MAX WEBER AULA 2 Flavio Thales Ribeiro Francisco
MAX WEBER – AULA 2 Flavio Thales Ribeiro Francisco
Teoria de dominação ■ Teoria da Dominação, Max Weber (1864 -1920) busca compreender o princípio da autoridade (Herrschaft). Este tema é desenvolvido, principalmente em duas de suas obras: Economia e Sociedade e Metodologia das Ciências Sociais. ■ Em ambas, Weber busca estabelecer uma tipologia para as ações sociais que caracterizam as relações de poder em sociedade. Nosso estudo se centrará principalmente na segunda obra. Para ele a dominação se baseia, sobretudo, na probabilidade de se obter obediência a um determinado mandato
Uso de tipologias ■ Em sua abordagem compreensiva (Verstehen), nosso autor se utiliza da construção tipológica como meio para o entendimento dos fenômenos da sociedade. ■ É preciso salientar que este procedimento, de estabelecer tipos formais para refletir as relações humanas na é uma novidade no pensamento alemão, tendo sido empregado pro exemplo por Hegel, na Fenomenologia do Espírito e principalmente por Friedrich Nietzsche, em muitas de suas obras.
Tipos puros de dominação legítima ■ No pensamento sociológico weberiano existe uma tipologia das relações de poder. Embora nosso autor aponte uma única definição de dominação, isto não significa que ela se restrinja a uma única forma. ■ Existem para Weber três formas clássicas de dominação. Estas formas são por ele denominadas de tipos puros de dominação legítima. Na filosofia política encontramos a idéia de legitimidade como um sinônimo de aceitação.
Se prescinde do uso da força, é legítimo ■ Todo poder ao se instituir, necessita da aceitação do povo ao qual se dirige isto se quiser prescindir do uso da força. Onde há a necessidade da força, há ausência ou declínio da legitimidade. ■ É relevante destacar que esta tipologia nos remete em um primeiro plano ao Estado e à sociedade política, mas sua aplicabilidade também é válida para os pequenos grupos e mesmo para o universo empresarial.
Os três tipos puros de dominação de Weber ■ Os três tipos puros de dominação propostos por nosso autor são: dominação legal, dominação tradicional e dominação carismática. Devemos destacar que na realidade, muito provavelmente, tipos puros não sejam encontrados. Estes representam um recurso heurístico empregado pelo cientista social para poder tomar como parâmetro de sua análise. ■ Estes tipos heurísticos são modelos que pretendem expressar casos extremos, que tenham como propósito a revelação de determinados processos ou mecanismos da vida em sociedade. Os tipos ideais weberianos não são um fim, mas um meio de interpretação, uma construção ou modelo interpretativo, com a pretensão de captar determinados aspectos da vida social em um determinado tempo. Vejamos agora cada um deles.
Dominação Legal ■ No sistema taxonômico proposto por Weber, para expressar as formas da legitimidade do poder, encontramos em primeiro lugar a dominação legal. ■ Com esta denominação o autor pretende descrever as relações de poder mais característica do Estado e da Sociedade Moderna, incluindo aí suas complexas e numerosas instituições. ■ Segundo ele, a forma mais pura da dominação legal é a burocracia
Dominação Legal ■ Neste tipo de dominação, também denominada de burocrático-legal, está descrita a situação de poder característica dos Estados Modernos e também a descrição do quadro administrativo das grandes corporações empresariais, nas quais os dirigentes são eleitos ou nomeados para o exercício específico de um cargo. ■ Este, por sua vez está sujeito a regras que instituem tanto as atribuições e limites do poder estabelecido, como também as regras de sucessão, eleição e nomeação. Estas regras, possuindo o caráter heterônomo e heterocéfalo, não são estabelecidas por aquele que exerce o cargo ou função. Por isso se diz, dominação legal e não autocrática.
