Diviso da obra A obra econmica principal de
Divisão da obra A obra econômica principal de Marx, O Capital, está dividida em 3 tomos (além do quarto tomo com contribuições também de Engels). O tomo I tem por foco a explicação da natureza do capital e da origem do lucro; não se preocupa em explicar preços reais. Os valores são os únicos determinantes do valor de troca, abstraindo-se a diferença na relação entre capitais. Trabalha inicialmente com o conceito de mercadoria, depois analisa a transformação do dinheiro em capital e a teoria da mais-valia.
O tomo II começa por considerar as variações na intensidade e na produtividade do trabalho e seus efeitos sobre a maisvalia, discute a questão dos salários e o processo de acumulação do capital, onde distingue a reprodução simples da acumulação capitalista. Também discute a colonização.
Tomo III O tomo III explica preços reais; ele não foi totalmente terminado por Marx.
Os livros II e III de O Capital
Estes livros são rascunhos Foram escritos pro Marx em diferentes períodos. Engels editou e publicou após a morte de Marx.
Desafio teórico Passar do mundo do valor para o mundo diferente dos preços. Após a análise da realidade, fazer a análise da aparência. Esse é o problema tratado no livro III. E o livro II?
Sumário do Livro II (O processo de circulação do capital) Parte 1: As Metamorfoses do Capital e seus Circuitos Cap. I: O Circuito do Capital-dinheiro I. Primeiro estágio. M — D II. Segundo estágio. Funções do Capital Produtivo III. Terceiro estágio. D' — M’ IV. O Circuito como um todo Cap. 2: O Circuito do Capital Produtivo I. Reprodução Simples II. Acumulação e Reprodução em Escala Ampliada III. Acumulação de dinheiro IV. Fundo de Reservas Cap. 3: O Circuito de Capital-mercadoria Cap. 4: As Três Fórmulas do Circuito Cap. 5: O Tempo de Circulação Cap. 6: Os Custos de Circulação I. Custos Genuínos de Circulação II. Custos de Armazenagem II. Custos de Transporte
Parte 2: O Circuito do Capital. Cap. 7: O tempo de circuito e o número de voltas Cap. 8: Capital Fixo e Capital Circulante Cap. 9: O Circuito Agregado do Capital Adiantado, Ciclos de circuitos Cap. 10: Teorias do Capital Fixo e Circulante. Os fisiocratas e Adam Smith Cap. 11: Teorias do Capital Fixo e Circulante. Ricardo Cap. 12: O período de Trabalho Cap. 13: O período de Produção Cap. 14: Os tempos de Circulação Cap. 15: Efeitos do Tempo de Circuito e a Magnitude do Capital Adiantado I. O Período de Trabalho Igual ao Período de Circulação II. O Período de Trabalho Maior que o Período de Circulação III. O Período de Trabalho Menor que o Período de Circulação IV. Conclusão V. Os Efeitos de Mudanças nos Preços Cap. 16: O Circuito do Capital Variável I. A taxa anual de mais-valia II. O circuito do capital variável III. O circuito do capital variável de um ponto de vista social Cap. 17: A Circulação da Mais-Valia I. Reprodução Simples II. Acumulação e Reprodução em Escala Ampliada
Parte 2: A Reprodução e a Circulação do Capital Social Agregado Cap. 18: Introdução I. A Matéria Investigada II. O papel do Capital-dinheiro Cap. 19: Apresentação inicial do Assunto I. Os Fisiocratas II. Adam Smith III. Últimos Economistas Cap. 20: Reprodução Simples Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4 Cap. 21: Acumulação e Reprodução em Escala Ampliada Parte 1 Parte 2
Livro II No livro I, o capital se apresentava na forma de capital constante e capital variável. Mas o capital de um capitalista pode ser dinheiro, ouro, papel-moeda, título de crédito. . . Forma do capital: capital-dinheiro, capitalmáquina, capital-dinheiro transformado em salários (capital variável), capital–mercadoria.
Algumas ideias-chave do livro II
O ciclo das metamorfoses do capital Passagem do capital-dinheiro para o re -capital dinheiro, através do ciclo das metamorfoses em capital-máquina, em capital variável, em capital mercadoria, para voltar ao capitaldinheiro.
Ciclo mais simples D – M – D’ D’ > D Todo o produto líquido, toda mais-valia vem de um momento único, que é o capital salário. Na metamorfose do capital, só há um momento produtor de mais –valia: o da transformação do capital-dinheiro em capital variável, em salário.
