Escrever traduzir Mesmo quando estivermos a utilizar a
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“Escrever é traduzir. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional de signos, a escrita. . . ”
“. . . e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir, . . . ”
“. . . mas uma sombra, ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo. . . ”
“. . . a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rasto de um sonho que o tempo não apagará por completo. ” José Saramago
“Muito universo, muito espaço sideral, mas o mundo é mesmo uma aldeia. ” José Saramago
Estamos numa aldeia chamada Azinhaga, no Ribatejo português, a região sul do país onde se produzem azeitonas, cortiça e trigo.
E nesta pequena aldeia, modestas plantações e criação de porcos é o que há para ser feito.
Jerónimo e Josefa estão particularmente felizes hoje, 16 de novembro de 1922, pois é o dia que viu nascer o seu mais novo neto, a quem o destino conferiu o nome de José Saramago.
Livros e letras não fazem parte da rotina deste casal de camponeses, bem como de tantos outros vizinhos. As poucas palavras faladas lhes servem aos propósitos, e o seu mundo é o quintal que em breves minutos percorremos.
Na primavera de 1924, os pais de Saramago, Maria da Piedade e José de Sousa, abandonam o seio do campo e se mudam para Lisboa, onde ele conseguiu um novo trabalho como policial do trânsito.
Em Lisboa, Maria da Piedade passa a cuidar dos afazeres domésticos, e se dedica aos filhos, Francisco, de quatro anos, e José Saramago, que conta com dois anos de idade.
No mês de dezembro do mesmo ano em que se mudam para Lisboa, o filho mais velho do casal, Francisco, com apenas quatro anos de idade, morre de broncopneumonia.
Uma dor que Maria da Piedade carregará pelo restante dos seus dias.
Saramago passa a frequentar a escola primária na capital, e já é fluente na leitura, aos oito anos.
Sua mãe o envia nas férias para Azinhaga, para o contato com o campo e com os avós maternos.
E nas temporadas que passa na aldeia dos avós, o pequeno José sente-se feliz como um pássaro livre.
O contato com a Natureza – a inocência, cheia de beleza e serenidade, das coisas puras.
Os peixes que, nadando velozes, mantêm-se, por vezes, imóveis contra a força da corrente. . .
Anos mais tarde, recordará Saramago algumas lembranças do avô Jerónimo: . . .
“Recordo daquelas noites mornas de Verão, quando dormíamos debaixo da figueira grande, ouço-o falar da vida que teve, das histórias e lendas da sua infância distante. ”
“Adormecíamos tarde, bem enrolados nas mantas por causa do fresco da madrugada. . . ”
As lembranças da pequena aldeia e o tempo passado na companhia dos avós – as grandes referências morais e sentimentais na sua vida – acompanharão o pequeno José pelos anos e décadas vindouros.
O tempo passa e transforma crianças em jovens adultos.
Por falta de recursos, Saramago não chega a concluir o secundário, trocando os estudos acadêmicos pelo curso de serralharia mecânica numa escola técnica de Lisboa.
Aos dezenove anos passa a trabalhar num hospital, fazendo a manutenção do maquinário. Com o trabalho a consumir as horas do dia, cultiva a rotina de dedicar a noite à leitura.
Todas as noites, depois de jantar, vai a pé, apesar da longa distância, até a biblioteca pública de Lisboa, onde permanece até a hora de fechar, lendo tudo o que pode. São estas leituras as suas aulas, o seu professor, o seu mestre. . .
Sobre esta fase, recordará anos mais tarde: . . . “Como gostava de, um dia, começar a escrever, afinal, ser um escritor! E ser escritor era para o jovem José uma reflexão sobre a vida e os seus absurdos. . . ”
“Guiado talvez pela beleza da persistência, ainda que trêmula, de uma daquelas estrelas que vira no céu na casa do avô Jerónimo e da avó Josefa, decidiu ser todo uma só vontade, todo um atrevimento e lançou-se no voo alto de escrever. . . ”
Em 1944, aos 22 anos de idade, casa-se com a pintora Ilda Reis, sendo que três anos mais tarde, em 1947, nasce a filha, que recebe o nome Violante. Neste ano também publica o seu primeiro livro, ‘Terra do Pecado’.
