BASES EPISTEMOLGICAS DA CINCIA MODERNA CONHECIMENTO RAZO CRIATIVIDADE
BASES EPISTEMOLÓGICAS DA CIÊNCIA MODERNA CONHECIMENTO, RAZÃO, CRIATIVIDADE, VERDADE, REALIDADE
Conhecer tem um valor para os homens • Alguns sistemas filosóficos contrapõem o conhecimento à felicidade , dizendo que uma pessoa com parcos conhecimentos talvez possa ser mais feliz que quando passa a conhecer mais. A falta de algum conhecimento em qualquer cultura gera insegurança perante o mundo e as suas manifestações naturais , como as intempéries , ou em face de doenças e acidentes.
Conhecimento vem de um interesse • A história mostra que não existe um conhecimento que não tenha vínculo aparente ou oculto com a realidade humana. Quando um pesquisador procura entender , por exemplo, se existe alguma estrutura abaixo do nível das entidades chamadas na física atual de “quarks” (estrutura que já se denomina “sub-quark”), o objetivo é dominar a realidade da matéria e da energia , para tirarmos proveito no futuro.
Conhecimento e ignorância • “A ignorância é a maldição divina, O conhecimento a asa com que voamos para o céu” Shakespeare, peça teatral “Henrique VI”
A palavra “conhecimento” • Em nossa língua deriva do latim “cognoscere” cuja etimologia significa “conhecer junto” ou “procurar saber” e que por sua vez se relaciona com o grego “gnosis”, habitualmente traduzido com o próprio sentido de “conhecimento”. Em grego também se usa “nous”(que se pode dizer ser o”entendimento pela razão”), ”episteme”(“habilidade decorrente do saber”) e “sofia”(“sabedoria”)-como aparece em “filosofia”.
Outras palavras para conhecimento • Outra palavra grega que nos ajuda a compreender o conhecimento é “logos”, que significa “fala”, “razão”, ”entendimento”. Ela deriva do verbo “legein”, ”selecionar”, ”colher”, e que nos deu o sufixo “logia”, geralmente usado no sentido de “ciência de alguma coisa” -como em geologia ou biologia.
Os meios de conhecer • O conhecimento se dá por muitas formas, pois pode advir do uso direto de órgãos dos sentidos ou de extensões destes(como instrumentos de laboratório), de livros, etc. , mas traz sempre a marca da capacidade mental da razão ligada ao raciocínio que faz surgir o entendimento ou explicação do que é aquilo que se “conhece”.
O que é conhecimento? • Historicamente, verificamos que, ao saber algo, temos alguém (sujeito do saber) que deseja utilizar esse algo(objeto do saber) a seu favor, entendendo “utilizar” num sentido amplo e não necessariamente imediatista. A palavra “conhecimento” tem o seguinte sentido: processo de compreender para adquirir domínio sobre alguma parcela do universo, entendido materialmente ou não, isto é , podendo abranger objeto mental. Exemplos: psicologia, arte, ciência, etc.
Informação • É importante diferenciar conhecimento de informação. Por exemplo: uma enciclopédia(mesmo em formato eletrônico) em si não acarreta um processo de conhecimento em aberto, já que ela não costuma passar de um repositório de conhecimentos já pesquisados, previamente processados. Para isso usa-se com mais propriedade a palavra informação.
Epistemologia • Como se dá o processo do conhecimento? Há uma relação entre o sujeito que deseja conhecer e aquilo que se busca conhecer, que é o assunto da “teoria do conhecimento”, ou epistemologia, que deriva de episteme(um saber) e logos (um discurso, que evoluiu para designar a própria razão ou, em última instância , o estudo ou ciência de algo), sendo epistemologia , portanto, o estudo de como se dá o conhecimento.
Razão e história • A expressão do pensamento racional variou e se transformou com o tempo. Isso se vê mesmo em formas de argumentação mais “permanentes”, como a demonstração matemática, a refutação lógica ou a fatual, a verificação experimental: todas expressam algo não eterno, mas temporário , ainda que de longa duração.