Problemas que aparecem nesse percurso Realidade: todo o produto líquido ou toda mais-valia vem de um momento do ciclo. Aparência: em todos os momentos desse ciclo as pessoas compram para revender mais caro. Como passar da realidade para a aparência?
O problema do tempo Na forma, D-M-D’, de quanto tempo precisa o capital para voltar ao ponto de partida com um excedente? Juros: direito de dispor do capital. O juro não é uma categoria fundamental, é apenas uma das formas da mais-valia. É uma das categorias em que se subdivide a massa global da mais-valia.
Outra distinção entre capitais Já conhecida dos clássicos: capital fixo e capital circulante. Uma parte do capital constante é fixo e outra é circulante. O capital-valor se encarna em realidade distintas: umas fixas, outras circulam com as mercadorias.
Do capital constante, há elementos que transmitem à mercadoria de uma só vez a totalidade de seu valor; desaparece no ato da produção e seu valor é todo transmitido à mercadoria. Mas uma máquina só transmite à dada mercadoria uma fração de valor.
Cuidado na passagem de valores aos preços Levar em consideração o tempo diferente que toma um certo valor de capital para se transmitir às mercadorias.
Desvalorização por depreciação ou perda de uso Aron: “Mas nunca sabemos com certeza se a máquina que pode servir dez anos servirá apenas cinco ou dez, porque, em razão da transformação incessante dos meios de produção, pode haver uma desvalorização do capital-máquina pelo fato de meios de produção mais aperfeiçoados tornarem proibitiva a atividade de um capital-máquina anterior. ”
Livro II Vai das abstrações do livro I para as fórmulas mais concretas. Leva em conta as diversidades das formas que toma o capital e também a desigualdade do tempo que gasta o capital para ir da forma inicial dinheiro à forma final dinheiro (ampliado), passando pelas diferentes metamorfoses.
Conclusão importante do livro II O tempo de circulação do capital, segundo seus elementos, é desigual e exerce sua influência sobre a massa da mais-valia que a parte capital constante permite acumular.
Outro tema, este já comentado A relação entre dois setores principais de uma economia. Setor que produz meios de produção. Ele compreende um capital constante, um capital variável, uma mais-valia. Segundo setor que produz bens de consumo. Ele também compreende um capital constante, um capital variável, uma mais-valia.
Surge uma série de problemas Capital variável corresponde na quase totalidade a bens de consumo, pois os assalariados utilizam seus salários para comprar bens de consumo. O capital constante do segundo setor se compõe de máquinas => trocas entre o setor de meios de produção e o de bens de consumo.
Em quais condições o sistema pode funcionar? Em quais condições as trocas entre os dois setores se dão conforme as exigências do equilíbrio?
Considerações adicionais: Enquanto capital-valor, todo capital circula O valor do capital-máquina se transmite à mercadoria e o valor do capital-máquina circula como mercadoria. Mas qual a rapidez que um certo capital transmite seu valor à mercadoria?
Momento criador da mais-valia O trabalho na fábrica Nela, o capital constante, máquinas e matéria-prima, é posto em movimento pelo capital variável, valor da força de trabalho do operário. As fases ulteriores das metamorfoses são estéreis (não criam mais-valia) A circulação é estéril
Duplo sentido de circulação Circulação do valor encarnado na mercadoria Circulação no sentido físico Processos que tomam tempo e NÃO são criadores de mais-valia
Trabalho produtivo e improdutivo Trabalho industrial é produtivo, é produtor de mais-valia (pelo emprego de capital variável) Diferença entre o trabalho no sentido industrial do termo e os diferentes tipos de trabalho tornados necessários pela circulação de mercadorias. Só o trabalho industrial é produtivo!
Aron: “Como toda mais-valia vem do momento do trabalho industrial, e como a circulação do capital toma um tempo diferentes segundo os setores, haverá enormes diferenças entra as taxas de lucro se elas corresponderem às taxas de mais-valia. No entanto, é preciso que tudo isso se iguale. É o que nos leva ao que Marx chama de “giro do capital”, que nada é senão o conjunto de ciclos de metamorfoses ou, ainda, o tempo necessário para a passagem do capital-dinheiro inicial ao capital-dinheiro final”.