José Saramago, Ilda Reis e a filha Violante, 1951
Pais e filhos – a convivência gera laços; no entanto, o amor, a admiração e o carinho necessitam ser construídos.
Leva tempo, atenção e cuidado arar a terra que fecunda afeição e ternura, respeito e carinho.
José Saramago e Violante Leva tempo, atençãoàse margens cuidado rio Almonda arar a terra quedo fecunda Azinhaga, 1951 afeição e ternura, respeito e carinho.
“A expressão vocabular humana não sabe ainda e provavelmente não o saberá nunca, conhecer, reconhecer e comunicar tudo quanto é humanamente experimentável e sensível. ” José Saramago
“A expressão vocabular humana não sabe ainda e provavelmente não o saberá nunca, conhecer, reconhecer e comunicar tudo quanto é humanamente experimentável José Saramago e sensível. ” e Violante José Saramago Azinhaga, 1953
Embora tenha seu primeiro livro, ‘Terra do Pecado’, ignorado pela crítica, Saramago continua a escrever, tendo diversos contos e crônicas publicados em jornais e revistas.
A sua paixão pela literatura leva-o a conseguir posições de certo destaque no meio editorial, atuando como colunista, revisor, tradutor e crítico literário.
Com aproximadamente quarenta anos de idade, seu nome começa a ser conhecido no campo da literatura e cultura em Portugal.
Saramago passa a ocupar diversas funções, como coordenador do suplemento de cultura do jornal ‘Diário de Lisboa’, e diretor-adjunto do ‘Diário de Notícias’.
Em 1970, Saramago e Ilda Reis se divorciam. E em 1975, ao deixar a função de editorialista do jornal onde trabalha, resolve dedicar-se exclusivamente à literatura.
Em 1980, aos 58 anos de idade, Saramago publica o seu segundo romance, chamado “Levantado do Chão”.
Desta vez, a acolhida é bem diferente; a obra é recebida com êxito, tanto pela crítica, quanto pelo público, em Portugal.
Os livros que se seguem nos anos seguintes são igualmente aclamados pelo país afora. Aos sessenta e poucos anos de idade Saramago dá início a uma tardia e improvável carreira literária.
Estamos em 1986, Saramago encontra-se com 63 anos de idade. Separado, com a filha já adulta. Realizou o sonho de escrever e ser lido. Com um sucesso considerável em Portugal , parece um homem satisfeito com a vida que lhe fora destinada.
“Aos 63 anos de idade, o que um homem pode ainda esperar da vida? . . . ” afirmaria numa entrevista, “Não muito. . . ”.
Mas o futuro ainda lhe reserva algumas surpresas. . . ( fim da primeira parte desta apresentação )
1986 - Sevilha, Espanha. Uma jornalista espanhola, nos seus trinta e poucos anos, passeia por uma livraria à procura de títulos interessantes.
Ao passar por uma estante que contém alguns livros separados para serem devolvidos à editora, se depara com um título que chama sua atenção.
Mesmo sem ter ouvido falar do autor, ela resolve comprar o livro, sem poder imaginar as consequências que tal decisão, aparentemente trivial, poderá ter.
Coincidências da vida, dirão alguns, enquanto outros atribuirão o ocorrido ao destino, ao acaso, ao inevitável. . .
O livro se chama ‘Memorial do Convento’. E a jovem jornalista que o acaba de adquirir, Pilar del Río.
Blimunda, a protagonista de ‘Memorial do Convento’, ocupa um lugar especial dentre todos os personagens femininos criados por Saramago.
