CURSO INTRODUTRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MDIA
CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA 02 - LINGUAGEM E PENSAMENTO NA FILOSOFIA GREGA - Traços mais significativos para uma melhor compreensão do Problema dos Universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 1
Parmênides • Inicialmente temos de ter em mente que o problema das relações entre a Linguagem e o Pensamento estão presentes em todo o modelo grego; • Contudo, somente na obra de Parmênides teremos o protagonismo que nos interessa estudar a esse respeito. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 2
Parmênides • No poema acerca da Natureza o Eleata coloca na boca da Deusa um argumento complexo: – Ressalta a unidade lógica, epistemológica e ontológica de uma entidade que ele chama de “o ser”; – Essa entidade proporciona a fundação de uma única realidade/verdade (alêtheia) que corresponde a um único pensamento (noein, nôema) ou a uma única “coisa” pensada e dita: o ser • Essa noção entre unidade e identidade é expressa pela frase do fragmento 3 do Poema: – “O mesmo é pensar e ser” Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 3
Parmênides • O argumento não é difícil de se mapear, embora sua interpretação seja controversa: – Só se pode pensar (2. 2): “é” e “não é”; – Ao negar um se chega ao outro e negando este se regressa àquele (2. 3 b, 5 b); – Mas o “não é” não pode ser pensado, nem apontado (2. 7 -8), pelo fato de que não é informativo (2. 6), conclui-se que “ser” e “pensar” são o mesmo (3); – Dessa visão segue ser necessário que “ser”, “dizer” e “pensar” sejam (6. 1 a), pelo fato de serem possíveis (6. 1 b); mas, ao contrário, o nada não é (6. 2 a) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 4
Parmênides • Os mortais ignoram essa posição e confundem “ser” e “não ser” pelos hábitos dos sentidos; • Mas para acabar com essa confusão devemos ter em mente que o “ser”: 1) 2) 3) 4) 5) 6) É ingênito e indestrutível (8. 3), compacto, inabalável, sem fim (8. 4), eternamente presente, homogêneo, uno, contínuo (8. 5 -6 a), pois não tem origem, nem razão de ser (8. 9 -10) no nada (8. 6 b-10); A) é único (8 -11 -13 a), não cresce, nem morre (8. 13 b-14), é ou não é; B) pois “não é” é impensável e inexprimível (8. 17 -18), enquanto “é” é autêntico (8. 19): não nasce, nem morre (8. 19); não era nem vem a ser, pois “é” (8. 20); É indivisível (8. 22 a), homogêneo, contínuo, cheio, consigo (22 b-25); É imóvel/imutável (8. 26), sem princípio nem fim (8. 27), pois é ingênito e indestrutível (8. 27 b-28): o mesmo, imóvel e firme (8. 29); É completo (8. 32), pois de nada carece, enquanto o nada de tudo carece (8. 33), sendo limitado, logo, completo (8. 42), equilibrado como uma esfera (8. 43 -45), invariável, inviolável, igualmente nos limites (8. 46 -49) Arremate do argumento: O mesmo é o pensamento e a “causa-fim” (houneken) do pensamento [o ser] (8. 34), pois sem o ser não há pensar (8. 35 -36); só o ser é: inteiro e imóvel (8. 36 -38 a) e a ele se referem os vários nomes postos pelos mortais, iludidos (8. 38 b-41). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 5
Parmênides • Tal argumentação nos leva a levantar duas observações: – Na Via da Verdade Parmênides não presta atenção à observação do mundo exterior (como era feito por seus antecessores que explicavam a gênese do cosmo mediante a emergência dos contrários que derivavam de uma natureza substancial original); – Seu ponto de partida é exclusivamente a experiência humana do pensamento e da linguagem. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 6
Parmênides • O que significa pensar: “é”? – Significa primeiramente afirmar; – A alternativa para isso – “não é” – significa negar. • Mas o que é negado ou afirmado? – A resposta será exposta no fragmento 8: • Teremos a noção que nos permitirá, explicitamente, identificar “o Ser” como o sujeito da afirmação. • A resposta já se prefigura no frag. 2 que coloca o ponto de partida de todo o argumento na afirmação “é”, aspecto que postula não somente o cancelamento do caminho do “não ser”, como a identidade do pensamento com a identidade pensada e dita (fragm. 3) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 7
Parmênides • O que o movimento anterior proporciona é a eliminação do acesso do não ser à identidade. • Essa será uma marca que dará a Parmênides uma gama de influências na tradição reflexiva grega, sobremaneira nas obras epistemológicas e ontológicas de Platão e, em menos grau, de Aristóteles. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 8
