Classificao do gnero Cannabis uma histria sobre dissenso

Classificação do gênero Cannabis: uma história sobre dissenso entre ciência e semântica Dennys Zsolt Santos Eng. Agrônomo Gestor de Pesquisa e Produção Vegetal Instituto Vital Brazil S/A

IVB - Instituto Vital Brazil Quem somos nós? “(. . . ) muitas causas inibitórias de origem patológica, está reclamando da ciência a solução de muitos e importantes problemas. É nos laboratórios que se poderá encontrar a solução para estes (. . . )” Vital Brazil, 1919

Classificação do gênero Cannabis: uma história sobre dissenso entre ciência e semântica. Introdução Os debates sobre a Cannabis não se limitam ao seu uso como medicamento ou ao seu uso recreativo. Algo mais fundamental tem sido o objeto de engajamento entre os especialistas há anos: sua taxonomia. (Watts, 2006)

Afinal, são todas as plantas pertencentes ao gênero Cannabis meras variedades de uma única espécie? Ou estaria correto reconhecer ao menos três espécies distintas? Ou seria uma única espécie, C. sativa, com ao menos três subespécies?

Questões a serem pacificadas pela sistemática vegetal. Sistemática vegetal e taxonomia apresenta duas fases históricas com abordagens distintas, denominadas: • Era exploratória • Sistemática moderna

Breve relato histórico: era exploratória 1753 – Linnaeus Única espécie: C. sativa

Breve relato histórico: era exploratória 1785 – Lamarck Outra espécie: C. indica

Breve relato histórico: era exploratória 1924 – Yanishevski Outra espécie: C. ruderalis

Breve relato histórico: era exploratória Comparativo das três espécies conforme descrito pelos botânicos citados:

Comparativo das três espécies • • • Grande porte; folhas largas; folíolos estreitos; pouco ramificada; (fibra e sementes).

Comparativo das três espécies • • • Médio porte; folhas pequenas; folíolos largos; frutos pequenos; Mais ramificadas; sedativas

Comparativo das três espécies • Pequeno porte; • auto-florescentes; • Baixa concentração de canabinóides.

Considerações: A era exploratória apresentava limitações: • Baseava-se, na morfologia comparativa entre plantas. • No caso de plantas medicinais, este aspecto limitante acentua-se: não havia como avaliar e comparar o perfil fitoquímico das plantas.

Breve relato histórico: sistemática moderna O advento da sistemática moderna: • Surge com o advento dos equipamentos e métodos analíticos para DNA e compostos químicos • Interação da planta com o ambiente; • Morfologia e estrutura anatômica; • Filogenia; • na distribuição geográfica; e, • no estudo de seus antepassados.

Cannabis spp. : questões colocadas sob a ótica da sistemática moderna com o enfoque em suas propriedades terapêuticas. • Qual é a efetiva rastreabilidade do material propagativo atual? • As cultivares atuais apresentam Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidadede de suas características? • A denominação das cultivares atuais são condizentes para fins medicinais? • Qual a estabilidade do perfil químico?

• Sativa Vs indica • C. sativa Vs C. sativa indica • “AK-47” “best Sativa” Copa Cannabis 1999 “best Indica” Copa Cannabis 2003

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. Revisão sistemática: • De exsicatas depositadas, cadernos de campo e artigos publicados por botânicos desde o século 18; • Análise molecular do cp. DNA; • Rastreamento de dados sobre pólen fossilizado visando encontrar o centro de origem; • Mapeamento da distribuição de pólen; • Avaliação de divergências no sequenciamento do ADN mitocondrial obtidos no Gen. Bank.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. Avaliação das exsicatas depositadas, cadernos de campo e artigos publicados.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. • Avaliação de divergências no sequenciamento do ADN mitocondrial obtidos no Gen. Bank.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. • Avaliação de divergências no sequenciamento do ADN mitocondrial obtidos no Gen. Bank.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. • Conclusões: • DNA de cloroplasto - Cannabis e Húmulus divergiram 27, 8 milhões de anos. • Pólen fossilizados apontam para um centro de origem no NE do platô tibetano. • Cannabis se dispersou pela Europa entre 1, 8 e 1, 2 milhões de anos. • A análise do fingerprints do DNA suporta a separação desses táxons em nível de subespécie e reconhecendo a nomenclatura formal de C. sativa subsp. sativa e C. sativa subsp. indica.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. • Conclusões (cont. ): • botânicos aplicaram esses nomes às suas coleções de maneira caprichosa. Isso pode ter distorcido as determinações taxonômicas de Vavilov e Schultes, dando origem à taxonomia vernacular de hoje de '' Sativa '' e '' Indica '', que se desalinha totalmente com C. sativa e C. indica formais. • Cruzamentos onipresentes e hibridação de 'Sativa' e 'Indica‘ tornou suas distinções quase sem sentido.

