CURSO INTRODUTRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MDIA
CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA 05 – Aspectos introdutórios acerca do modelo e da estrutura nominalista de Guilherme de Ockham diante do problema dos universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 1
Considerações Iniciais • Ockham iniciou seus estudos no convento dos frades franciscanos de Oxford em 1307, estudando os temas teológicos durante 8 anos para que depois, durante 4 anos, pudesse comentar as Sentenças de Pedro lombardo; • Durante seu período de permanência em Avignon, 1324 a 1328, dedica-se aos estudos de lógica e desse período temos a composição de sua Obra Summa Logicae; • Depois de sua fuga com Migeul de Cesena abandona as investigações acerca da lógica e dedica-se aos estudos acerca da política; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 2
Considerações Iniciais • A reorganização e a sistematização do ensino universitário ocorrido no século XIII, com a Escolástica, fomentaram uma enorme efervescência no ocidente, principalmente depois da introdução do Corpus Aristotelicum; • A introdução de Aristóteles amplia o debate acerca da lógica desembocando na criação de um modelo lógico denominado de Lógica Terminista; • Debaixo desse modelo se encontra o ambiente no qual as teorias ockhamianas serão desenvolvidas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 3
A estrutura crítica do problema dos universais • A forma de ver o problema dos universais não é algo isolado, o problema se compunha em conformidade com questões de teologia, por exemplo, com a possibilidade de encontrar entre Deus e suas criaturas alguma coisa de comum que seja atribuível á essência de um e de outro, como é atestado pela seguinte passagem: – “Acerca da identidade e da distinção entre Deus e a criatura é perguntado se, entre Deus e as criaturas, existe algo comum unívoco, predicável essencialmente de ambos” (L. Sent. , IV, 99, 9 -11). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 4
A estrutura crítica do problema dos universais • Duas obras são centrais nas formulações ockhamianas acerca dos universais: o Scriptum in Librum Primum Sententiarum e a Summa Logicae; • Na primeira elabora 5 questões (da IV à VIII) que abarcam sua parte crítica acerca dos universais; • Sua estrutura nos mostrará a visão geral do modelo ockhamiano acerca do problema dos universais, examinemo-las: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 5
A estrutura crítica do problema dos universais • Nas questões de IV a VII, temos a parte crítica das idéias ockhamianas, onde é apresentada a possibilidade da existência de uma natureza universal extra animam, ou seja, o que temos é um conjunto de posições que convergem para uma única posição: – “ (. . . ) todas [as opiniões] nisto convêm: que os universais são de algum modo à parte das coisas, daí que os universais estão nos singulares mesmos” (L. Sent. , VII, 229, 4 -6) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 6
A estrutura crítica do problema dos universais • Na questão VIII, o modelo nos apresenta a parte resolutiva e nos demonstra que o universal existe de algum modo em qualquer parte, portanto, ele irá localizar o universal in anima; • Disso resulta uma dicotomia no modelo que está em construção: os universais existem extra animam ou in anima? • Todas as opiniões que são examinadas e rejeitadas por Ockham nos seus comentários concordam basicamente em colocar nos indivíduos (singulares) uma natureza que é de algum modo universal, ou seja, eles sustentam a existência de uma natureza universal que é comum a muitos e é parte constitutiva desses muitos e, como parte, é indistinguível deles. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 7
A estrutura crítica do problema dos universais • Essas noções estabelecem as heranças dos sistemas metafísicos do século XIII (Tomás e Duns Scotus) que estabeleceram o problema da individuação (como e de qual modo a natureza universal se contrai dando lugar à multiplicidade dos indivíduos da mesma espécie? ); • Contudo, essas questões são vistas por Ockham como pseudo-problemas, ou seja, para ele existe apenas o indivíduo e a realidade é por si mesma singular e é esse elemento que a torna inteligível; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 8
A estrutura crítica do problema dos universais • Examinando as discussões de seus opositores frente ao modo pelo qual a natureza universal e o singular se distinguem, surgirá na análise uma segunda dicotomia: – A distinção entre universal e singular ocorre a partir da natureza da coisa (ex natura rei); – A distinção entre universal e singular ocorre segundo a razão (secundum rationem); • Contudo temos duas forma de distinguir universal e singular ex natura rei: realiter e formaliter; • A realiter tem duas formas: non-multiplicata (a natureza universal, mesmo realizada nos singulares, mantém sua unidade) e multiplicata (a natureza universal se diversifica nos singulares por meio de uma diferença contraída). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 9
