Florestan Fernandes Florestan Fernandes 1920 1995 Florestan Fernandes

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Florestan Fernandes

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Florestan Fernandes (1920 -1995) • Florestan Fernandes nasceu em São Paulo em 1920 e

Florestan Fernandes (1920 -1995) • Florestan Fernandes nasceu em São Paulo em 1920 e faleceu em circunstâncias dramáticas, por erro médico, em 1995. Não era filho nem da alta, nem da pequena burguesia. • Órfão, trabalhou desde a infância para manter a si mesmo e à mãe. Seus estudos básicos foram muito prejudicados por essa razão: não completou o primário e teve de fazer o curso de madureza porque não pôde cursar o secundário. • Apesar dessa vida pessoal e familiar difícil e da formação básica precária, ou talvez por causa disso mesmo, chegou à universidade aos 21 anos. De 1940 a 1951 fez a licenciatura e o bacharelado em ciências sociais, na USP, e o mestrado e o doutorado em sociologia e antropologia na Escola Livre de Sociologia e Política.

Obras • Organização social dos Tupinambá (1949); • A função social da guerra na

Obras • Organização social dos Tupinambá (1949); • A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1952); • A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questionamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil, até os anos 50); • Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959); • Mudanças sociais no Brasil (1960) (nesta obra Florestan faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil); • Folclore e mudança social na cidade de São Paulo (1961) (esta obra reúne trabalhos e pesquisas realizadas nos anos em que Florestan foi aluno de Roger Bastide na USP, dedicados a várias manifestações de cultura popular entre crianças da cidade de São Paulo).

 • A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações

• A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações raciais no Brasil); • Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968); • Capitalismo dependente e Classes Sociais na América Latina (1973); • A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975) (reedição em volume de artigos anteriormente publicados em revisas científicas e dedicados à produção recente da antropologia brasileira); • A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica (1975); • Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana (1979); • O que é Revolução (1981);

Aspectos do pensamento de Florestan • Em 1969, foi aposentado compulsoriamente pela ditadura militar,

Aspectos do pensamento de Florestan • Em 1969, foi aposentado compulsoriamente pela ditadura militar, revelando-se um dos intelectuais mais lúcidos e críticos do regime. Foi professor visitante nos Estados Unidos (1965/66) e no Canadá (1969 -72). Como militante político, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e se elegeu deputado federal (Ianni, 1978 e 1989).

Sociologia de Florestan • Segundo Ianni, ele percebe a sociedade como uma rede de

Sociologia de Florestan • Segundo Ianni, ele percebe a sociedade como uma rede de relações sociais, uma estrutura social com os seus processos particulares, com suas interações e resistências, com suas tensões e contradições. Todo fato social enquadra-se numa relação social, e são as relações sociais que engendram a especificidade do social. As partes e o todo social se constituem e se modificam reciprocamente.

Rumo a uma sociologia brasileira • Diríamos que seu pensamento seria, talvez, um pensamento,

Rumo a uma sociologia brasileira • Diríamos que seu pensamento seria, talvez, um pensamento, mais do que eclético, como afirma Ianni, sintético — ele reúne a diferença, articulando-a, e não meramente superpondo-a. Para Ianni ainda, sua sociologia inaugurou um novo estilo de pensar a realidade social — ele estabeleceu um horizonte novo para a reflexão social e a sociedade brasileiras (Ianni, 1978 e 1989).

Sociologia + Militância • F. Fernandes defendia uma sociologia militante, a transformação da realidade

Sociologia + Militância • F. Fernandes defendia uma sociologia militante, a transformação da realidade por um pensamento reciprocamente transformado por ela. O sociólogo é cientista e cidadão. Entretanto, o pensamento social não se submete de maneira direta à ação social. A relação entre ação e pensamento é dialética, como propõe a práxis social marxista, isto é, uma vinculação sem dominação de uma esfera sobre a outra. A intervenção na realidade deve ser teórica, com dados e reflexões conceituais sobre uma realidade particular.