Parmênides • Se focarmos o olhar exclusivamente na Via da Verdade (fragms. 2 -8. 49) teremos um argumento dividido em três momentos: 1. 2. 3. (fragms. 2 e 3) Denúncia da inviabilidade onto-epistemológica da via negativa (2. 5 -8), que resulta na afirmação da identidade do ser com o pensar; (fragms. 6 e 7) Mostra a finalidade programática do Poema. O “pensamento” dos mortais é “errante” (6. 4 -5) pois confunde ser e não ser e ignora a disjunção que os opõe (6. 1 -2 a). A causa do erro é a confiança na percepção sensível (7. 3 -5) e o remédio o debate argumentativo (7. 5) O argumento expõe as conseqüências da aceitação da premissa “é” mediante a enumeração dos “sinais” do ser (8. 149). Essa visão nos expõe uma metafísica que será contundente para a posteridade. Sua metafísica parte do pensamento e somente poderá ser realizada através do estudo da evidência lingüística. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 9
Parmênides • O que essa estrutura pode nos revelar? • Uma entidade cuja natureza reflete ou é refletida pela gama dos sentidos do termo a que se refere. • O modo constitutivo do ser como uma entidade una, imutável, perfeita e eterna pode ser explicada pela reificação dos sentidos presentes no verbo grego “ser”, que estão fundidos na referência a um significante abrangente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 10
Parmênides • Afirmar “é” equivale a fazer convergir no ser a multiplicidade de sentidos que o verbo condensa; • A consideração de algo que “não é” evidencia a insanável contradição decorrente da incognoscibilidade (2. 5 -8, 8. 8 -9, 8. 16 b-18 a, 8. 3436 a); • Essa noção da pluralidade de einai será atacada por Platão, no Sofista, e rejeitada por Aristóteles, (Met. D 7, 1017 a 22 -35). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 11
Parmênides • Toda essa argumentação nos estabelece a cisão entre a linguagem/pensamento e a sensibilidade – Essa linha contrasta o caminho dos sentidos (costume muito experimentado) (7. 3 -5 a) com a prova do logos (muito disputada) (7. 5 b) e nos conduz ao caminho daquilo que é (8. 1 -2 a) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 12
Parmênides • A afirmação “é” funde os sentidos identitativo e veritativo, mas não nos oferece uma possibilidade de leitura predicativa de “ser” (8. 38 -39; 19. 3). • A questão abordada nos coloca que se “todos os nomes que os mortais instituíram” são “acerca do ser” (8. 37 -39), tal instituição virá somente da opinião/crença (19. 1 -3), pois, partindo de “é” para “o ser é”, só podemos chegar a “o ser é ser” e, por isso, confirmar a noção de identidade. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 13
Parmênides • Fica claro, portanto, que o modelo desenhado identifica pensamento e ser (aqui temos o ponto pacífico da tese); • O problema é que no meio desses dois pólos temos a aparência sensível. • Já que a tarefa da filosofia é explicar também a aparência, como podemos eliminar a dicotomia e a distância desses dois pólos e explicar a aparência, o sensível? • A resposta, dada por Platão, postula a hipótese das formas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 14
Platão • Todo o percurso platônico está em tentar solucionar essa cisão, herdada de Parmênides, entre a realidade inteligível e a aparência sensível (Fédon 72 e-76 a; República 506 d-535 a, 476 a 480 a; Timeu 27 d ss). • O problema expresso em todo o percurso do dualismo platônico pode ser condensado na briga entre duas dimensões: uma ética e antropológica; outra ontológica, epistemológica e lógica. • Nessa última está inserido nosso interesse frente á predicação. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 15
Platão • Nos diálogos onde temos expressa a hipótese platônica das Formas (Fédon 100 a), vemos as estruturas ontoepistemológicas do Ser eleático caracterizadas ora como sujeitos, ora como predicados perfeitos, únicos, eternos, imutáveis. • As formas atomizam o ser eleático e expressam a convergência de cada entidade para a plenitude de sentidos do verbo ‘ser’. • O que temos, portanto, é a instauração, pela teoria platônica, de uma natureza una e inseparável do ser eleático, manifesta em várias formulações, caracterizando a teoria das Formas (como a acumulação de sentidos, fundidos e inseparáveis, ao mesmo tempo, entre o “ser” e o “verbo ser”). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 16
Platão • A pluralidade de termos famosos (“ser”, “essência”, “entidade”, “existência”, etc. ) mostram a forma com que ocorre a acumulação narrada anteriormente. • Mas qual o problema: essa pluralidade é reconhecida por Platão mas ele mesmo se reconhece incapaz de as separar ou mesmo distingüí-las. • O problema também deve-se à preferência platônica pela linguagem poética, no uso de metáforas e analogias e a intercalação de tudo com as ditas “manifestações da verdade” – Essa manifestação mostrará a presença do sentido veritativo do verbo ser na identificação automática realizada entre o ser e as Formas; – Isso vem expresso na analogia do Sol, na República VI 508 e -509 b. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 17
