Geografia Poltica e Urbana Aula 3 Do feudalismo
Geografia Política e Urbana Aula 3 – Do feudalismo ao capitalismo: a cidade no início do capitalismo Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Por que voltar ao feudalismo? • “A história da paisagem urbana mostra os sinais do tempo que nela impregna suas profundas marcas. O mundo é produto do homem, da sociedade e portanto o espaço produzido em cada momento será concretamente diferenciado” (CARLOS, 1992) • O espaço não é “palco da atividade humana”. Espaço não é somente a localização dos acontecimentos. “Isso equivale a dizer que as relações sociais ocorrem num determinado lugar sem o qual não se concretizariam”. As relações sociais ocorrem no espaço e através do espaço Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Para relembrar: feudalismo • Idade Média (entre os séculos V e XV – 401 à 1500); • Feudalismo: estrutura econômica, social, política e cultural (ou seja, um modo de produção; o modo de produção feudal); • “O modo de produção feudal, próprio do Ocidente europeu, tinha por base a economia agrária, não-comercial, autossuficiente, quase totalmente amonetária (ou seja, com uso restrito de moeda). A propriedade feudal, ou senhorial, pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da Igreja (o clero) e longínquos descendentes dos chefes tribais germânicos (a nobreza)” (VICENTINO, 2006) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Para relembrar: feudalismo • Unção entre a filosofia e a teologia (Santo Agostinho, São Thomas de Aquino, etc. ); • Substituição da estrutura escravista (surgimento dos servos vassalos). Do outro lado, os senhores feudais (proprietários das terras, e nãos dos trabalhadores - suseranos); • A terra tinha grande importância, em decorrência da escassez de moeda e de outras formas de riqueza; • A dependência era a característica principal das relações sociais feudais; Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Para relembrar: feudalismo • “Como a terra, ou seja, o feudo era a unidade básica do modo de produção, possuir terras e servos significava ter poder. O parcelamento das terras para a formação de novos feudos originou, portanto, a fragmentação desse poder. Assim, teoricamente, o rei era o suserano dos suseranos, diante do qual todos os vassalos deveriam se curvar. Entretanto, na prática, a figura real exercia pouca influência nos domínios dos senhores feudais, sendo cada um deles, de fato, a suprema autoridade em seus territórios”. (VICENTINO, 2006) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Retirado de: VICENTINO, 2010 (p. 116) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
A crise do feudalismo • Aspecto econômico: crise agrária • Aumento demográfico (aumento da demanda) mas baixa tecnologia para aumentar a produtividade (os servos não buscavam aumentar a produtividade pois isso só significaria aumentar a parcela do tributo). • Aumento dos preços e da fome (tanto pelos altos preços como pela insuficiente produção). • Aspecto populacional: drásticas taxas de mortalidade • Peste Negra, guerras, fome, etc. • Aspecto monetário: poucas moedas em circulação Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
A crise do feudalismo • Queda brusca na mão-de-obra fez com que os senhores aceitassem o trabalho assalariado, o que amenizou a dependência dos servos. “Assim, não só a mão-de-obra assalariada tornava-se mais comum, como também beneficiava-se de uma elevação salarial” (JR. , 1988); • A aristocracia perdia os benefícios ao ter de comprar mão-de-obra com moeda cada vez mais desvalorizada; • “Portanto, as rendas senhoriais se encolhiam cada vez mais. Paralelamente, os salários subiam e os senhores, para terem recursos, trocavam obrigações servis por dinheiro”; Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
A crise do feudalismo Retirado de: “O feudalismo”, de Hilário Franco Jr. Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Ascendência da burguesia • A burguesia passa a ter maior importância e passa a comprar a terra dos nobres arruinados; • As cidades foram atingidas pela crise econômica e demográfica, mas menos do que o campo. • Assim, a burguesia revela-se um elemento dissolvente do feudalismo em diversos aspectos: • Suas atividades artesanais, comerciais, bancarias rompiam com o predomínio da agricultura; • Apoio a centralização política (fortalecimento da monarquia) • Pregavam o racionalismo e o individualismo em lugar à coletividade e a religiosidade feudais • Sua origem marginal e camponesa quebrava a rigidez da hierarquia social Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? • A autossuficiência do feudo e a não produção de excedentes resultava na não relação entre populações e lugares, de modo que o fim do comércio (mediterrâneo, principalmente) acontecia