 • Padrões: ele busca caracterizar formas de organização e regularidades dinâmicas, reconstruíveis, discerníveis,

• Padrões: ele busca caracterizar formas de organização e regularidades dinâmicas, reconstruíveis, discerníveis, identificáveis e apreendidas em seu modo próprio de articulação; dilemas: as condições geradas pela dinâmica desses padrões, que opõem obstáculos à realização das possibilidades postas por eles. O padrão define uma maneira de organização da sociedade, os mecanismos pelos quais se atualiza a sociedade no momento; os dilemas definem as condições geradas pela dinâmica interna dessa forma de organização e que conduzem a obstáculos e opções

 • A obra de Florestan é um vasto mural das lutas populares. Os

• A obra de Florestan é um vasto mural das lutas populares. Os sujeitos do futuro brasileiro são o proletariado urbano e rural, descendentes de escravas, índias e brancos pobres, que poderão destruir os restos do passado da colonização portuguesa. Em F. Fernandes, o Brasil quer romper radicalmente com o mundo que o português e as elites brasileiras, suas descendentes, criaram. O futuro deve ser cada vez menos português, passado, e cada vez mais brasileiro, uma integração progressiva à sociedade da população, até então excluída, pela conquista e ampliação da cidadania.

A Escravidão na História do Brasil • Nessa sua visão radical do Brasil, a

A Escravidão na História do Brasil • Nessa sua visão radical do Brasil, a categoria que mais caracteriza a especificidade do processo histórico brasileiro é a da escravidão. Ela deixou marcas muito fortes nas relações sociais e na cultura do país. F. Fernandes examina o tema pelo aspecto da resistência do escravo, a sua rebeldia e a sua capacidade de transformar a sociedade brasileira.

Estudos sobre as Relações Raciais e a UNESCO (1951 -52) • A equipe de

Estudos sobre as Relações Raciais e a UNESCO (1951 -52) • A equipe de F. Fernandes, incluindo R. Bastide, um dos mestres e os pesquisadores, F. H. Cardoso, O. Ianni, E. V. da Costa, tomará Casa-grande & senzala como uma anti-referência. • A escravidão suave é um mito cruel a ser destruído. Os escravos não eram cidadãos, não podiam ter armas, propriedades, vestir-se como quisessem, sair à noite, reunir-se. E se fugissem!… Moravam em quase prisões, amontoados. Trabalhavam sob coerção, repressão e violência, com longas jornadas. • Eram castigados cruelmente e marcados a ferro quente. Suas condições de vida eram as piores. Falar em suavidade e ternura nas relações senhor/escravo é ir cinicamente contra os fatos.

A integração do negro na sociedade de classes • A luta dos negros por

A integração do negro na sociedade de classes • A luta dos negros por um espaço naquela sociedade era desumana; estavam sozinhos “abandonados à própria sorte”. O Estado, por sua vez, não propôs nenhum plano de assistência que visasse à inclusão dos excativos na nascente sociedade de classes. • Eles precisavam competir com a quantidade de libertos existente, com o “inimigo” imigrante mais bem estruturado, contra o preconceito que decaía sobre seus ombros pela sua recente história de escravidão e, principalmente, pelo seu habitus (no sentido bourdieusiano), mediante a socialização, a que fora submetido. • O imigrante bem mais preparado compete, inclusive, com brancos por posições; sua intenção de fazer fortuna o ensinara a se esforçar arduamente e a poupar. Aos poucos, os estrangeiros foram ocupando mais espaços no comércio, na arquitetura, no artesanato, entre outras atividades.

Debate sobre desenvolvimento e burguesia brasileira • Em relação a Caio Prado, Florestan Fernandes

Debate sobre desenvolvimento e burguesia brasileira • Em relação a Caio Prado, Florestan Fernandes se distingue ao superar o “sonho da autonomia nacional” no interior do sistema capitalista. Para ele, no contexto da dependência, não há proposta nacionalista que possa amortecer a luta de classes e diminuir a exploração da burguesia dependente. • Florestan Fernandes explicita os limites reais, históricos, à emancipação e à autonomia nacionais: a dependência sempre renovada e revigorada. Por isso, ele pode ser considerado um dos criadores da teoria da nova dependência, ao lado de F. H. Cardoso.

