FESTA DOS ANOS DE LVARO DE CAMPOS Tavira

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FESTA DOS ANOS DE ÁLVARO DE CAMPOS Tavira, Poemas e Pessoa (Sem som, só

FESTA DOS ANOS DE ÁLVARO DE CAMPOS Tavira, Poemas e Pessoa (Sem som, só texto)

Álvaro de Campos, como engenheiro, exalta o progresso, a velocidade, a força da máquina,

Álvaro de Campos, como engenheiro, exalta o progresso, a velocidade, a força da máquina, a civilização industrial. No ano do seu nascimento, 1890, o progresso em Tavira assinalou-se com a abertura de um troço da estrada de Santo Estevão e pela chegada do coreto, destinado ao jardim inaugurado no mesmo ano, tornando-se um espaço de lazer dos tavirenses. A ilustrar alguns poemas de Álvaro de Campos, apresentam-se imagens da coleção fotográfica do Arquivo Municipal. Tendo ligações familiares a Tavira, apresentam-se algumas curiosidades documentais, relacionadas com a família de Fernando Pessoa.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Aniversário Testamento de Jacques Pessoa, 1908 Registo de enterramento de João Daniel Gil Pessoa, 1902 As relações familiares de Fernando Pessoa a Tavira, são já conhecidas, pelo que, através de documentos existentes no Arquivo Municipal de Tavira, recordamos aqui esses laços familiares. Jacques Pessoa, filho de Jacques Cesário de Araújo Pessoa e de Maria da Luz Lampreia, nasceu em Mértola em 1849. Primo em segundo grau de Fernando Pessoa, veio a falecer em Tavira a 2 de janeiro de 1909. Em 07 de novembro de 1910, o Município de Tavira decidiu, em homenagem a este militante republicano, atribuir o seu nome à rua marginal que vai da ponte velha até ao Largo da Caracolinha. No seu testamento refere que é “agrónomo e proprietário”, estado civil solteiro, mas tem quatro filhos perfilhados menores de idade. Nomeia para tratar dos seus filhos Alzira, Jacques e Eduarda, “o seu particular amigo Luís Augusto Camacho Sabbo”. Declara que tem um cofre com 45 obrigações da Companhia Real dos Caminhos de Ferro, que deixa a Francisca da Conceição Caçapo, solteira, “ que vive em sua companhia”.

Genealogia de Fernando Pessoa e a sua ligação a Tavira Daniel Pessoa e Cunha

Genealogia de Fernando Pessoa e a sua ligação a Tavira Daniel Pessoa e Cunha n. Serpa a 05/08/1780 e f. a 31/10/1822 Joana Xavier Pereira de Araújo e Sousa n. Faro, 13/03/1788 José António Pereira de Araújo Pessoa f. Tavira a 23/02/1828 Joana Xavier Gil Pessoa Casou em 1864 com Manuel F. Aboim �Provedor da Misericórdia de Tavira em 1891 João Paulo de Araújo Pessoa� n. Tavira a 13/03/1811 e f. 1888 Maria José da Natividade Gil Cardeira Joaquim António de Araújo Pessoa n. Tavira a 15/02/1813 Dionísia Rosa Estrela de Seabra n. Lisboa Jacques Cesário de Araújo Pessoa� n. Tavira a 26/02/1816 Maria da Cruz Lampreia João Daniel Gil Pessoa f. Tavira em 1902 Maria Teresa Ribeiro Ramos (1ª núpcias) Júlia de Chelmicki (2ª núpcias a 1880) – sem geração Joaquim de Seabra Pessoa n. Lisboa a 28/05/1850 Maria Madalena Pinheiro Nogueira n. Angra do Heroísmo Jacques Pessoa n. Mértola em 1849 f. Tavira em 02/01/1909 Ester Ramos Pessoa João José Pádua Cruz (1905) (3 filhas e 1 filho) Fernando António Nogueira Pessoa, n. Lisboa a 13/06/1888 �Guarda-mor de Saúde, tabelião. Vereador e Presidente �Industrial, fundador da Fábrica de Moagem e da Câmara Municipal de Tavira em 1840. Massas de Tavira, montada em 1890. �Médico e Vereador da Câmara Municipal de Tavira em 1880; Administrador do Concelho em 1877

O progresso de Álvaro de Campos e Tavira “Mas, ah outra vez a raiva

O progresso de Álvaro de Campos e Tavira “Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus. E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios De todas as partes do mundo, De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas. Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!” Ode Triunfal Ofício de 11 de janeiro de 1890, da Fundição do Ouro, do Porto, a informar que o Coreto seguiu por vapor até Olhão.

