DESIGUALDADE SOCIAL POBREZA ABSOLUTA POBREZA RELATIVA A IDEIA
DESIGUALDADE SOCIAL
POBREZA ABSOLUTA
POBREZA RELATIVA
A IDEIA DE POBREZA ANTES DO ESTADO PROVIDÊNCIA
ESTADO-PROVIDÊNCIA
ESTADO-PROVIDÊNCIA COMO EVOLUÇÃO DE DIREITOS
TIPOS DE ESTADO PROVIDÊNCIA
FIM DA ERA DE OURO E O NEOLIBERALISMO
SUBCIDADANIA NO BRASIL (FETICHE DA DESIGUALDADE) • O fetiche da igualdade, para a definição do qual me vali dos conceitos "democracial" de Gilberto Freyre e "homem cordial" de Sergio Buarque de Holanda, são os fatores mediadores de nossas relações de classe, que têm ajudado a dar uma aparência de encurtamento das distâncias sociais, contribuindo dessa forma para que situações de conflito freqüentemente não resultem em conflito de fato, mas em conciliação.
CLIENTELISMO • Assim, em sua vida de favor, a dominação foi experimentada como uma graça e ele próprio reafirmou, ininterruptamente, a cadeia de lealdades que o prendia aos mais poderosos. Desprovida de marcas exteriores, sua sujeição foi suportada como benefício recebido com gratidão e como autoridade voluntariamente aceita, fechando-se a possibilidade de ele sequer perceber o contexto de domínio a que esteve circunscrito.
DIREITO COMO DÁDIVA • Essa cidadania concedida, voltando aos argumentos utilizados no início deste artigo, tem a ver com o próprio sentido da cultura política da dádiva. Os direitos básicos à vida, à liberdade individual, à justiça, à propriedade, ao trabalho; todos os direitos civis, enfim, para o nosso homem livre e pobre que vivia na órbita do domínio territorial, eram direitos que lhe chegavam como uma dádiva do senhor de terras.
• O drama do mando e subserviência, que funda uma cidadania apenas concedida como dádiva ao homem livre e pobre, sofreu mudanças no tempo desde a sua inserção na ordem escravocrata até os dias de hoje. Permanece, mesmo muito tempo depois de abolido o trabalho escravo, o seu vínculo de dependência pessoal para com o senhor de terras. Um vínculo de tal forma arraigado no seu modo de sobrevivência que fica às vezes como idealização do passado, sempre que as condições de sua vida o levam a se desgarrar da dependência pessoal.
NAÇÃO E A DESESTRUTURAÇÃO DO CLIENTELISMO • "a burocratização do poder e a extensão dos benefícios sociais ao campo constituem um processo de nation-building, na medida em que fomentam uma nova identidade social em substituição àquela tradicionalmente baseada na lealdade local" (Reis, 1988: 203 -4). Há uma coincidência na explicação de Reis e Bursztyn (1984), quando ambos se referem ao fato de permanecerem os mecanismos de clientelismo e patronagem, mudando, porém, a sua efetivação, pois os políticos locais de hoje são diretamente os representantes do Estado, quando antes havia a intermediação necessária do poder privado dos coronéis
A NOVA CLASSE MÉDIA • Marcelo Neri • O Brasil virou o país da classe média. Mais de metade dos brasileiros tem renda domiciliar entre R$1. 064 e R$4. 591 por mês. A classe C, como foi rotulado o meio da pirâmide social, que concentra 19, 2 milhões de pessoas, respondia por 51, 89% da População Economicamente Ativa (PEA) em abril. Há seis anos, na faixa entre 15 e 60 anos, eram 42, 49%. Com a alta do emprego com carteira assinada, a classe média engordou, no período, em cinco milhões de pessoas. A pesquisa foi feita nas seis principais regiões metropolitanas. O novo perfil sócio-econômico do país detectou ainda uma mobilidade social, que tirou dois milhões de pessoas da pobreza
A NOVA CLASSE MÉDIA? • Marcelo Poshmann, há uma ascensão social ( a partir de política de crédito e valorização do salário mínimo) que impulsiona as camadas mais pobres, mas a classe média não participa deste processo. • Entretanto, a tal “nova classe média”, contuda, foi incorporada à economia sem haver qualquer mudança na infra-estrutura. • Apesar das mudanças, não há mudança de classes, essa classe ainda é uma classe de trabalhadores. • Os postos de trabalhos que surgem nesse cenário são de pouca qualificação.