Revolução Burguesa no Brasil (1975) • É uma história sociológica do Brasil que se

Revolução Burguesa no Brasil (1975) • É uma história sociológica do Brasil que se apoia mais em escritos teóricos e históricos marxistas do que em orientações políticas internacionais. F. Fernandes produz uma interpretação do Brasil teórica e politicamente independente em diálogo crítico com as outras interpretações. Nessa obra, revela uma nova visão do Brasil, construída com base em pesquisas empíricas sobre a colonização, a escravidão e a revolução burguesa.

 • O tema do seu estudo é o modelo específico da revolução burguesa

• O tema do seu estudo é o modelo específico da revolução burguesa no Brasil, que foi diferente do modelo clássico. A burguesia revolucionária clássica implantou um sistema liberaldemocrático. Sua pergunta, então, é: por que, no Brasil, a burguesia revolucionária optou por um estilo autoritário de democracia limitada?

Burguesia Brasileira • Brasil, em certo momento da sua história, fez uma opção política:

Burguesia Brasileira • Brasil, em certo momento da sua história, fez uma opção política: optou por assimilar formas econômicas, sociais e políticas do mundo ocidental moderno, que é basicamente capitalista. Tal opção seria impossível sem a presença de uma burguesia brasileira. O que caracteriza esta burguesia é o seu aparecimento tardio, hesitante, débil, limitado, dependente, conciliador.

O significado da Revolução Burguesa • A revolução burguesa no Brasil significou a modernização

O significado da Revolução Burguesa • A revolução burguesa no Brasil significou a modernização econômica, política, cultural e social, uma transição da era senhorial, sob a hegemonia das oligarquias agrárias, para a era burguesa, quando a hegemonia foi compartilhada entre aquela oligarquia e o novo grupo social emergente, a burguesia. No Brasil, não houve um confronto estrutural entre o novo e o antigo — o velho e o novo se fundiram.

 • A burguesia brasileira produziu a sua revolução em uma economia colonial, periférica,

• A burguesia brasileira produziu a sua revolução em uma economia colonial, periférica, dependente. Não havia condições e processos econômicos que sustentassem o funcionamento dos modelos econômicos transplantados do centro. • Além disso, esses modelos transplantados não visavam a estimular o comércio interno, mas a manter e a intensificar a incorporação dependente da economia brasileira. Se havia uma modernização interna, essa se articulava de forma subalterna às economias centrais. O capitalismo brasileiro é um capitalismo dependente; a burguesia brasileira é uma burguesia dependente, um sócio menor.

 • Ele considera que quatro processos a constituíram no passado: a) um processo

• Ele considera que quatro processos a constituíram no passado: a) um processo político: a independência (1808 -22); b) um processo econômico, a mudança do padrão das relações entre o capital internacional e a economia interna (a partir de 1822, com aceleração desse processo entre 1850 -88); c) um processo sociocultural, a emergência dos dois novos tipos humanos: o fazendeiro do café e o imigrante (a partir de 1870); d) um processo socioeconômico, a abolição e a expansão da ordem social

Processo Político 1808 -1822 • Apareceu uma produção agrícola e artesanal destinada ao mercado

Processo Político 1808 -1822 • Apareceu uma produção agrícola e artesanal destinada ao mercado interno. As cidades começaram a se desenvolver. Nesse primeiro momento, essas expressões de uma economia interna se subordinavam ainda ao mercado externo. A independência política não conduziu a nenhuma transformação econômica revolucionária, mas alterou de modo significativo a relação de dependência econômica

Processo Econômico • Após a independência, o processo econômico, o segundo processo desencadeador da

Processo Econômico • Após a independência, o processo econômico, o segundo processo desencadeador da revolução burguesa, houve uma mudança nas relações entre a economia brasileira e o neocolonialismo. Os agentes estrangeiros que comercializavam os produtos brasileiros antes da independência assumirão, após, o controle da antiga colônia sem riscos políticos. A participação da Coroa no excedente foi redistribuída. A exploração colonial passou a ser, agora, estritamente econômica.