Pilar gosta tanto do livro que compra vários exemplares para presentear às melhores amigas, comentando sua grande vontade de conhecer esse homem capaz de tocar tanto a alma feminina através de Blimunda.
Ela procura outros livros de Saramago, e diante da revelação e fascinação sentida após cada leitura, resolve entrar em contato com o autor.
Pilar recordará mais tarde: “Senti que tinha a obrigação moral de dizer a José Saramago o que tinha experimentado. Um autor só acaba a sua obra quando o livro é lido e entendido. E eu queria dizer-lhe: completou-se o ciclo, li-o e entendi. ”
Uma bela tarde, toca o telefone na casa de Saramago. Pilar se identifica, dizendo ser uma leitora e admiradora. Conversam sobre os livros de Saramago, sobre a literatura, sobre a vida. . .
E ao fim da conversa, combinam de se encontrar numa cafeteria em Lisboa, para uma entrevista que Pilar propõe realizar para o jornal em que trabalha.
Por ocasião do encontro, aproveitam para passear pela cidade de Lisboa, e falam de quase tudo. Depois, ela retorna para Sevilha. “Com uma estranha paz. ”
No dia seguinte, Saramago retribui a visita de Pilar a Lisboa, enviando-lhe uma carta, acompanhada de rosas.
Caminhos que se entrecruzam, vidas prestes a se mudar para sempre. . .
Coincidências da vida, dirão alguns. O destino, o acaso, o inevitável, afirmarão outros. . .
Há quem afirme que as histórias de amor, todas elas, desde o início dos tempos, se parecem, se repetem.
O que muda são os nomes, os detalhes, os corações. . .
As idas e vindas entre Sevilha e Lisboa, onde Pilar e Saramago residem, respectivamente, passam a se tornar cada vez mais frequentes.
Os 28 anos de vida que separam Pilar, com 34 anos, e Saramago, 63, se tornam um mero detalhe diante do amor que sentem.
Em outubro de 1988 celebram o casamento.
Ao lado de Pilar, Saramago inicia o que chama de sua ‘segunda vida’.
Saramago observa que aos 63 anos, “quando já não se espera nada”, encontrou “o que faltava para passar a ter tudo” – Pilar.
Ela, espanhola: sonhadora, lutadora, vive a batalha de mudar o mundo; Ele, português: melancólico, sereno. . .
Uma combinação perfeita.
Os livros que Saramago passa a escrever desde então são todos dedicados a ela.
“A Pilar, minha casa” “A Pilar, os dias todos” “A Pilar, até ao último instante. . . ”
Com a mudança para Lisboa, Pilar abandona a carreira jornalística que exercia na televisão espanhola.
É a primeira leitora dos textos de Saramago, e a tradutora das obras do marido para o espanhol.
Em 1991, Saramago publica o livro “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, onde conta a história de Jesus de forma moderna, sob um olhar narrativo que humaniza Cristo.
Em 1992, a Secretaria de Cultura de Portugal veta a inscrição do livro na disputa do Prêmio Literário Europeu, por considerá-lo “ofensivo para o catolicismo do povo português. ”
Em reação a tal veto, que considera censório, Saramago se muda de Portugal, passando a fixar residência na ilha de Lanzarote, Ilhas Canárias.
E é em seu escritório em Lanzarote que Saramago escreve um de seus romances mais conhecidos – “Ensaio sobre a Cegueira”.
Escrito em 1995, próximo à virada do milênio, o romance aborda uma epidemia de cegueira repentina que acomete a inteira população de uma cidade.
A cegueira como uma alegoria para o estado de crise por que passa a atual sociedade, onde, frequentemente, os limites entre civilização e barbárie são rompidos.
A cegueira descrita no livro é uma “cegueira branca”, pastosa, como se alguém tivesse mergulhado de A cegueira como uma alegoria. . . para o estado abertos de crise por que passa a atualolhos sociedade, num “mar de leite”.
