IV Simpsio Nacional de Gerenciamento de Cidades AraatubaSP
IV Simpósio Nacional de Gerenciamento de Cidades Araçatuba/SP, 2016 A oferta de equipamentos urbanos e a percepção da qualidade de vida: o estudo da rua João José da Silva Lorrayne da Silva Brito Orientador: Prof. Dr. Fernando Garrefa Uberlândia 2016
Qualidade de vida e qualidade de vida urbana
• O conceito de qualidade de vida pode ser abordado como sendo as condições necessárias para que as pessoas ou indivíduos cheguem a realizar seus planos de vida. A concretização de seus objetivos fica condicionada ao seu padrão de vida, quanto mais privações esses indivíduos tiverem, pior será a qualidade de vida (ALMEIDA, 1997).
• Para Nahas (2009) a evolução do conceito de qualidade de vida e sua mensuração na área urbana, requer: i) o dimensionamento da equidade de acesso aos bens e recursos urbanos por toda população; ii) a avaliação da qualidade ambiental em “stricto sensu”, a partir de aspectos socioambientais; iii) discussão da sustentabilidade urbana ligada ao desenvolvimento humano.
• A falta de qualidade de vida pode ser percebida a partir dos fatores exclusão social, vulnerabilidade social e privação social. Assim, o conceito de qualidade de vida pode ser analisado em diferentes faces: qualidade de vida urbana; qualidade de vida no trabalho; qualidade de vida na terceira idade; qualidade de vida dos pacientes com determinada doença. Para essa pesquisa será analisado a qualidade de vida urbana.
Origem do termo • Qualidade de vida urbana é um termo que abrange o conceito de qualidade de vida e o de qualidade ambiental, mas, além disto, é um conceito espacialmente localizado, reportando-se ao meio urbano, às cidades. • A igualdade entre os homens, traduzida hoje como eqüidade na distribuição dos recursos e benefícios e no acesso de toda a população à satisfação de suas necessidades básicas fundamentais, fica prejudicada com o modelo de desenvolvimento adotado;
• Para Nahas (2009)1 o período de intenso desenvolvimento tecnológico, que as cidades passaram após revolução industrial, ampliou as desigualdades na distribuição de bens e serviços e impacto nas condições de vida da população urbana, além de degradação ambiental; • A classe trabalhadora forçada adaptar-se a esse novo padrão de vida, passou a habitar em lugares inadequados: perda da qualidade de vida. 1 Professora e pesquisadora no Instituto de Desenvolvimento Humano Sustentável (IDHS) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG) – Doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (São Paulo)
• A partir da década de 1960, a perda da qualidade de vida, no mundo, tornou-se uma problemática para sociedades urbanas, devido ao rápido crescimento das cidades e a ocupação desordenada desses espaços (NAHAS, 2009). • Na década de 1970, gestores e planejadores passam discutir novas alternativas para solucionar esses problemas sociais urbanos, com enfoque inicial sobre as implicações sanitárias, em busca de melhorias na qualidade de vida. • Nas discussões sobre planejamento urbano na década de 1970, o termo qualidade de vida surge como referência nos debates e inúmeras propostas são formuladas, para mensurar a qualidade de vida.
• Além de incorporar a questão da eqüidade na distribuição de bens e direitos , o termo “qualidade de vida” passou a ser utilizado também para designar aspectos imateriais e intangíveis da vida humana; • Novas dimensões conceituais originaram experiências de mensuração da qualidade de vida através de indicadores sociais, ou seja, indicadores que avaliassem as condições de vida, tomando como referência a distribuição de bens e recursos materiais que atendessem às necessidades básicas da população, surgindo assim a qualidade de vida urbana.
Objetivos: • A partir dos parâmetros estabelecidos pelo ITDP, mapear o piloto do bairro Santa Mônica, na rua João José da Silva, demonstrando a distância dos equipamentos classificados nos indicadores do método. Para obter a percepção dos moradores com relação a qualidade de vida urbana que possuem, foram aplicados 20 questionários com questões abertas e fechadas e amostra por conveniência; • Espera-se com as análises entender de que forma o ambiente urbano contribui para uma maior ou menor percepção de qualidade de vida dos moradores e se há condições de acesso a bens e serviços públicos no bairro.
Objeto de estudo Bairro Santa Mônica. Fonte: Google Maps
A escolha do método • Essa metodologia foi desenvolvida pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento(ITDP), para avaliar urbanisticamente os projetos do Minha Casa Minha Vida (Faixa 1), e dessa forma estabelecer parâmetros, não somente para aprovação ou não de projetos, mas para: “garantir espações públicos que promovam a sociabilidade, a circulação confortável dos pedestres e o pleno acesso ao transporte público e a equipamentos, comércio, serviços e a outras atividades essencias a vida urbana”.
