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A evolução criadora Henri Begrson Henri Bergson nasceu em Paris em 1859. Estudou na Ecole Normale Superieure de 1877 a 1881 e passou os dezesseis anos seguintes como professor de filosofia. Em 1900 tornou-se professor no College de France e, em 1927, ganhou o Premia Nobel de Literatura. Bergson morreu em 1941. Alérn deste livro, escreveu também Matéria e memória, 0 riso e Cursos sabre a Filosofia Grega. (todos publicados por esta Editora). Bergson. Henri. IXW-1941 A evolução criadora I Henri Bergson : tradução Bento Prado Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Coleção Tópicos)
A evolução criadora Henri Bergson A hist 6 ria da evolução da vida, por incompleta que ainda esteja, já nos deixa entrever como a inteligência se constituiu por um progresso ininterrupto ao Iongo de uma linha que, através da serie dos vertebrados, se eleva ate o homem. Ela nos mostra, na faculdade de compreender, um anexo da faculdade de agir, uma adaptação cada vez mais precisa, cada vez mais complexa e flexível, da consciência dos seres vivos as condições de existência que lhes são impostas. Disso deveria resultar a consequencia de que nossa inteligência, no sentido estrito da palavra, esta destinada a assegurar a inserção perfeita de nosso corpo em seu meio, a representar-se as relações entre as coisas exteriores, enfim, a pensar a matéria. Tal será, de fato, uma das conclusões do presente ensaio. Veremos que a inteligência humana se sente em casa enquanto for deixada entre os objetos inertes, mais especialmente entre os s 6 lidos, nos quais nossa ação encontra seu ponto de apoio e nossa industria seus instrumentos de trabalho,
A evolução criadora Henri Bergson veremos que nossos conceitos foram formados a imagem dos sólidos, que nossa 16 gica e sobretudo a 16 gica dos sólidos, e que, por isso mesmo, nossa inteligência triunfa na geometria, na qual se revela o parentesco do pensamento 16 gico com a matéria inerte e na qual basta a inteligência seguir seu movimento natural, após o mais leve contato possível com a experiencia, para ir de descoberta em descoberta com a certeza de que a experiencia segue logo atrás dela e lhe dará invariavelmente razão. Mas disso também deveria resultar que nosso pensamento, sob sua forma puramente lógica, e incapaz de se representar a verdadeira natureza da vida, a significação profunda do movimento evolutivo. Criado pela vida em circunstancias determinadas para agir sabre coisas determinadas, como poderia abarcar a vida, da qual não e mais que uma emanação ou um aspecto? Depositado, durante o trajeto, pelo movimento evolutivo, como poderia aplicar-se ao
A evolução criadora Henri Bergson Iongo do próprio movimento evolutivo? Seria o mesmo que pretender que a parte iguala o todo, que o efeito pode absorver em si sua causa, ou que o seixo deixado na praia desenha a forma da onda que o trouxe. De fato, sentimos perfeitamente que nenhuma das categorias de nosso pensamento, unidade, multiplicidade, causalidade mecânica, finalidade inteligente, etc. , se aplica de forma exata as coisas da vida: quem pode dizer onde começa e onde termina a individualidade, se o ser vivo e um ou vários, se são as células que se associam em organismo ou se é o organismo que se dissocia em células? Em vão empurramos o vivo para dentro de tal ou tal de nossos quadros. leve contato possível com a experiencia, para ir de descoberta em descoberta com a certeza de que a experiencia segue logo atrás dela e lhe dará invariavelmente razão.