“Trevas brancas” a anuviar o olhar daqueles que, tendo olhos, não conseguem (ou se recusam a) enxergar.
Uma cegueira por vezes associada ao avanço irrefreado do consumismo e do materialismo, que faz com que os homens percam a consciência de si, se deformem, se massifiquem e se barbarizem.
Uma cegueira que promove a ruptura com a nossa própria essência – a compaixão, o cuidado, a solidariedade. . .
“Penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem. ” José Saramago
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. (epígrafe do livro “Ensaio sobre a Cegueira”)
“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos Joséexistir. ” Saramago
1995 – Saramago recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura da língua portuguesa.
1998 – Recebe o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro autor da língua portuguesa a receber a homenagem.
1998 – Recebe o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro autor da língua portuguesa a receber a homenagem.
Saramago, aos 76 anos de idade, recebe o Prêmio Nobel das mãos do rei da Suécia. Estocolmo, 1998
Ao receber o prêmio, Saramago inicia seu discurso com uma homenagem ao avô, o camponês Jerónimo Melrinho, o que também pode ser visto como uma crítica à pompa das instituições literárias: . . .
“O homem mais sábio que conheci em toda minha vida não sabia ler nem escrever. . . ”
E passa a discorrer sobre memórias de sua infância, suas fontes de inspiração e formação, e sobre alguns de seus principais livros e personagens.
Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.
O público leitor de Saramago multiplica-se. Os livros são traduzidos em 42 línguas, publicados em 53 países, e vendem milhões Com a conquista do prêmio Nobel, de exemplares mundo afora. inicia-se uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.
O público leitor de Saramago multiplica-se. Os livros são traduzidos em 42 línguas, publicados em 53 países, e vendem milhões Com a conquista do prêmio Nobel, de exemplares mundo afora. inicia-se uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.
Plateias numerosas, por vezes superiores a mil pessoas, ouvem avidamente suas palavras.
“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. . . ”
“Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte nenhuma. ”
“Falamos muito ao longo destes últimos anos direitos humanos; simplesmente deixamos de falar de uma coisa muito simples, . . . ”
“. . . que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, . . . ”
“. . . que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. ”
“. . . que eu me pergunto se tem algum sentido “O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de numa situação ou no quadro de existência generosidade, as pequenas cobardias do de uma espécie que se diz racional. ” quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental. . . ”
“. . . que consiste em estar no mundo e não ver o mundo ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses. ”
“Temos que acreditar nalguma coisa e, sobretudo, temos de ter um sentimento de responsabilidade colectiva, segundo o qual cada um de nós será responsável por todos os outros. ”
“A prioridade absoluta tem de ser o ser humano. Acima dessa não reconheço nenhuma outra prioridade. ” José Saramago
E fazendo uso do espaço, da atenção e notoriedade conferidos pelo prêmio Nobel, Saramago denuncia as injustiças sociais, e defende com coração e alma as causas que abraça: . . .
Os cuidados com a infância; A educação de qualidade; Os direitos dos povos nativos da América Latina; O combate à violência doméstica; A luta pelo fim dos maus-tratos contra animais; A questão dos refugiados; O sofrimento do povo palestino; dentre tantas outras.
Aos oitenta anos de idade, guarda o vigor juvenil de se revoltar contra toda injustiça, e não permite que se morra nele o desejo de mudar o mundo. O engajamento sempre em prol do humanismo.
“Estou convencido de que é preciso continuar a dizer não, mesmo que se trate de uma voz pregando no deserto. ” José Saramago
Em 2007, aos 85 anos, Saramago é agraciado com “Estou“Amigo convencido o prêmio das Crianças”, concedido preciso ‘Save the Children’. pelade que é fundação continuar a dizer não, mesmo que se trate de uma voz pregando no deserto. ” José Saramago
Segundo a fundação, o prêmio é um reconhecimento ao grande empenho na procura de “um mundo melhor em que todas as crianças tenham esperança e oportunidades”, . . .
