CURRCULO E PROFISSIONALIDADE DOCENTE Bons ventos e bons
CURRÍCULO E PROFISSIONALIDADE DOCENTE: Bons ventos, e bons casamentos? Braga, 6 de Fevereiro de 2017 Filipa Seabra
INTRODUÇÃO “a possibilidade de a escola se (re)afirmar como um espaço de referência social depende (…), da capacidade de os professores construírem uma verdadeira autonomia curricular (…), que não pode dissociar-se de três componentes que consideramos basilares: a competência profissional, a identidade profissional e a profissionalidade docente” (Morgado, 2011, p. 795).
INTRODUÇÃO Contexto Tendências atuais Competência Autonomia Profissionalidade Currículo
MOVIMENTO DE PROFISSIONALIZAÇÃO. Movimento associado à exigência de uma formação superior para o exercício da docência. . Universitarização (prós e contras) Nesta aceção, seria, em Portugal – uma batalha ganha. Mas o grau superior será condição suficiente?
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Reconhecimento de que se trata de um processo contínuo, ao longo de toda a carreira. Nesta lógica, a profissionalização seria apenas um primeiro momento, associado à certificação de competência para o desempenho da atividade docente. A este momento, deveria seguir-se um trabalho contínuo de formação (Direta, na Escola, Fora da Escola e na Sala de Aula)
PROFISSÃO: ATRIBUTOS 1) obrigação de prestação de um serviço específico à sociedade. 2) corpo de saberes específicos de natureza académica imprescindível ao bom exercício da função. (Conhecimento profissional) 3) domínio de competências específicas de natureza prática. (Competência) 4) exercício de juízo em relação às incertezas. (Autonomia) 5) experiência como geradora de conhecimento. (Desenvolvimento Profissional) 6) comunidade profissional responsável pelo controle da qualidade. (Prestação de contas)(Alves & André, 2013)
PROFISSÃO: ATRIBUTOS Roldão (2005): reconhecimento social da especificidade da função, existência de um saber específico, poder de decisão sobre o trabalho desenvolvido pertença a um corpo coletivo.
PROPOSTA DE EIXOS PARA O CONCEITO DE PROFISSIONALIDADE DOCENTE Competência e conhecimento Reconhecimento Social Formação e Desenvolvimento Prestação de Contas/ Supervisão Autonomia Carreira e Estabilidade
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL “Todas as profissões que construíram ao longo do tempo o reconhecimento de um estatuto de profissionalidade plena se reconhecem, se afirmam e são distinguidas, na representação social, pela posse de um saber próprio, distinto e exclusivo do grupo que o partilha, produz e faz circular, conhecimento esse que lhe legitima o exercício da função profissional em causa” (Roldão, 2007, p. 96).
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL Tardiff (2000) refere algumas características do saber profissional: § conhecimento formal e especializado associado às disciplinas científicas; § adquirido por um longo período de formação (universitária ou equivalente); § diploma como requisito de acesso à profissão; § com uma dimensão voltada para a resolução de problemas concretos; § acesso exclusivo dos profissionais ao conhecimento necessário ao exercício da profissão (em contraponto com leigos); § avaliação por pares; § autonomia e discernimento; § conhecimento evolutivo – requer formação inicial e contínua; § responsabilidade deontológica e controlo.
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL No caso da profissão docente, esta competência corresponde ao saber profissional especializado sobre o ato de ensinar. Este ato, requer, por um lado, o conhecimento especializado sobre aquilo que se ensina (área científica), e por outro, sobre como fazer que alguém aprenda (domínio das Ciências da Educação) (Roldão, 2005) incluindo assim conhecimentos “pedagógicos (didáticos, metodológicos), disciplinares, curriculares e experienciais” (Alves & André, 2013).
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL No caso da Profissão Docente: - Dificuldade ao nível do reconhecimento social desta especificidade (todos são ‘peritos em educação’) – linha pouco definida face ao senso comum. - Dificuldade geral de legitimação pela posse do conhecimento - Borges (2014) salienta a dimensão pessoal e experiencial deste saber e desta competência. Nesse sentido, a relevância conferida à prática docente na formação inicial de professores assume, como adiante veremos, relevância particular.
AUTONOMIA – CONTROLO - PRESTAÇÃO DE CONTAS/RESPONSABILIZAÇÃO - “O acto educativo deve ser, essencialmente, um acto de criação” (Morgado, 2005) Ora, apenas se reconhecermos os professores como profissionais dotados de um conjunto especializado de saberes científicos, pedagógicos e profissionais específicos, competências, capazes de atualizar-se ao longo da sua profissão e (re)construir de modo contínuo os saberes e competências requeridos pela sua profissão, num contexto social mutável, podemos confiar aos professores a capacidade de exercer uma profissão complexa com grande margem de autonomia.
