Fundamentos da Cincia da Informao Carlos Alberto vila
Fundamentos da Ciência da Informação Carlos Alberto Ávila Araújo 13/03/2018
A proposta da disciplina • O campo da reflexão epistemológica – o que é? Para que serve? • O termo “ciência” – o que significa? De que tipo de ciência estamos falando? • Informação como fenômeno e como objeto de estudo • A desnaturalização da “ciência da informação” • A proposta do novo PPGCI/UFMG
1. O campo da epistemologia • Conhecimento do conhecimento (prática cotidiana dos cientistas x reflexão sobre ela) • Critérios de validade, pertinência, verdade, possibilidade e natureza do conhecimento • A existência de subáreas e de correntes de pensamento • Disciplina ser “epistemologicamente neutra”?
2. A situação institucional • Discussão epistemológica é afetada pelas condições político-sociais • Relações (polêmicas) com outras áreas de conhecimento • Infra-estrutura da CI: associações, cursos, periódicos, profissionais • Realidade diferente nos vários países
Área de Ciência da Informação, no CNPq DENTRO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS, ENTRE COMUNICAÇÃO E MUSEOLOGIA DENTRO DELA, ONZE SUBÁREAS: 1 - Teoria da informação 2 - Teoria geral da informação 3 - Processos da comunicação 4 - Representação da informação 5 -Biblioteconomia 6 - Teoria da classificação 7 - Métodos quantitativos. Bibliometria 8 - Técnicas de recuperação da informação 9 - Processos de disseminação da informação 10 - Arquivologia 11 - Organização de arquivos
GTs da Ancib GT 1: Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação GT 2: Organização e Representação do Conhecimento GT 3: Mediação, Circulação e Apropriação da Informação GT 4: Gestão da Informação e do Conhecimento nas Organizações GT 5: Política e Economia da Informação GT 6: Informação, Educação e Trabalho GT 7: Produção e Comunicação da Informação em CT&I GT 8: Informação e Tecnologia GT 9: Museu, Patrimônio e Informação GT 10: Informação e Memória GT 11: Informação e Saúde
UFAM UFPA UFPb UFPE UFBA Un. B UFG UFMG Unesp Unirio UFF UEL UFSC UFRGS FURG UFES
INFORMATION STUDIES LIBRARY AND INFORMATION SCIENCE INFORMATIKA SCIENCES DE L’INFORMATION ET DE LA COMMUNICATION INFORMATION SCIENCE &INFORMACIÓN Y DOCUMENTACIÓN TECHNOLOGY BIBLIO TECOLOGÍ A Y CIENCIA DE LA INFOR MACIÓN
Suporte institucional • Co. LIS – Conceptions of Library and Information Science • Co. LIS 1 1991 in Tampere, Finland • Co. LIS 2 1996 in Copenhagen, Denmark • Co. LIS 3 1999 in Dubrovnik, Croatia • Co. LIS 4 2002 in Seattle, USA • Co. LIS 5 2005 in Glasgow, Scotland • Co. LIS 6 2007 in Borås, Sweden • Co. LIS 7 2010 in London, • Co. LIS 8 2013 in Copenhagen, Denmark, • Co. LIS 9 2016 in Uppsala, Sweden, • International Conference on Information Society 2017; Conference on Information and Knowledge Management; International Conference on Information Law and Ethics; The Information Behaviour Conference; Information Literacy Annual Conference; International Conference in Information Science; International Conference on Library and Information Science
3. O que é ciência da informação? A narrativa “clássica” • Origem das instituições coletoras da produção cultural humana (registros de conhecimento) • Bibliografia no século XV: Gesner, Tritheim – primeiro traço de uma perspectiva pós-custodial • Bibliografia e Biblioteconomia juntas nos séculos seguintes
3. 1. A Documentação • Otlet e La Fontaine, 1895, I Conferência Internacional de Bibliografia – criação do IIB → IID (1931) → FID (1938) • RBU, CDU, fichas • O conceito de documento; o Traité (1934) • Projeto universalista: armazenar e representar todo o conhecimento humano; necessidade de cooperação internacional • Traço do “pós-custodial” • Continuidade: França (Briet), EUA (Bradford), Espanha (López Yépes) • No Brasil: 1899 um membro; 1900 adoção da CDU; 1911 Serviço de Bib e Doc; diminuiu após 1930; IBBD 1954
3. 2. A relação com a Biblioteconomia • Separação entre bibliotecas públicas e bibliotecas especializadas • 1908, ALA x SLA → ADI → ASIS • Borko: “práticas biblioteconômicas devem ou deveriam ser sustentadas por achados teóricos da CI” • Shera: continuum • Taylor, Syracuse School of Information Studies, 1972: “mudança não é cosmética; atividades e estudos são outros”
3. 3. Os cientistas da informação • • • Atitude de alguns cientistas de várias áreas científicas 1921, serviço de disseminação de ICT 1948, Royal Society Scientific Information Conference 1958, Institute of Information Scientists; Vserossiisky Institut Nauchnoi i Tekhnicheskoi Informatsii – Viniti; International Conference on Scientific Information 1960 – escritório de ICT da Nasa 1962, Machlup – produção e distribuição de conhecimento na sociedade 1963, Relatório Weinberg: agência de governo devem assumir a responsabilidade pela transferência da inf ASIS, Viniti, Unesco, Ibict Miksa: “dois paradigmas”
