De Tramas e Fios Um ensaio sobre msica
De Tramas e Fios Um ensaio sobre música e educação Marisa Fonterrada Pág. 119 -136
Métodos Ativos O panorama musical vigente na virada do século XX tem por conseqüências a incorporação de “métodos ativos” como possível respostas as problemáticas do ensino da musica. No entanto a exclusão da disciplina Musica do currículo, e a adesão da chamada Educação Artística em 1971 (lei n. 5692/ 71), fizeram com que tais métodos fossem esquecidos. Dando espaço a outros de segmentos alternativo. Mesmo as escolas de Musica, não se valem dos “Métodos Ativos”. Nas que investem em aulas de musicalização, observa-se que, muitas vezes, isso ocorre de maneira pouco consistente, caracterizando-se mais como recreação do que como fonte de conhecimento.
Portanto caso queira fortalecer a área da educação musical, é importante que os educadores musicais pioneiros sejam revisitados. Ou seja, não para serem adotados como se apresentam originalmente as suas propostas, mas que se possa atualizá-los aos contextos educacionais e históricos atuais e portanto usufruir das contribuições que tais abordagens podem alcançar. Com o retrospecto histórico do capítulo anterior, a autora apresenta as diferentes abordagens educacionais podendo concluir que: Em determinados períodos históricos, nem mesmo se consegue detectar o valor e o significado que os homens atribuíam à educação.
Primeira Geração As grandes transformações artísticas e científicas produziram os pedagogos da música no século XX. O século XX viu despontar, em um curto espaço de tempo, uma série de músicos comprometidos com o ensino da música. Émile-jaques Dalcroze. Educador musical suíço, viveu de l 865 a 1950 e foi professor no Conservatório de Genebra. Seu grande mérito, graças à sua observação incessante e à sua intuição, foi propor um trabalho sistemático de educação musical baseado no movimento corporal e na habilidade de escuta. Conhecia bem a situação das escolas suíças e alemãs e os problemas que enfrentavam, conseguindo avaliar com
Desse modo Dalcroze, Percebeu, então, que o erro do ensino de música era não permitir que os alunos experimentassem sonoramente o que deviam escrever. Distinguem-se, no trabalho de Dalcroze, dois tipos de preocupação-distintos, mas não conflitantes: A educação musical e a necessidade de sistematização das condutas, em que música, escuta e movimento corporal estivessem estreitamente ligados e interdependentes. A segunda preocupação de Dalcroze é mais ampla e mostra quanto ele estava interessado em buscar soluções para as condições que se apresentavam no novo século.
Em 1905, Dalcroze demonstra, em um de seus artigos, seu interesse pela educação do povo, que, segundo ele, deveria ser liderada por uma elite de artistas. A forte presença da música na escola seria o único meio de catalisar o que Dalcroze chamava de "as forças vivas do país“. Dalcroze era combatido no meio musical por suas idéias revolucionárias, o que o levou a querer reafirmar o que descobria a partir de suas intuições.
É possível perceber que Dalcroze estava inteiramente engajado nas questões de seu tempo, mas seus instrumentos de interpretação da realidade permaneciam inseridos no pensamento romântico. Em sua intenção de democratizar o ensino, Dalcroze ressaltou a importância da presença da música na escola. Dalcroze, abastecido dos ideais romântico via na "utopia" a própria proposta de ensino de música que, uma vez implantada, reverteria o estado de coisas apontado, permitindo o pleno desenvolvimento das capacidades sensório-motoras, sensíveis, mentais e espirituais da criança e, em conseqüência, de toda a população.
"Ritmo e gesto no drama musical e diante da crítica" Esse é o título de um artigo de Dalcroze, escrito entre 1910 e 1916. E que fora destacado no texto, por ser um artigo que demonstra por menores as idéias de Dalcroze. O que Dalcroze entende por educação musical ultrapassa o conceito comumente atribuído a essa expressão, de ensino de música para crianças. Seu sistema, muito embora se dedique ao desenvolvimento de competências individuais, é também pensado como agente de educação coletiva. É ai que se encontra a atualidade de sua proposta.
Dalcroze era dedicado ao coletivo em arte, alinhando-se ao que já ocorria ao seu redor e se manifestava nos grandes movimentos populares e na massificação da cultura, que se evidenciava desde o século anterior, mas que, até aquele momento, não havia se estendido ao ensino artístico. Dalcroze demonstra que a preparação dos grupos artísticos estava baseada em princípios errôneos, pois não existia nenhuma proposta de tratamento coletivo do gesto, o que fazia que os movimentos individuais realizados simultaneamente evidenciassem a ausência de um pensamento comum e, portanto, de senso dramático.
A Rítmica Por meio de sua proposta, pretende levar o individuo à escuta consciente e ao movimento. Além desse propósito mais amplo, atua como atividade educativa, desenvolvendo também a voz cantada, o movimento corporal e o uso do espaço. O sistema Dalcroze estimula a imersão dos participantes nos aspectos estruturais e dramáticos da obra musica. As suas descobertas, estavam sempre interligadas as descobertas da psicologia.
O sistema Dalcroze parte do ser humano e do movimento corporal estático ou em deslocamento, para chegar à compreensão, fruição, conscientização e expressão musicais. A música não é um objeto externo, mas pertence, ao mesmo tempo, ao fora e ao dentro do corpo. Superação da dicotomia entre estrutura e liberdade.
Critica para a falsa liberdade atual, de expressão corporal e musical, sempre atrelada a cultura da industria. Que não corresponde ao conhecimento e a exploração do corpo como unidade sistêmica e instrumento expressivo, que exigem, a um só tempo, conhecimento, sensibilidade, exploração, liberdade e estrutura.
O sistema Embora inicialmente concebido para adultos, foi adaptado, posteriormente, para atender crianças a partir de seis anos. O conhecimento perpassa primeiro as experiências e depois a assimilação intelectual. lncentivando movimentos básicos como andar, correr, saltar, arrastar-se, deslocar-se em diferentes direções. Livremente, ou seguindo um determinado ritmo. Objetivos que continuam atuais, ainda mais se pensar na expressão e na estrutura corporais como maneiras de suplantar as estereotipias postas hoje ao alcance da população.
Dalcroze hoje O Instituto Émile-Jaques Dalcroze, em Genebra, continua sendo um importante centro de formação de professores, responsável pela difusão das idéias e da sistemática de Dalcroze. O professor de educação musical, hoje, que decidindo aplicar a proposta dalcroziana, tendo em vista sua aplicação, precisa tomar consciência das mudanças por que passou o mundo desde então. Aderindo ao pensar do autor, que certamente não gostaria que seus métodos fossem estagnados. O Instituto Émile-Jaques Dalcroze tem conduzido esse ideal, formando professores de música de competência internacionalmente reconhecida, responsáveis pela difusão do sistema por ele criado e sua adaptação às condições do mundo contemporaneo.
Fim
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