INTRODUO OBRA DE MELANIE KLEIN KLEIN BIOGRAFIA Melanie
INTRODUÇÃO À OBRA DE MELANIE KLEIN
KLEIN: BIOGRAFIA Melanie Reizes nasceu em Viena em 1882. Caçula - três irmãos mais velhos (Emilie – a preferida do pai, Emanuel - considerado gênio pela família, Sidonie) Perdeu uma irmã Sidonie de 8 anos - tuberculose quando tinha apenas 4 anos, irmã que lhe ensinou leitura e cálculo perdeu seu pai em 1900, aos dezoito Perdeu seu irmão Emmanuel em 1902 quando tinha 20 anos. Estas mortes prematuras teriam deixado à sua personalidade, um traço depressivo.
KLEIN: BIOGRAFIA Melanie casou-se aos em 1903 aos 21 anos com Arthur Klein, amigo do irmão, engenheiro químico. Klein teve três filhos: Melitta em 1904, Hans em 1907 e Erich em 1914. Ao invés de cursar medicina, profissão paterna (médico e dentista) como era seu plano, o casamento e o nascimento dos três filhos bloqueou este sonho, o casamento teria atrapalhado sua paixão pelo pensamento. passou a frequentar cursos de Arte e História na Universidade de Viena.
KLEIN: BIOGRAFIA Em 1910 instalou-se em Budapeste. 1914 com 32 anos – leu Interpretação dos Sonhos de Freud - encontro com Psicanálise. Análise com Sandor Ferenczi par livrar-se da depressão a qual parece ter durado até 1917. 6/Nov/14 – mãe falece – Melanie Klein: profundo sentimento de culpa - acredita ter esgotado sua mãe pois ausentou-se muitas vezes para ficar em casa de saúde e sua mãe ficava com os filhos.
KLEIN: BIOGRAFIA Em julho de 1919 Klein com 38 anos lê em Budapeste na sessão da sociedade de psicanálise seu artigo “O desenvolvimento de uma criança” sobre o “tratamento” de Frits era, na verdade, Erich, filho mais novo de Klein com (identidade não é exposta) - sinais de inibição intelectual e bloqueios de curiosidade (PETOT, 1987) e é eleita membro da Sociedade de Budapeste após esta exposição (ARNOUX, 2003) Em 1920, Ferenczi a apresenta a Karl Abraham que dirige a Sociedade Berlinense de Psicanálise e a convida para ir a Berlim.
KLEIN: BIOGRAFIA Em 1921 Hungria vive no caos do pós-guerra – Klein troca Budapeste por Berlim em 1921 para praticar a psicanálise de crianças por sugestão de Karl Abraham - trabalhou na policlínica e em 1923 torna-se membro titular da Sociedade de Berlim e fará análise com Abraham em 1924 a qual é interrompida após 14 meses. Abraham morre em 1 de janeiro de 1926.
KLEIN: BIOGRAFIA Em 1925 recebe acolhida calorosa em Londres para onde muda em 1926 após a morte de Abraham, primeiro provisoriamente, depois decide instalar-se aceitando as ofertas de Ernest Jones, presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e que lhe abrira as colunas de sua revista e a convidara para dar uma série de conferências. Segundo Winnicott, Jones teria pedido a Klein para analisar um de seus parentes, provavelmente criança. Freud censura-o por estar fazendo uma campanha contra sua filha Anna Freud e portanto contra ele. Ao redor de Klein havia simpatia e colaboração, a Sociedade Britânica de Psicanálise começa, a partir desta época a ser denominada “Escola britânica de Psicanálise”
KLEIN: BIOGRAFIA Entre 27 e 32 – influência kleiniana se estende a toda Sociedade Britânica de psicanálise. Melitta concluiu estudos em medicina na Alemanha vem para junto de sua mãe, aguardando seu marido Walter Schmideberg, ele lá se instalou e Melitta faz análise com Edward Glover denunciando a dependência neurótica na qual a mãe a mantinha, surge um conflito e Glover toma abertamente o partido de Melitta. Após 1932 – oposições declaradas Glover e Melitta Schmideberg se afastam. Hans morre em 1934, quando sofre uma queda fatal, Melitta lança a tese de suicídio. Klein sentiu-se acusada e abatida e não pôde comparecer ao enterro.
