CANTE L QUE EU CANTO C Patativa do

CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ Patativa do Assaré

Poeta, cantor da rua que na cidade nasceu, cante a cidade que é sua que eu canto o sertão que é meu.

Se aí você teve estudo aqui Deus me ensinou tudo sem de livro precisar. Por favor não mexa aqui que eu também não mexo aí cante lá que eu canto cá.

Repare que a minha vida é deferente da sua rima polida nasceu no salão da rua já eu sou bem deferente meu verso é como a semente que nasce em riba do chão.

Não tem estudo nem arte a minha rima faz parte das obras da criação.

Você tem muita ciência aprendeu inducação mas das coisas do sertão não tem boa experiência

nunca fez uma palhoça nunca trabalhou na roça não pode conhecer bem pois nessa penosa vida só quem provou da comida sabe o gosto que ela tem

Pra gente cantar o sertão precisa nele morar ter almoço de feijão e a janta de mungunzá.

Viver pobre sem dinheiro trabaiando o dia inteiro socado dentro do mato de apragata currulepe pisando dentro do estrepe brocando a unha de gato

Você é muito ditoso sabe ler e sabe escrever pois vai cantando seu gozo que eu canto meu padecer

enquanto a felicidade você canta na cidade cá no sertão eu enfrento a fome, a dor e a miséria pra ser poeta de vera precisa ter sofrimento.

Mas, porém, eu não invejo o grande tesôro seu o livro do seu colejo onde você aprendeu

pra gente aqui sê poeta e fazer rima compreta não precisa professô basta vê no mês de maio um poema em cada gaio e um verso em cada fulô.

Patativa do Assaré, nasceu na Serra de Santana, município de Assaré, no sul do Ceará, em 05 -03 -1909. Começou a vida trabalhando na enxada. O fato de ter passado somente seis meses na escola não impediu que sua veia poética florescesse e o transformasse em um inspirado cantor de sua região, de sua vida e da vida de sua gente.

Música: Revendo Amigos - Manassés Fotografia: Bete Maciel mbetemaciel@gmail. com Formatação: Be. Lu-Set. 2006