Cultura e Escola em Gramsci A dimenso poltica

Cultura e Escola em Gramsci A dimensão política da educação

PRESSUPOSTOS: A)TODA EDUCAÇÃO POSSUI UMA DIMENSÃO POLÍTICA. B) A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIAL E POLÍTICA IMPLICA, AO MESMO TEMPO, CONSTRUIR AS BASES DE UMA NOVA CULTURA.

A noção de política: • A) Sentido estrito: ações de governo, intrigas dos corredores da vida dos partidos; • B) Sentido amplo: Com a divisão social do trabalho e o conflito de classes, todas as ações assumem um significado político. • A noção ampliada de política que se funda em dois elementos primordiais para a compreensão das relações de força nas várias formas que se instauram: primeiro, “a existência de governantes e governados, dirigentes e dirigidos”.

O sentido restrito de política resulta da prática cotidiana; o sentido amplo refere-se à fundação e manutenção dos Estados, “com a luta pela destruição ou a defesa e conservação de determinadas estruturas orgânicas econômicosociais”. Entende-se o poder como relação de domínio do homem sobre o homem e do homem sobre a natureza, cujo mecanismo principal é a força como condicionadora e formadora de comportamentos

• O que fundamenta o poder político é a desigualdade social, que está na origem da divisão da sociedade entre os que ordenam e os que se submetem e é a geradora de todos os conflitos que caracterizam as relações de poder. • A partir desses pressupostos, nenhuma ação é totalmente pura, completamente isenta: há sempre algo que nos insere ou nos isola, algo que foge ao nosso controle e nos faz culpados e inocentes sem o sabermos.

Hegemonia e cultura • O poder instaura-se como correlação de forças que se constituem da relação entre repressão e consentimento. • Sedimenta-se melhor na lei consentida que na imposição da força. • A hegemonia, como momento político e cultural implica a capacidade de uma classe social formar e manter seus intelectuais.

Política e Educação • O conceito de educação funda-se na noção ampliada de política e é entendido, na sociedade capitalista, como um processo pelo qual o indivíduo adapta-se às necessidades e exigências do modo de produção e é formado para desempenhar funções na hierarquia que separa dirigentes de dirigidos; • já no âmbito da organização política dos trabalhadores e na formulação de um novo Estado, a educação teria que assegurar o desenvolvimento integral da personalidade individual a partir do processo de construção de novas relações de formação coletiva.

• No período de militância política (1916 -1926), era fundamental criar órgãos independentes de formação política e cultural, capazes de ligar os trabalhadores por um entusiasmo, por um hábito intelectual necessário para superar os limites das lutas corporativas. • Além da escola, a educação dos trabalhadores se fazia nos jornais operários, novos instrumentos de discussão e crítica das questões culturais, nas associações de cultura, que se juntavam aos conselhos de fábrica, nos grupos de estudos formados a partir das necessidades postas pela prática e os próprios conselhos, nova experiência de gestão política à qual se pretendia aliar os sindicatos e o partido.

Nesse contexto, Gramsci acentuava a necessidade de “libertar-se do despotismo dos intelectuais de carreira” e “intensificar a cultura para aprofundar a consciência crítica”. A noção de cultura: crítica histórica, formação de um pensamento autônomo, elaboração de uma nova concepção de mundo a partir das contradições sociais e políticas.

• A noção de cultura implica a compreensão: A) da organização política de um determinado país em um determinado momento histórico, a formação das concepções de mundo que orientam a vida dessa sociedade, a atividade das instituições culturais como a igreja, os jornais e toda a estrutura editorial e, nesse contexto, a estrutura do sistema escolar; B) da estrutura jurídica, da atuação da magistratura, dos órgãos legislativo e executivo na elaboração e aplicação das políticas públicas; C) das relações internacionais e os elos recíprocos entre as nações, que alteram o conjunto de relações internas, tanto econômicas quanto políticas e culturais.

Explicitar a noção de educação implica entender a natureza do Estado como um complexo político e ideológico que tem a finalidade de “adequar a ‘civilização’ e a moralidade das mais amplas massas populares às necessidades do desenvolvimento continuado do aparelho econômico de produção”, ou seja, implica compreender as relações de hegemonia.

A hegemonia e a tarefa do professor • O professor pode: a) reproduzir em sala de aula o autoritarismo característico de um Estado centralizado e de uma estrutura social hierárquica; b) pode proceder de modo crítico e criar novos hábitos e atitudes que prenunciem novas relações sociais.

A escola reproduz relações de poder, mas pode também questioná-las. Pode reforçar o controle social com um trabalho que determina e impõe e que exige obediência sem questionamentos, mas pode também abrir caminhos à imaginação e incentivar a coragem de enfrentar o desafio da dúvida; essa prática ensina a aprender com os erros e a recomeçar sempre, a criar e alcançar objetivos que sejam frutos da própria decisão e ação de cada um interagindo com os outros.