Economia Comportamental Prof Adriana Sbicca Fernandes Aula 6
Economia Comportamental Prof. Adriana Sbicca Fernandes
Aula 6 1. George Katona 2. Psicologia e Comportamento do Consumidor (Inflação e Consumo) 3. Metodologia da Economia e da Psicologia a. Aplicação na análise de outros problemas b. Contribuições da metodologia da psicologia à economia.
Características enfatizadas no trabalho de Katona: 1) Interesse no comportamento do consumidor e do empresário e sua relação com o ciclo econômico, na explicação e previsão do comportamento econômico numa dimensão macroeconômica; 2) Foco no comportamento e condições reais e firmemente baseados em dados empíricos; 3) Ele é crítico quanto às hipóteses psicológicas da teoria econômica como geralmente apresentadas; 4) Seus trabalhos apresentam uma clareza que é gerada da tradição do bom jornalismo (ele trabalhou com jornalismo econômico).
Psicologia e Economia do Consumidor Consumo não é função apenas da renda. O Consumo de bens duráveis e outros gastos discricionários flutuam muito mais que a renda. Consumo é dependente não apenas da habilidade em comprar mas também da confiança e disposição em comprar. São fatores psicológicos que dão indicações avançadas de comportamentos de gasto e poupança. São importantes na determinação de tendências econômicas e na análise do provável impacto de políticas públicas sobre atividades econômicas, tanto a percepção destas políticas quanto as expectativas que elas geram.
Inflação e Gasto do Consumidor Hipóteses básicas da teoria econômica: a) Quando a renda ou a quantidade de moeda aumentam mais rápido que a quantidade de bens , o poder de compra excede a oferta disponível e o nível geral de preço pode aumentar; b) Quando os agentes racionais esperam que os preços subam, aqueles que têm algum recurso líquido, ou podem tomar emprestado, vão comprar e acumular bens com o preço atual; c) Assim, a inflação acompanha e estimula o aumento do consumo, há mais gastos e menos poupança.
Ponto de vista da ciência comportamental: As pessoas se ressentem com a inflação. Elas acreditam que seus efeitos afetarão de maneira adversa suas finanças pessoais e a economia em geral. Já em épocas de estabilidade de preços, as pessoas têm confiança e estímulo para comprar. A expectativa de aumento de preço cria desconfiança. Elas acreditam que depois de alguns meses os preços estarão mais altos e poderão ter dificuldade em ter disponibilidade de recursos para comprar bens e serviços necessários. Dessa maneira, inflação provoca o adiamento de gastos discricionários, reduzindo quantidade de bens demandados. A elevação dos preços gera incerteza e a taxa de poupança deve aumentar.
Evidências empíricas Anos seguintes a II Guerra Mundial, Nos últimos 25 anos (aprox. 1950 a 1973). Neste período apenas em 1950 e 1973 (2 ocasiões) foi observada elevação das compras do consumidor, além de suas necessidades. Estudos empíricos para entender as evidências Nem sempre inflação e renda são percebidos pelos consumidores como relacionados. Pessoas que ganharam acima da inflação do período não relacionam estes ganhos à inflação. Tendem a apontar seus esforços, aumento de experiência e habilidade e progresso em suas carreiras como as causas destes aumentos. Eles observam a inflação como prejudicial.
O Survey Research Center coletou dados e expectativas que resumiu num índice de Sentimento do Consumidor. Nos 20 anos, entre 1950 e 1973, o índice declinou indicando uma redução de gastos maiores quando a inflação acelera e melhorou quando a inflação diminuiu. Apreensão e pessimismo foram explicados pelos respondentes através de diversos fatores: a) Consciência da inflação foi importante. Quanto maior a consciência mais o índice declinou. O declínio no gasto discricionário é observado 6 a 9 meses depois do índice começar a diminuir.