KLEIN: BIOGRAFIA Trabalho com psicose na década de 30 despertou interesse dentro da psiquiatria infantil e de adultos, diversos médicos buscaram formação com Klein: Bowlby, Winnicott entre outros.
KLEIN: BIOGRAFIA Freud instalou-se em Londres em 6 de junho de 1938 e morreu em 23 de setembro de 39. A guerra havia sido declarada há 20 dias. Klein mudou-se para Cambrige.
KLEIN: BIOGRAFIA Na sociedade britânica acontecia uma guerra de outro tipo: vienenses ficaram em torno de Freud e os britânicos em torno de Klein. Disputas na década de 40, após a chegada de Ana Freud em Londres. Hermine Von Hug-Hellmut - suas ideias seriam retomadas por Anna Freud. Esta autora considerava que o psicanalista de crianças devia exercer uma função pedagógica e provê-la de valores morais e estéticos. Para Klein trata-se de destruir o trabalho da repressão e restituir à criança a capacidade de fantasia, base de todo o desenvolvimento. Trata-se de formação, não de educação.
KLEIN: BIOGRAFIA Década de 50 pessoas da América do Sul e Itália para fazer “formação kleiniana” e após Bion estar nos EUA - pequeno grupo de analistas de orientação kleiniana desenvolveu-se na América do Norte (HINSHELWOOD , 1992). Klein morre em Londres em 1960.
O CONCEITO DE POSIÇÃO EM MELANIE KLEIN
O CONCEITO DE POSIÇÃO Configuração específica de: Relações de Objeto Ansiedades Defesas Pressuposto: No nascimento já existe ego suficiente para experimentar ansiedade, usar mecanismos de defesa e formar relações de objeto primitivas na fantasia e na realidade.
O CONCEITO DE POSIÇÃO: Fenômeno não é apenas um estádio ou uma fase. É transitório. Bebê não passa todo o tempo vivenciando ansiedade. Fenômeno normal com semelhança qualitativa com quadros mórbidos. Regressão a esses pontos em pessoa mais crescida apresenta características do quadro clínico. Pode ocorrer a qualquer momento em qualquer estado (normal ou perturbado) e ser transitória.
O CONCEITO DE POSIÇÃO: Agressividade (mais que libido) → ansiedade Defesas No desenvolvimento precoce, é contra os impulsos destrutivos que a defesa se dirige (defesa violenta). Nos estágios posteriores do conflito edipiano a defesa contra os impulsos libidinais faz seu aparecimento (recalque) (KLEIN, 1930).
POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: Inicialmente o ego primitivo é: Amplamente desorganizado Frágil Sem coesão Falta agregação Embora desde o começo haja uma tendência à integração. [3 primeiros meses (Simon, 1986)]
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: Esquizo : defesas esquizóides - cisão splitting ego e objetos Paranóide: ansiedade dominante Crianças não tomam conhecimento das “pessoas”, mantendo relacionamentos com OBJETOS PARCIAIS.
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Projeção Localiza no outro, pessoa ou coisa, qualidades, sentimentos, desejos, e mesmo objetos, que ele desdenha ou recusa em si (LAPLANCHE, PONTALIS, 2001). Projeção e Introjeção em Klein: Ego esforça-se para introjetar bom e projetar mau (mas também faz o contrário) Obs. realidade modifica o que será introjetado (SIMON, 1986, p. 90). Projeção: Presença da pulsão de morte é percebida pelo ego como medo do aniquilamento, para evita-lo põe em prática primeira ação defensiva – deflexão, expulsão, projeção. Surge o primeiro objeto persecutório situado fora do ego.
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA SPLITTING: DIVISÃO, CISÃO OU CLIVAGEM Cisão do objeto Cisão do do ego Cisão coerente (divisão limpa – “Tidy Split”) em “bom” X “mau cisão fragmentadora
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA SPLITTING: DIVISÃO, CISÃO OU CLIVAGEM Seio mau: objetos perigosos para o ego Seio bom: Objetos protetores do ego Relações com objetos determinadas pelas fantasias, pois o suporte da realidade nestas relações objetais primitivas é ainda diminuto.