Platão • O que temos, portanto, é uma tentativa de unificar todas as noções e sentidos que o verbo ser assumiu dentro da tradição grega e, na Teoria das Formas, desambiguar esses usos. • Mas se o sentido fica resolvido, o problema lógico e epistemológico, provocado pelo dualismo, fica em aberto, a saber: – Mostrar como as Formas Inteligíveis e as instâncias sensíveis podem ser relacionadas pela predicação, e, – Não somente caracterizando o poder causativo das teorias das Formas, mas chegar a uma descrição efetiva da aparência sensível. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 18
Platão • A investigação do mundo da aparência passa pela resolução de duas questões prévias: – A necessidade de definir o lugar da sensibilidade na cognição, • Recebe um primeiro tratamento nas teorias da anamnese e da participação. – A possibilidade de articular o sensível e o inteligível numa investigação unitária. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 19
Platão • A anamnese (Ménon, Fédon e Fedro), no aspecto da cognição, que é o queremos investigar aqui, pode ser focada no Ménon e no Fédon. – Ménon: em todas as pessoas há opiniões verdadeiras, acerca daquilo que ignoram, possíveis de se despertarem por interrogatório (85 a, 86 a) – nos leva ao raciocínio explicativo (97 d-98 a). – Fédon: o argumento dos iguais (72 e-77 a), descartando o aspecto mítico, salienta-se no interlocutor a convicção da anterioridade e superioridade da Forma inteligível sobre quaisquer instâncias sensíveis. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 20
Platão • O argumento anterior (Fédon) estabelece um dualismo epistemológico, depois ontológico (78 b-79 e), que separa o ser da Forma (una e idêntica) da percepção da multiplicidade mutável das suas instâncias sensíveis; • Essa construção demonstra que a possibilidade de representação do sensível repousa sobre a sua capacidade de previamente referir a representação à Forma inteligível (75 b-76 d); • O processo guarda uma reciprocidade psíquica: a percepção somente “evoca” a Forma porque ele está a priori, por “contiguidade” ou “associação” (75 b-76 a). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 21
Platão • Esse processo tem duas vantagens e uma justificação: – 1ª) explicar o “encadeamento” das noções inteligíveis na alma, instauração de uma investigação gradual – 2ª) tal aspecto dá acesso a uma espécie de outro “anterior”, metacognitivo que se obtém no método de pergunta e resposta (Fédon 78 d) – Justificação: crítica ao reducionismo empirístico dos “filodoxos” (República V 480 a). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 22
Platão • Na dialética a questão passa a ser tratada como a teoria da participação mostrando que somente as Formas são dotadas de poder para causar/explicar o sensível e as suas variações. • Assim, os predicados são vistos como “protopropriedades” (Fédon 102 d, e) cuja “entrada” e “saída” nos sensíveis é explicada pela constante variação relacional a que se encontram submetidos. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 23
Platão • Essa visão nos possibilita entender uma variante do problema: nas abordagens da anamnese e da participação se complementam na definição das relações entre pensamento e linguagem. • Temos duas condições: – 1ª. A linguagem é encarada como pressuposto no qual repousa toda a análise do real, – 2ª. São definidas as condições mediante as quais ela pode ser usada como instrumento dessa análise, – Um problema: o modelo não consegue explicar a interdependência dos processos senso-perceptivo e epistêmico. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 24
Platão • No Fédon, Platão apresenta fortes argumentos para negar a possibilidade de uma investigação da natureza sensível, criticando explicitamente os “naturalistas”: – Para ele todos os fenômenos “vitais” são inacessíveis a uma abordagem mecanicista que tenta apenas apresentar uma mera descrição dos fenômenos visíveis (o estudo da alma é teleológico); – No Timeu, ele postula que existe no sensível uma resistência puramente mecânica ao funcionamento da ação inteligente (48 a ss); – Esse confronto dessas duas instâncias, que têm modos de funcionamento opostos, exige a intermediação de paradigmas reguladores da natureza sensível (tempo, espaço e devir) os quais irão regulá-los em prol do inteligível Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 25
Platão • Essa dinâmica levada á perspectiva psíquica será abordada no Teeteto: – A senso percepção (184 b-187 a) é vista como um processo puramente analítico e passivo; – Caberá à alma, doravante encarada como mente, poder converter em conceito a informação recebida, depois que a senso-percepção for elaborada pelo pensamento; – Somente a linguagem é capaz de justificar a presença, na mente, de conceitos, tanto os originários da sensopercepção (som, cor, dureza/moleza – 185 a-c, 186 b-c), quanto os dela independentes (Formas como o Belo, a verdade e a existência – 185 c-186 c); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 26