A evolução criadora Henri Bergson Todos os quadros estouram. São estreitos demais, sobretudo, rígidos demais, para aquilo que gostaríamos de colocar neles. Nosso raciocínio, alias, tao seguro de si quando circula em meio as coisas inertes, sente-se pouco a vontade nesse novo terreno. Seria muito difícil citar uma única descoberta biológica que se deva ao puro raciocínio. E, o mais das vezes, quando a experiencia finalmente nos mostra como a vida procede para obter um certo resultado, descobrimos que seu modo de operar e precisamente aquele no qual nunca teríamos pensado. No entanto, a filosofia evolucionista não hesita em estender as coisas da vida os procedimentos de explicação que funcionaram para a matéria bruta. Começara por nos mostrar na inteligência um efeito local da evolução, uma pequena luz, talvez acidental, que ilumina o vai-evem dos seres vivos na estreita passagem franqueada a sua ação: e eis que, de repente, esquecendo o que acaba de nos dizer, transforma essa lanterna manobrada no fundo de um subterrâneo em um Sol que iluminaria o mundo.
A evolução criadora Henri Bergson Intrepidamente, apenas com as forças do pensamento conceitual, lança-se na reconstrução ideal de todas as coisas, ate mesmo da vida. E verdade que se defronta, no meio do caminho, com dificuldades tao formidáveis, vê sua logica desembocar aqui em tao estranhas contradições que rapidamente renuncia a sua ambição primeira. Não e mais a própria realidade, diz ela, que ira recompor, mas apenas uma imitação do real, ou antes uma imagem simbólica; a essência das coisas nos escapa e sempre nos escapara, movemonos em meio a relações, 0 absoluto não é de nossa alçada, detenhamo-nos frente ao Incognoscível. Mas eis ai realmente, depois de muito orgulho para a inteligência humana, um excesso de humildade. Se a forma intelectual do ser vivo se modelou pouco a pouco pelas ações e reações reciprocas de determinados corpos e de seu entorno material, como se furtaria a nos oferecer algo da essência mesma da qual os corpos são feitos? A ação não poderia mover-se no irreal. De um espírito nascido para especular ou para sonhar, eu poderia
A evolução criadora Henri Bergson admitir que permaneça exterior a realidade, que a deforme e que a transforme, talvez mesmo que a crie, como criamos as figuras de homens e de animais que nossa imaginação recorta na nuvem que passa. Mas uma inteligência voltada para a ação que ira realizar-se e para a reação que se seguira, que apalpa seu objeto para receber, a todo instante, sua impressão move!, e uma inteligência que toca algo do absoluto. Acaso nos teria algum dia ocorrido a ideia de por em duvida esse valor absoluto de nosso conhecimento, se a filosofia não nos tivesse mostrado com que contradições nossa especulação se choca, em que impasses desemboca? Mas essas dificuldades, essas contradições nascem do fato de que aplicamos as formas habituais de nosso pensamento a objetos sabre os quais nossa industria não se exerce e para os quais, por conseguinte, nossos quadros não são feitos. 0 conhecimento intelectual, na medida em que remete a um certo aspecto da matéria inerte, deve, pelo contrario, nos apresentar sua impressão fiel, tendo sido fotogravado sabre esse objeto particular. 56 se to rna relativo se, tal qual ele e, pretender nos representar a vida, isto e, 0 fotogravador que fixou
A evolução criadora Henri Bergson esse objeto particular. São se torna relativo se, tal qual ele e, pretender nos representar a vida, isto é, o fotogravador que fixou a impressão. Caberia então renunciar a aprofundar a natureza da vida ? Caberia ater-se a representação mecanicista que o entendim- mento sempre nos dará dela, representação necessariamente artificial e simb 6 lica, uma vez que restringe a atividade total da vida a forma de uma certa atividade humana, a qual não é mais que uma manifestação parcial e local da vida, um efeito ou um resíduo da operação vital ? Caberia faze-lo, se a vida tivesse empregado todas as virtuali- dades psíquicas nela presentes em fazer puros entendimentos, isto e, em preparar ge 6 metras. Mas a linha de evolução que desemboca no homem não é a única. .
A evolução criadora Henri Bergson Em outras vias, divergentes, desenvolveram-se outras formas da consciência, que niio souberam libertar-se das amarras exteriores nem reconquistar-se a si mesmas, como o fez a inteligência humana, mas que nem par isso exprimem menos, elas também, algo de imanente e essencial ao movimento evolutivo.
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