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA CISÃO Seio mau Objetos persecutórios Ataques fantásticos do bebê contra o seio mau imaginado como despedaçado – multidão de perseguidores Seio bom Seio ideal Idealização crescente do objeto ideal Impermeável ao mau Objetos perseguidores ← AFASTAR → objetos ideais
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Cisão Pulsão de morte Conservação no eu: agressividade, ódio, inveja Projetado: SEIO MAU. Sentimento de perseguição. Ansiedade de aniquilação Pulsão de vida Conservação no ego: amor, libido Projeção: seio bom, objeto ideal
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Cisão do ego Cisão do objeto O ego também está sempre dividido em “bom”, “mau”, “fragmentado” e “idealizado”. (SIMON, 1986, p. 93).
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Idealização: Idealização crescente do objeto ideal, a fim de mantê-lo distante do objeto perseguidor e de torna-lo impermeável ao mau. Através da onipotência, atribui-se-lhe a indestrutibilidade, a onisciência, etc. (SIMON, 1986, p. 91)
O passado já ficou para trás. Não quero mais chuva, não quero mais tristeza. A partir de hoje quero realizações. A cada dia busco acreditar na minha capacidade e sei que posso. Portanto a porta do passado se fecha. E a de um grande futuro se abre à minha frente. Isso (divisão) é uma porta.
Fantasia: objeto ideal Fantasia de perseguição Funde-se com experiências gratificantes de amor e alimentação Funde-se com experiências reais de privação e sofrimento (fome, frio, etc. ) Encurrala a perseguição terrificante Ameaça de aniquilação
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Desintegração “splitting” : objetos Não é entre “bom e mau”, mas cisão múltipla. Esforço defensivo concebido em fantasia, para abolir o objeto através de sua fragmentação em pedacinhos. Este ataque ao objeto resulta em o ego cindir-se em um número correspondente de pedaços, cada um deles relacionado ao fragmento do objeto. Fragmentação esquizofrênica ligada à cisão de objetos. Origem do medo do aniquilamento percebido pelo psicótico (HINSHELWOOD, 1992).
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Desintegração “splitting” : ego Impossível de cindir objeto sem que uma cisão correspondente se dê dentro do ego. Fragmentação do ego em pedaços a fim de evitar ansiedade. Mais desesperada tentativa do ego de se livrar da ansiedade. É como se o ego tentasse não existir. Essa tentativa dá origem à ansiedade de se desintegrar em pedaços e se tornar atomizado. Expressão da pulsão de morte (Ferenczi, 1930 apud Klein, 1946) Via de regra aparece combinado com a identificação projetiva, partes fragmentadas do ego imediatamente projetadas. Patológico (SEGAL, 1973).
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Negação mágica onipotente: Quando perseguição é muito intensa, pode ser completamente negada. Nega frustrações, dor, temor, nega ameaça do objeto persecutório. Através da onipotência cria universo interno idealizado. Paraíso protegido pelo objeto idealizado. Corta ligações com realidade exterior. Complementada pelo abafamento das emoções. (SEGAL, 1975; SIMON, 1986)
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Identificação projetiva: Partes do eu e objetos internos são expelidos e projetados no objeto externo, o qual então se torna possuído e controlado pelas partes projetadas, identificando-se com elas. Relação em que objeto enquanto tal desaparece para dar lugar a um objeto que é prolongamento do ego, isto é, uma identificação. Relação narcisista de objeto. O ego se relaciona com uma parte que parece estar fora, no “objeto”, mas na verdade, inconscientemente, é uma parte de si mesmo (SIMON, 1986, p. 92)
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: MECANISMOS DE DEFESA Identificação Introjetiva: Introjeta seio desejado, quer mamando, quer na fantasia de incorporá-lo. Desejando as qualidades boas do seio o bebê procura identificar-se com ele. Quando o objeto é introjetado principalmente com a finalidade de identificação, ele torna-se introjetado no ego e com este é identificado. (SIMON, 1986, p. 94)
IMPORT NCIA DE MECANISMOS DA POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE PARA A VIDA POSTERIOR: CISÃO: Inicialmente extrema, mas precondição para integração posterior. Base da discriminação posterior entre bom e mau. Base para a posterior recalque. Se divisão é excessiva, recalque posterior provavelmente será de rigidez neurótica excessiva.