Modelo do Unisist, 1971
3. 4. A questão tecnológica 1925, microfilmes – Goldberg – o “conteúdo” 1945, Vannevar Bush, MIT – o problema e a solução (Memex) Recuperação da informação, Mooers, déc 1950 1957: Cranfield Project I, Gremas (Fugmann), Uniterm (Taube) 1960, primeira demonstração de busca por computador 1963, Aslib’s Cranfield Project II – experimental indexing evaluation • Saracevic: “núcleo” da CI • “Pais” da CI: Bush, Wiener, Shannon, Bradford, Clarke • • •
3. 5. A consolidação da CI • 1949, Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver – primeiro conceito científico de informação - FUNDAMENTAÇÃO • Processo de comunicação como E-R envolvendo três dimensões (técnica, semântica, pragmática) – redução do objeto • Consolidação com as conferências do Georgia Tech (1962), com Borko (1968) e Saracevic (1970) – “efetiva comunicação dos registros” CI = ICT + LIS + RI • A “atualidade” e a “NATURALIDADE” dessa visão
3. 6. As décadas seguintes • Caracterização como campo científico – ciência pósmoderna, social, interdisciplinar • Desenvolvimento de diferentes subáreas: ICT, GIC, OICD, EU, EPI, IM • Evolução do conceito de informação: virada cognitiva, virada pragmática • E ainda, uma questão específica: ABM • A convivência de distintos “projetos” de CI
4. O desafio colocado: qual a CI do PPGCI/UFMG? • A questão institucional – uma “oportunidade” • A sensibilidade para os movimentos contemporâneos da ciência da informação • As implicações epistemológicas – currículos, eventos, agendas de pesquisa • Interlocutores privilegiados • Os mesmos “atravessamentos” e as perspectivas contemporâneas: o que “emerge” da análise?
5. Surgimento e evolução das áreas ABM • Renascimento: primeiros tratados, coleção, acervo, “patrimônio”, tesouros – guarda, preservação • Modernidade: rotinas institucionais, “gestão” • Positivismo: técnicas de tratamento, regras, “nomos”, “grafias” • Espaço reflexivo – ciências “auxiliares” • Ciências dos objetos, das instituições que os custodiam e das técnicas para tratá-los • Separação acentuada pelas associações profissionais (fim do XIX, início do XX)
Consolidação de um paradigma em fins do século XIX INSTITUIÇÕES COLETORAS (UNIDADES DE INFORMAÇÃO) REGRAS DE TRATAMENTO TÉCNICO DOS ACERVOS OBJETOS CUSTODIADOS (DOCUMENTOS)
De re diplomática, de Dom Jean Mabbilon, publicada em 1681, que contém “os primeiros elementos da doutrina arquivística” (FONSECA, 2005, p. 31)
Advis pour dresser une bibliothèque, de Gabriel Naudé, publicada em 1627, que marca a “transição da biblioteconomia empírica para a moderna prática bibliotecária” (FONSECA, 1979, p. 11)
Museographia, de Gaspar Neickel, de 1727, com conselhos e normas sobre a exposição dos objetos em museus, a maneira de conservá-los e seu estudo (HERNÁNDEZ, 1998, p. 23).
5. 1. Estudos funcionalistas • Propostas para tornar A, B e M dinâmicos, vivos, ativos • Lógica da eficácia, produtividade • Cumprimento de funções/tarefas no ambiente mais amplo ao qual pertencem (sociedade como um todo; organizações) • Primeira manifestação de um pensamento “póscustodial”
Arquivologia - Eficácia, arquivos correntes – Jenkinson, Casanova - Avaliação, teoria do valor – Muller, Brooks, Schellenberg - Records management, Warren - Dinamização de arquivos – Alberch i Fugueras Biblioteconomia - Public Library Movements, Horace, Mann - Referência, Green - Chicago, Butler, Shera, funções na sociedade - Cinco leis, Ranganathan; outros: Thompson, Urquhart - Library Media Centers Museologia - “Museum education”, Flower, Gilman, Coleman, Dana, Goode, iniciativas práticas (ex: Toledo) - Museu imaginário, Malraux – Centro Pompidou - Comunicação, Cameron - “Nova museologia” (Vergo, etc) - Tipologia de museus
5. 2. Estudos críticos • Impacto do pensamento crítico sobre a corrente positivista • Relação com processos de dominação, conflito, poder – ABM como espaços de contradições • Ideologia como categoria analítica • Denúncia dos papéis desempenhados por A, B e M • Resgate da perspectiva histórica/contextual das instituições e das práticas que se desenvolvem nelas