A estrutura crítica do problema dos universais • Na visão secundum rationem, Ockham fala em três versões: – A) o universal é certa forma nas coisas e assim gênero e espécie subsistem, cada qual á sua maneira, nas coisas mesmas (enquanto forma); – B) considerada na natureza uma coisa pode ser singular, mas se é vista no intelecto, a mesma coisa pode ser universal, depende do modo de sua consideração (enquanto consideração do intelecto); – C) uma mesma coisa sob um conceito é universal, e sob outro é singular (enquanto conceito confuso). • Assim, Leite Júnior nos mostra um quadro interessante que nos remete a essa estrutura: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 10
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A crítica ockhamiana os modelos apresentados • O movimento crítico ockhamiano parte do seguinte princípio: toda a realidade existente fora da alma é essencialmente e imediatamente singular; • O princípio de singularidade do real faz com que a figura do indivíduo seja concebida como a única realidade concreta e, nesse sentido, a noção de evidência decide contra todo o modo de existência do universal fora da alma; • É nesse sentido que o âmbito lógico torna-se o lugar onde Ockham conceberá o discurso e o exame acerca dos universais; • Ao munir-se do arsenal lógico Ockham irá atacar e refutar todas as posições de seus adversários, uma a uma Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 12
A resolução ockhamiana • Para Ockham toda a realidade extramental é imediata e essencialmente singular, individual e, por esse motivo, fica excluída toda e qualquer possibilidade de existência do universal extra animam; • Ao fixar o universal na alma significa que ele é visto como um ser de razão, ou seja, um conceito (conceptus); • Essa visão muda o enfoque do problema dos universais pois agora ele é deslocado do âmbito da ontologia (extra animam) para a adoção de sua possibilidade como conceito, portanto, como linguagem; • Em virtude de sua localização in anima, teremos três possibilidades de concepção e realização dos universais, as quais são consideradas plausíveis; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 13
A resolução ockhamiana • A primeira posição examinada por Ockham é a teoria do fictum, ou seja, a visão de que os universais tem um ser objetivo na alma e esta é uma certa ficção; – Os universais, enquanto objetos pensados, são imagens na mente (ficta); – Aqui os conceitos são entendidos como certas qualidades existentes subjetivamente na mente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 14
A resolução ockhamiana • A segunda posição examinada por Ockham é a Teoria da qualitas mentis, ou seja, aqui os universais são vistos como alguma qualidade existente subjetivamente na alma e se distingue do ato do intelecto pois lhe é posterior; – Aqui os conceitos na mente seriam espécies de acidentes em sua substância. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 15
A resolução ockhamiana • A terceira posição, a Teoria do ato mental, entende os universais como qualidades da intelecção em si mesma; – Aqui existe a identidade do universal com o próprio ato de conhecer; – O conceito é visto como um sinal, mas ele é um sinal natural, ou seja, todas as propriedades que as palavras possuem mediante a estrutura convencional, o conceito as possuem por natureza; – O conceito é um sinal que se esclarece na sua natureza, portanto, o universal é algo que é predicável de muitos por sua natureza e assim ele é existente na mente, quer seja de modo subjetivo, quer seja de modo objetivo; – Essa será a posição adotada por Ockham, tanto nos primeiros escritos, quanto na obra mais acabada de cunho investigativo lógico, a Summa logicae. (pg. 144 Pedro) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 16
A resolução ockhamiana • A teoria do ato mental basicamente sustenta que o universal é um conceito confuso da alma formado a partir da similitude dos indivíduos fora da alma; • Assim, o ato da intelecção incide sobre uma realidade existente extra anima pois todo o conceito tem os indivíduos por objeto; • É nesse sentido que devemos entender que o universal não se acha de modo algum nos indivíduos, haja vista que o conceito é visto como uma similitude das coisas, ou seja, como um signo; • O conceito é visto como o ato de inteligir (baseia-se no princípio de parcimônia – pg. 146 -7 Pedro). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 17