IMPORT NCIA DE MECANISMOS DA POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE PARA A VIDA POSTERIOR: Ansiedade persecutória: precondição para reconhecer, apreciar e reagir a situações verdadeiras de perigo. Idealização: base da crença na bondade de objetos e na própria bondade, precursora das boas relações de objeto. Identificação projetiva e introjetiva: forma mais primitiva da empatia do “colocar-se no lugar do outro”
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANOIDE: ANSIEDADE Ansiedade predominante: o objeto ou os objetos perseguidores entrarão no ego e dominarão e aniquilarão tanto o objeto ideal quanto o eu (self). Mas: O bebê não passa a maior parte do tempo em estado de ansiedade. Ao contrário, em circunstâncias favoráveis, passa a maior parte do tempo dormindo, alimentando-se, experimentando prazeres reais ou alucinatórios e, assim, integrando gradualmente seu objeto ideal e seu ego.
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE Etapa natural do desenvolvimento humano Ansiedades e defesas que constituem o núcleo da posição esquizoparanóide são parte normal do desenvolvimento humano. Ponto de fixação de psicoses e estruturas de personalidade esquizoide (fatores constitucionais e traumáticos) Pessoas oscilam entre momentos de maior e menor lucidez, maior aproximação e maior distanciamento da realidade implicando maior e menor integração da personalidade – oscilação entre posições dependendo das angústias, defesas e fantasias (SIMON, 1986, p. 85 -86). Nenhuma experiência no desenvolvimento humano jamais é posta de lado. No mais normal indivíduo haverá situações que despertarão as mais primitivas ansiedades e que colocarão em funcionamento os mais primitivos mecanismos de defesa.
POSIÇÃO DEPRESSIVA
CONDIÇÃO BÁSICA PARA ENTRAR NA POSIÇÃO DEPRESSIVA objeto bom e amor mais fortes que objeto mau e ódio. Predominância de experiências boas sobre as más (fatores internos e externos) - Ego adquire crença na prevalência do objeto ideal sobre os objetos persecutórios, bem como na predominância de sua própria pulsão de vida sobre sua própria pulsão de morte. Assim, as boas experiências com a mãe permitem superar as angústias paranóides (SIMON, 1986, p. 73) [início da PD: 4 a 6 meses(Simon, 1986)]
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE: relação de objeto parcial (seio) e está dividido BOM / MAU POSIÇÃO DEPRESSIVA BEBÊ RECONHECE UM OBJETO TOTAL E SE RELACIONA COM ESSE OBJETO. Sentimentos voltados a uma pessoa total Presente ou ausente Pode ser amada ou odiada BOM OU BOM E MAU MESMA MÃE É FONTE DO QUE É BOM E DO QUE É MAU
INTEGRAÇÃO Maturação do SNC - percepção e memória. Mãe percebida como objeto total. Condições de lembrar-se de gratificações anteriores quando ela o está privando e de privações quando ela o está gratificando (ambivalência).
POSIÇÃO DEPRESSIVA Medo de perseguidores diminui, assim como divisão entre objetos perseguidores e ideais. Divisão no ego diminui quando este se sente mais forte, com maior fluxo de libido. Diferenciação crescente entre o que é eu (self) e objeto. Cada vez mais capaz de tolerar própria agressividade, projeção diminui. Torna-se capaz de integrar objetos e se integrar. Ego do bebê se torna um ego total RESULTADO: Percepção dos objetos é menos deformada Objetos maus e ideais se aproximam
INTROJEÇÃO Introjeção é intensificada: Descoberta de dependência em relação a objeto (independente e que pode se afastar) -aumenta necessidade de possuir objeto, mantê-lo dentro. Introjeção de um objeto cada vez mais total promove integração do ego. Bom objeto introjetado forma o núcleo do ego.
INTEGRAÇÃO Ele próprio ama e odeia Ama e odeia a mesma pessoa – mãe Uma vez que o indivíduo esteja ciente de que o objeto que ama é também contra o qual sente raiva, a culpa é inevitável.
ANSIEDADE posição Esquizo-paranóide Posição depressiva DEPRESSIVA PARANÓIDE Ego será destruído pelo objeto ou pelos objetos maus Surgem da ambivalência Ansiedade de que seus próprios impulsos destrutivos destruam ou tenham destruído o objeto que ama e do qual depende.
