Eve Kosofsky Sedgwick 1990 Estudos Queer Judith Butler
Eve Kosofsky Sedgwick 1990 Estudos Queer Judith Butler 1990 -1993 V. S. Peterson 2013 Teoria Queer em RI Cynthia Weber 2016
A Teoria Queer I A Teoria Queer é uma das áreas mais promissoras e inovadoras das ciências sociais. . Embora a Teoria Queer possa ser reconhecida por muitos como uma disciplina acadêmica relativamente estabelecida, ela continua a lutar contra os efeitos da camisa de força da institucionalização acadêmica que impede novas áreas surgirem. Em uma análise dos principais manuais de Teorias de RI das três últimas décadas, a Teoria Queer simplesmente não é citada ou sequer mencionada (Burchill et al 1995, Viotti e Kauppi 2012, Carlsnaes et al 2013). O mesmo vale para o principal manual brasileiro (Nogueira e Messari 2005). Enquanto o Feminismo aparece em todos os manuais, ainda que de maneira incidental ou compartimentalizada, a Teoria Queer não recebe menção nem mesmo quando se fala de gênero.
A Teoria Queer II O maior engajamento político na questão do HIV/AIDS e a criação das de alianças políticas entre lésbicas e gays colocou na pauta política a questão da sexualidade. O próprio termo ‘queer’, cuja origem na língua inglesa é pejorativa, transformou-se na bandeira dos movimentos pela igualdade de direitos de pessoas do mesmo sexo. Alia-se a isso o advento das teorias criticas e interpretativas nos anos 1990 e o crescimento das teorias feministas que propiciaram um ambiente político e intelectual para a articulação de uma verdadeira Teoria Queer. Uma resposta crítica às teorias feministas no tema da sexualidade. As primeiras análises queer viam nas feministas uma certa limitação por conta de uma ênfase excessiva na discussão do gênero e propunham um olhar mais voltado à sexualidade e à questão performática do que gênero propriamente.
A Teoria Queer III Os estudos queer têm três premissas cujo objetivo é construir uma verdadeira epistemologia queer. Primeiro, os estudos Queer questionam uniformidade das identidades sexuais. a Os estudos Queer mostram como a diversidade sexual e de gênero desfaz identidades fixas, tais como gays, lésbicas e heterossexuais. Isso levou a teorizações sobre sexualidade e gênero como algo flexível, muitas vezes anti-normativo e politizado.
A Teoria Queer IV Segundo, a sexualidade não é natural, mas algo construído discursivamente que é experimentada e compreendida em contextos culturais historicamente específicos. Não há um relato verdadeiro ou correto da heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assim por diante. As categorias que definem tipos específicos de relações e práticas são culturalmente e historicamente específicas e não operaram em todas as culturas ao mesmo tempo. Em suma, a Teoria Queer, dentro da tradição das teorias interpretativas e críticas, procura desnaturalizar entendimentos e compreensões heteronormativas de sexo, gênero, sexualidade, mostrando como estas noções são socialmente e discursivamente construídas.
A Teoria Queer V Terceiro, sexo e sexualidade são performáticos. Para Butler (1990) sexo é o efeito performativo de atos reiterados pelo corpo que são repetidos através de uma estrutura regulatória altamente rígida (heteronormatividade, por exemplo) que congela, ao longo do tempo, uma aparência de substância, de um tipo natural de ser. Ao invés de serem expressões de uma identidade inata, os atos e gestos que são aprendidos e são repetidos ao longo do tempo criam a ilusão de algo inato e estável. Esses atos são performativos no sentido de que a essência ou identidade que de outra forma pretendem expressar são fabricações sustentadas por meio de signos corporais e meios discursivos. O fato do corpo ser performático sugere que não há um status fixo e separado dos vários atos que constituem a sua realidade. Nós somos, sexualmente falando, aquilo que os gestos da nossa performance indicam.
A Teoria Queer VI Três conceitos: queer, heteronormatividade e interseccionalidade. Primeiro, o significado de queer. É comum atribuir à acadêmica e poeta Eve Kosofsky Sedgwick a descrição do termo. Para a autora, queer significa “as possibilidades abertas, lacunas, sobreposições, dissonâncias e ressonâncias, lapsos e excessos de significado em relação ao conjunto de elementos que constituem o gênero, porque a sexualidade de uma pessoa não é feita (ou não pode ser feita) monoliticamente” (Sedgwick 1993). A subjetividade queer excede as lógicas binárias e excludentes. São subjetividades que dão significado a mais do que um sexo, gênero e / ou sexualidade, e muitas vezes o fazem ao mesmo tempo. Em suma, queer é, por definição, tudo o que está em desacordo com o normal, legítimo ou dominante. É uma identidade sem essência
A Teoria Queer VII Segundo, heteronormatividade significa normas sociais que regulam a vida social tendo como base a premissa da heterossexualidade dos indivíduos. A heterossexualidade não deve ser considerada simplesmente uma forma de expressão sexual. A heteronormatividade define não apenas uma prática sexual normativa, mas também um modo de vida normal. A heterossexualidade não é apenas uma chave da intersecção entre gêneros e sexualidade, mas também aquela que revela as interconexões entre os aspectos sexuais e não sexuais da vida em sociedade. Heterossexualidade é, por definição, uma relação de gênero que ordena não só a vida sexual, mas também as divisões domésticas e pública, de trabalho e família na sociedade.