A resolução ockhamiana • O ponto essencial acerca dos universais no modelo ockhamiano refere-se á adoção da noção do universal como conceito, portanto, foca-se no seu caráter de signo; • A relevância do modelo ockhamista, portanto, somente pode ser efetivada enquanto dentro de uma teoria dos signos, ou seja, somente dentro de uma perspectiva lingüística; • O universal tem uma aptidão para ser utilizado na designação de todos os indivíduos de um conjunto, portanto, o que se salienta é seu caráter de signo (estar no lugar de ou supor por) – um termo universal significa muitos indivíduos, mas não se realiza em nenhum deles; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 18
A resolução ockhamiana • A função de um signo é significar, portanto, é enviar do signo uma realidade diferente de si e gerar na mente uma intelecção dessa segunda realidade; • A função significativa de um signo pode ocorrer em dois níveis: – Significação representativa: um signo significa tudo aquilo que apreendido torna conhecida outra coisa – como temos aqui uma significação essencialmente rememorativa, sua natureza é a de re-presentar a coisa significada e, portanto, pressupõe um conhecimento prévio da coisa significada; – Significação lingüística: o signo é aquilo que traz algo á cognição e é capaz de supor isso. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 19
A resolução ockhamiana • Na acepção lingüística, juntamente com a função significativa (aquela que gera a intelecção) existe outra característica essencial que é acrescentada: a capacidade suposicional do sinal; – O sinal agora passa a ser caracterizado pela possibilidade de produzir uma intelecção primária (não meramente rememorativa) por sua função suposicional, ou seja ele está orientado a ocupar o lugar da coisa significada em uma proposição; – É por meio dessa suposição que um signo se torna signo lingüístico e coincide com a noção de termo • Designo por termo aquilo em que uma premissa [proposição] se resolve, isto é, o predicado e o sujeito acerca do qual ele se afirma, quer o verbo ser lhe esteja junto, quer o não-ser esteja separado” (Aristóteles - analíticos primeiros) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 20
A resolução ockhamiana • Se signos lingüísticos estão vinculados a termos, é necessário que se entenda os signos, e esses são de dois tipos: – Signos lingüísticos naturais: termos mentais ou conceitos; – Signos lingüísticos convencionais: termos escritos e falados (significam por meio de uma convenção, ou seja, uma instituição voluntária dos homens). • Conceitos (termos mentais) significam de modo natural tudo aquilo que significam, ou seja, eles exprimem diretamente a coisa significada; • Signos mentais são produzidos naturalmente através da interação do objeto e do intelecto; • Sinais convencionais são subordinados aos sinais naturais e por isso as palavras escritas e faladas são inventadas pelos homens para designar as coisas das quais os conceitos são sinais naturais (pg. 152 – Pedro) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 21
A resolução ockhamiana • A função suposicional de um signo é a que o faz um signo lingüístico e, dessa forma, um termo; • Essa noção está sob a égide da teoria da suposição, ou seja a propriedade que convém aos termos somente quando os mesmos estão inseridos num contexto proposicional; • A noção de suposição vincula-se de forma estreita com a noção de signo e de significação. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 22
A resolução ockhamiana • O problema dos universais, visto dentro da teoria dos signos, resulta na afirmação de que existem dois tipos, modos, de serem vistos: – O universal como conceito natural: aquilo que é naturalmente signo predicável de muitas coisas – aqui temos o conceito na alma e, portanto, não existe nenhuma substância ou acidente fora da alma; – O universal como signo convencional (termo escrito ou falado): o universal aqui é concedido mediante uma instituição voluntária, ou seja, por uma convenção, o signo irá significar por muitas coisas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 23
Conclusão Ockhamiana • O universal existe na mente enquanto ato do intelecto que gera um conceito confuso, a partir da similitude das próprias coisas singulares; • Esse conceito na alma encontra sua possibilidade de universalização na medida em que é signo lingüístico e, portanto, um termo; • A noção de que os universais são conceitos, e conceito é sinal lingüístico, portanto um termo da linguagem, transporta o problema dos universais do âmbito da ontologia para o âmbito da linguagem. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 24
Conclusão Ockhamiana • O estudo da semântica ockhamiana nos coloca de frente com conceitos como signo, termo, significação e suposição e essas construções se aproximam muito dos problemas filosóficos atuais inseridos no âmbito da lógica, da semântica e da filosofia da linguagem. • Um exemplo disso é o modelo de Quine. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB 25
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