Comunidade Remanescente de Quilombola Dona Bilina da Serra
Comunidade Remanescente de Quilombola Dona Bilina da Serra do Rio da Prata de Campo Grande Alice A. Franco Mestre em Psic. Social, sec. Cedicun e assessora do quilombo
Colonização • Campo Grande é parte da urbs fundada por Estácio de Sá em 1565. Nunca foi “fundado”, mas sim constituído por diferentes e variadas terras, de várias e diferentes sesmarias. Para o desenvolvimento, concorreram processos evolutivos distintos, não só pelos rumos geográficos, mas também pelas influências que cada um deles recebeu pela atuação de fatores de ordem econômica, política, estratégico-militar, social, cultural e, de forma bastante acentuada, religiosa. • 1748 que, segundo a pesquisadora Pedroza (2008, p. 31 -32), a família do senhor Marcos Cardoso dos Santos, a senhora Úrsula Martins e seus filhos José, Marcos e Ana Maria passaram a residir no engenho do Cabuçu. • Fróes & Gelabert (p. 150, 151) constatam que o engenho e fazenda do Cabuçu fazia parte das terras da fazenda de Juarie que, antes deste desmembramento, já constavam em processos legais desde 8 de dezembro de 1611. • Na mesma obra, Pedroza relata que anos mais tarde um dos filhos do senhor Marcos Cardoso dos Santos, de mesmo nome, constituiu ao lado destas terras o engenho do Rio da Prata do Cabuçu: “(. . . ) Marcos Filho se mudou para uma porção de terras, onde construiu e passou a administrar um novo engenho de cana, conhecido como Rio da Prata do Cabuçu, a três léguas da Matriz de Campo Grande” (p. 165).
Escravos do Rio da Prata e Cabuçu • Em 1777 a família de dona Úrsula já possuía 87 escravos (Fróes & Gelabert, 2004, p. 164). Anos mais tarde, esta família chegaria a contabilizar 243 escravos, tornando-se a propriedade com maior número de escravos da região, mais que o dobro de qualquer outro engenho. Mapa dos antigos engenhos da Freguesias Rurais do Rio de Janeiro no início do sec. XIX – Fonte: Friedman (1999), citado por Pedroza (2008).
Relatos de ocupação local • D. Madalena (agricultora) • Ah, creio que minha família está aqui há mais de 200 anos, minha avó morreu com 110 anos, eu tinha 7 anos, 6 anos quando ela morreu. Imagine há quanto tempo a gente convive aqui. . . há mais de 200 anos. • Rita (presidente da Agroprata) • Olha, juntando todo histórico da minha avó, dos meus tataravôs maternos. . . os paternos não, porque chegaram aqui na década de 30, mas os maternos eles estão aqui há pelo menos uns 150 anos, se levando em conta que minha avó morreu aos noventa e dois, os pais dela eu não sei com que idade que morreram, mas também nasceram e foram criados aqui. Então, é uma coisa muito difícil. Minha avó nasceu em 7 de julho de 1898, aqui na Serra. • (. . . ) Acho que até mais, deve ter uns 200 e tal. Porque, olha só, se o meu tataravô era escravo, acredito que ele tenha fugido, tenha vindo para a região, quer dizer que a abolição aconteceu em 1888. Né? Então, veja só, então, acho que dá mais de 200 anos.
Linguagem Pesquisa de doutorado da UFRJ de Lílian Viera Ferrari sobre Jornal O Globo Zona Oeste de 16 de abril de 1995 a linguística local, intitulada “Variação Linguística e Redes Sociais no Morro dos Caboclos, RJ , 1991
Vestígios - Relação das escolas rurais no jornal “O Paiz” de 09 de agosto de 1908, p 7. Caverna no Morro do Rio da Prata, conhecida como Pedra do índio.
Sertão Carioca • De acordo com Fernandes (2012), Sertão Carioca era como se denominava a zona rural e atual Zona Oeste da cidade. Na década de 1930, a região também foi descrita em sua fauna, flora, geografia e atores sociais na obra O Sertão Carioca, escrita por Armando Magalhães Corrêa (1936).
Criação do Parque Estadual da Pedra Branca e da AGROPRATA • A criação do PEPB, em 1974, traduz-se como um marco institucional deste processo e representa a consolidação de uma ação doestado, orientada por concepções conservacionistas para fazer frente ao processo de urbanização que ameaçava as encostas desta região. Seus efeitos sobre a agricultura praticada no local foram contraditórios. Fundação AGROPRATA, em 18 de novembro de 2003
Relatos sobre a possibilidade de expulsão • Zé pretinho • É de chorar. Ia chorar muito. Ia ficar triste. Ia ficar bem triste. Tira a gente daqui, olha só. Lá onde Deínha mora, vai tirar nossa amizade, o que eu conheço daqui. Então, talvez, eu conheça mais do que eles conhecem, então, se tirar. . . Eu acho que seria um erro, eles tirarem a gente daqui. Acho que eles tem que pensar mais um pouco pra tirar. • Tirar nego do lugar da gente é como tirar um pai, tirar um filho da gente. É abandonar. Tirar um pai, tirar uma mãe, tirar um filho. É nossa terra, onde nasci, conheço as coisas e. . . é uma judiação. Judiaria como o povo local. Isso não pode acontecer. Tirar agente daqui, depois de ter todas as coisas. Não vai dar certo. É um lugar que a gente entra e sai, sem ter problema. Aí vai botar a gente pra um lugar lá. . . e vai bagunçar a gente. • D. Madalena • Eu acho que muita gente ia morrer do coração, para nós, aquilo lá é o nosso cantinho do céu e tem muita gente. . . que vive ali dentro e não tem pra onde ir. Eu te falo de Dino, a família de Dino não sabe o que é a cidade, não sabe o que é Campo Grande, eles não sabem. Você vê que nem documento têm, gente! Como é que um povo desse vai ser retirado daí, vai pra onde? ! Sem ter sabedoria, são tudo analfabeto. Vão morrer de fome! • Luis • Eu não sei, acho que cortaria meus braços e minhas pernas. Eu ia ficar sem braço e sem perna. É só o que eu sei fazer, é plantar, é colher, eu não sei, não tenho outra profissão
Certificação • 18 de abril de 2017 a Fundação Cultural Palmares fez a entrega da certificação a Comunidade Remanescente Quilombola "Dona Bilina" do Rio da Prata – Campo Grande – Rio de Janeiro.
• Agradecimentos • Mandato de Renato Cinco • Comissão Permanente de Meio Ambiente • Remanescente de Quilombola Dona Bilina, Cafundá Astrogilda e do Quilombo do Camorim
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