CONTRADIÇÕES DA “NOVA CLASSE MÉDIA” • Quando os grandes jornais conservadores do Brasil falam que o “jovem” brasileiro entre 14 e 25 anos costuma morrer de arma de fogo, eles, na verdade, escondem e distorcem o principal: que 99% desses jovens são de uma única classe, a “ralé” de excluídos brasileiros. Quando se fala que a “mulher brasileira” está ocupando espaços importantes e valorizados no mercado de trabalho, o que se “esquece” de dizer é que 99% dessas mulheres são das classes média e alta.
CLASSE COMO ESTILO DE VIDA • Onde reside, no raciocínio acima, a cegueira da percepção economicista, seja liberal, seja marxista, do mundo? Reside em literalmente não ver o mais importante, que é a transferência de valores imateriais na reprodução das classes sociais e de seus privilégios no tempo. • Reside em não perceber que mesmo nas classes altas, que monopolizam o poder econômico, os filhos só terão a mesma vida privilegiada dos pais se herdarem também o “estilo de vida”, a “naturalidade” para se comportar em reuniões sociais, o que é aprendido desde tenra idade na própria casa com amigos e visitas dos pais, se aprenderem o que é “de bom tom”, se aprenderem a não serem “over” na demonstração de riqueza como os novos ricos e emergentes etc
FORMAÇÃO DA CLASSE MÉDIA TRADICIONAL • Na classe média a cegueira da visão redutoramente economicista do mundo é ainda mais visível. Essa classe social, ao contrário da classe alta, se reproduz pela transmissão afetiva, invisível, imperceptível porque cotidiana e dentro do universo privado da casa, das precondições que irão permitir aos filhos dessa classe competir, com chances de sucesso, na aquisição e reprodução de capital cultural. O filho ou filha da classe média se acostuma, desde tenra idade, a ver o pai lendo jornal, a mãe lendo um romance, o tio falando inglês fluente
O CARÁTER DA “NOVA CLASSE MÉDIA” • O processo de modernização brasileiro constitui não apenas as novas classes sociais modernas que se apropriam diferencialmente dos capitais cultural e econômico. Ele constitui também uma classe inteira de indivíduos não só sem capital cultural nem econômico em qualquer medida significativa, mas desprovida, esse é o aspecto fundamental, das precondições sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação.
NOVA CLASSE TRABALHADORA • nossa tese é que os emergentes que dinamizaram o capitalismo brasileiro na última década constituem aquilo que gostaríamos de denominar como “nova classe trabalhadora brasileira”. Essa classe é “nova” posto que resultado de mudanças sociais profundas que acompanharam a instauração de uma nova forma de capitalismo no Brasil e no mundo.
OS BATALHADORES • Os neoliberais afirmam que a nova classe média é um fenômeno que teve resultado em um contexto de crescimento econômico sem a necessidade de políticas de Estado. • A esquerda tradicional não compreende a ascensão dessa nova classe porque ela não se enquadra em uma categoria tradicional de proletariado ocupada na indústria.