A razão é característica do homem • O conhecimento por meio da razão distingue o homem em relação aos demais seres. Experiências com animais como macacos (e, para algumas finalidades, isso vale também para cetáceos , polvos, etc) demonstram sua capacidade para classificar, raciocinar e até tirar conclusões novas, mas o grau com que o homem exerce essas faculdades o separa das demais espécies.
Conhecimento e sociedade • O conhecimento humano é eminentemente social, ainda que o momento crítico do processo criador possa ser levado a cabo por um único indivíduo. Cada indivíduo é herdeiro de todos os processos de conhecimento da cultura de que faz parte. Há uma relação complementar , embora aparentemente contraditória, quando se reconhece que o conhecimento transita por essa via de mão dupla tanto do indivíduo para a sociedade , quanto ao inverso.
As componentes sociais do conhecimento • Componentes sociais do conhecimento tais como a ciência , a técnica ou o sistema produtivo são elementos da cultura humana e não adversários do homem. Em qualquer dessas esferas é possível e desejável desenvolver uma posição crítica , conjugando uma conscientização das ações e responsabilidades com o exercício criativo do conhecimento.
Exemplo prático • No Japão da 2ª guerra mundial , a resolução dos problemas de organização da produção não precisavam vir dos engenheiros ou dos níveis gerenciais mais elevados das empresas : ela podia se dar no “chão da fábrica”, após análises dos operários e funcionários envolvidos com os processos produtivos. Constituiu-se uma organização informal de início : os centros de controle de qualidade que contribuíram para métodos de otimização da produção e do trabalho cada vez mais usados nas empresas. Ampliou-se o nível de emprego e foram alcançados mercados mundiais. O que são esses sistemas japoneses de qualidade total senão uma forma de conhecimento?
Aprender é criar • Um conhecimento já existente ao ser refeito por uma pessoa que o desconhecia , parece novo, de forma que podemos admitir que isso também faz parte da criação. Na verdade, o conhecimento como processo criativo é o que se desejaria que fosse a atividade escolar em todos os níveis.
O computador não gera conhecimento • O computador não é uma máquina que possa desenvolver o conhecimento, embora acelere enormemente tarefas automatizáveis, e no fundo, previsíveis- o computador processa informações, mas não produz conhecimento , tarefa restrita ao ser humano.
Algoritmos e seus limites • Existe uma diferença entre o processo de conhecimento humano e os programas de computador, que são regras fixas. Matematicamente nos referimos a elas como “algoritmos”, palavra cuja origem árabe é a mesma de algarismo. Não conseguiríamos inventar um conjunto de instruções que embutisse num computador a criatividade livre.
Um pouco de literatura • Num romance do escritor Edgar Allan Poe os policiais buscam uma carta roubada por um ministro , com consequências explosivas. A polícia desiste da busca e não a encontra. Ela estava escondida na própria casa do ministro. O detetive Dupin comenta que os policiais nunca a encontrariam, pois apenas a capacidade de dedução matemática era insuficiente , precisava-se também da inspiração poética.
Os limites da matemática segundo Poe • Diz Dupin que “. . . o raciocínio matemático é simplesmente lógico se aplicado à forma e à quantidade. O grande erro está em supor que mesmo as verdades do que se chama álgebra pura são verdades gerais ou abstratas. E esse erro é tão evidente que me espanta a universalidade de sua aceitação. Os axiomas matemáticos não são axiomas de verdade geral”.
Criatividade • Poe, nessa passagem, chama a atenção para a necessidade de usar a criatividade e não a simples lógica ou o modo de geração de um conhecimento já processado, constituindo esse diálogo uma pequena jóia sobre a metodologia do conhecimento. Dupin consegue achar a carta, e o conto tem um desfecho surpreendente.