AUTONOMIA – CONTROLO - PRESTAÇÃO DE CONTAS/RESPONSABILIZAÇÃO Autonomia curricular – relaciona-se com o reconhecimento de que as escolas e os professores são atores curriculares por excelência, que não se limitam a implementar currículo, mas que o reconfiguram, contextualizam, apropriam, traduzem, transformam, num conjunto de relações complexas com a comunidade em que se integram e as populações a quem servem. Isso requer flexibilidade, e confiança. A lógica de projeto, que em certa medida se tem esvaziado na prática das escolas (veja-se o caso dos PCT), é disso exemplo. Relação difícil e instável com as formas de regulação – sejam elas a montante, ou a jusante.
«VENTOS E CASAMENTOS» ? Leitura de tendências atuais a partir da proposta de eixos para o conceito de profissionalida de
A - COMPETÊNCIA E CONHECIMENTO PROFISSIONAL Bolonha – grau exigido, mestrado Tempo e lugar do saber profissional – como ensinar, e da socialização profissional associada ao estágio/prática pedagógica (saber em contexto). Ex. : Licenciado em Educação Básica – C) iniciação à prática profissional 15 a 20 créditos; D) Formação na área de docência 120 a 135 créditos. A) Formação educacional geral – 15 a 20 créditos; b) Didáticas específicas – 15 a 20 créditos. Já no mestrado, a percentagem dedicada à prática supervisionada corresponde, no mínimo, a 40% do total de créditos (para as áreas específicas).
A - COMPETÊNCIA E CONHECIMENTO PROFISSIONAL “o saber profissional tem de ser construído – e refiro-me à formação – assente no princípio da teorização, prévia e posterior, tutorizada e discutida, da acção profissional docente, sua e observada noutros” (Roldão, 2007, 101). Movimento social – papel do professor enquanto transmissor de conhecimentos em crise – competição com muitos outros modos e fontes de ter acesso ao conhecimento. (quer o conhecimento científico, quer o conhecimento pedagógico, enquanto modos de legitimação profissional, sofrem alguns abalos). Conhecimento relacional e emocional.
A - COMPETÊNCIA E CONHECIMENTO PROFISSIONAL “A crise a respeito do valor dos saberes profissionais, das formações profissionais, da ética profissional e da confiança do público nas profissões e nos profissionais constitui o pano de fundo do movimento de profissionalização do ensino e da formação para o magistério” (Tardif, 2000, 9). Novas competências – para além do papel tradicional do professor O lugar das tecnologias – força, fraqueza, ameaça, desafio? Entre a difusão e a tecnicização (Roldão, 2007).
B – CARREIRA E ESTABILIDADE Evidente precarização – prestígio, poder aquisitivo, satisfação (Ludke & Boing, 2004) Acesso dos professores contratados à carreira? Prova de acesso? Avaliação do desempenho docente – melhoria/qualidade vs escrutínio e prestação de contas? Como e por quem? Progressão na carreira? “A profissionalidade docente ainda é afetada pelas condições de trabalho, os meios técnicos, o respeito, a remuneração, o prestígio e a atração exercida pela profissão, os quais constituem um conjunto heterogêneo de condições na maioria dos países e em geral oscilam de acordo com suas condições de desenvolvimento econômico, social e histórico” (Alves & André, 2013).
C – FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Supervisão/ responsabilidade/ desenvolvimento profissional CFAE Condições para aceder à profissão O professor investigador (investigador-ator) (Sousa, 2013) e a cientifização da sua prática. A prática reflexiva
D – RECONHECIMENTO SOCIAL A imagem dos professores nos media § Crise do valor social da educação na perceção social § Imagem negativa da escola (sobretudo a pública) e dos professores (Morgado, 2005) Terá havido alguma melhoria? Discursos sobre os professores § «Resistência a mudança» - vs. Atores e autores da mudança § Hiper-responsabilização dos professores pelos resultados e a qualidade do ensino.