b) Em 1969 e 70, quando a preocupação com a inflação era frequente, mais da metade dos respondentes disseram que nada poderiam fazer para proteger seus recursos. Dentre os outros, uma grande proporção disse que economizaria e compraria menos que o usual, ou adiaria suas compras. c) Quando perguntados: Você ou sua família compraram algo há poucos meses porque pensavam que o custo seria maior depois? (pergunta intencionalmente formulada para sugerir uma resposta positiva) 12% dos chefes de família disseram que sim. 88% responderam não. d) Em algumas circunstâncias específicas o aumento do consumo foi observado. Em 1971 havia uma política de redução de impostos sobre carros, e muitas pessoas acreditavam que o esforço do governo não conseguiria manter os preços baixos. Então era um bom momento para comprar, o que de fato ocorreu.
e) Em 1950, a derrota da Coréia foi combinada com a memória recente da escassez e do racionamento durante a II Guerra Mundial. Isso induziu as pessoas a estocar e houve um aumento dos gastos; f) Em 1973 houve aumento dos preços dos alimentos (principalmente da carne). O fato do governo estar na segunda para a terceira fase de controle preços gerou uma falta de confiança na política. Dessa maneira, estocar e comprar parecem reações a algumas ameaças específicas que estão se desenvolvendo.
Há relutância dos economistas em trabalhar e aceitar fatores psicológicos. Um motivo está na diferença de metodologia da economia e da ciência comportamental. A ciência Econômica tem sido confrontada com evidências empíricas e previsões derivadas dela têm se mostrado incorretas. Para essa fragilidade tem sido apontado: Fatores objetivos que levaram aos equívocos na teoria; A ausência de fatores subjetivos
Diferenças metodológicas entre a economia e a psicologia O paradigma da ciência comportamental (psicologia) consiste em: Desenvolver hipóteses preliminares; Testá-las; Revisar as hipóteses de acordo com os resultados testes; E assim, sucessivamente. Não são encontrados fatores imutáveis da natureza humana.
Sob determinadas condições (a 1, b 1, c 1) um conjunto de estímulos gera uma resposta. Sob condições diferentes (a 2, b 2 e c 2) o mesmo conjunto de estímulos gera uma resposta diferente. Atitudes e expectativas que modificam as respostas podem mudar de acordo com as circunstâncias. Assim não serão obtidas respostas simples para mudanças na renda, preços e taxa de juros. Mas serão estudadas circunstâncias sob as quais um estímulo produzirá uma mesma resposta ou uma resposta diferente. As conclusões não são gerais, mas é possível encontrar generalizações amplas sobre a relação de variáveis intervenientes.
Para Katona, não se deve sustentar que um conjunto de estímulos A gera uma resposta padrão B. A B Se A representa a experiência com inflação acelerada, o objetivo da pesquisa científica é diferenciar as respostas de acordo com os contextos: A ⁄ X B A ⁄ Y C Onde X e Y são contextos. É possível gerar informações (dados) sobre o contexto no qual o estímulo ocorre e sobre as variáveis intervenientes, que mediam estímulo e resposta.
Outros problemas que ilustram a metodologia proposta: Poupança Pessoal e Períodos de Prosperidade e Recessão A relação entre poupança e recessão deve ser estudada levando-se em consideração os diversos tipos de poupança: • Alterações nas dívidas por pagar; • O resultado líquido de incorrer em nova dívida; • Etc. • Também decidir por débitos parcelados é uma consequência de decisões de gasto e não de poupança.
Fonte: Katona, George (1974) Psychology and Consumer Economics Journal of Consumer Research (pre-1986); Jun 1974; vol. 1, p. 1 -8.
Conclusão do Quadro Não há uma simples resposta quanto a se as pessoas poupam mais ou menos em períodos de recessão, mas é possível analisar as circunstâncias que operam em uma ou outra direção. Também é possível estabelecer princípios quanto a como a economia e os fatores psicológicos influenciam poupança.
Riqueza e Poupança Algumas teorias econômicas sustentam que consumo é uma função da renda e da riqueza, sendo que quanto maior a riqueza maior a proporção da renda gasta e menor a poupança. Mas para a psicologia isso é menos óbvio. Duas considerações são feitas para que pessoas com mais ativos poupem mais: a) Hábito de poupança é influenciado por traços duradouros de personalidade, como parcimônia. Então aqueles que pouparam recentemente devem continuar a fazê-lo; b) Níveis de aspiração podem aumentar com o sucesso de se fazer alguma reserva de fundos. Isso pode aguçar o apetite para poupar mais, ao invés de enfraquecer os motivos de poupar. Katona apresenta evidências deste último comportamento.
