade, produzindo requintados e elegantes conjuntos. 40
Elementos morfológicos A CIDADE CLÁSSICA, RENASCENTISTA E BARROCA: > adquire assim grande unidade estética e visual, pensada como arquitetura em três dimensões. > a urbanística integra o desenho dos edifícios como instrumento da composição urbana, atingindo-se efeitos de grande qualidade, como na Place des Voges, na Baixa Pombalina, na Rue de Rivoli, nos crescents de Bath, ou na Place Vendôme. Nestes exemplos, o desenho urbano prolonga-se pelo desenho das fachadas, admitindo-se que os construtores as respeitem e construam o interior do edifício com perfeita liberdade. 41
Elementos morfológicos Este processo exigia: > um planeamento minucioso e cuidado > e uma autoridade capaz de comandar os construtores, obrigando-os a respeitar regras minuciosas. Tal sistema vai deixar influências: > quando não existe desenho prévio, a utilização repetida de elementos e pormenores construtivos confere unidade estética ao espaço urbano. > os primeiros edifícios das “avenidas” de Lisboa de Ressano Garcia contém uma unidade estética nos processos de construção que suprimem a falta de desenho uniformizador. 42
Elementos morfológicos Estes objetivos perdem-se por completo no século XX, qdo. > a defesa do liberalismo urbano > e da personalidade criativa do projetista, do construtor ou do proprietário se sobrepõe aos interesses superiores da cidade, e quando a gestão urbana se torna medíocre e desprovida de ambição. • Lamas: “o desenho das fachadas, entendido em termos contemporâneos, poderá de novo integrar os planos como meio de disciplina estética da cidade”. “Os planos não podem continuar a ser apenas regras planimétricas de traçado, assim com a cidade não deve ser apenas terreno para construir prédios. Os planos têm (de novo) de ser pensados em termos de arquitetura, da cidade”. 43
Elementos morfológicos Os edifícios singulares: Os edifícios de valor e significação social, política e religiosa vão adquirir grande individualidade e expressão no seu posicionamento urbano. A Câmara Municipal, o palácio, a igreja serão colocados em posição predominante: • fecham lados de praça • e de perspectivas retilíneas • posicionam-se em escorço • e em proeminência A partir do Renascimento, a praça e o traçado irão prover e necessitar de edifícios singulares para o seu desenho, numa conjugação recíproca de efeito cênico e monumental. 44
Elementos morfológicos O quarteirão: A partir do Barroco > atinge maior refinamento. > torna-se uma figura planimétrica, > delimitada por vias, > subdividindo-se em lotes e edificações - cumprindo a divisão fundiária do solo - > e organização geométrica do espaço urbano. 45
Elementos morfológicos O quarteirão • assume formas, dimensões e volumes diferentes, conforme seu posicionamento na estrutura urbana, em duas situações: 1. Como resultado intersticial ou resíduo “ocasional” dos traçados, assumindo formas irregulares; exemplos: os quarteirões das cidades ideais dos arquitetos renascentistas, de Filarete a Cataeno, as cidades novas Naarde, Almeida ou Palma Nuova; os quarteirões do Bairro Alto; os quarteirões resultantes dos traçados barrocos em Roma; ou os quarteirões da Paris de Haussmann. O quarteirão adquire formas irregulares para organizar espaços regulares no tecido urbano, como as praças e as vias. 46
Elementos morfológicos Segunda situação: 2. Corresponde à utilização do quarteirão como elemento morfológico-base, gerador do espaço urbano, por repetição e multiplicação. Exemplos: realizações como a Baixa Pombalina, as cidades novas de colonização anglo-saxônica e francesa na América do Norte, ou de colonização portuguesa e espanhola na América do Sul. O quarteirão é aí um elemento da quadrícula repetível com a mesma geometria e dimensão - seguindo a tradição de Mileto. É uma unidade-base elementar que, por repetição e extensão, formará a cidade. 47
Elementos morfológicos O quarteirão • será sempre ocupado na periferia por construções, podendo variar na capacidade e espaço livre interior. • conforme os casos, o interior permanecerá livre ou ocupado por hortas e jardins (como no Bairro Alto), continuando a tradição medieval de espaço semipúblico; • ou quase desaparece para dar lugar a um “saguão”, como na Baixa Pombalina, em que o quarteirão quase se identifica com o edifício, embora dividido em partes cadastrais; • Em outras situações é o próprio quarteirão que serve para gerar espaços urbanos - como na Place Dauphine, em Paris -, uma praça dentro de um quarteirão; • o quarteirão pode também ser ocupado por um único edifício, palácio, equipamento ou igreja. 48