Cannabis spp. sob a ótica da sistemática moderna. • Conclusões (cont. ):

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal Cannabis sativa L. • Família: Cannabaceae • Gênero: Cannabis (Humulus + 8 gêneros) • Espécie: considerável debate por décadas Politípico Cannabis indica Cannabis sativa X Monotípico Cannabis sativa subsp. Indica subsp. sativa subsp. ruderalis Detalhes genéticos e experimentais deixam dúvidas sobre a taxonomia

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal.

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal.

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal.

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal.

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal. Quais das muitas cultivares devem ser disponibilizadas para uso medicinal? As cultivares são denominadas com o uso de nomes populares, fazendo-se uma grande distinção entre os tipos Indica e Sativa. Mas, não está claro se essa classificação reflete diferenças relevantes na composição química.

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal. Classificar com base na composição química – já utilizada em aplicações forenses – e distinguindo plantas com alto teor de THC, das com alto teor de CBD. Apesar da já comprovada ação terapêutica dos terpenos, estes não foram incluídos nessas abordagens. A necessidade de um melhor sistema de classificação, utilizando mais marcadores, incluindo os terpenos presentes em concentrações relevantes.

Consequências: Taxonomia e sistemática vegetal. Comparou-se cultivares obtidas de diversas fontes e, com base na análise de 28 compostos presentes nestas amostras e a análise de componentes principais (PCA) dos dados quantitativos obtidos, conseguiu-se identificar os constituintes da Cannabis que definiram as amostras em grupos de quimiotipos distintos. O estudo indica a utilidade de uma abordagem PCA para a classificação quimiotaxonômica de variedades de Cannabis.

Classificação: Quimiotipos: • • • Quimiotipo I: THC / CBD alta (>1), Quimiotipo II: THC / CBD intermediária (0, 5 – 2, 0) Quimiotipo III: tipo fibra - THC / CBD (<1) Quimiotipo IV: tipo fibra - CBG canabinóide principal Quimiotipo V: tipo fibra- canabinóides

Classificação:

Classificação Reflexões • Amnesia: cepa ou perfil químico? • Se o quimiotipo da Amnesia tivesse efeito “amnésico”, isto seria surpreendente, uma vez que o terpeno alfa-pineno tem propriedades anticolinesterásicas, reduzindo, portanto, o deficit de memória de curto prazo potencialmente gerado pelo THC • Efeito comitiva

Classificação Reflexões • White widow: • quimotipo Indica: propriedades sedativas, este • O terpeno mirceno apresenta efeito sedativo – ou efeito “travado no sofá” - tem sido associado • Portanto, há correlação entre o quimiotipo e o efeito esperado.

Pesquisas com a planta: uma necessidade Afinal, o que nos levou ao apresentado?

Marco histórico da proibição do cultivo 1930 - E. U. A. - Criação do Federal Bureau of Narcotics. Henry Aslinger inclui a maconha na lista de substâncias proibidas. Todos os cultivos são queimados. 1938 – BRASIL - Decreto-Lei nº 891 - A proibição total do plantio, cultura, colheita e exploração por particulares da maconha, em todo território nacional.

Consequências de 90 anos de proibição: O que esta pequena revisão sistemática nos revela sobre a atual situação das pesquisas envolvendo a Cannabis spp. ?

Consequências de 90 anos de proibição: • A proibição não acabou com a produção e só colocou a produção na ilegalidade. Mas em relação às pesquisas agronômicas, estas cessaram com a proibição. • Ocorre a cisão de dois pilares fundamentais na construção do conhecimento: o conhecimento empírico do conhecimento científico.

Consequências de 90 anos de proibição: • Com o afastamento entre o produtor e o cientista ocorre a construção de linguagens distintas com significados nem sempre correspondentes em sua totalidade. A língua é viva! • A proibição coloca em ação os remédios legais pela luta de direitos. Tais remédios legais não se equivalem à formulação de políticas públicas consistentes a abrangentes que geram segurança em todas as suas facetas, beneficiando diretamente e indiretamente toda a sociedade.

“ Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais, para temer menos. ” Marie Curie

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