Dominação tradicional ■ A segunda forma de dominação é a do tipo tradicional. Para Weber a forma mais pura deste modelo de dominação é o Patriarcal. ■ É importante notarmos que no continente Europeu esta forma este em vigência por ao menos um milênio. Se a dominação burocrática, fundada na lei é típica do ordenamento do Estado moderno, os governos tradicionais são típicos do feudalismo. ■ Sua forma de associação dominante é a comunitária. A dominação tradicional fundamenta sua legitimidade nas noções de fidelidade, santidade da tradição e na dignidade que dela emana.
Tipos de dominação tradicional ■ Aos modelos de dominação propostos na teoria weberiana circunscrevem modelos de ordenamento sociais equivalentes. ■ No caso da dominação tradicional, Weber irá subdividi-la em duas formas: a estrutura puramente patriarcal e a estrutura estamental.
Dominação patrimonial e estamental ■ No primeiro caso o recrutamento dos servidores ocorre na dependência direta do senhor, que escolhe e designa ao seu critério aqueles que lhe servirão. Weber considera um bom exemplo de dominação patrimonial o sultanato, que engloba tanto servidores plebeus escolhidos quanto escravos. ■ A diferença fundamental entre os sistemas tradicionais do tipo patriarcal e estamental é que no segundo tipo os servidores possuem uma independência relativa em relação ao senhor. Neste caso, os cargos exercidos usufruem de uma posição de poder própria, não sendo passível de arbitrária destituição. ■ Para ilustrar podemos ter como referência os sistemas nobiliárquicos, onde os nobres vassalos, embora devendo obediência ao seu suserano, retém um status próprio independente. Na França, antes da queda da Bastilha, era comum a venda de cargos, concessões e até mesmo magistraturas.
Dominação Carismática ■ O terceiro tipo de dominação nomeada por Weber é aquela fundada nos atributos pessoais, ou na crença em tais atributos por parte dos que se submetem ao poder do líder. ■ Notamos que se na primeira forma de dominação havia um único modelo se aplica a muitos casos (empresas privadas, serviços públicos, Estado, municípios e outras formas de associação) e no tipo de dominação tradicional há duas formas básicas (patriarcal e estamental). ■ No modelo de dominação carismático haverá uma complexidade bem maior, embora de fácil compreensão, pois deriva de um atributo essencial: a crença dos subordinados nos dons e capacidades extraordinárias, ou até mesmo sobrenaturais, por parte daquele que exerce o poder.
Tipos de dominação carismática ■ Seus tipos mais puros são a dominação do profeta, do herói guerreiro e do grande demagogo. A associação dominante é de caráter comunitário, na comunidade ou séquito. O tipo que manda é o líder (. . . ). O quadro administrativo é escolhido segundo seu carisma e vocação pessoais e não devido à sua qualificação profissional (. . . ) falta aqui o conceito racional de competência assim como o estamental de privilégio (. . . ). ■ A administração (. . . ) carece de qualquer orientação dada por regras, sejam elas estatuídas ou tradicionais. São características dela (. . . ) a revelação ou a criação momentâneas, a ação e o exemplo, as decisões particulares, ou seja, em qualquer caso (. . . ) o irracional. (WEBER, 2001; p. 134 -5)
Dominação e estrutura política ■ No caso da dominação legal, o líder eleito ou nomeado decresce sua legitimidade ao descumprir as regras que delimitam suas atribuições, tais como a impessoalidade. Nos regimes burocráticos aqueles que exercem o poder também devem se submeter a regras. ■ Na dominação tradicional a mudança nos costumes, valores e tradições da sociedade são uma ameaça a continuidade do poder, por outro lado os líderes tradicionais também devem seguir rigorosamente aquilo que os costumes estabelecem ■ Por outro lado, o poder carismático está ameaçado por fatores tão irracionais quanto é a natureza do seu poder. Weber descreve esta situação de declínio da liderança carismática nos seguintes termos: “quando é abandonado pelo seu deus ou quando decaem a sua força heróica ou a fé dos que crêem em suas qualidades de líder, então seu domínio também se torna caduco” (WEBER, 2001; p. 135).