O giro do capital e a mais-valia Período de trabalho: tempo de trabalho necessário para ir dos meios de produção até os produtos acabados Os períodos de trabalho são extremamente diferentes de acordo com os setores industriais Tempo de produção: tempo necessário ao desenvolvimento do esforço exercido pelo trabalho humano (leva em conta as circunstância naturais)
Tempo de giro do capital Tempo de produção + tempo de circulação Os tempos de produção depende do setor. Também os tempos de circulação
Um problema teórico A mais-valia é toda tirada do momento produtivo. A quantidade de capital que se deve adiantar para fazer funcionar determinada empresa em determinado setor não depende simplesmente da importância da mercadoria considerada, mas, manifestamente, do tempo de produção e do tempo de circulação.
Os volumes de capital adiantados dependem do tempo, cresce com o tempo entre término da mercadoria e término do ciclo. Quanto mais complicados forem os desvios de produção e maior a circulação das mercadorias, menor será a mais-valia em relação ao capital investido.
Aparente paradoxo É preciso adiantar maior capital quando o tempo de produção ou de circulação é maior. A mais-valia não se modifica com o tempo de circulação. Há menos mais-valia por capital investido quanto maior o tempo do processo todo.
Essa questão será esclarecida apenas no Livro III
Livro III
Sumário do Livro III (O processo global de produção capitalista) Parte I. A Conversão de Mais-Valia em Lucros e da Taxa de Mais-Valia em Taxa de lucro Cap. 1. Custo-Preço e Lucro Cap. 2. A Taxa de Lucro Cap. 3. A Relação da Taxa de Lucro com a Taxa de Mais-Valia Cap. 4. Os Efeitos do Circuito na Taxa de Lucro Cap. 5. Economia no Emprego do Capital Constante I. Em Geral II. Poupanças nas Condições de Trabalho a Expensas dos Trabalhadores III. Economia na Geração e na Transmissão de Poder, e na Construção IV. Utilização de Excreções da Produção V. Economia por Meio de Invenções Cap. 6. O Efeito das Flutuações de Preço I. Flutuações no Preço de Matéria-prima, e seus Efeitos Diretos na Taxa de Lucro II. Apreciação, Depreciação, Liberação de Capital Conectado III. Ilustração Geral. A Crise do Algodão de 1861 -65 Experimentos in “corpore vili” Cap. 7. Considerações Suplementares
Parte II. Conversão de Lucro em Lucro Médio Cap. 8. Diferentes Composições dos Capitais em Diferentes Ramos da Produção e as Resultantes Diferenças nas Taxas de lucro Cap. 9. Formação da Taxa Geral de Lucros (Taxa Média de Lucros) e Transformação dos Valores das Mercadorias em Preços de Produção Cap. 10. Equalização da Taxa Geral de Lucro através da Competição. Preços de Mercados e Valores de Mercado. Lucro Excedente Cap. 11. Efeitos das Flutuações do Salário Geral nos Preços de Produção Cap. 12. Considerações Suplementares I. Causas Implicando em Mudanças nos Preços de Produção II. Preços de Produção de Mercadorias na Composição Média III. As Bases do Capitalismo para Compensação
Parte III. A Lei da Tendência de Queda da Taxa de Lucro Cap. 13. A Lei como Tal Cap. 14. Influencias Compensatórias I. Intensidade Crescente de Exploração II. Depressão de Salários Abaixo do Valor do Poder de Trabalho III. Barateamento dos Elementos do Capital Constante IV. Sobre-População Relativa V. Comércio Exterior VI. O Incremento no Estoque de Capital Cap. 15. Exposição das Contradições Internas da Lei I. Geral II. Conflito Entre Expansão da Produção e Produção de Mais-Valia III. Capital em Excesso e Excesso de População IV. Considerações Suplementares
Parte IV. Conversão de Capital-Mercadoria e Capital-dinheiro em Capital Comercial e Capital de Transação Monetária (Capital do Mercador) Cap. 16. Capital Comercial Cap. 17. Lucro Comercial Cap. 18. O Circuito do Capital do Mercador. Preços Cap. 19. Capital de Transação Monetária Cap. 20. Fatos Históricos sobre Capital do Mercador