Saturação com bens de Consumo De acordo com um ponto de vista mais convencional, em períodos de prosperidade de muitos anos, pessoas satisfazem muitos de seus desejos alcançando uma situação de saturação e uma redução na demanda do consumidor.
De outro ponto de vista, pode ocorrer o crescimento de desejos e aspiração. Está relacionado às bases dos princípios formulados por Kurt Lewis (1944): 1. Aspirações não são estáticas; não são estabelecidas de uma vez por todas; 2. Aspirações tendem a crescer com realizações e decrescer com falhas; 3. Elas são influenciadas pela performance de outros membros do grupo que a pessoa pertence ou pelo grupo de referência; 4. Elas são orientadas pela realidade, geralmente são levemente maiores ou levemente menores, não são muito diferentes disso.
Comportamento Racional e Comportamento Econômico Três proposições básicas tradicionalmente usadas para caracterizar o homem econômico racional: 1) Informação Completa e Antevisão; 2) Completa Mobilidade (não há custos ou restrições); 3) Competição Pura (os indivíduos são independentes e não há grandes compradores ou vendedores). Depois acrescenta: Produtores em larga escala; Monopolistas e oligopolistas; Tempo de atraso; Incerteza sobre a distribuição de probabilidade de eventos futuros.
Diferenças entre os métodos da economia e da psicologia Na psicologia há ausência da elaboração a priori, sistemática e detalhada, a respeito das observações. A psicologia faz uso de descobertas e generalizações de outros campos que lidam comportamento como a) Teoria da aprendizado; b) Teoria do “pertencimento”; c) Teoria da motivação. Katona propõe incorporar estas contribuições ao comportamento econômico.
Dos princípios da Psicologia: • Comportamento Habitual é muito comum, a resolução de problemas é relativamente rara. A decisão habitual pode ser racional e até mais apropriada que a genuína. • mas quando ocorre decisão genuína, deliberada, envolve reorganização e resulta em ação nova e não repetitiva. • Esse comportamento novo pode nunca ter sido aprendido. • Forças motivacionais mais fortes que aquelas que provocam o comportamento habitual, devem estar presentes para que ocorra a decisão genuína. • O grupo a que se pertence e o grupo de referência têm um papel substancial nas mudanças de comportamento. Assim, essas mudanças podem ocorrer para milhões de pessoas ao mesmo tempo.
Segundo Katona, alguns economistas, como Keynes, argumentaram que o otimismo e o pessimismo do consumidor se anulam e por isso não são importantes. Mas, à luz dos princípios da sociopsicologia tem sido evidenciado em pesquisas recentes que as mudanças de otimismo para pessimismo (e vice-versa) algumas vezes ocorre com milhões de pessoas ao mesmo tempo. Katona, então, cita por várias vezes Kenneth Arrow para confrontar as duas abordagens: a) “Podemos imaginar os indivíduos como listando, de uma vez por todas, todas as consequências concebíveis de suas ações na ordem de suas preferências” Katona: Todas as consequências? O comportamento habitual é muito seletivo.
b) Arrow identifica racionalidade com consistência no sentido de repetição da mesma escolha mas, “fazer a mesma escolha cada vez que se é confrontado com as mesmas alternativas” é uma característica do comportamento habitual. Para Katona: Racionalidade exprime adaptabilidade e habilidade de agir de um novo modo quando as circunstâncias demandam isso, ao invés de consistir em rigidez ou comportamento repetitivo. c) É importante diferenciar ação, decisão e escolha. Pois há ação sem deliberação e escolha.
Katona chama a atenção para o pouco papel da pesquisa empírica numa teoria econômica que pode ser considerada tautológica. Exemplo: maximização de lucro, ou talvez outro objetivo do empresário.
Economia Comportamental Prof. Adriana Sbicca Fernandes adsbicca@ufpr. br https: //sites. google. com/site/ecoeureka/ Imagem de fundo: Interdimensional Chessboard by Fract. Kali - http: //fractkali. deviantart. com/art/Interdimensional-Chessboard-214856333
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