Weber aristocrático? ■ Mommsen ressalta que a sociologia política de Weber confere uma ênfase especial ao papel dos líderes (dominantes) em detrimento do comportamento da massa (dominados). Isso se deve, segundo Mommsen, à presença de um traço aristocrático na formação intelectual de Weber.
Definição de Estado ■ “O Estado aquela comunidade humana que, dentro de determinado território – este, o ‘território’, faz parte de suas características – reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima”
Sociologia política weberiana ■ A sociologia política weberiana é uma sociologia da dominação, que considera a força e a violência como momentos essenciais do processo político e da própria existência e funcionamento das instituições políticas.
Estado é resultado de ações dos indivíduos ■ Nesse contexto, o Estado era apresentado como uma forma social não individualizável, ou seja, não como um ente e sim como um feixe de ações protagonizadas por indivíduos. ■ A constelação das ações individuais daria origem, para ele a formações sociais mais ou menos estáveis, que não poderiam ser reconduzidas novamente às ações originais
Sociologia da dominação ■ Poder e dominação são os conceitos primeiros dessa sociologia da dominação e aqueles a partir dos quais se tornava possível a reconstrução do conceito de Estado. Para Weber (1999, v. 1, p. 33), o poder (Macht) “significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências”. Tal conceito seria, entretanto, pouco útil para a análise das relações sociais, uma vez que todo indivíduo poderia pôr outro em uma situação na qual este último seria obrigado a aceitar sua vontade. ■ Em uma relação entre empregador, ambos teriam, por exemplo, em situações diversas, poder para fazerem valer suas vontades no mercado de força de trabalho sem que fosse possível determinar de antemão qual das partes prevaleceria.
Situação de dominação ■ A situação de dominação seria, então, aquela na qual uma ou várias pessoas encontram-se em condições de mandar eficazmente em outras. O conceito de dominação seria, assim, idêntico ao conceito de “poder de mando autoritário” (Weber, 1999, v. 2, p. 191). ■ O caráter equívoco do conceito de poder é suprimido pelo conceito de dominação, uma vez que este implicaria uma probabilidade e, portanto, permitiria prever em dada relação qual das partes conseguirá impor sua vontade.
Funcionamento da associação ■ O traço distintivo da associação de outras formas de relação. Que nestaria presente, e seria facilmente identificável, um dirigente ou um quadro administrativo em condições de “pôr em prática a ordem da associação” (cf. Mommsen, 2000, p. 375). ■ A distinção e especialização de funções administrativas responsável pela preservação de uma determinada ordem articula -se, desse modo, a uma hierarquia dos Indivíduos no interior de uma relação social.
Da associação para o Estado ■ Uma associação política é espacialmente definida e delimitada. A relação de dominação que ela encerra tem um lugar em um território definido em certo momento. Desse modo, todos os que se encontram dentro desse território estão submetidos à ordem que é própria dessa associação. ■ A existência de um território definido não implica uma condição de imutabilidade. As fronteiras desse território podem não ser fixas nem precisas, ou podem mesmo encontrar-se em constante mutação, como ocorre com tribos nômades. ■ O importante é que, em cada momento, exista um território sobre o qual a associação se estende e que permita definir quem está dentro e quem está fora dela;
Exército ■ embora sejam elementos básicos de todas as associações políticas, a capacidade e a disposição para o uso da força não são condições exclusivas destas. ■ A defesa do território pode ser divida entre várias comunidades familiares ou de vizinhos, ou podem mesmo formar-se comunidades de guerreiros com o único objetivo de repelir uma ameaça externa. ■ O que define a associação política é que sua capacidade e disposição para o uso da força não é eventual, ela encontra-se permanentemente organizada com esse propósito e exerce essa capacidade sobre um território. Tal capacidade reside em um poder próprio da associação que não pode ser decomposto no poder de suas partes.