. . . salientando, ainda, o “compromisso ativo pela paz” e o “apoio continuado às campanhas e projectos relacionados com a infância e com os mais desfavorecidos”.
Dentre os livros de Saramago encontra-se um dedicado ao público infantil – “A Maior Flor do Mundo”.
Foto tirada em novembro de 2005.
Pilar é uma companhia constante nos intermináveis compromissos e viagens.
Igualmente defensora de inúmeras causas humanitárias, atua como confidente, conselheira, tradutora e é quem organiza a
Estão sempre juntos – em Lisboa e Lanzarote ou pelo mundo – e de mãos dadas.
Estão – em Lisboa e Lanzarote Umsempre amor e juntos uma admiração singulares – ouenvolvente pelo mundo – eraros de mãos dadas. a aura que casais emitem. . .
“Pilar, se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora. ” José Saramago
“Pilar, se euàstivesse morrido aos 63éanos, antes de Em meio constantes viagens, na residência te conhecer, morreria que em Lanzarote, commuito vista mais para velho o mar, doque serei quando chegar aasminha hora. ” Saramago recompõe energias se Josée. Saramago
E mesmo com a agenda corrida, ele reserva tempo para escrever ao menos duas páginas diárias – que totalizará um livro ao fim de um ano, conforme
Por diversas vezes, Saramago e Pilar visitam o Brasil, onde cultivam muitas amizades.
Jorge Amado, Chico Buarque, Leonardo Boff, Sebastião Salgado, Lygia Fagundes Telles Paulo Freire, Betinho, Frei Betto, entre tantos outros.
A calorosa acolhida dos intelectuais brasileiros também se reflete na relação de Saramago com o seu público leitor no país.
Certa vez, diante da cativa platéia e da efusão de beijos e abraços que se seguiram, exclama: . . .
“Esta gente quer me matar de amor!” Certa vez, diante da cativa platéia e da efusão de beijos e abraços que se seguiram, exclama: . . .
Saramago também manifesta um carinho especial pelos jovens e adolescentes.
Frequentemente aceita convites para visitar escolas, proferir palestras e participar de debates.
“Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe. ” José Saramago
Saramago, rodeado pela família – foto tirada em 1993, na varanda da casa de Lanzarote.
A filha, Violante, os netos, Pilar e Juan Jose – filho e o genro, Danilo; Ana e Tiago. do primeiro casamento, (que segura o cãozinho Camões).
Ao mesmo tempo em que cultiva a conhecida seriedade, Saramago também nutre uma notória leveza e um bomhumor constante.
Certa vez, declara gostar da seção de quadrinhos dos jornais. “Confesso que gosto muito do Calvin e do Hobbes, do Snoopy, do Garfield, . . . ”
“. . . daquela Mafalda sábia e subversiva, de quem continuo a ser discípulo fiel. ”
“A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver. ” José Saramago
“Fugir da morte pode tornar-se num modo de fugir da vida. ” José Saramago
“O homem é o único animal capaz de chorar. E de sorrir. É diante do mar que o riso e a lágrima assumem uma importância absoluta. ”
“Dir-se-á que mais profundamente a assumiriam masdiante esse, do digo universo, eu, está demasiado longe, fora do alcance duma compreensão comum. ”
“O mar é o universo perto de nós. ” José Saramago
Em 2007, Saramago é hospitalizado durante longos meses, devido a uma grave doença
Tão logo se recupera, conclui o livro “A Viagem do Elefante”, . . .
. . . e faz questão de viajar para o Brasil, aos 85 anos de idade, para o lançamento mundial da obra.
A escolha do Brasil para o lançamento mundial é um presente ao carinho e. . . e faz amizade questão de para o Brasil, aos 85 anos dosviajar brasileiros. de idade, para o lançamento mundial da obra.
16 de novembro, 2008, aniversário de 86 anos.
