EDUCAO APS AUSCHWITZ AUTOR ADORNO Filosofia Professor Fbio
EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ AUTOR: ADORNO Filosofia Professor Fábio Mesquita
Que tipo de educação nós queremos? A educação pode emancipar/libertar ou escravizar os seres humanos.
Segundo Adorno, as características da educação que geraram Auschwitz permanecem até os dias de hoje. Para ele, a “barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geraram esta regressão”. ADORNO, T. W. Educação após Auschwitz.
“A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma autorreflexão crítica. ” Theodor Adorno, Educação após Auschwitz.
ALGUMAS DAS CRÍTICAS FEITAS POR ADORNO: • Frieza nas relações • Severidade estúpida e desumanizadora, como por exemplo “elogio a uma educação baseada na força e voltada à disciplina” • Não desenvolvimento da autonomia
ALGUMAS DAS CRÍTICAS FEITAS POR ADORNO: • Ausência de um ambiente que propicie um “esclarecimento geral”; (seres fechados em sua arrogância dogmática, julgamse donos da verdade, tendo profunda ignorância e estreiteza em sua compreensão de mundo) • Ausência de compromisso – As pessoas não se envolvem, não se engajam, acreditam que de nada adianta lutar contra o estabelecido, contra o status quo • Ausência de empatia – pessoas que não conseguem se colocar no lugar do outro. Alunos que não conseguem se colocar no lugar de seus colegas, professores que não conseguem se colocar no lugar de seus alunos
ALGUMAS DAS CRÍTICAS FEITAS POR ADORNO: • Alunos que agem em bando, em grupo, em massa. Ações coletivas que geram a perda de autonomia, da individualidade • Repressão do medo e de outros sentimentos ditos como “fracos” – aquele que não consegue lidar com a “brincadeira” (bullying) é covarde • Práticas esportivas que valorizam a barbárie e brutalidade (atletas e torcedores). “Brincadeiras”, expressões homofóbicas, machistas, racistas são naturalizados em certos espaços. Ex. : “jogue igual homem, sua bichinha”, “não seja mulherzinha”, “tinha que ser preto” etc
ALGUMAS DAS CRÍTICAS FEITAS POR ADORNO: • Presença constante do caráter autoritário, professores autoritários, líderes autoritários, controladores, que não estimula o pensamento e impõe uma norma a ser seguida por todos, massificam todos os indivíduos distintos num mesmo corpo homogêneo • “Consciência coisificada”, processo de desumanização, no qual o sujeito torna-se objeto, o ser humano torna-se coisa
ALGUMAS DAS CRÍTICAS FEITAS POR ADORNO: • Ausência de remorso por práticas sádicas, masoquistas, brutais, selvagens e bárbaras, pelo contrário, sentimento de orgulho por essas práticas • Amor às coisas, “o seu amor era absorvido por coisas, máquinas enquanto tais” • Ausência do amor • Incapacidade de amar • Pregação vã do amor
ALGUMAS DAS CRÍTICAS FEITAS POR ADORNO: • Brutalidade de hábitos como trotes escolares, no bullying, ritos de iniciação • A barbárie que se transforma em hábito popular, costume e normalidade • Mera modelagem de pessoas, por algo exterior a elas próprias • Mera transmissão de conhecimento e conteúdo
“Quando falo de educação após Auschwitz, refiro-me a duas questões: primeiro, à educação infantil, sobretudo na primeira infância; e, além disto, ao esclarecimento geral, que produz um clima intelectual, cultural e social que não permite tal repetição; portanto, um clima em que os motivos que conduziram ao horror tornem-se de algum modo conscientes. ” ADORNO, T. W. Educação após Auschwitz.
“A seguir, e assumido o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir de seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. ” ADORNO, T. W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2006, P. 141.
“Pessoas que se enquadram cegamente em coletivos convertem a si próprios em algo como um material, dissolvendo-se como seres autodeterminados. Isto combina com a disposição de tratar outros como sendo uma massa amorfa. ” ADORNO, T. W. Educação após Auschwitz.
“É preciso buscar as raízes nos perseguidores e não nas vítimas, assassinadas sob os pretextos mais mesquinhos. Torna-se necessário o que a esse respeito uma vez denominei inflexão em direção ao sujeito. É preciso reconhecer os mecanismos que tornam as pessoas capazes de cometer tais atos, é preciso revelar tais mecanismos a eles próprios, procurando impedir que se tornem novamente capazes de tais atos, na medida em que se desperta uma consciência geral acerca destes mecanismos. Os culpados são unicamente os que, desprovidos de consciência, voltaram contra aqueles o seu ódio e sua fúria agressiva. É necessário contrapor-se a tal ausência de consciência, é preciso evitar que as pessoas golpeiem pra os lados sem refletir a respeito de si próprias. A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma autorreflexão crítica. Contudo, na medida em que, conforme os ensinamentos da psicologia profunda, todo caráter, inclusive daqueles que mais tarde praticam crimes, formase na primeira infância, a educação que tem por objetivo evitar a repetição precisa se concentrar na primeira infância. ” ADORNO, T. W. Educação após Auschwitz.
• “Tudo isso tem a ver com um pretenso ideal que desempenha um papel relevante na educação tradicional em geral: a severidade. Esta pode até mesmo remeter a uma afirmativa de Nietzsche, por mais humilhante que seja e embora ele na verdade pensasse em outra coisa. Lembro que durante o processo sobre Auschwitz, em um de seus acessos, o terrível Boger culminou num elogio à educação baseada na força e voltada à disciplina. Ela seria necessária para constituir o tipo de homem que lhe parecia adequado. Essa ideia educacional da severidade, em que irrefletidamente muitos podem até acreditar, é totalmente equivocada. A ideia de que a virilidade consiste num grau máximo da capacidade de suportar dor de há muito se converteu em fachada de um masoquismo que — como mostrou a psicologia — se identifica com muita facilidade ao sadismo. O elogiado objetivo de "ser duro" de uma tal educação significa indiferença contra a dor em geral. No que, inclusive, nem se diferencia tanto a dor do outro e a dor de si próprio. Quem é severo consigo mesmo adquire o direito de ser severo também com os outros, vingando-se da dor cujas manifestações precisou ocultar e reprimir. Tanto é necessário tornar consciente esse mecanismo quanto se impõe a promoção de uma educação que não premia a dor e a capacidade de suportá-la, como acontecia antigamente. Dito de outro modo: a educação precisa levar a sério o que já de há muito é do conhecimento da filosofia: que o medo não deve ser reprimido. Quando o medo não é reprimido, quando nos permitimos ter realmente tanto medo quanto esta realidade exige, então justamente por essa via desaparecerá provavelmente grande parte dos efeitos deletérios do medo inconsciente e reprimido. ” ADORNO, T. W. Educação após Auschwitz.
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