NOVOS SENTIMENTOS: Culpa: experiência depressiva característica que surge do sentimento de ter perdido o objeto bom através da própria destrutividade. Auge de sua ambivalência: desespero depressivo – lembra que amou e ainda ama mãe. Mas sente que a devorou e a destruiu e não está mais disponível no mundo externo. Sente que também a destruiu como objeto interno.
EXPERIÊNCIA DE DEPRESSÃO Desejo de reparar objetos destruídos. Acredita que amor e cuidado podem desfazer os efeitos de sua agressividade. Despertam desejo de restaurá-la, recriá-la para recuperála interna e externamente. Experiências de perda e recuperação: sentidas parcialmente como destruição pelo ódio e recriação pelo amor.
Começa a distinguir fantasia e realidade externa Testa poder de impulsos: condições favoráveis – reaparecimento da mãe após ausência modificam crença do bebê na onipotência de seus impulsos destrutivos. Descobre limites de seu ódio e de seu amor.
POSIÇÃO DEPRESSIVA: MECANISMOS DE DEFESA Mecanismos neuróticos Inibição: das pulsões (preocupação por objeto modifica objetivos pulsionais ) Recalque Deslocamento Sublimação: dos impulsos sentidos como destrutivos
POSIÇÃO DEPRESSIVA: MECANISMOS DE DEFESA REPARAÇÃO Impulsos reparadores ocasionam maior avanço na integração. Amor em conflito com ódio: controle da destrutividade e reparação do dano causado. Reparação e restauração do dano causado ao objeto bom (interno e externo). Base para atividade criativa: desejo de restaurar felicidade, objetos internos perdidos e harmonia do mundo interno.
POSIÇÃO DEPRESSIVA: MECANISMOS DE DEFESA REPARAÇÃO Ódio torna-se menos assustador, na medida em que aumenta a crença de que seu amor pode restaurar aquilo que seu ódio destruiu. Na medida em que o ego restaura e recria o objeto internamente, este se torna cada vez mais propriedade do ego, podendo ser assimilado por ele e contribuir para seu crescimento.
LUTO E FORMAÇÃO SIMBÓLICA Freud: sublimação - renúncia a objetivo pulsional. Segal (1952): essa renúncia só pode ocorrer através do processo de luto. Renúncia a objeto ou a objetivo pulsional é repetição da renúncia ao seio. Poderá ser bem sucedida , como a primeira situação, se o objeto a que se renuncia puder ser assimilado no ego pelo processo de perda e restauração interna.
LUTO E FORMAÇÃO SIMBÓLICA Formação simbólica: produto de perda, trabalho criativo que envolve o sofrimento e todo o trabalho do luto. Esse objeto se torna símbolo dentro do ego do objeto externo. Ego é enriquecido por objetos que teve de recriar dentro de si e que se tornam parte dele. Estimulando sublimações e produções de variados tipos (pintura, literatura), equivalendo à reconstrução do objeto bom perdido, depois de superado, o luto normal torna a pessoa enriquecida (SIMON, 1986). Pensar do ego maduro
FORMAÇÃO SIMBÓLICA “Se a realidade psíquica é experimentada e diferenciada da realidade externa, o símbolo é diferenciado do objeto; é sentido como tendo sido criado pelo eu (self), e este pode usá-lo livremente” “O que contrasta com a equação simbólica na qual o símbolo é equacionado com o objeto original, dando origem ao pensar concreto” (PSICOSES). (SEGAL, 1975)
À MEDIDA QUE POSIÇÃO DEPRESSIVA É GRADUALMENTE ELABORADA Altera-se toda a relação de objeto Bebê adquire capacidade de amar e respeitar pessoas como indivíduos separados, diferenciados Capaz de reconhecer seus impulsos, sentir responsabilidade por eles e tolerar culpa. Nova capacidade: preocupação por objetos – ajuda a aprender a controlar seus impulsos
POSIÇÃO DEPRESSIVA: Algumas ansiedades paranoides e depressivas permanecem constantemente ativas na personalidade; no entanto , quando o ego já está suficientemente integrado, tendo estabelecido - durante a elaboração da posição depressiva – um relacionamento relativamente seguro com a realidade, os mecanismos neuróticos assumem gradualmente o lugar dos psicóticos.
