MINISTRIO DA DEFESA EXRCITO BRASILEIRO COLGIO MILITAR DE
MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO COLÉGIO MILITAR DE CURITIBA
Reinos africanos na Era Cristã
A Escravidão na África No século XVI, o continente africano era habitado por povos de diferentes etnias, organizados de diferentes maneiras. Naquela época e local, uma pessoa poderia ser escravizada se: • cometesse um crime; • praticasse adultério; • raptasse uma criança; • não pagasse uma dívida; • fosse prisioneira de guerra. Dependendo da localidade, os escravos poderiam ser bem tratados e bem recebidos por seus senhores ou serem castigados e até mortos por eles.
A Chegada dos Portugueses A escravidão na África foi intensificada a partir do século XV, quando os portugueses começaram a explorar a costa e levar africanos escravizados para vender na Europa. A grande diferença da escravidão posta em prática pelos europeus e a existente na África era a visão comercial: para os europeus, os cativos eram uma mercadoria que podia ser comprada a baixo custo e vendida a um preço elevado, gerando lucro. Feitoria portuguesa em Uidá, atual Benin, na África. Observe a quantidade de navios destinados ao comércio.
A Chegada dos Portugueses As pessoas escravizadas na África que eram trazidas para as Américas vinham destinadas a trabalhar na agricultura. No caso da colônia portuguesa, após 1530, quando começou a produção de açúcar para a Europa, o número de escravos comprados aumentou muito. Com isso, o comércio de pessoas traficadas da África para a América se tornou um dos negócios mais rentáveis da época. Esse comércio modificou as relações entre os povos africanos, estimulando conflitos entre eles para que os chefes de aldeia e governantes fizessem prisioneiros para vender aos traficantes. As pessoas escravizadas eram levadas aos portos e trocadas por dinheiro ou mercadorias. Desenho do século XVIII representando um europeu em um mercado público de escravos.
Cruzando o Atlântico Os escravizados eram levados para a América em navios de transporte, nos quais os africanos ficavam em situações degradantes. Ilustração de um navio negreiro, do livro Notícias do Brasil, 1828 -1829.
Cruzando o Atlântico De forma geral, as condições da viagem eram as seguintes: • os escravizados eram obrigados a viajar nos porões; • os homens eram separados das mulheres e crianças; • as pessoas eram amontoadas umas sobre as outras, com as mínimas condições de higiene e alimentando-se somente de legumes secos e mandioca; • o número variava entre 200 e 700 pessoas traficadas por navio; • para aumentar o número de escravizados a serem vendidos (e com isso o lucro), os europeus diminuíam a quantidade de água e comida para o transporte; • as viagens duravam entre 35 e 70 dias, dependendo da origem e do destino. • a taxa de mortalidade de africanos durante as viagens variava entre 10 e 20%.
Na Colônia Portuguesa Ao desembarcarem na colônia, os africanos eram vendidos em leilões públicos ainda no porto. Nos leilões, famílias eram separadas e destinadas a donos diferentes. Muitas delas jamais se viram novamente. Comércio de escravos no Rio de Janeiro ilustrado pelo artista francês François-Auguste Biard, século XIX.
Uma Vida de Privações Inicialmente, os escravizados foram destinados ao trabalho agrícola, condução de animais e ao trabalho doméstico. No século XVIII, muitos foram destinados também à mineração. Na fase final da escravidão surgiram os escravos de ganho: cativos que trabalhavam nas cidades prestando serviços como sapateiros, barbeiros, vendedores ambulantes, carregadores, etc. Os escravos de ganho pertenciam a um senhor, mas podiam prestar serviços a outros senhores. Eles tinham direito de ficar com uma parte do pagamento pelos serviços prestados e, com isso, conseguiam comprar sua própria liberdade.
Uma Vida de Privações Largo da Glória (1821), pintura do inglês Henry Chamberlain representando uma rua com escravos de ganho trabalhando.