Criatividade e sobrevivência • A criatividade é a verdadeira responsável pela sobrevivência de Robinson Crusoé após seu naufrágio no romance escrito por Daniel Defoe(1660 -1731). Crusoé usa na ilha conhecimentos antigos e recursos da civilização que conseguiu salvar das águas , mas como náufrago também consegue aprender com a experiência para corrigir os erros cometidos; é sua capacidade de inovar e criar soluções que o livra da morte certa, planejando mentalmente, ou seja, sintetizando novos conhecimentos.
Criatividade no aprendizado • A transmissão de informação de forma estereotipada, repetindo o que dizem os manuais sem exercer crítica, não gera conhecimento. Da mesma forma , o aluno que é um receptor passivo não conhece, ele apenas repete informações. Não há motivo para que o ensino do conhecimento seja diferente da prática do conhecimento.
Conhecimento e História • O professor deveria ensinar (ou o próprio aluno deveria acabar descobrindo) que as explicações existentes não costumam ser suficientemente esclarecedoras , que ainda há um processo permanente de renovação daquilo que se aprende. Para isso é preciso aprender a contextualizar os problemas, o que leva a definir um quadro histórico para tudo o que se ensina – o conhecimento é historicizado.
Conhecimento, verdade e realidade • A teoria do conhecimento se preocupa com algumas questões básicas: existe um conhecimento verdadeiro, em oposição a um falso? Como conceituar “verdade” em face do conhecimento? A verdade é única para o conhecimento? O curso dará aos poucos elementos para responder essas questões.
A verdade única • Poderíamos supor que a verdade seria um conhecimento acerca do qual não pudesse haver incerteza e que fosse evidente para todos-situação ideal – mesmo “dois mais dois igual a quatro” é questionado por alguns filósofos da matemática , não porque contém erro , mas porque dependeria de postulados não demonstráveis, e não existe unanimidade de como se justificam esses postulados.
A “alegoria da caverna”de Platão • Numa caverna escura , os habitantes agrilhoados , de costas para o sol, vêem apenas as suas próprias sombras e as do mundo atrás de si. Os cativos não conseguem discernir o ilusório do real, e todo o conhecimento do mundo exterior decorre apenas das sombras. Um dos prisioneiros consegue se libertar e vislumbrar a realidade iluminada pelo sol. Volta à caverna, onde é hostilizado ; mas consegue ganhar novos conhecimentos novamente, agora por meio das sombras.
As questões suscitadas por essa alegoria • É possível desfazer a trama das superstições(“sombras”), quando elas cobrem as idéias? Pode-se conhecer a essência das idéias, e vislumbrar o conhecimento verdadeiro , objetivo confesso de Platão? Pode haver um conhecimento independente de opiniões , um conhecimento verdadeiro e não dogmático? E a realidade, se existir em si mesma de forma independente do homem, poderia ser conhecida de forma objetiva e igualmente verdadeira? Devemos manter essas indagações à nossa frente, à medida em que formos explorando nossos temas sobre o processo do conhecimento.
Verdade e Filosofia para Platão • Para Platão, o conhecimento humano da verdade última (a essência das idéias) é relativamente inacessível, o mundo se desvela para nós como aparências, mas há uma realidade superior e eterna no plano da verdade, que tem correspondência com as idéias , que a filosofia (e a ciência diríamos modernamente)pode ajudar a entrever na forma de modelos dessas idéias ou arquétipos.
Ciência e acesso à realidade • Segundo Platão, não alcançamos a essência da realidade-por exemplo, não temos acesso a aquilo que chamamos de “elétron”, cuja realidade comprovamos por meio de experiências indiretas(por exemplo, medindo sua carga, sua massa, etc). Aquilo que conseguimos captar ou interpretar da realidade de um ser chamado “elétron” é mediado pelo interesse que a sociedade define como relevante para essa pesquisa em particular.
Questões: • 1)Qual a importância da criatividade para o desenvolvimento e a transmissão do conhecimento? • 2)Dê um exemplo da Ciência em que o homem pesquisa uma representação da realidade.
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