ELABORAÇÃO DA POSIÇÃO DEPRESSIVA Construir um bom objeto solidamente estabelecido dentro do ego.
INVEJA
FATORES EXTERNOS E INTERNOS Condição para entrar na posição depressiva? Experiências boas predomine sobre as más. Experiência verdadeira do bebê depende de fatores externos e internos. “A privação externa, física ou mental, impede a gratificação; mas ainda que o ambiente seja propício a experiências gratificantes, estas podem ser modificadas ou mesmo impedidas por fatores internos” p. 51
DANIFICAÇÃO Objetivo da inveja Objeto danificado não suscita inveja
ASPECTO DANIFICADOR DA INVEJA Destrutivo para desenvolvimento: própria fonte da bondade da qual bebê depende é tornada má, portanto introjeções boas não podem ser alcançadas. Surge quando bebê se dá conta do seio como fonte de vida e experiência boa.
INVEJA 1. 2. Seio como fonte de todos os confortos, físicos e mentais, reservatório inesgotável de alimento e calor, amor, compreensão e sabedoria. Satisfação que esse maravilhoso objeto pode dar: aumento do amor, do desejo de possuí-lo, preservá-lo, protegê-lo. Objeto ideal dá origem à inveja –desejo no bebê de ser ele próprio fonte de tal perfeição - objeto é atacado e danificado (pois gera sentimento penoso) Objeto ideal não pode ser mantido, interferência na introjeção do objeto ideal e na identificação com este.
INVEJA FUNDIDA À VORACIDADE desejo de esgotar objeto: Não apenas a fim de possuir toda a sua bondade, mas para esvaziar intencionalmente objeto de modo a não ter nada de invejável.
CONSEQUÊNCIA DA INVEJA EXCESSIVA: Confusão entre bom e mau interferindo na cisão
DESESPERO: Objeto ideal não pode ser encontrado, não há esperança de amor e qualquer ajuda. Objetos destruídos - fonte de perseguição Falta de introjeção boa priva ego de crescimento Inveja – impede introjeção boa – aumenta inveja
INVEJA X Inveja CIÚME Ciúme Uma das emoções mais primitivas e fundamentais Período da vida em que objetos são claramente reconhecidos e diferenciados uns dos outros Relação de duas partes Relação triangular Sujeito inveja o objeto por alguma posse Baseia-se no amor ou qualidade Visa à posse do objeto amado e à remoção do rival Experimentada essencialmente em termos de objetos parciais Relação de objeto total
voracidade inveja Visa à posse de toda a bondade que possa Visa a que se seja tão bom quanto o ser extraída do objeto sem consideração objeto das consequências Pode resultar na destruição do objeto e na danificação de sua bondade, mas destruição é incidental à aquisição desapiedada. Mas quando isso é sentido como impossível, visa a danificar a bondade do objeto, para remover a fonte de sentimentos invejosos.
INVEJA MAIS INTEGRADA Gratificação experimentada no seio: estimula admiração, amor, gratidão ao mesmo tempo que inveja. Gratidão supera inveja (se essa não é tão avassaladora) e a modifica.
INVEJA E GRATIDÃO Seio ideal introjetado com amor, gratificação e gratidão se torna parte do ego Num círculo benevolente inveja diminui à medida que aumenta gratificação. Diminuição da inveja permite maior gratificação que incrementa diminuição da inveja.
PSICOPATOLOGIA Inveja excessiva afeta fundamentalmente o curso da posição esquizo-paranóide e contribui para sua psicopatologia.
A PSICOPATOLOGIA DA POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE
ADAPTADO A PARTIR DE KERNBERG (1991) Neurose Psicose Integração da identidade Representação do self e Representações do self e do objeto são malclaramente delimitadas ou então há uma identidade delirante Operações defensivas Defesas de alto nível Principalmente a clivagem (cisão) e as defesas de baixo nível idealização primitiva, identificação projetiva, onipotência, desvalorização. Capacidade de teste de realidade Capacidade de testar a Capacidade de testar realidade é preservada: realidade é perdida diferenciação entre self e não-self e entre origens intra-psíquica e externa da percepção de estímulo
PSICOSES (DSM V): Esquizofrenia: Dois (ou mais) dos itens, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): 1) Delírios (crenças fixas, não passíveis de mudança à luz de evidências conflitantes) 2) Alucinações (experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um estímulo externo) 3) Pensamento (discurso) desorganizado 4) Comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia - redução acentuada na reatividade ao ambiente) 5) Sintomas negativos (expressão emocional diminuída e avolia - redução em atividades motivadas, autoiniciadas e com uma finalidade) (DSM V).