paralelamente ao declínio da cidade; • A cidade renasce no momento em que a economia autossuficiente do feudo do início da Idade Média transforma-se em uma economia monetária, com um comércio em expansão” (CARLOS, 1992), em torno dos burgos, povoado por mercadores. Os locais destinados aos estrangeiros especializados em trocas nasce na periferia (LEFEBVRE, 1968); • As cidades começam a aparecer com a intensificação da atividade comercial, em locais de maior facilidade de circulação Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? • Cruzadas: ampliação do comércio (diversificação dos produtos) • “A mudança na forma espacial da agricultura autossuficiente feudal para as cidades, deveu-se em particular à reativação do comércio como fonte de riqueza. Com a introdução da economia surge uma nova divisão do trabalho que acompanha o crescimento das cidades” (CARLOS, 1992). • Novas tecnologias causam a diminuição da população agrícola. • “A terra passa a dividir com o comércio o papel de fonte de riquezas. O comércio começa a se impor e a organizar um espaço compatível com seus valores e modo de vida” (CARLOS, 1992) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? • “Em suma, a cidade é incompatível com uma economia de subsistência, tal como a feudal, caracterizada pela ausência de especialização, pela incipiente divisão do trabalho, pela quase que absoluta inexistência de excedentes e da circulação de produtos pelo seu caráter não monetarizado. A cidade, ao contrário, é sempre uma organização dinâmica, de alto poder concentracional, que cria, no entanto, a cada momento, uma produção espacial que lhe seja particular. As cidades administrativas e episcopais do início da Idade Média são, por exemplo, caracterizadas por ruelas tortuosas e arredores fortificados. As cidades que surgem depois, ao contrário, possuem ruas largas, planos retangulares permitindo o tráfego e suas atividades ultrapassam as antigas muralhas feudais” (CARLOS, 1992) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? • Portanto: primeiro existem mudanças estruturais (desenvolvimento da manufatura, etc. ), depois a população migra para a cidade. A cidade não surge de uma simples mudança de população; • “Ao contrário da Idade Média, as populações acham-se agora concentradas espacialmente, tal como o poder, seja ele político ou econômico. O Estado centralizador passa a monopolizar não somente a produção como também a circulação tornando-se, no sistema colonial, um grande aliado para a conquista de novos espaços. A produção espacial é assim mais abrangente e integrada. A descoberta de novas terras, bem como sua colonização consistem, a partir de então, numa exigência da acumulação” (CARLOS, 1992) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? CIDADE POLÍTICA CIDADE COMERCIAL Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? “O processo de integração do mercado e da mercadoria (as pessoas e as coisas) dura séculos e séculos. (. . . ) A cidade política resiste com toda sua força, com toda sua coesão; ela sente-se, sabe-se ameaçada pelo mercado, pela mercadoria, pelos comerciantes, por sua forma de propriedade (a propriedade mobiliária, movente por definição: o dinheiro)” (LEFEBVRE, 1968) “(. . . ) a praça do mercado torna-se central. Ela sucede, suplanta, a praça da reunião (a ágora, o fórum). Em torno do mercado, tornado essencial, agrupam-se a Igreja e a prefeitura (ocupada por uma oligarquia de mercadores), com sua torre ou seu campanário, símbolo de liberdade. Deve-se notar que a arquitetura segue e traduz a nova concepção da cidade. O espaço urbano torna-se o lugar do encontro das coisas e das pessoas, da troca”. (LEFEBVRE, 1968) Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
E a cidade? função-forma-estrutura: “(. . . ) a troca comercial torna-se função urbana; essa função faz surgir uma forma (ou formas: arquiteturais e/ou urbanísticas) e, em decorrência, uma nova estrutura do espaço” (LEFEBVRE, 1968) Relação cidade-campo: “(. . . ) a cidade não aparece mais, nem mesmo para si mesma, como uma ilha urbana num oceano camponês; ela não aparece mais para si mesma como um paradoxo (. . . ) Ela entra na consciência e no conhecimento como um dos termos, igual ao outro, da oposição cidade-campo” (LEFEBVRE, 1968). Cidade subordina o campo, e o campo passa a produzir para a cidade. Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
Bibliografia • Vicentino, Claudio. História Geral: ensino médio. 2006 • Jr. , Hilário Franco. O feudalismo. 1988 • Carlos, Ana Fani Alessandri. A cidade. 1992 • Lefebvre, Henri. A revolução urbana. 1970 • Lefebvre, Henri. O direito à cidade. 1968 Prof. Gabriel Alvarez – Geografia Política e Urbana – EPUFABC 2016
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