Força das associações (Estados) ■ Não há, por definição, nenhuma atividade humana que não possa estar condicionada por normas e regulamentos amparados no uso da força ou na ameaça de utilizá-la. ■ A capacidade e a disposição de uso da força física fazem com que a associação política vai além dos limites da “associação econômica” e estenda seu domínio sobre as demais esferas da vida, inclusive aquelas de âmbito privado, como as relações entre marido e esposa, pais e filhos.
O papel do Estado Para Max Weber, a empresa estatal racional e a empresa econômica racional germinaram no mesmo solo – o Ocidente –, e, por isso, partilharam de uma história comum. O nexo estabelecido nessa análise entre o florescimento da moderna empresa capitalista e o desenvolvimento do Estado moderno é muito forte. Segundo o sociólogo, o empreendimento capitalista necessitava, para prosperar, que o Estado repousasse sobre um funcionalismo especializado e um direito racional, que não tiveram lugar no Oriente. Desse modo, a tendência ao progresso da economia em direção às formas modernas da empresa racional foi acompanhada de uma tendência ao progresso da política em direção às formas modernas do Estado racional.
Características do Estado moderno ■ No Estado moderno, o quadro administrativo estaria separado dos meios de administração – dinheiro, prédios, material bélico etc. –, tornando viável uma administração impessoal da ordem pública. ■ A associação política moderna se diferenciaria da associação política estamental à medida que, nesta última, os meios administrativos materiais estivessem total ou parcialmente nas mãos do quadro administrativo.
Estado eficiente ■ A capacidade dirigente e empreendedora que caracterizariam tanto o homem de negócios como o homem de Estado (político) não se encontraria presente no funcionário da administração pública. ■ Enquanto este, tanto na empresa como no Estado, agiria de acordo com regras previamente estabelecidas, as quais está obrigado a seguir independentemente dos resultados desta ação, o dirigente político ou econômico agiria sempre com vistas à obtenção do melhor resultado possível.
Estado enquanto dominação de homens sobre homens ■ O Estado seria, assim, uma “relação de dominação de homens sobre homens” (cf. Weber, 1999, v. 2, p. 526), relação esta que estaria apoiada no monopólio dos meios de coação legítima. ■ A questão da legitimidade torna-se fundamental, já que apenas ela seria a garantia última da subsistência de uma associação política. A força e a violência são essenciais na vida política, segundo Weber. ■ Para o sociólogo alemão, de fato, o poder é vontade de potência, mas os sistemas de dominação nos quais o poder se afirma necessitam ser legítimos para serem duráveis. Não há dominação estável sem legitimação e, portanto, sem o reconhecimento daqueles que são dominados
Estado e poder ■ Portanto, a noção de política é indissociável do poder do Estado. Assim é necessário esclarecer a noção de Estado na sociologia weberiana. Para Weber a característica básica do Estado é seu meio específico, o monopólio legítimo da coação física. ■ Todo Estado dispõe da possibilidade de exercer a coação física, sendo o agrupamento político dirigente, que submete uma comunidade humana a sua dominação dentro do território onde é vigente. Além da coação física o Estado possui um poder centralizado e um aparato burocrático administrativo que propiciam o exercício da dominação.
A burocracia é inevitável ■ Reinhard Bendix lembra que, segundo Weber, a população governada por uma burocracia não pode dispensá-la ou substituí-la. A administração burocrática é permanente e indispensável para a vida política moderna. Para Weber a burocracia permanece em qualquer ordem social, capitalista ou socialista. ■ Bendix ressalta que com esse argumento, Weber contraria os anarquistas e os socialistas, os quais defendiam uma ordem social totalmente livre de toda forma de dominação. ■ Para Weber a impessoalidade, a rapidez, o registro documental conferem à burocracia uma superioridade técnica para administração pública ou privada. Essa superioridade se traduz em aumento de confiabilidade e calculabilidade.