Os parâmetros obtidos com essa ferramenta metodológica são capazes de avaliar o acesso a bens públicos e o acesso á cidade. Para isso a metodologia utiliza de três temas: Tema 1: Transporte Indicador 1: Opções de transporte; Indicador 2: Frequência do transporte. Tema 2: Oferta de equipamentos comércio e serviços Indicador 3: Usos cotidianos; Indicador 4: Usos eventuais; Indicador 5: Usos esporádicos; Tema 3: Desenho e integração urbana Indicador 6: Relação com o entorno; Indicador 7 : Tamanho das quadras; Indicador 8 : Abertura para o espaço público; Indicador 9: Rede de circulação de pedestres.
TEMA 1: TRANSPORTE
INDICADOR 1 Neste indicador, a qualidade do serviço de transporte está diretamente relacionada á quantidade de linhas de transporte disponíveis nas proximidades do bairro, com itinerários diversificados que permitam ao morador chegar a diferentes destinos da cidade. Quanto maior for a variedade de lugares diferentes que podem ser acessados pelas linhas de transporte disponíveis, melhor a qualidade de inserção urbana.
Distância máxima de 1 km Qualificação Bom Aceitável INDICADOR 1 Insuficiente Itinerários 4 ou mais Pelo menos 3 Linhas Itinerários Resultado A 116 17 Bom T 131 11 Bom 2 ou menos Para este indicador, as duas linhas localizadas no limite de 1 km da rua João José da Silva, obtiveram qualificação: Bom, pois possuem mais de 4 itinerários.
INDICADOR 2 O objetivo deste indicador é avaliar a disponibilidade do serviço das opções de transporte público existentes, isto significa que, além de uma diversidade de itinerários, as linhas de transporte devem ter frequência regular e tempo de espera aceitáveis. Entrepicos 2 dias úteis Bom Frequência Até 20 min. Período de operação 24 horas Linhas T 131 Aceitável 11 a 20 min. 17 horas Insuficiente Acima de 20 minutos Menos de 17 horas A 116 Frequência 6 min. (08: 30 as 16: 30 hrs) 43 min. (10: 04 as 15: 05 hrs) 53 min. (15: 05 as 15: 58 hrs) Fonte: PMU Org: BRITO, L. S. 2 A frequência é geralmente maior nos horários de pico do que nos entrepicos. A avaliação será feita somente entre 10 h e 16 h, para manter um padrão aceitável fora do horário de maior demanda.
TEMA 2 : OFERTA DE EQUIPAMENTOS COMÉRCIO E SERVIÇOS
O que é qualidade de vida? A tradicional associação do conceito de qualidade de vida aos aspectos relacionados com a saúde, prevalecem, mesmo após toda a evolução teórica do termo e da ampliação da sua área de abrangência.
Prevalece como problema, a falta de hospitais e postos de saúde, a oferta de postos de trabalho no bairro (seria interessante pergunta específica) e o transporte com a falta de linhas de ônibus, de fato através do mapeamento foram encontrados apenas duas linhas de ônibus. Quanto aos postos de saúde UBSF (800 m) e UAI (2. 100 m) há divergências. A proximidade entre a população prevalece, boa qualidade do ar e distância física pequena foram apontadas por 9 pessoas.
A maioria dos entrevistados afirma que considera a qualidade de vida no bairro insuficiente, porém ao ser questionado se gostaria de morar em outro bairro afirmam que não. Esse fato direciona a alguns questionamentos.
No Indicador 2 do método ITDP, as qualificações obtidas para as linhas de ônibus localizadas no entorno da rua (respeitando o limite de 1 km) foram Bom e Insuficiente. E a percepção dos moradores sobre a frequência dos ônibus obteve os seguintes resultados:
• Através do mapeamento percebemos que não há nenhuma creche pública, Escola de Ensino Infantil, área livre para lazer e recreação , tanto que na qualificação do indicador 1 o resultado obtido foi Insuficiente. A percepção dos moradores corresponde ao obtido com a análise técnica:
Considerações finais • Ao comparar a percepção dos moradores com os resultados obtidos do ITDP, percebemos que em muitos quesitos quando os indicadores apontam como BOM, na prática, no seu dia a dia os moradores não percebem assim. Esse fato serve como alerta para a pesquisa, pois muitas vezes os dados técnicos não correspondem a realidade da população, apesar de não perderem a importância ao parametrizar determinados aspectos.
• Ao analisar os resultados finais, percebe-se que a população ainda desconhece a qualidade de vida no seu sentido mais amplo, ainda há a prevalência do reducionismo biomédico; • Assim, há a necessidade de conscientizar a população que a qualidade de vida não se restringe mais, estritamente ao direito á saúde. • Em consenso, a qualidade de vida deve ser fundamental para o planejamento urbano, para que os gestores possam desenvolver um meio urbano saudável, contando com participação da população, logo, devem-se incluir na gestão urbana tópicos relativos ao meio ambiente, saúde (KEINERT; KARRUZ, 2002).
• Os bens públicos, por serem parte essencial do direito que todos têm à vida digna e saudável, precisam ser universalmente acessíveis e não podem ser tomados como mercadoria.
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IV Simpósio Nacional de Gerenciamento de Cidades Araçatuba/SP, 2016 Muito Obrigada!
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