“Há cortejos, pompas, discursos, Na inauguração quotidiana dos meus sentimentos inúteis. . . São

“Há cortejos, pompas, discursos, Na inauguração quotidiana dos meus sentimentos inúteis. . . São iluminadas à veneziana por luzes contentes As minhas decepções, e os meus desesperos vão em carrossel Por uma necessidade [fatídica? ] do destino”. Há cortejos, pompas, discursos Planta do coreto de 1888. A chegada a Tavira e instalação deu-se no ano de nascimento de Álvaro de Campos, 1890. Mandado fazer na Fundição do Ouro, a planta do Coreto, cujo autor do desenho é desconhecido, data de 1888. A sua chegada a Tavira deu-se em 1890, como indica o ofício de 11 de janeiro de 1890, a informar a Câmara Municipal que o coreto seguiu por vapor para Olhão. Localizado no centro do jardim e com uma planta octogonal, representa a denominada “arquitetura do ferro” oitocentista. Esta obra de arte que ainda hoje enfeita o Jardim Público de Tavira, é aqui apresentada como símbolo do progresso e da industrialização, que Álvaro de Campos assinalou em poemas como a “Ode Triunfal” ou “Tão pouco heráldica a vida!”.

“Nas praças vindouras — talvez as mesmas que as nossas — Que elixires serão

“Nas praças vindouras — talvez as mesmas que as nossas — Que elixires serão apregoados? Com rótulos diferentes, os mesmos do Egipto dos Faraós; Com outros processos de os fazer comprar, os que já são nossos”. Nas praças vindouras — talvez as mesmas que as nossas — Foi no jardim Público de Tavira, inaugurado em finais de 1890, que ficou instalado o coreto, conforme se pode verificar na planta que não se encontra datada. Conhecido também por Jardim do Coreto, o seu traçado sofreu alterações no século XX e, em vez dos passeios em terra, hoje temos um jardim com a calçada tipicamente portuguesa. Jardim e coreto são hoje um local de encontro, de convívio e de lazer, tal como se pretendia aquando da sua construção.

A fábrica foi vendida em 1920 a Joaquim António Pacheco, passando a ser a

A fábrica foi vendida em 1920 a Joaquim António Pacheco, passando a ser a Panificadora J. A. Pacheco, que encerrou atividade em 1971. “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!” Ode Triunfal

“Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina!”

“Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina!” Ode Triunfal Desenho do carro de rega, que a Câmara veio a adquirir, conforme ofício de 17 de julho de 1890

Mapa indicativo de construção das estradas municipais, de 1890. Destas estradas, sabe-se que foi

Mapa indicativo de construção das estradas municipais, de 1890. Destas estradas, sabe-se que foi aberta a estrada de Luz a Santo Estevão. “Partamos para onde se fique. Ó estrada para não-haver-estradas! Término no Não-Parar!” Walt Whitman A abertura de estradas foi sempre um sinal de progresso, permitindo a melhoria e incremento das vias de comunicação, aproximando lugares, pessoas e bens. Em 1890 eram muitas as necessidades de construção de estradas, como demonstra o mapa indicativo de construção de estradas municipais do concelho de Tavira. Contudo, nesse ano, foi construída apenas a estrada municipal de Santo Estevão ao Tesouro, nos limites do concelho de Tavira e de Olhão. Este documento reflete a urgência de abertura de novas vias de comunicação, nomeadamente as estradas rurais que aproximavam assim os “Campos” esquecidos à cidade cada vez mais modernizada.

Álvaro de Campos e Tavira Cheguei finalmente à vila da minha infância. Desci do

Álvaro de Campos e Tavira Cheguei finalmente à vila da minha infância. Desci do comboio, recordei-me, olhei, vi, comparei. (Tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado). Tudo é velho onde fui novo. (…) De repente avanço seguro, resolutamente. Passou roda a minha hesitação Esta vila da minha infância é afinal uma cidade estrangeira. Col. CMT, autor desconhecido Col CMT, Família Andrade Notas sobre Tavira Col. CMT, autor desconhecido Col. CMT, autor Solésio Padinha.

Fontes arquivísticas: Fundo da Câmara Municipal de Tavira Coreto de Tavira, 1888 Planta do

Fontes arquivísticas: Fundo da Câmara Municipal de Tavira Coreto de Tavira, 1888 Planta do Jardim Público, s. d. Livro de Atas da Vereação, nº 22, 1890, fl. 80. Livro de registo de enterramentos, 1892 -1902, fls. 82 v. e 83 Correspondência recebida, 1890 Coleção fotográfica CMT Fundo da Administração do Concelho de Tavira Livro de registo de testamentos da Administração do Concelho de Tavira, nº 62, fls. 46 vº a 50 vº Bibliografia: Poemas de Álvaro de Campos: http: //arquivopessoa. net/textos/580 [acesso em linha, setembro 2016] Casa Fernando Pessoa, Cronologia: http: //casafernandopessoa. cm-lisboa. pt/ [acesso em linha, setembro 2016] ANICA, Arnaldo – “Toponímia de Tavira”, Câmara Municipal de Tavira, 2000. CHAGAS, Ofir –”Tavira - Memória de uma cidade”, edição do autor, 2004. Textos e seleção documental: Arquivo Municipal de Tavira Tradução: John Coston