Medo e esperança ■ Weber afirma que os súditos se submetem à dominação, também, em função do medo e da esperança. Temem ser punidos ao contrariarem as forças dominantes e esperam ser recompensados, de algum modo, pelo poder vigente. ■ Chamo a atenção para o fato de que a legitimidade do poder político é fruto de estímulos culturais e psico-sociais. A tradição, o carisma e a legalidade são condições sócio-culturais dominantes as quais o político deve compreender, para conquistar a legitimidade enquanto senhor ou líder. ■ O medo e a esperança são disposições psico-sociais que o político deve saber despertar em seus eleitores nas ocasiões convenientes, a favor de sua eleição e da sua manutenção no poder. Nesse aspecto a política é a arte de construir imagens do mundo na consciência coletiva, para que a ação da massa tome a direção desejada por aqueles que a dominam
A origem dos políticos ■ Em Política como vocação, Weber argumenta que no Estado moderno surgem os políticos profissionais. ■ Trata-se de uma categoria que inicialmente se coloca a serviço dos príncipes não apresentando ambição de se transformarem em senhores, mas empenham-se na luta política para garantir a legitimidade dos príncipes no poder estatal e a realização de suas ordens. ■ Weber ressalta que isso só ocorreu no ocidente, onde a categoria encontrou remuneração e conteúdo moral para sua ação, oferecendo dedicação exclusiva à atividade política.
Política e vocação ■ Há duas formas de exercer política. Pode-se viver para a política ou pode-se viver da política. ■ Nada há de exclusivo nessa dualidade. Até ao contrário, geralmente se faz uma e outra coisa simultaneamente (. . . ) Quem vive para política a transforma no objetivo de sua vida, seja porque encontra forma de gozo na simples posse do poder, seja por achar equilíbrio interno e exprimir valor pessoal colocando-se a serviço de uma causa que da significação sua vida. ■ Nesse sentido, todo homem que vive para uma causa vive também dela. . .
O papel dos partidos políticos ■ Os políticos profissionais, no entanto, não atuam sós, de modo independente. Weber lembra que a luta política é o espaço ocupado por partidos, isto é, associações de pessoas com ideais políticos comuns ou unidos em busca do poder e de cargos. Weber deixa claro que os partidos vivem sob o signo do poder. ■ “Denominamos partidos relações associativas baseadas em recrutamento (formalmente) livre com o fim de proporcionar poder a seus dirigentes dentro de uma associação e, por meio disso, a seus membros ativos, oportunidades (ideais ou materiais) de realizar fins objetivos ou de obter vantagens pessoais, ou ambas as coisas”
Conquista de votos ■ Seus meios de alcançar o poder podem ser variados, indo desde a violência pura e simples, de qualquer espécie, à cabala de votos através de meios grosseiros ou sutis: dinheiro, influencia social, a força da argumentação, sugestão, embustes primários , e assim por diante, até as táticas mais duras ou mais habilidosas de obstrução parlamentar
Dimensão do idealismo na política ■ Apesar de indicar um predomínio de uma racionalidade na esfera política, Weber indica que essa esfera não se resume necessariamente a um mercado eleitoral. ■ A política moderna reserva um vasto espaço para valores e ideais o que impede que o perfil do político seja reduzido à simples busca da obtenção do poder ao modo maquiaveliano. ■ Sendo assim Weber faz recomendações à ação política. O político deve agir com paixão na defesa de suas causas, com responsabilidade e senso de proporção, o que implica em calma interior, capacidade de distanciamento dos homens e das coisas. Além disso, Weber alerta que os políticos devem controlar a vaidade pessoal, pois essa é um inimigo fatal.