UMA NOVA ORDEM, UMA NOVA CLASSE • Essa nova classe trabalhadora convive com o antigo proletariado fordista – ou com o que restou dele –, posto que o fordismo não acabou, e grande parte da produção de mercadorias e de acumulação de capital ainda é realizada na típica forma fordista de controle do trabalho. Ainda que o fordismo não tenha acabado e possua uma existência paralela à nova classe trabalhadora que se constitui, houve uma diminuição sensível do número de trabalhadores nesse setor, que não pode apenas ser creditada a ganhos em produtividade e inovação tecnológica
A RALÉ • Essa é uma distinção fundamental em relação às famílias da “ralé” que estudamos em livro anterior a este. A família típica da “ralé” é monoparental, com mudança frequente do membro masculino, enfrenta problemas graves de alcoolismo, de abuso sexual sistemático e é caracterizada por uma cisão que corta essa classe ao meio entre pobres honestos e pobres delinquentes. É a classe vítima por excelência do abandono social e político com que a sociedade brasileira tratou secularmente seus membros mais frágeis.
CARACTERÍSTICAS DOS BATALHADORES • Os batalhadores, assim, ascendem em um momento no qual há mudanças nas relações de trabalho e os trabalhadores assumem uma ética do capitalismo na qual o integra ao sistema, ainda que de forma precária e marginal. • Diferentemente da geração fordista, os batalhadores não se vem como antagonistas de uma burguesias, mas como empreendedores com uma mínima autonomia para atuar na economia, mesmo quando presos à relações de exploração semelhantes a períodos anteriores. • Essas ideias são compartilhadas e difundidas no seio familiar dos batalhadores, que não tem “tempo” para se dedicar exclusivamente aos estudos, mas incorporam a ideia de esforço que possibilita combinar ocupação profissional e a formação.
TELEMARKETING • Uma das ideias que gostaria de desenvolver aqui é a de que o telemarketing é uma ocupação cuja constituição é precária. Essa atividade não tem apenas um efeito localizado nestas pessoas, restrito ao trabalho em si, mas contribui também na piora da vida como um todo. Assim, veremos que ele ajuda a reproduzir uma condição precária que impede a constituição do sentimento de segurança social.
ATIVIDADE INTELECTUAL E PRECARIZAÇÃO • Assim, a grande ilusão construída sobre o telemarketing é a de que é um “emprego de escritório” puramente intelectual, o que contribui para ocultar sua dimensão duramente braçal. • As competências intelectuais também estão conectadas ao corpo, pois este esforço intelectual contínuo e repetitivo tende a causar, por exemplo, dor de cabeça e nos olhos
PENTECOSTALISMO: AS CARACTERÍSTICAS GERAIS DE UM MOVIMENTO DE CLASSE • O pentecostalismo avançou nos anos 80 e 90 no Brasil, arrebanhando as classes mais populares. Parte do sucesso envolve a capacidade de criar narrativas de humanização dos mais pobres através de uma teologia da prosperidade, constituindo uma prática religiosa muito mais próxima de assuntos que envolvem a rotina dos praticantes.
RELIGIÃO PENTECOSTAL E FUTURO • [. . . ] mesmo na sociedade moderna, a realização prática dessa busca do futuro prometido para cada um não é possível para todos os indivíduos, como se fosse um dom natural o ato de sonhar e imaginar que a vida, num certo ponto ausente e imaginário do tempo, e por oposição ao que deve se tornar passado, tende ou pode ser diferente, melhor, mais digna, mais feliz. A crença no futuro não é óbvia, é contingente e precisa ser constantemente construída e reconstruída. • A religião pentecostal, mais do que outra, possibilita a classe dos trabalhadores a visualizar e sonhar com um futuro.
SINAIS DE PROSPERIDADE NO COTIDIANO • O argumento se apoia na constatação empírica da importância que o testemunho diante da comunidade ocupa na religião pentecostal do batalhador. Como parte decisiva do processo de conversão, cria -se um ritual de “abrir o coração na presença de Deus”. O convertido, mesmo depois de muito tempo, é sempre convocado e estimulado a compartilhar com os presentes seus sofrimentos, suas batalhas e suas superações.
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