Parte V. Divisão de Lucro em Juros e Lucro da Empresa. Capital que Ganha Juros Cap. 21. Capital que Ganha Juros Cap. 22. Divisão do Lucro. Taxa de Juros. Taxa Natural de Juros Cap. 23. Juros e Lucro da Empresa Cap. 24. Externalização das Relações do Capital na Forma de Capital que Ganha Juros Cap. 25. Crédito e Capital Fictício Cap. 26. Acumulação de Capital-Dinheiro. Sua Influência na Taxa de Juros Cap. 27. O Papel do Crédito na Produção Capitalista Cap. 28. Meio de Circulação e Capital; Visões de Tooke e Fullarton Cap. 29. Partes Componentes do Capital Bancário Cap. 30. Capital-Dinheiro e Capital Real I Cap. 31. Capital Dinheiro e Capital Real II 1. Transformação do Dinheiro em Capital de Empréstimo 2. Transformação de Capital ou Renda em Dinheiro que é Transformado em Capital de Empréstimo
Cap. 32. Capital Dinheiro e Capital Real III Cap. 33. O Meio de Circulação do Sistema de Crédito Cap. 34. O Princípio da Monetização e a Legislação Bancária Inglesa de 1844 Cap. 35. Metais Preciosos e Taxa de Câmbio I. Movimento das Reservas de Ouro II. A Taxa de Câmbio: Taxa de Câmbio com a Ásia. Balança Comercial Inglesa Cap. 36. Relações Pré-Capitalistas: Juros na Idade Média. Vantagens Derivadas pela Igreja da Proibição de Juros
Parte VI. Transformação de Lucro Excedente em renda da Terra Cap. 37. Introdução Cap. 38. Renda Diferencial: Considerações Gerais Cap. 39. Primeira Forma da Renda Diferencial (Renda Diferencial I) Cap. 40. Segunda Forma da Renda Diferencial (Renda Diferencial II) Cap. 41. Renda Diferencial II Primeiro Caso: Preço Constante de Produção Cap. 42. Renda Diferencial II Segundo Caso: Preços de Produção Decrescente I. A Produtividade do investimento adicional do capital permanece a mesma II. Taxa de produtividade decrescente do capital adicional III. Taxa de produtividade crescente do capital adicional Cap. 43. Renda Diferencial II Terceiro Caso: Preço de Produção Crescente Cap. 44. Renda Diferencial também no Pior Solo Cultivado Cap. 45. Renda da Terra Absoluta Cap. 46. Renda em Instalações Construídas. Renda da Minas. Preço da terra Cap. 47. Gêneses da Renda da Terra Capitalista I. Considerações Introdutórias II. Renda do Trabalho III. Renda em natura IV. Renda Monetária V. Propriedade Métayage e Camponesa de Parcelas da Terra
Parte VII. Receitas e suas Fontes Cap. 48. A Fórmula Trinitária I, III Cap. 49. A Respeito da Análise do Processo de Produção Cap. 50. Ilusões Criadas pela Competição Cap. 51. Relações de Distribuição e Relações de Produção Cap. 52. Classes Suplemento, por Frederick Engels Introdução Lei do Valor e da Taxa de Lucro O Estoque de Divisas
Algumas ideias-chave do livro III
Marx acreditou que os preços reais poderiam se desviar dos preços previstos pela teoria do valor-trabalho mais pura e simples. No entanto, a questão da formação dos preços só seria atacada por ele no volume III da obra em questão.
Ainda no volume I do Capital, Marx expõe as condições do caso simples em que os preços seriam iguais ao valor da produção. O valor da mercadoria é a soma de dois componentes: o trabalho morto e o trabalho vivo, ou seja, o trabalho passado que aderiu aos fatores físicos de produção e o trabalho corrente. O trabalho morto é associado ao capital constante c.
O trabalho vivo se desdobra em trabalho necessário que produz o capital variável v e trabalho excedente que gera a mais-valia. Portanto o valor w é expresso como w = c + v + s.
Na hipótese simplificadora de que s/v e c/v sejam o mesmo em qualquer indústria, a taxa de lucro r, como vimos r = (s/v)/(1 +(c/v)), é a mesma em todas elas. Definindo os preços de produção como a soma dos custos dos fatores produtivos c, mais o custo do trabalho usado na produção v e mais a margem de lucro total r. C, demonstra-se trivialmente que:
p = c + v + r(c+v) = c + v + [(s/v)/((c + v)/v))](c+v) = c+v+s=w Ou seja, o valor é igual ao preço de produção.