Política e religião ■ A política é uma atividade calculista, pois seus agentes buscam a manutenção e expansão do poder. Nesse sentido a atitude política é isenta de emoção e fraternidade. Quanto mais objetiva e calculista é a política, e quanto mais livre de emoções apaixonadas, de ira e de amor, mais distante estará de uma ética religiosa de amor fraterno. ■ A tensão entre religião e política surgiu com vigor quando apareceu a ideia de um deus universal do amor fraternal. Quanto mais racional se tornou a política mais intensa foi a tensão. O aparato burocrático estatal é regido pelas regras racionais que eliminaram de seu interior relações patriarcais e exigem objetividade nas ações por parte do homo politicus. ■ Com isso, eliminou-se da atividade política, sentimentos, como, amor, ódio e piedade. Assim a política se torna, cada vez mais, avessa à moralização.
O religioso no político ■ O fundamental na interpretação de Collins da sociologia política weberiana é a evidencia de que o Estado para legitimar-se no interior de suas fronteiras deve ser capaz de produzir significados emocionais para a população, introjetando nas consciências uma regulação ideológica tão eficiente quanto à ameaça da coação física. ■ Nesse caso, Collins deixa claro que a religião é uma das alternativas mais eficazes como meio de legitimação política. Como prova disso, o autor ressalta um traço religioso nas grandes ideologias políticas modernas, a reivindicação de validade universal, traço típico nas grandes religiões mundiais que se manifestam também nas ideologias políticas mais fortes da história. ■ O Jacobinismo, o Liberalismo e o Comunismo, são movimentos políticos seculares e laicos que mantêm traços comuns com a religiosidade e buscam produzir, assim como a religião, sentimentos para massa que sejam viáveis a um projeto coletivo.
Nação e religião ■ Para Collins, a política atinge uma expressão máxima de religiosidade no nacionalismo, uma forma de moralismo, despertado por símbolos ideológicos, que desencadeia o sentimento de solidariedade entre membros da nação em torno de suas aspirações expansionistas. ■ As políticas nacionalistas envolvem um poder emocional entre os cidadãos e seus líderes políticos. ■ Para Weber o sentimento de solidariedade nacional pode ser fruto de vários fatores que sejam comuns aos membros da nação como credo religioso, idioma, etnia, eventos políticos e até mesmo guerras.
Nacionalismo e legitimação ■ Collins indica que o nacionalismo está associado à legitimação, quanto maior o nacionalismo, maior será o grau de legitimação do Estado. Nessa interpretação o nacionalismo é a essência da legitimidade do Estado.
Posições políticas de Weber ■ O funcionário burocrático age submetido a normas e o político age de acordo com sua própria convicção, o que é para Weber era fundamental para condução política. O dilema Alemão consistia na extensão da burocracia até a cúpula do executivo que foi, assim, asfixiada. ■ Diante desse dilema da política alemã, referente ao desequilíbrio entre as formas de dominação, Weber se posiciona em defesa da democracia parlamentar, sistema propício para formação e manifestação de líderes carismáticos capazes de exercer uma forma de cesarismo limitado pela legalidade. Para Weber a democracia parlamentar se adequava à realidade das sociedades de massa.
Posições políticas de Weber ■ Anthony Giddens ressalta que a democracia, para Weber, não poderia estar desvinculada de uma considerável fundação parlamentar, pois a ausência de um parlamento fiscalizador poderia levar a um autoritarismo desenfreado. ■ Por outro lado, o parlamento deveria ser constituído através do voto universal, o que evita o domínio excessivo da burocracia e garantiria a emergência de líderes de massa.
Ciência e especialização ■ Weber indica como marca da ciência moderna a burocratização e a especialização. O autor afirma que o instituto de ciência assemelhouse a uma empresa capitalista. ■ Esses institutos necessitam de grandes quantias de recurso financeiro para a própria manutenção e se caracterizam pela proletarização do intelectual, pois, esse fica, como qualquer trabalhador, privado dos meios de produção, além de estar submetido a um superior na hierarquia da instituição, assim como um proletário ao seu patrão. ■ Weber lembra que, na ciência, o indivíduo só alcança êxito com rigorosa especialização. Esse fenômeno traz consequências para realidade, pois um especialista é um ignorante ao se confrontar com a diversidade da realidade.