Platão – Na dinâmica, para que a mente possa se utilizar desses conceitos e passar a operá-los numa análise do sensível, ela terá de recorrer ao pensamento (diálogo interior da mente), o qual chega a conclusões que serão expressas em formas de opiniões (189 e-190 a; Sofista 263 e); – Esses elementos nos mostram um sujeito cognitivo capaz de usar a linguagem para analisar e descrever o real, fazendo com que a hipótese de um discurso explicativo seja ampliada. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 27
Platão • Mas o problema somente poderá ser resolvido com a junção das duas perspectivas tomadas de forma complementar (tarefa realizada no Sofista): – Instaura-se, pela definição, o regime de relações entre os cinco “sumos gêneros”, pela qual os vários sentidos do Ser serão separados em cada um dos sentidos do verbo ‘ser’; – Instaura-se, assim, a dificuldade de delimitação do sentido da predicação, simultaneamente, tanto inteligível quanto sensível (251 e ss); – A argumentação (251 e), primeiramente, mostra que o Movimento e o Repouso no Ser são exigidos pelo fato deles se excluírem mutuamente (252 d), obrigando-os a “participarem da entidade” (251 e) para poderem ser (252 a); – O segundo passo a afirmação de que o Não-ser é (254 c-d) torna possível a predicação pois nos coloca diante da natureza do Outro (255 c-d) – cada gênero ou entidade é o mesmo em relação a si e o Outro em relação a outro (256 a-b) – é assim que o predicado passa a ser visto como outro em relação ao sujeito sem que ele tenha que deixar de ser ele mesmo Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 28
Platão • A argumentação anterior viabiliza a leitura separada de cada um dos sentidos de ‘ser’: – A identidade é expressa pelo Mesmo, – A predicação pelo Outro, – A existência pelo Ser. • Assim, verdade e falsidade perdem a sua relação direta como Ser e tornam-se função da proposição (263 b-c, d). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 29
Platão • Esse estabelecimento da verdade como uma função proposicional resolve o problema do acesso ao conhecimento infalível, descartando a existência de infalibilidade do saber; • Mas um problema fica em aberto: no âmbito do ser, como esse poderá ser investigado através de uma linguagem proposicional? Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 30
Aristóteles • Aristóteles toma a possibilidade de resolução de seus problemas mediante a resolução do problema da predicação; • A pergunta no modelo platônico: como as muitas coisas podem ser semelhantes e dissemelhantes? (Parmênides 127 e) • Aristóteles denuncia a falácia, no pensamento acima, que é “dizer o ser de uma só maneira” (Física A 185 a 20 -32, 186 a 22 -b 35): – O ser caracteriza os entes individuais, como sujeitos de predicação, e não pode ser encarado como a classe definida pela posse do predicado comum a todos; – Por isso o ser não pode ser gênero (Categorias 5, 3 a-10 -24), ele somente pode ser sujeito (substância primeira dotada de existência – Categorias 5, 2 b 1 -6) ou predicado (substância segunda, privada de existência – Categorias 5, 3 a 7 -21), podendo ser dito pela categoria. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 31
Aristóteles • Essa limitação da existência às substâncias primeiras e ao que nelas existe nos leva a um problema: – como explicar a possibilidade de acesso às substâncias segundas e às essências; • Caberá à evidência lingüística mostrar que elas devem ser encaradas como objetos cognitivos, produzidos pela experiência individual, e necessários para a compreensão do real, que seriam assim expresso: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 32
Aristóteles • “. . . O universal fixado na alma, o um que corresponde aos muitos, a unidade identicamente presente em todos eles, como ponto de partida da arte e da ciência. . . ” (Segundos Analíticos B 19, 110 a 6 -9; Cf. , também, Metafísica A 1, 980 b 29 -981 a 1) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 33
Aristóteles • Aqui, contrariamente a Platão, o universal exibe a sua vocação predicativa, começando por se manifestar como um ente mental; • Como resultado de uma experiência individual, ele jamais poderá assumir o estatuto de um paradigma ideal, pelo simples fato de refletir a flutuação processual da opinião; • Contudo, sua relação com as substâncias permite que a alma, gradualmente, lhe tenha acesso, e o reconstrua, através da definição, num longo processo de “definição das essências” (Tópicos A 1, 101 b 38 -102 a 18); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 34