Uma Vida de Privações As condições de vida dos escravos variavam de uma região para outra, mas em geral eles eram submetidos a trabalhos pesados e total desamparo social. Era comum, após um dia de trabalho, os escravos serem trancados em senzalas ou porões. As senzalas eram prisões que serviam de moradia aos cativos. Era um único espaço aberto, sem privacidade, com número de homens maior do que de mulheres. A fuga era difícil, pois só havia uma porta de saída. Antiga senzala do século XVIII na Casa dos Contos, Ouro Preto (MG).
As Condições de Trabalho As jornadas de trabalho dos escravos podiam chegar a 18 horas. Nos engenhos de açúcar, os cativos trabalhavam muitas horas sob o sol e sofriam diversos acidentes provocados pelas ferramentas utilizadas no corte da cana. Nas minas, eram obrigados a trabalhar dentro da água por horas e expostos a temperaturas frias no inverno. Por essa razão, muitos morriam de pneumonia. Extração de diamantes, aquarela de Carlos Julião,
A Luta por Dignidade Os cativos também sofriam no Brasil diferentes formas de violência urbana: eram amarrados uns aos outros com correntes para não fugir e recebiam castigos físicos se o senhor achasse que estavam trabalhando pouco ou lentamente. Se tentassem fugir ou se rebelar, eram amarrados em pelourinhos ou troncos de árvores e chicoteados. Os escravizados reagiam e resistiam à sua condição. As formas de resistência variavam desde a diminuição no ritmo de trabalho, quando não eram vigiados, até a destruição de máquinas ou ferramentas e incêndios nas plantações. Muitos escravizados, em desespero por sua condição, chegavam a cometer suicídio e mulheres a abortar filhos propositalmente para que eles não nascessem escravos.
A Luta por Dignidade Uma das principais formas de resistência da população escrava era a fuga. Fuga de escravos, pintura de François-Auguste Biard, 1859.
Quilombos e Revoltas Os quilombos eram aldeias criadas em locais de difícil acesso onde os cativos fugidos procuravam reconstruir a vida que tinham antes de serem escravizados. O Quilombo dos Palmares foi o principal deles. Localizado na serra da Barriga, entre Pernambuco e Alagoas, ele durou cerca de cem anos e chegou a ter entre 20 e 30 mil quilombolas. Reconstituição de moradias semelhantes às existentes no Quilombo dos Palmares durante o século XVII.
Quilombos e Revoltas As fugas de africanos escravizados e a formação de quilombos marcaram os cerca de trezentos anos de escravidão no Brasil. Para conseguir recuperar o capital investido e evitar a formação de novos quilombos, no século XIX os senhores de escravos publicavam as fugas em jornais locais e ofereciam recompensas pela recaptura. Anúncio de fuga de escravos publicado no jornal Correio Paulistano na década de 1880.
Quilombos e Revoltas A resistência à escravidão também se deu por meio de rebeliões. A rebelião mais importante foi a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador em 1835. Na ocasião, durante dois dias inteiros, africanos e afrodescendentes entraram em confronto com policiais e militares. A preservação da cultura de origem também representava uma forma de resistência, por isso os africanos e seus descendentes tentaram manter práticas religiosas, hábitos, costumes e até a língua de origem como forma de se opor à opressão. Coroação de um rei nos festejos de reis, aquarela de Carlos Julião, 1776. As festas religiosas eram uma das formas encontradas de manter os laços culturais africanos.
Zumbi Ontem e Hoje O Quilombo dos Palmares foi criado em 1590, na capitania de Pernambuco. Seu principal líder foi Ganga-Zumba, que fortaleceu Palmares ao criar uma confederação com outros quilombos da região. Após sua morte, o quilombo foi comandado por Zumbi. Sob a liderança de Zumbi, o quilombo resistiu a ataques por décadas. Em 1694, o quilombo foi destruído por tropas militares comandadas pelo paulista Domingos Jorge Velho. Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695, data em que anualmente comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. Representação de Zumbi em pintura de Manuel Vitor Filho, século XX.
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