Exemplo de especialização ■ Desse modo o papel da ciência e da racionalização crescente não significa que o indivíduo está dotado de maior conhecimento, mas sim, que estão disponíveis explicações científicas e racionais para quase todo fenômeno e assim o individuo sabe que não há poderes místicos ou sobrenaturais interferindo na vida, pois há possibilidade de domínio por meio da previsão. ■ O homem que embarca no trem não sabe como o trem funciona, mas sabe que o trem não é movido por forças mágicas, sabe também que o trem obedece a um percurso previsível com uma lógica de funcionamento previsível. ■ Weber afirma que isso é o mesmo que despojar a magia do mundo, o selvagem que ainda acredita na existência de poderes sobrenaturais apela para métodos mágicos para interferir na realidade, já o civilizado deve recorrer à ciência, porém nunca dominará todo conhecimento enquanto indivíduo, pois, para cada caso, há um especialista
Ciência não traz sentido à vida ■ Qual o sentido da ciência? A ciência traz sentido à vida? Weber recorre a Tolstoi para responder a tais questões afirmando que a ciência não tem sentido e nem traz sentido à vida, pois ela não permite responder às indagações mais relevantes, isto é, o que devemos fazer? Como devemos viver? ■ A resposta a essas questões não são dadas pela ciência. Sentido para vida só se dá no campo da moral, da ética, da religião, da arte e até da política, mas não no da ciência, pois, doação de sentido depende de valoração, o que a ciência não pode fazer.
Ciência pela ciência ■ Assim, se questionarmos qual a posição pessoal do homem de ciência frente a sua vocação, fica entendido que a ciência se justifica em si mesma, o conhecimento é buscado pelo conhecimento, pela vontade de conhecer do pesquisador. ■ Weber argumenta o seguinte sobre o cientista: “ele que se dedica à ciência pela ciência e não apenas para que da ciência possam outros retirar vantagens comerciais ou técnicas ou para que os homens possam melhor nutrir-se, vestirse, iluminar-se ou locomover-se. ”
■ Raymond Aron analisa os textos de Weber sobre ciência e afirma que o cientista é aquele que enuncia proposições factuais, relações de causalidade e interpretações compreensivas. ■ Desse modo, Aron afirma que a ação científica é uma ação racional com relação a um objetivo, isto é, a verdade, seja essa qual for.
Ciência e Política ■ A ciência pode contribuir para o esclarecimento do agente político na tomada de decisão, mas sem despertar valores e paixões, de modo estritamente racional com relação a fins. Se o objetivo primordial da política é à obtenção e manutenção do poder estatal, a ciência pode indicar os meios mais eficazes, em cada caso, para obtenção desse fim. ■ Se um Estado encontra-se em guerra contra outro Estado, a ciência pode indicar as armas e as técnicas mais eficazes para o combate. ■ Se uma comunidade encontra-se em escassez de água, a ciência pode esclarecer o poder político sobre os meios mais eficazes de resolução do problema, indicando a perfuração do solo ou a transposição de rios. A ciência pode contribuir para decisão política, na medida em que, é técnica de resolução dos problemas públicos
O papel da ciência moderna no processo de racionalização ■ Contudo fica evidente o papel da ciência moderna no processo de racionalização: efetivar o desencantamento do mundo, iniciado no protestantismo ascético. ■ A ciência apresenta uma concepção de mundo desprovida de forças mágicas ou divinas em prol de uma visão mecânica, matemática. ■ Desse modo as crenças mágicas e religiosas perdem força e exercem menor coação sobre as ações individuais. Os agentes adquirem maior liberdade na escolha dos próprios valores e consolidam suas condutas, cada vez mais, segundo a própria vontade.
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