Carl Menger Carl Menger FILOSOFIA CONCEITOS BSICOS VISO
Carl Menger
Carl Menger
FILOSOFIA, CONCEITOS BÁSICOS, VISÃO DA ECONOMIA Carl Menger (1840 -1921), o pai da escola austríaca, nasceu em Nova Sandec, cidade que hoje pertence a Polônia. Ele tornou-se um dos economistas mais influentes de todos os tempos. Suas ideias afetaram sensivelmente o pensamento econômico do nosso século, principalmente através da influência exercida por discípulos diretos que deram renome à escola austríaca de economia.
O desconhecido Os escritos de Menger permaneceram pouco lidos e pouco compreendidos. De fato, o principal livro de Menger em teoria, os Princípios de Economia Política, de 1871, foi reimpresso somente após 52 anos de seu lançamento e demorou 79 anos para ser traduzidos para o inglês, sob o nome de Principles of Economics: First General Part.
Outro livro igualmente importante, mais sobre método do que teoria, os Problemas de Economia e Sociologia, de 1883, também demorou para ser traduzido e apenas em 1963 ganhou uma versão em inglês.
A Revolução Marginalista Embora o nome de Menger esteja associado à Revolução Marginalista, ao lado de Jevons e Walras, os historiadores das ideias reconhecem hoje em dia a necessidade de separar a contribuição de cada um deles; um procedimento conhecido na literatura como “desomogeneização”. Também há diferenças entre as ideias de Menger e de seus seguidores da escola austríaca.
Originalidade As ideias de Menger são bastante originais e é difícil identificar influências que se exerceram sobre ele, mas a sua vida e a reconstituição do ambiente intelectual de Viena ajudam a entendê-las. Menger decidiu, de início, seguir a mesma carreira do pai, um advogado atuante que lhe proporcionou acesso à literatura sobre questões econômicas e sociais presente na biblioteca particular da família.
A biblioteca de Menger herdou do pai o hábito de colecionar livros e montou uma biblioteca com mais de 25 mil livros. Esse acervo encontra-se hoje na Universidade de Hitotsubashi, no Japão. Como o pai, Menger estudou direito na Universidade de Viena, em 1859 e 1860, e em Praga, de 1860 a 1863. Doutorou-se em Cracóvia, em 1867, dedicandose, em seguida, ao jornalismo, onde pode escrever sobre economia, entre outros assuntos. Depois se tornou servidor civil.
O funcionário Na condição de funcionário público, atuava como jornalista econômico, cabendo-lhe, entre outras coisas, a tarefa de escrever para um órgão oficial resenhas ou relatórios sobre a situação dos mercados. Essa tarefa despertou nele interesse por uma teoria dos preços que estivesse próxima da experiência cotidiana dos homens práticos.
Hayek escreve sobre Menger dizendo que ele. . . “Ao estudar os relatórios de mercado, se deu conta do marcante contraste existente entre as teorias tradicionais sobre os preços e os fatos que pessoas de experiência prática consideravam decisivos para a determinação dos preços. ”
Problema dos Preços e os Princípios de Economia Política. Menger preocupou-se com o problema da determinação dos preços a partir de 1867, tendo trabalhado na sua solução até a publicação da sua única obra em teoria econômica, os Princípios de Economia Política. Na ocasião, ele era ainda jovem, tendo 31 anos. Tratava-se da primeira parte de um tratado que se propunha amplo.
O livro A primeira edição, de 1871, seria apenas uma parte introdutória de uma obra mais extensa. Essa edição lidava com as condições gerais que originam a atividade econômica, o valor, as trocas, os preços e a moeda.
O plano completo da obra havia sido idealizado em quatro volumes: a segunda parte trataria de juro, salário, renda, receita, crédito e papel-moeda; outra parte seria sobre economia aplicada, versando temas como teoria da produção e do comércio. A parte final da obra conteria uma crítica à ordem econômica vigente e sugestões para uma reforma econômica. Menger nunca elaborou as três partes seguintes do tratado.