Processo Sóciocultural • A Revolução Burguesa se inicia com a mediação de uma classe

Processo Sóciocultural • A Revolução Burguesa se inicia com a mediação de uma classe comerciante que será responsável pela organização dos produtores nacionais nas trocas internacionais com os estrangeiros. • O primeiro surto capitalista no Brasil não se deu nem na agricultura exportadora e nem na produção manufatureira ou industrial, mas no complexo comercial e financeiro, constituído sob as pressões econômicas do neocolonialismo e do desenvolvimento urbano. • O espírito burguês chega antes do capitalismo

 • processo sociocultural, o terceiro processo dinamizador da revolução burguesa, ao criar as

• processo sociocultural, o terceiro processo dinamizador da revolução burguesa, ao criar as condições para o surgimento dos dois novos tipos humanos: • O fazendeiro do café já não possui status por razões tradicionais, mas por razões econômicas. Sua fazenda não é mais o seu domínio, seu estado, sua moradia — é a sua empresa. Ele habita a cidade, investe no crescimento desta O segundo agente da revolução burguesa virá do exterior da história do Brasil. Seu passado não é interno, o que o tornará livre para agir. Ele já chegou com o espírito burguês e é mais audacioso. Trata-se dos imigrantes europeus e asiáticos, um agente heterogêneo. Eles apareceram na história do Brasil quando a economia de mercado exigia a substituição do trabalho escravo pelo livre. Foi aquele fazendeiro moderno quem os trouxe para a

Processo sócioeconômico • O processo socioeconômico é o quarto processo desencadeador da revolução burguesa

Processo sócioeconômico • O processo socioeconômico é o quarto processo desencadeador da revolução burguesa no Brasil. Nas sociedades nacionais dependentes, o capitalismo foi introduzido antes da constituição da ordem social competitiva. • O espírito do capitalismo chegou primeiro à esfera comercial e só depois constituiu as relações de produção que lhe são correspondentes. A ordem escravista colonial brasileira resistiu quase um século à sua superação por uma ordem social capitalista, apesar de suas tensões internas. Ela poderia sobreviver ainda convivendo com o crescimento da população e a urbanização. Mas não sobreviveria à integração da economia brasileira à economia mundial, que exigia a mercantilização do trabalho.

Revolução “limitada” • Eis, portanto, os quatro processos que constituíram a revolução burguesa no

Revolução “limitada” • Eis, portanto, os quatro processos que constituíram a revolução burguesa no Brasil no século XIX. Eles implantaram o capitalismo no Brasil; mas a aceleração desse processo virá somente no século XX, com a industrialização, a Revolução de 1930 e vários episódios trágicos de tomada do Estado e de exclusão pela força dos movimentos populares. A burguesia brasileira possui um espírito modernizador, mas circunscreveu essa modernização à esfera econômica. Fora daí, ela faz um discurso revolucionário, imitando a burguesia

Os sujeitos da “Revolução” • Foram a oligarquia tradicional agrária aliada à elite dos

Os sujeitos da “Revolução” • Foram a oligarquia tradicional agrária aliada à elite dos negócios comerciais e financeiros que decidiram, e não as classes industriais, o que deveria ser a dominação burguesa na prática. Foi essa aliança reacionária que comboiou os outros setores das classes dominantes, reprimindo o proletariado e conduzindo a luta de classes. • Aparentemente, essa aliança foi destituída em 1930. Mas ressurgiu em 1937, no governo Dutra e em 1964, sem desaparecer nos entreatos. Em 1964, a burguesia unida estabeleceu uma relação íntima com o capital financeiro internacional, reprimiu a subversão política da ordem, apossou-se do Estado, que se tornou então exclusivamente burguês. A dominação burguesa no Brasil se revelou então como ela é. As burguesias interna e internacional se associaram economicamente e tomaram o Estado para a modernização capitalista “pelo alto”.

 • Em suma, o regime compatível com a natureza peculiar da revolução burguesa

• Em suma, o regime compatível com a natureza peculiar da revolução burguesa no Brasil traz o timbre de uma classe dominante que, não obstante estar inscrita historicamente em um processo de transformação da sociedade, não suporta a polarização (e, portanto, também o conflito de classes) e, sob pressão, recua para a acomodação econômica e social e para o despotismo político.