Aron: “Como os capitalistas não conhecem a distinção entre capital constante e capital variável, coloca-se a questão. Como passar das categorias de capital dos capitalistas? Como passar das categorias dos capitalistas para as categorias de Marx? ”
Aron: “Isso significa que o capitalista conhece o conjunto de suas produções, o capital fixo mais o capital circulante, conhece as diferentes taxas de rotação e também o conjunto que constitui o custo de produção e, para além do custo de produção, há o que chamam de lucro. Mas o que ele não sabe é que o conjunto do lucro vem exclusivamente do capital variável. ”
O problema da transformação Vejamos mais de perto onde reside a problemática da transformação de valor em preços. A análise de Marx é setorial, em cada setor da economia ele calcula como os valores das mercadorias são formados. Supondo um montante de capital imobilizado, uma parte do capital constante é transferida para as mercadorias, a parte depreciada pelo uso das máquinas, ferramentas etc. (a parte que corresponde ao uso efetivo da máquina em cada período de produção), e todo o capital variável o é pela contratação de trabalhadores. Assim o valor das mercadorias é formado pela soma de capital constante, capital variável e mais-valia.
Mesma taxa de mais-valia. Diferentes taxas de lucro. Supondo que a taxa de mais-valia seja a mesma em todos os setores, porque o grau de exploração é o mesmo em todos eles, a taxa de lucro seria diferente entre diferentes setores (dados os diferentes tempos de circulação e as diferentes composições orgânicas do capital). Isto é claramente incompatível com a hipótese ricardiana de arbitragem entre os setores. Marx acredita que as taxas de lucro se nivelam numa taxa geral de lucro que é a média entre os setores da economia.
Aron: “É preciso, por outro lado, haver uma concorrência entre os capitalistas empresas, tendo como resultado produzir uma taxa de lucro médio. Segundo Marx, essa taxa de lucro médio se produz em uma economia que tem como condição a fluidez simultânea do capital e do trabalho. Para que uma taxa de lucro médio se constitua, apesar da composição orgânica do capital variável segundo os setores, é preciso que os capitais e os homens passem de um setor a outro com o máximo de liberdade. . . o que é preciso para que o sistema, tal como ele o concebe, funcione é que exista uma taxa de lucro médio para o conjunto do setor. ”
Preços de produção À medida que o capital se move dos setores de menor lucro para os setores de maior lucro os valores são, por fim, transformados em preços de produção (o ponto de atração da convergência dos preços de mercado).
Ramo de composição média do capital Quando as taxas de lucros finalmente se igualam, o lucro comum a todos os setores deve coincidir com o lucro anterior praticado pelo ramo de composição média do capital (média da relação capital constante-capital variável). O valor se transmuta em preços de produção. Estes preços passam a guiar a convergência dos preços de mercado.
Transmutando valores em preços Além do problema de fornecer um fundamento microeconômico a esse processo de transmutação do valor em preços de produção, os críticos apontam uma falha na argumentação de Marx em mostrar como se pode derivar os preços de mercado transmutando adequadamente as componentes dos valores nas componentes da determinação dos preços.
O problema Ou seja, como na fórmula de Marx os preços são formados com base em salários, lucros e preços do capital constante depreciado, Marx terá que transmutar primeiro o capital variável em salários, a mais-valia em lucro, o capital constante medido em valores para o capital constante medido em preços.
Reescrevendo a fórmula anterior p = preço do capital constante depreciado + salário + lucro valores =c+v+[(s/v)/((c + v)/v))](c+v) = c+v+s=w Supondo: preço do capital constante depreciado = c salário = v lucro = s Portanto, p = w
Fórmula dos valores versus fórmula dos preços Marx aplica uma taxa de lucro comum em todos os setores, igual à taxa de lucro do setor de composição média do capital (obtida no sistema de valores), somando-a ao capital imobilizado em cada setor e aos salários pagos em cada qual, sendo que este dois últimos componentes ainda estão expressos em valores. Ou seja, Marx deixou de realizar a transformação desses componentes antes de importá-los da fórmula dos valores para a fórmula dos preços.
Marx tinha consciência dessa inadequação Ele estava mais preocupado em mostrar que, entre todos os setores, a soma dos lucros iguala-se a soma das mais-valias ou que a soma dos preços de produção igualar-se-ia às somas dos valores.
Igualdade na totalização de valores e preços de produção. Ele sabia que os preços de custo de uma mercadoria poderiam diferir dos valores dos meios de produção, e que uma análise mais detalhada teria que examinar como em cada setor esses valores ensejariam, com o processo de ajuste, os preços de produção. Marx visualiza que o mercado se encarregaria dessa tarefa e que a falha da teoria em não acompanhar todo esse processo não era algo realmente digno de preocupação. O que ele considera demonstrada é a igualdade na totalização de valores e preços de produção.