DSM: OBSERVAÇÕES: DSM – críticas: naturalização, exclusão de discursos não biologizantes. Ênfase da nosologia psicanalítica não é nos sintomas, mas na estrutura.
FIXAÇÃO NA POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE: PSICOPATOLOGIAS ABORDADAS Esquizofrenia Paranóia
PSICOSES: Regressão a uma fase em que estavam presentes perturbações patológicas criando bloqueios para o desenvolvimento e pontos de fixação. Ou seja, havia características esquizoides na tenra infância (SEGAL, 1975). Angústias persecutórias excessivas. Estados de desintegração repetidos e prolongados. Experiências más predominam sobre as boas (por razões internas ou externas).
INVEJA Constitucionalmente intensa: Percepção de objeto ideal tão dolorosa quanto experiência de um objeto mau. Objeto ideal que teria a função de proteger o ego fica estragado e persecutório – angústia intensa que vivencia bebê psicótico.
PSICOSE CISÃO IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA PATOLÓGICA Desenvolvimento normal: partes projetadas permanecem relativamente inalteradas no processo de projeção. Reintrojeção – reintegração no ego. Desenvolvimento patológico: impulsos hostis e invejosos são intensos. Parte projetada sofre fragmentação em pedaços diminutos desintegrando objeto em partes diminutas.
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA PATOLÓGICA Excessivas como forma de se defender da fragmentação e aniquilamento totais – ego torna-se enfraquecido. Realidade sentida primariamente como perseguição. Ódio de toda a experiência da realidade externa ou interna. Estilhaçamento do ego – tentativa de se desfazer de toda a percepção, e é o aparelho perceptual que é primariamente atacado, destruído e obliterado. Esse tipo de identificação projetiva pode ser dirigido também ao objeto ideal, pois experiência com ele é igualmente penosa, já que suscita insuportáveis sentimentos de inveja.
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA Ao livrar-se da destrutividade, despoja-se de partes da personalidade ligadas a poder, potência, força, conhecimento, etc. Sujeito fica sem elementos pra desenvolver boas relações de objeto e integrar o ego. (SIMON, 1986)
FRAGMENTAÇÃO Não é divisão coerente (divisão limpa - “tidy split”) Objeto é percebido como sendo dividido em pedaços diminutos, cada um contendo uma parte violentamente hostil do ego. Bion: objetos bizarros.
IDEALIZAÇÃO (SEGAL, 1975) Para sobreviver deve tentar, de algum modo preservar uma parte do ego que seja capaz de alimentação e de estabelecer um objeto suficientemente bom em relação ao qual a alimentação e outros processos introjetivos, como aprender, possam ser realizados. Tarefa de expelir (split off) e de manter o objeto ideal protegido dos efeitos devastadores de sua identificação projetiva. Ex. Idealiza, mas se sente roubado. Se bebê consegue, sobrevive, mas carrega pontos de fixação que provocarão regressão a estados psicóticos quando o sofrimento provocado pela adaptação à realidade ultrapassar seu limiar de tolerância.