Uma segunda edição dos Princípios foi lançada postumamente pelo filho de Menger, o matemático Karl, em 1923. Hayek conta que Menger. . . “Escrevera os Princípios em um estado de excitação doentia, ” Ele não poupa elogios a esse trabalho: “Poucos são os livros que passaram por uma preparação mais cuidadosa do que esse, e raramente qualquer esboço de idéia foi planejado e seguido mais conscienciosamente em todas as suas ramificações e detalhes. ”
Menger foi levado a desenvolver sua própria teoria a partir da crítica à obra de Karl Heirich Rau. Menger estudou cuidadosamente o livro de Rau antes de escrever os Princípios. Esse livro contém diagramas usando curvas, contudo, a teoria de Rau e as outras que prevaleceram nesse período ofereciam duas explicações diferentes para a determinação dos preços, dependendo do bem ser reproduzível ou não.
No primeiro caso ainda mantinha a explicação clássica do valor a partir do custo de produção sem explicar como os preços dos fatores seriam determinados.
Ambiente de Viena Ambiente intelectual de Viena à sua época. Viena era um importante centro de ideias. A física moderna, a literatura, a psicanálise e tantos outros campos do conhecimento científico e artístico devem seu desenvolvimento, no século XX, em parte às discussões que fervilhavam, naquela época, nos círculos intelectuais vienenses. Verifica-se, entretanto, pouco interesse em teoria econômica.
O ensino de economia A Economia era ensinada por professores alemães que tinham mais interesse em sociologia. Em consequência disso, não se poderia esperar grande contribuição à teoria econômica vindo de Viena. Até 1846, o ensino de economia nas universidades austríacas usava o livro do cameralismo do século XVIII de Joseph von Sonnefels ou então o trabalho mais recente de J. Kudler que continha alguma discussão da relação do valor com utilidade e o significado dos diferentes graus de necessidades atendidos por várias mercadorias.
Influências Não é fácil identificar quem teria fornecido a Menger a sugestão decisiva para o desenvolvimento de sua teoria. A literatura alemã devotava mais atenção à relação entre valor e utilidade em relação aos escritores ingleses. Nenhum dos trabalhos alemães, porém, chegou próximo à solução do problema que Menger propôs.
O austríaco não conhecia o trabalho de Gossen e é improvável que o ambiente local em que ele trabalhava tenha fornecido muito estímulo na percepção dos problemas que ele estava interessado. Menger trabalhou em completo isolamento, não tendo quando jovem oportunidade de discussão.
A formação de Menger como economista está intimamente ligada ao pensamento alemão. A escola histórica alemã influenciou os Princípios, muito embora Menger, anos depois, tenha contraposto suas ideias metodológicas às dessa escola, criticando principalmente a crença de Gustav Schmoller de que seria possível identificar leis históricas.
As ideias de Menger foram consolidadas dentro do espírito do pensamento romântico-historicista típico do século XIX, o que explica certas particularidades de sua terminologia, muito obscura para os padrões da microeconomia do século XX. Dessas influências, Menger extrai a visão de um mundo de ignorância do agente e de informação incompleta, dando um papel de relevo ao conceito de expectativa (mais do que em Jevons e Walras), bem como toma emprestados os blocos básicos para a construção de sua teoria econômica.
Menger herda o conceito alemão de desejos e necessidades humanas (Bedürfnis*), que ocupa um papel central em sua teoria, representando o ponto inicial da atividade econômica voltada à satisfação deles. * precisar, necessitar etc.
Se o atendimento de desejos e necessidades é o propósito da atividade econômica, um elemento externo se interpõe entre necessidades, desejos e a satisfação dos mesmos: o bem econômico. Menger procura estabelecer a origem e a natureza dos bens e de outras noções econômicas como riqueza, escassez, moeda e valor.
O capítulo 1 No capítulo 1 dos Princípios, Menger examina a natureza dos bens. Busca identificar um princípio de causalidade subjacente a todas as coisas. Para ele, uma lei de causa e efeito comanda todos os fenômenos econômicos e rege também a nossa personalidade e a passagem da mente de um estado para outro. No indivíduo, as causas operam na transformação de um estado de necessidade para outro de satisfação.