Elementos morfológicos O quarteirão > torna-se um elemento de composição da cidade, > um sistema a três dimensões, > mais complexo e figurativo do que o simples loteamento Quadrícula e quarteirão > organizam o cadastro e a forma urbana; > tornam-se um meio universal e experimentado de desenho urbano; > e adaptam-se às mais variadas situações morfológicas e topográficas. 49
Elementos morfológicos Os Quarteirões do Bairro Alto: > realizado no Século XVI - por loteamento de uma propriedade fora das muralhas Fernandinas; > é a primeira realização urbanística renascentista em Lisboa. • é um bairro geometrizado; • com estrutura reticular - só de traçados/ruas; • sem praças (certamente pela sua situação fora de portas); • habitado pela nobreza, burguesia e homens do mar; • perto do porto, desafogado em relação à labiríntica Lisboa medieval, torna-se lugar de prestígio habitacional. O Traçado Renascentista: • se desenvolve numa malha N/S e L/O, a qual se desfaz perante os grandes declives e diferenças de cotas e barreiras a Leste. • a regularidade dos traçados define um conjunto de quadriláteros subdivididos em lotes e com logradouros no interior. • os espaços livres servem de descompressão às estreitas ruas de Lisboa, dando respiração à estrutura habitacional; • com simplicidade de traçado, a estrutura do Bairro Alto é já diferente da Lisboa medieval e representou, para época, um grande progresso nas regras de composição espacial. 50
Elementos morfológicos Os Quarteirões da Baixa Pombalina: constitui um marco importante na história do urbanismo clássico > pela dimensão da reconstrução após o sismo; > pelas características do seu plano. Após o terremoto de 1755, a reconstrução de Lisboa coloca um tipo de problema de ordem cultural, na escolha do modêlo de cidade a adotar, e outro de ordem técnica, no que se refere aos processos de construção e à redivisão cadastral. O Plano: de Eugênio dos Santos e Carlos Mardel > organiza o traçado ao gosto da época, + influenciado por um racionalismo iluminista do que pela exuberância do Barroco; > sistema de quarteirões que permite a operação fundiária e a gestão financeira da reconstrução da cidade. • A configuração do quarteirão pombalino é estreito, quase um bloco edificado com um “saguão” ou vazio interior; • regularidade e repetição das fachadas; • estandardização de vãos e elementos construtivos; • altura uniforme dos edifícios c/disciplina arquitetôn. raras vezes obtida. • raro obter unidade completa entre urbanística e construção/cidade e arqui • anuncia as potencialidades do edifício-bloco, gerador da malha urbana. • assimilação do quarteirão ao bloco = sentido de modernidade surge s. XX 51
Elementos morfológicos Espaços Verdes: A evolução e requinte no modo de viver > introduz a árvore na cidade. > a árvore proporciona a invenção de novos tipos espaciais: • o recinto arborizado; • o parque; • o jardim; • a alameda; • o passeio; como espaços de recreio e novas práticas sociais. 52
Elementos morfológicos No período clássico Barroco: > se estrutura a arte da jardinaria como: • um campo específico da arquitetura da paisagem, • e de organização territorial. C/os elementos vegetais - árvore, canteiros, plantas e prados - apoiados em elementos construídos - muros, balaustradas, esculturas - realizam-se grandes composições de domínio da Natureza = atingem qualificação nunca mais conseguidos. A urbanística > adquire novos instrumentos: • ao interland palaciano e urbano, • às florestas de caça, • ao ordenamento do espaço não construído, na utilização dos elementos vegetais e na ampliação do seu território de intervenção. Esta atitude imprime à Natureza os mesmos atributos culturais e estéticos que à cidade, dando-lhe forma e conteúdo cultural e estético, e está na gênese da manipulação da paisagem como objeto estético. 53
Elementos morfológicos Outras Tipologias: As invenções inglesas do séc. XVIII e início do séc. XIX: > registram o aparecimento de outras tipologias urbanas, como - o Crescent, o Circus experimentados no plano de Bath, e o Square. O crescent: > banda de edifícios ou palácios, dispostos em semi-circulo, cuja fachada principal se abre sobre um parque ou jardim. • A fachada principal: > é um desenho repetitivo nos projetos para Bath (como no Queen Square), constitui uma imposição obrigatória para todos os construtores. 54