Arquivologia - Critérios arquivísticos – Bautier, etc - Políticas nacionais de informação (Unesco) - “Mal estar” – Derrida, Colombo - Arquivística pós-moderna – Cook, Caswell, Schwartz Biblioteconomia - Ação cultural, gosto popular - Bibliotecas como “centro de cultura” (Milanesi) - Teoria marxista do escrito – Estivals, Meyriat, Breton Museologia - O “museu autoritário” – Valéry, Zola, Marinetti, Adorno - “Antimuseu” - Bourdieu, sociologia dos públicos - Anderson, “comunidade imaginada” - Museologia crítica: Santacana Mestre, Hernández Cardona
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5. 3. A perspectiva dos sujeitos • Origem com pesquisas para dados de satisfação/avaliação (“feedback”) ou perfis de públicos – lógica de controle • Crítica à perspectiva de A, B e M agindo sobre os indivíduos • Sujeitos ativos, produtores de significado
Arquivologia - Liberalização do acesso – CIA 1966, 1967 - Taylor, Dowle, Cox – necessidades de informação - Cidadãos – Coeuré, Duclert Biblioteconomia - “Estudos de comunidade” - Hábitos de leitura – Brascomb, Knapp, Evans - Estudos de avaliação - Necessidades e usos, variáveis – Line, Paisley, Lancaster, Brittain - Abordagem construtivista – Kuhlthau, Todd Museologia - Estudos de visitantes – Galton, Gilman - Estudos comportamentais – Robinson, Melton - Estudos de aprendizagem – Cummings, Derryberry, Shettel - Abordagem construtivista – Eason, Friedman - Modelo tridimesional (Loomis), teoria dos filtros (Mc. Manus), modelo sociocognitivo (Uzzell)
5. 4. Teorias da representação • Aspecto inicialmente tratado apenas de uma perspectiva técnica – representação únivoca, correta • Problematização das técnicas e depois da própria dimensão significativa dos acervos e instrumentos utilizados para sua representação • Progressivo abandono de uma perspectiva representacional (espelho) em prol de uma semiótica
Arquivologia - Record group, 1941 - CIA, 1964 – critérios para descrição - Manuais de Tascón, Tanodi - Teoria estruturalista de Laroche - Conceito de fundo e princípio de proveniência – Duchein, Lodolini, Duranti - ISAD (G) e ISAAR (CPF) Biblioteconomia - Catalogação – IFLA, AACR, ISBD; OCLC, FRBR - Classificação bibliográfica – Dewey, Cutter, Otlet - Teoria da classificação facetada – Ranganathan, CRG - Teoria do conceito - Linguagens de indexação Museologia - “Documentação museológica”, Taylor, Schnapper, Roberts - Práticas de significação – Semedo, Lorente, Duncan - Estudos culturais – Hooper-Greenhill, Pearce - Iniciativas: historicismo radical de Dorner, period rooms do Prado, Smithsonian, Trocadero, etc
5. 5. Abordagens contemporâneas • • • Novos tipos de instituições e serviços Espaço extra-institucional Fluxos, circulação Interação mútua entre instituições e públicos Perspectivas globalizantes, sistêmicas, “totais”, “integrais” • Imaterial • Tecnologias digitais (mais do que instrumental) • Demanda por um novo paradigma
Arquivologia -Conceito de arquivo – CIA 1962, Tanodi (“arquivalia”) - Tipos de arquivos – sonoros, visuais, microfilme, arte - Programa RAMP - A questão da tecnologia - Arquivística integrada – Couture, Rousseau, Ducharme - Arquivos como construções sociais – Thomassen, Delgado Gómez - História oral, arquivos pessoais e familiares -Archivalization (Ketelaar) Biblioteconomia -Mediação – Ortega y Gasset, Litton, Gómez Hernández, Estabel; “assembleia de usuários” (Fonseca) - “Biblioteca 2. 0”, Casey, Miller; - “Nova Biblioteconomia” (Lankes) - Competência informacional – Zurkowsky - Bibliotecas eletrônicas – Rowley Museologia -Ecomuseus e a Nova Museologia (Rivière, Varine) - ICOM Santiago 1972, Quebec 1984 – Minom - Musealização – Fernández Paz, Agudo Torrico, “bem cultural” -O “museal” x “ciência do hospital” - Stránský - Patrimônio imaterial - Museu virtual, Museum Informatics (Marty, Jones)
Algumas iniciativas • As experiências do Canadá (AN + BN), da Europa (Europeana, Discovery Project), EUA (silos of the LAMs), América Latina (EBAM) • Brasil: Integrar 2002, 2006, 2016; ABM pós-custodial 2011; Abrainfo; Edicic 2016; Co. LIS 2016 • Recente mudança de área na tabela CNPq • As “interpretações” do fato: fusão/tronco comum/guarda-chuva • Falsas antinomias: científico/técnico, custodial/póscustodial, patrimônio/informação
6. O saldo para a nossa discussão • ABM atravessadas pelas mesmas correntes – propostas atuais resultados do acúmulo e do cruzamento das contribuições (archivalization/mediação/museal) • É com ESSAS tendências que CI vai dialogar – Shera (epistemologia social), Bates (iceberg), Silva (epifenômeno), Capurro (eidos + morphé) • Vai ao encontro de certas perspectivas da evolução da CI – o que “emerge” das caracterizações, correntes e viradas conceituais • ESCOLHA: informação, mediações e cultura
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