A Teoria Queer VIII Terceiro, interseccionalidade define que a identidade de uma pessoa não é simplesmente a soma de suas partes. Simplesmente somar suas identidades não é igual a identidade única. Múltiplas identidades e experiências interagem e mutuamente constroem a identidade que é múltipla, fluida e complexa. Em geral, aqueles com múltiplas identidades constantemente formam e reformam suas identidades, demonstrando poder e agência na criação de suas próprias identidades ao resistir à identidades normativas da sociedade.
A Teoria Queer IX Eve Sedgwick publicou seu texto queer mais marcante Epistemology of the Closet - em 1990. Sedgwick afirma no texto que a homossexualidade é crucial para uma série de binários contraditórios fundamentais para se entender a modernidade ocidental. A autora analisa o surgimento da homossexualidade como uma identidade codificada em contraposição ao heterossexual desde da virada do século XX até os anos 1980. Nunca antes deste período as identidades sexuais tinham sido fixadas e atribuídas a indivíduos de uma forma comparável.
A Teoria Queer X A divisão homo-hetero – o caso Joe Acanfora 1970. Sedgwick é especialmente incisiva ao discutir a construção aparentemente arbitrária da sexualidade moderna em categorias binárias. Os binarismos não eram tão octogonais e foi no fim do século XIX e início do XX que esta forte dicotomia começou a ser criada no mundo ocidental. É apenas por meio da criação da categoria de "homossexual" que surgiu o "heterossexual". Depois de mais de um século de discursos, procedimentos médicos, leis e tratamentos psiquiátricos, essas categorias passaram a ter significados diametralmente opostos. O objetivo de Sedgwick é expor, portanto, a dependência de uma posição heterossexual privilegiada mediante a existência de um homossexual subordinado.
A Teoria Queer XI Judith Butler publicou os influentes livros Gender Trouble (1990) e Bodies That Matter (1993). O argumento central de Butler no livro Gender Trouble é de que gênero e sexo não são naturais, mas performáticos. Inicialmente, o livro contribuiu para os debates dentro do Feminismo sobre como realizar uma análise feminista criticando todos os tipos de essencialismos, fundamentalmente aqueles dentro da categoria “mulher”. Em Gender Trouble, Butler argumenta que gênero é uma performance cultural impulsionada pela heterossexualidade compulsória, e que, como tal, é performativo. O gênero é definido pelos seus atos e não por uma essência prévia. Em vez de expressar algum núcleo interno ou identidade preexistente, os atos reiterados de gênero produzem apenas uma ilusão de essência.
A Teoria Queer XII A performance é temporária uma vez que envolve a repetição ritualizada de convenções que são moldadas pela heterossexualidade compulsória. Butler se refere a estas repetições como ‘performances sociais sustentadas’ que criam a realidade fictícia de gênero. O objetivo de Butler é estabelecer uma genealogia crítica dos binarismos que constroem e estruturam as categorias de sexo, gênero, sexualidade, desejo e corpo. Butler mostra que estas categorias são produtos fictícios de certos regimes de poder e conhecimento que se manifestam por meio de um discurso hegemônico, geralmente associado à heteronormatividade. Por consequência, estas categorias não são efeitos naturais do corpo. Pelo contrário, são ficções no sentido de que não preexistem aos regimes de poder e conhecimento. A drag queen como ator subversivo da heteronartividade e da performatividade do gênero.
A Teoria Queer XIII Cynthia Weber - não é possível continuar fingindo que as RI "não necessitam de uma Teoria Queer". Em Queer International Relations: sovereignty, sexuality and the will to knowledge (2016) – Weber mostra que os estudos queer poderiam ganhar com o olhar dos internacionalistas sobre como as soberanias são implantadas para produzir identidades sexualizadas que supostamente sustentam a ordem internacional. A maioria dos estudos queer subestimam como a construção do conhecimento sobre sexualidades é também uma vontade soberana (do Estado) que torna possível e pressupõe subjetividades especificamente sexualizadas. O infeliz resultado dessa negligência mútua - RI não adota estudos queer e os estudos queer não olham para as Teorias de RI dá a impressão que não necessidade de uma Teoria Queer em RI, assim como parece não existir uma necessidade de introduzir Teoria de RI em estudos queer.
A Teoria Queer XIV Segundo Weber, analisar as RI sob a ótica queer desafia os binarismos usuais da disciplina, tais como anarquia e ordem, doméstico e internacional, normal e perverso. A autora analisa a vencedora do concurso Eurovision Song Contest de 2014, um importante concurso de calouros da Europa. A vencedora é a drag queen Conchita Wurst, que também se refere a si mesma como ‘ele’ e usa o nome Tom Neuwirth. Um indivíduo que se auto identifica como o "homossexual" Tom Neuwirth e como a barbuda drag queen Conchita Wurst quebra a lógica binária da heteronormatividade e do "homossexual normal e/ou perverso” - a arte de governar como algo exclusivo da heteronormatividade (statecraft as mancraft). No seu discurso da vitória, Wurst/Neuwirth declara “we are unity, and we are unstopabble’. Ao afirmar sua identidade não conformativa e plural, Wurst/Neuwirth acaba rompendo com a lógica do statecraft as mancraft.
- Slides: 15