Elementos morfológicos • A forma básica do crescent: > é semi-elíptica, > de 155 metros no eixo maior, > abrindo-se sobre um prado e um pequeno bosque mais adiante. > uma via no limite do prado serve as fachadas, enquanto, a outra, > nas traseiras, assegura o serviço dos bens. • Elementos compositivos do crescent: > os edifícios, o prado e a zona verde. 55
Elementos morfológicos O Circus: • é um recinto espacial de forma rigorosamente circular. • é um recinto com jardim central. O Square: • não é uma praça própriamente dita • é um jardim ou pequeno parque delimitado por construções nos quatro lados. • pode-se encontrar sua origem na Place des Voges, construída em Paris no final do século XVI. • sua utilização no urbanismo anglo-saxônico do século XIX e na Paris de Haussmann propiciará uma resposta de conforto ambiental e formas de vida urbana, atenuando as densidades excessivas. 56
Elementos morfológicos O crescent, o circus ou o square: • serão sistemas complexos de construção e áreas verdes ligados à burguesia e aristocracia inglesa, a que o estilo clássico e a utilização das lições de Palladio vem emprestar um notável requinte arquitetônico. • Poderia situar-se aqui o inicio da “destruição” do quarteirão, não fora a persistência das relações entre edificio/fachada/espaço urbano, e não fora a falta de continuidade e evolução destes modelos. 57
Conclusão Sistema de grande coerência constituído por: • traçados retilíneos • quadrículas • praças • monumentos • zonas arborizadas • espaços urbanos definidos por edifícios e suas fachadas. A utilização e combinação sistemática destes elementos perdurará com variações durante todo o século XVIII e pelo século XIX, até o advento da cidade moderna. 58
Conclusão O desenho urbano clássico: • não excluía também a invenção de engenhosas situações espaciais, • explorando as condições topográficas e acidentais do território e • utilizando-as para obter formas de grande significação. Exemplos: • A escadaria que une a Piazza di Spagna à igreja da Trinitá dei Monti, • o traçado curvo da Calçada de S. Francisco, em Lisboa, • ou o posicionamento das igrejas açorianas sempre elevadas em relação ao traçado, criando um adro. São alguns exemplos. 59
Conclusão • No Cours Mirabeau, em Aix-en-Provence, é com um espaço corredor (o corso - o cours) arborizado que será resolvida a ligação entre duas áreas distintas: > A cidade medieval irregular e > O quartier Mazarin (séculos XVI e XVII), de quadrícula geométrica e com praça central. 60
Conclusão A composição da cidade: Em quase todas estas situações, irá atender a alguns princípios de desenho essenciais para a determinação da forma urbana : • A simetria que condiciona a distribuição funcional do programa e das massas construídas, de modo a constituir uma composição equilibrada em relação a um ou mais eixos e planos. • A subordinação da composição urbana aos efeitos espaciais e às perspectivas. Esta será mais do que um elemento técnico de representação espacial - tornando-se objetivo da própria concepção, comandando o desenho urbano. 61
Conclusão • A perspectiva fechada através do monumento ou edifício isolado. Sixto V, em Roma, marca os pontos de fuga das vias - e assinala o centro da praças e espaços públicos com obeliscos e monumentos. O monumento deixa de ser apenas um marco social, político e cultural, para constituir também parte integrante do desenho urbano. • Integração e subordinação dos edifícios a um conjunto urbanístico projetado como um todo. Cada edifício subordina-se à regra do conjunto, embora possa conservar a sua individualidade. 62
Conclusão • Este conjunto de princípios irá perdurar no urbanismo europeu até o século XX. • O período barroco será mais marcante, pelas suas vastas realizações, pela influência decisiva que terá na cidade burguesa dos finais do século XIX, como na Paris de Hausssmann ou na Barcelona de Cerdá. • Mais tarde, na Urbanística da escola francesa do início de Novecentos, se encontrarão fortes heranças do Barroco. • Até hoje na atualidade muitos arquitetos detém fortes referências desse período. • Ainda aqui são inegáveis as contribuições do Barroco para as cidades onde vivemos, nelas propiciando benefícios de uma estética e cenário urbanos inigualáveis. 63
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