D – RECONHECIMENTO SOCIAL Ao mesmo tempo –(Re)valorização da Educação? § Grande exigência face à escola e aos professores – multiplicação das funções da educação e da escola; papel na formação de cidadãos críticos e interventivos, e não apenas de transmissão de conhecimento: Educação para a paz/ contra o radicalismo; Educação Ambiental; Educação para os valores, para «viver juntos» ; Educação para a Aprendizagem ao Longo da Vida (Aprender a Aprender); Educação para selecionar e interpretar informação (num tempo de factos e notícias «Alternativos» )… § consenso alargado quanto ao papel fundamental da educação para o desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades. § Direito humano à Educação – acesso a conhecimento poderoso e transformador vs. Acesso à escolarização (Equidade no sucesso, e não apenas no acesso). Ou, por outro lado: Valorização de uma educação tecnocrática – a que se repercute em resultados mensuráveis e ganhos económicos? (Economia do Conhecimento? ) (Escola Sem Partido? )
E - AUTONOMIA Professor da Contemporaneidade § Ressurgimento de lógicas técnicas e burocráticas § Movimentos da pós-modernidade § § § Negação de um conhecimento verdadeiro/ fundamental/ universal Desconstrução Hibridismo Perda da fé no progresso Pragmatismo… § Sociedade em rede, da informação e do conhecimento(Morgado, 2005) § Self-media (Sousa, 2013) § Fortes desafios ao currículo, ao professor e à escola Professor, agente de reprodução ou de transformação social? (Sousa, 2013).
E - AUTONOMIA Até aos anos 60/70 – educação fortemente centralizada e controlada – professor funcionário/Professor como profissional técnico (Morgado, 2005). Necessidade crescente de adequar a oferta educativa a contextos e necessidades diversas – Maior preponderância do papel da escola e do professor e Estado Regulador. – (Re) profissionalização dos professores. Professor – Decisor curricular. Currículo – mais do que um plano a ser implementado… … uma construção participada, que acontece nos vários níveis de decisão curricular. … embora constrangido por uma pluralidade de decisões e contextos envolventes, que constituem limites à autonomia (Ludke & Boing, 2004)
E - AUTONOMIA Tempos e espaços de decisão curricular § § Contexto meso – a escola – a colegialidade Contexto micro – a sala de aula Papel fundamental da relação individualizada com cada estudante Currículo oculto Novos currículos à prova de professores? As metas curriculares como dispositivo de controlo. Flexibilidade curricular vs. Avaliação Performatividade O lugar dos projetos Autonomia vs. Regulação Benchmarking, Boas-práticas e educação como mercado (Figueiredo, 2015)
CONCLUSÃO Currículo Formação e Desenvolvimento Profissional Competência Autonomia Profissionalidade Supervisão e prestação de contas Reconhecimento Social Carreira
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves, C. S. & André, M. E. D. A. (2013). A constituição da profissionalidade docente: os efeitos do campo de tensão do contexto escolar sobre os professores. 36ª Reunião Nacional da ANPEd – 29 de setembro a 02 de outubro de 2013, Goiânia-GO Borges, M. L. (2014). Profissionalidade docente: da prática à praxis. Investigar em Educação, II(2), pp. 39 -53. Figueiredo, M. P. (2014). A formação de profissionais para a educação básica no contexto do ensino superior europeu. In G. Portugal, A. I. Andrade, C. Tomaz, F. Martins, J. A. Costa, M. R. Migueis, R. Neves & R. M. Vieira (Orgs. ), Formação Inicial de Professores e Educadores: Experiências em contexto português (pp. 19 -36). Aveiro: UA Editora. Disponível em: http: //cidtff. web. ua. pt/pdf/ATAS_IIIENEB. pdf Ludke, M. , & Boing, L. A. (2004). Caminhos da profissão e da profissionalidade docentes. Educação & Sociedade, 25(89), 1159 -1180. Morgado, J. C. (2005). Currículo e Profissionalidade Docente. Porto: Porto Editora. Morgado, J. C. (2011). Identidade e Profissionalidade Docente: Sentidos e (im)possibilidades. Ensaio: Aval. Pol. Publ. , 19(73), 793 -812. Roldão, M. C. (2007). Função Docente: Natureza e construção do conhecimento profissional. Revista Brasileira de Educação, 12(34), 94 -103. Disponível em: http: //www. scielo. br/pdf/rbedu/v 12 n 34/a 08 v 1234. pdf Sousa, J. M. (2013). Professor de outrora e professor de agora. Rumo à profissionalidade docente. ELO, Revista do Centro de Formação Francisco de Holanda, 20, 125 -135. Tarfiff, M. (2000). Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. Elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas consequências em relação à formação para o magistério. Revista Brasileira de Educação, 13, 5 -24.
MUITO OBRIGADA FILIPA SEABRA FSEABRA@UAB. PT
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