Bens econômicos Os bens econômicos são. . . “Coisas capazes de serem colocadas em nexo causal com a satisfação de nossas necessidades humanas, ” Na medida em que reconhecemos esse nexo causal e. . . “temos a possibilidade e a capacidade de utilizar as referidas coisas para satisfazer efetivamente às nossas necessidades. ”
As coisas adquirem a qualidade de bem não apenas em função de uma propriedade inerente a elas mas levandose em conta também o conhecimento e o imaginário humanos. Dois elementos da visão de Menger destacam-se nessa definição de bem: Ø o papel do conhecimento e Ø a ênfase na explicação causal. Se a preocupação com o conhecimento humano tem uma raiz alemã, onde buscar a importância que ele atribui à causalidade? Sem dúvida em Aristóteles.
Influência de Aristóteles O pensador grego é citado muitas vezes em notas de rodapé nos Princípios, mas há outros indícios da influência peripatética em Menger que podem ser encontrados no clima intelectual da Áustria no período. Aristóteles era muito ensinado na escola secundária desse país. Além de Aristóteles, eram influentes na Áustria: Tomás de Aquino, Leibnitz, Bolzano, os católicos heréticos, Jansen e Miguel de Molinos.
Outras influências Também eram muito consideradas as ideias do imperador Josef II, do estadista Metternich e dos poetas Grillparzer, Stifter e Anzengruber. Para se contrapor às principais correntes do pensamento científico e filosófico do século XIX, Menger usou as ideias de Aristóteles, mais do que qualquer uma dessas outras fontes.
Com o aristotelismo, ele combate a doutrina positivista da ciência (Francis Bacon, A. Comte e J. S. Mill). Também se opõe à uma certa tradição individualista e racionalista do liberalismo tido como unilateral (Adam Smith) e à teoria do conhecimento da escola histórica alemã.
Historicismo versus Menger O historicismo alemão concebe a sociedade como uma totalidade orgânica e natural. Considera o corpo social um dado e procura examiná-lo empiricamente pelo método indutivo e comparativo. Por esse caminho, ele pretende chegar às leis da sociedade e da história.
ontologia antagônica ao Já Menger constrói uma historicismo. Sua ênfase recai no papel dos indivíduos na formação social. Vê a sociedade como produto involuntário das escolhas individuais. Suas instituições são consequências não intencionais da ação humana.
A história da humanidade aparece como incessante evolução, embora ao longo dela permaneça a mesma naturalidade ou essência do homem e sempre opere o mesmo princípio de causalidade. O conceito de sociedade de Menger é o de Aristóteles, agora aplicado a todo o devir histórico.
o Como o estagirita, Menger pensa a economia como um processo orgânico vivo, não mecânico mas biológico, o que entretanto não implica na igualdade metodológica entre ciência econômica e biologia. o Aliás, uma das críticas centrais que desfere contra certa vertente do historicismo alemão é a insistência em tratar a economia pelos métodos empíricos da Biologia.
Menger segue também as ideias da escola histórica do direito de F. Carl von Savigny, Jacob Grimm, Gustav Hugo e Barthold G. Niebuhr. Esses autores apoiam-se em Edmund Burke e como ele aderem à jurisprudência inglesa e reagem contra o chamado pragmatismo no campo do direito.
O pragmatismo acredita ser possível uma reconstrução do direito pela via da compreensão puramente abstrata. Burke, pelo contrário, busca entender o significado das estruturas sociais orgânicas e da origem não intencional delas. Como ele, a escola histórica do direito interpreta as leis sociais como resultado não intencional da grande sabedoria, fruto do desenvolvimento histórico das nações.
Menger segue-os ao pretender uma abordagem teórica das questões sobre a origem das instituições à luz da história, sem defender, no entanto, a aplicação do método da ciência econômica na interpretação do nascimento e desenvolvimento da sociedade como um todo. Opõe-se, dessa forma, ao racionalismo abstrato, enfatizando a sabedoria e a flexibilidade das instituições moldadas pelo curso da historia.
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