A notória lucidez e a acuidade da sua reflexão filosófica permanecem inabaláveis, contrastando cada dia mais com a saúde física debilitada.
“A vida é como uma vela que vai ardendo, quando chega ao fim lança uma chama mais forte antes de se extinguir. ”
“Creio que estou no período da última chama. . . ”, afirma Saramago diante das crescentes limitações impostas pela saúde frágil.
Janeiro de 2010 – Haiti é sacudido por um forte tremor, que deixa milhares de mortos, feridos e desabrigados.
Saramago, aos 87 anos de idade, já não tem a força nem a saúde para empreender viagem, de modo a levar a sua solidariedade
Apesar da distância, desde a ilha de Lanzarote, encontra um meio de contribuir, e de lançar o seu incansável apelo para a humanidade.
Ele convence sua editora a publicar uma edição especial do livro “Jangada de Pedra”, que terá a renda revertida integralmente em prol do povo haitiano.
Mais que um gesto de ajuda, um sopro de alento, nestes dias de fria indiferença, nestes tempos tão desprovidos de compaixão social e caridade
– Uma ‘Jangada de Pedra’ a caminho do Haiti – “Porque todos temos uma obrigação. ” José Saramago
Abril de 2010, a saúde física de Saramago a tal ponto está debilitada que o seu médico lhe impõe repouso absoluto.
O repouso absoluto, observa o médico, abrange também a escrita, ou seja, Saramago deverá parar de escrever.
Diante da renúncia derradeira à escrita que acaba de ser imposta ao esposo, Pilar sente que a recuperação será um milagre.
“. . . enganadora é sim a luz do dia, faz da vida uma sombra apenas recortada, só a noite é lúcida, porém o sono a vence, . . . ”
“. . . talvez para nosso sossego e descanso, paz à alma dos vivos. ” José Saramago (em ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’)
Mês de maio, 2010
Durante as últimas semanas, Saramago quase não fala, mas ri, e segue rindo.
Embora participe dos jantares e cafés da manhã que Pilar carinhosamente lhe prepara, . . .
. . . parece nutrir outras fomes e outras necessidades, anseios que a este mundo já não mais pertencem.
Ele está aqui e não está, mas sorri.
“. . . o espírito não vai a lado nenhum sem as pernas do corpo, e o corpo não seria capaz de mover-se se lhe faltassem as asas do espírito. ” José Saramago (em ‘Todos os Nomes’) Ele está aqui e não está, mas sorri.
No dia 18 de junho, depois de uma noite serena e tranquila, Saramago falece na sua residência em Lanzarote, acompanhado de Pilar e de sua família, de “despedindo-se forma serena e plácida. ”
Em se havendo outros mundos, e havendo lá também oprimidos e necessitados, estes ganharam uma voz a defendê-los e quem se importe com eles. . .
E em se havendo outros mundos ainda, talvez lá tenham se reencontrado estes ganharam o pequeno José e os avós tão amados, uma voz a defendê-los e quem se importe com Josefa e Jerónimo. eles. . .
“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. ” José Saramago
Segundo o amigo e teólogo Leonardo Boff, Saramago cultivava “a espiritualidade como sentimento do mistério do mundo, da profundidade humana e do amor aos oprimidos. ” ,
Leonardo Boff descreve a tarde que ele e a esposa, Márcia, passaram na companhia de Saramago e Pilar como “um festim de espiritualidade”.
“Ganhamos um amigo e a fé me diz que ele agora mergulhou naquele Mistério de amor que sempre buscou. ” Leonardo Boff
“Quando me for deste mundo, partirão duas pessoas. Sairei, de mão dada, com essa criança que fui”. José Saramago
Tema musical: Primeira Parte: ‘Illumination’, White Stones Segunda Parte: ‘Moment musical n. 3’, Schubert Formatação: um_peregrino@hotmail. com
Obrigado, Saramago.
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