No volume III do Capital, Marx supõe que as várias indústrias trabalham com diferentes composições orgânicas do capital c/v de modo que p w. Mostra-se, de início, que a mesma taxa de maisvalia em diferentes indústrias com diferentes composições do capital leva a diferentes taxas de lucro. No exemplo numérico da tabela adiante, supõe-se o mesmo capital total C para todas elas e que em cada caso somente uma parcela do capital total é consumida.
Observa-se na tabela que em todas as indústrias a taxa de mais-valia é de 100% já que s = v. O capital total é $100 como aparece no cálculo da taxa de lucro na última coluna, então apenas uma parcela dele é consumida durante um período de produção, já que c + v < 100. Nota-se que cada indústria apresenta diferente relação c/v e que em cada qual calcula-se uma taxa de lucro diferenciada das demais.
O problema da desigualdade nas taxas de lucro O problema para a teoria de Marx que este simples exemplo numérico coloca é que a hipótese realista de diferentes composições de capital entre as indústrias leva à desigualdade nas taxas de lucro, mesmo que as taxas de mais-valia sejam iguais. Este resultado é incompatível com o modelo de concorrência que tende a igualar a taxa de lucro de todas as indústrias.
Hipótese de mesma taxa de lucro Se fixarmos uma mesma taxa de lucro para todas, digamos de 20%, a maisvalia s seria de 20 em todas as indústrias e neste caso as taxas de mais-valia seriam:
Como justificar diferentes taxas de mais-valia? Se as taxas de salários e a duração da jornada de trabalho são iguais entre todos os setores, respectivamente pela arbitragem entre mercados e por imposição legal, as taxas de mais-valia teriam de ser iguais e não diferentes como na tabela anterior.
A solução ao aparente paradoxo A solução consiste em separar dois conceitos de taxa de mais-valia: 1. como relação s/v (relação de valores) 2. como a relação entre trabalho excedente e trabalho necessário (relação de tempos)
Interpretação proposta: A taxa de mais-valia expressa em s/v é a mais-valia realizada na esfera da produção (esfera dos valores). A mais-valia como tempo de trabalho excedente/tempo de trabalho necessário é criada na esfera da circulação (esfera sensível dos tempos). s/v é sempre a mesma em todos os setores independentemente das diferenças nas composições orgânicas do capital. A mais-valia na esfera da circulação (relação entre tempos) não precisa ser igual entre os setores.
q Se a razão s/v é a mesma em cada setor, isto não está em contradição com o modelo de Marx, pois ele só diferencia as taxas de mais-valia medidas em tempo de trabalho!
Ainda com base na tabela anterior, com o lucro comum de 20%, teríamos um preço de produção obtido da soma do lucro com o custo de produção c + v:
Comparando-se o lucro com a mais-valia realizada na esfera da produção (tal que a taxa de mais-valia seja, por hipótese, igual a 1), temos, em cada indústria, um desvio do lucro em relação à ela. Somando-se este desvio ao preço de produção resulta o valor da mercadoria identificado por Marx.
Taxa de mais-valia =1
A média da composição orgânica do capital é 2, 0. Setores que apresentam a composição orgânica do capital acima da média têm os preços de produção superior ao respectivo valor, casos das indústrias III e IV; os setores composição orgânica abaixo da média têm os preços abaixo dos correspondentes valores e o setor I cuja relação c/v é igual à média da economia tem p = w.
Os vários desvios observados preços de produção em relação ao valor se cancelam dentre todos os setores. Portanto, o total das mercadorias produzidas conjuntamente consideradas apresenta valor e preço de produção igualados. Os desvios em cada caso só ocorrem porque as composições orgânicas do capital são diferentes da média.
Uma mercadoria, como na indústria I, que tem uma proporção entre insumos fixos e variáveis igual a da economia como todo tem o seu preço determinado exatamente pelo valor. Ela poderia ser usada como um numerário já que seu preço não se desvia do valor. Então o numerário é qualquer mercadoria produzida composição média de capital da economia.
A solução de Marx ao problema do numerário foi criticada por marxistas que se debruçaram no problema. Piero Sraffa, no século XX, demonstrou que com uma medida invariável do valor não se estabelece necessariamente o vínculo apropriado entre valores medidos em trabalho e preços.
Um livro inacabado O livro III de fato não chegou a ser completado e lacunas na construção de Marx foram percebidas pelos seus seguidores.
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