Aristóteles • Tal modelo nos configura mais uma inovação conceitual: a idéia de que o ser pode ser captado pelo pensamento; • Essa captação o fixa e “significa” pela palavra dita e escrita, produzindo verdade ou falsidade (Da Interpretação 1, 16 a 119); • Para que isso ocorra é necessário, de um lado, que o pensamento (mente), tal como a percepção, seja “assemelhado” ao objeto, de modo que venha a “ficar como ele” (Da alma B 5, 41 a 3 -6); • Do outro lado, é necessário combinar nomes e verbos, dotados de significação convencional, numa proposição, a qual, enquanto uma afirmação ou negação, é portadora de verdade ou falsidade (Da alma B 5, 16 a 20 -17 a 8). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 35
Aristóteles • O paralelismo entre as duas vias converge num programa de investigação no qual a definição e a explicação se co-determinam uma à outra; – definição das essências – através dos universais, – sua explicação – através do discurso. • Assim os nomes podem significar independentemente da existência das entidades nomeadas; • Mas somente a cooperação poderá estabelecer uma explicação que diga “o que é” e “por que é” a essência nomeada (Segundos Analíticos B 8 -10, B 16 -18) por meio de uma teoria unificada da definição (Segundos Analíticos B 13 -15). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 36
Aristóteles • O complexo doutrinal aristotélico critica e reforma integralmente o platonismo, dispensando a necessidade de recorrer a um mundo inteligível para conferir à mudança um mínimo de estabilidade que a torne pensável: – Metafísica A 6, 987 a 30 -b 10; – Categorias 5, 4 a 10 -4 b 19. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 37
Aristóteles • A crítica aristotélica ao monismo de Parmênides e Platão distingue um sujeito de um predicado, tanto lógica quanto ontologicamente, de forma independente frente à função gramatical que desempenham na proposição, aspecto que permite formalizála através de uma relação entre os indivíduos, classes e propriedades (Tópicos A 5, 102 a 1831) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 38
Aristóteles • A concepção do universal a partir da experiência será central na sua visão: – Ao dotar o sujeito da capacidade de criar objetos cognitivos, Aristóteles os liberta da necessidade de referir-se a toda experiência de paradigmas ideais, a priori, aspecto que dispensa o dualismo platônico; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 39
Aristóteles • A noção de que o pensamento e o discurso ‘significam’ o real liberta a linguagem da contaminação pelo ser – Esse elemento possibilita à linguagem a sua utilização como um instrumento de exploração da realidade; – A inovação reside no fato de se associar a capacidade de afirmar ou negar, presente na proposição, ao poder significativo do nome e da proposição, como condição de verdade e de falsidade; – De outro lado, a co-determinação da definição e da explicação permitem, pela primeira vez, uma investigação sistemática da realidade. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 40
Resumo • Em Parmênides o pensamento, associado à linguagem, mostra o ser único como meio de acesso à entidade englobante (ser)com a qual se identifica. De forma oposta a ele, a sensibilidade é rejeitada pelo fato de oscilar entre a afirmação e a negação, aspecto que impede a compreensão da Unidade, Identidade e Perfeição do Ser. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 41
Resumo • O modelo de Platão visa dirimir a cisão implantada por Parmênides, estabelecendo que a Teoria das Formas, embora aceite o ser eleático em sua plenitude de atributos, atomize-o numa infinidade de estruturas ontoepistemológicas, que são organizadoras da aparência, as quais, no contexto do dualismo estrito, separam o saber da opinião, mediando-os pela senso-percepção. – Mas existe um atenuante nessa posição, dentro da noção da geometria, que mostra que é possível passar do sensível para o inteligível; – A desconstrução do eleatismo é finalizada com a dissolução da unidade polissêmica do ser nos quatro sentidos de einai: predicativo, identitativo, veritativo e existencial (somente de forma incompleta). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 42
Resumo • Aristóteles, com sua concepção de substância, distingue o ser, como sujeito e substância primeira, do ser, como predicado e substância segunda; • Assim, a concepção do universal caracteriza o predicado como um objeto cognitivo, definido pelo pensamento num processo de infinita aproximação das essências; • Em sua teoria da significação, o pensamento é investido da capacidade de significar o ser através do discurso; • Na realização da cooperação entre definição e explicação, abre-se a possibilidade de uma investigação sistemática do real. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 43
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