EQUAÇÃO SIMBÓLICA Igualização do símbolo com a coisa simbolizada – símbolo é tratado como se fosse realmente o original. Surge da fusão defensiva de self e objeto e de objeto e símbolo, uma fusão ocasionada pela identificação projetiva patológica. “Ele corava, gaguejava, dava risinhos e se desculpava após trazer-me um pedaço de fezes feito de lona. Comportava-se como se me houvesse oferecido um pedaço de fezes real. Não era apenas uma expressão simbólica” (SEGAL, 1950) “O paciente A foi perguntado por seu médico por que parou de tocar violino desde sua enfermidade. Ele respondeu com alguma violência: - Por quê? Espera que eu me masturbe em público? ” (HINSHELWOOD, 1992)
BEBÊ ESQUIZÓIDE: Manifestações não transitórias, indicando distúrbio na elaboração da posição esquizoparanoide: • Bebê mama sem satisfação. • Não se liga à mãe. • Mama excessivamente mas sem se ligar às pessoas, seu interesse voraz centra-se somente no alimento. • Recusa-se a brincar, não aceita substitutos maternos. (SIMON, 1986) Vive num mundo bastante diferente da criança normal: • Seu aparelho perceptual está danificado. • Ele sente-se cercado por objetos hostis desintegrados. • Seus vínculos com a realidade ou estão quebrados ou são muito penosos. • Capacidade para estabelecer vínculos e para integrar está rompida. (SEGAL, 1975)
PSICOSES: IDENTIFICAÇÃO INTROJETIVA Frustração e angústias insuportáveis – tendência para fugir para o objeto interno idealizado, visando a escapar do perseguidor, perturbando a relação com objetos totais. Ego torna-se casca para conter precioso objeto ideal. Isso dificulta a assimilação desse objeto maravilhoso pelo ego (Heimann, 1952). Ego sente-se sem vida e valor próprio. (SIMON, 1986)
DELÍRIO DE INFLUÊNCIA: INTROJEÇÃO COMO FANTASIA DE INVASÃO Projeção muito intensa –fantasia de entrada a força no objeto. Introjeção é retribuída como fantasia de invasão do exterior para o interior do sujeito. Delírio de influência: sujeito vive experiência de que sua mente e seu corpo são controlados pelos outros. Incapacidade de introjetar aspectos do ambiente por temor da introjeção invasiva impede o ego e recuperar o que foi projetado no exterior. Essas deficiências nas relações objetais constituem-se na raiz do desenvolvimento esquizoide (SIMON, 1986).
RELAÇÕES NARCÍSICAS E ESTADOS NARCÍSICOS Relações narcísicas de objeto: pessoas percebidas distorcidamente, como se fossem prolongamentos do sujeito. Há vínculo com exterior, embora relação esteja prejudicada pelas identificações projetivas. Estados narcísicos: nestes não há vínculo com o exterior. Sujeito volta-se para o objeto interno idealizado, nega perseguição e frustração, cortando contato com ambiente externo. (SIMON, 1986)
RELAÇÕES OBJETAIS ESQUIZÓIDES Artificialidade e falta de espontaneidade devido a esvaziamento afetivo e rígido controle da expressividade. Pessoa sente-se artificial e sem vida. Extremo: despersonalização. Falta de angústia apenas aparente, pois mecanismos esquizoides dispersam ou abafam as emoções. Depois de trabalhosa análise às vezes são recuperáveis. Sentimento de estar desintegrado, incapaz de se preocupar em perder os objetos ou incapaz de experimentar emoções. Se tudo parece morto, isso é sinônimo de angústia grave.
POSIÇÕES: Bebê já perturbado mentalmente (por não ter superado adequadamente posição esquizo-paranoide) não está em condições de enfrentar as responsabilidades de culpa e reparação do objeto total da posição depressiva. Nos distúrbios menos severos do desenvolvimento, as dificuldades patológicas na elaboração das posições esquizo-paranoide e depressiva influirão na escolha da neurose.
REFERÊNCIAS ARNOUX, D. J. Melanie Klein - Col. Psicanalistas de Hoje. São Paulo: Via Lettera, 2003. HINSHELWOOD, R. D. Dicionário do pensamento kleiniano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992 KLEIN (1946) Notas sobre alguns mecanismos esquizóides In: Inveja e gratidão e outros trabalhos 1946 -1963. Rio de janeiro: Imago, 2006. PAULO, M. S. L. L. Depressão e psicodiagnóstico interventivo: proposta de atendimento. São Paulo: Vetor, 2005. PETOT, Jean-Michel. Melanie Klein I. (Primeiras Descobertas e Primeiro Sistema 19141932). São Paulo: Perspectiva, 1987. SEGAL, Hanna. Introdução a obra de Melanie Klein. (Temas básicos de Psicologia: v. 17) Rio de Janeiro: Imago, 1975. 147 p SIMON, R. Introdução à psicanálise: Melanie Klein. São Paulo: EPU, 1986.
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