Aula 27 O Sistema de Bretton Woods da
Aula 27: O Sistema de Bretton Woods: da simetria a assimetria ou da escassez à superabundância de dólares Amaury Gremaud HEG II 1º semestre 2020
O encontro de Bretton Woods e a reconstrução da economia ocidental 1944: encontro com 44 países em Bretton Woods (New Hampshire - EUA) planejam e assinam: artigos do acordo do FMI e do WB
Os acordos firmados 1. Institucionalidade: Criação do FMI e Banco Mundial (tb GATT): Ø Banco Mundial: reconstrução depois da guerra e ajuda a desenvolvimento dos países atrasados Ø FMI: Recebe fundos países (US$ 8, 8 bi, Keynes queria US$ 26 bi, White US$ 5 bi) EUA coloca US$ 2, 75 e não 23 bi como imaginava Keynes v Países com déficits no Balanço de pagamentos tem direitos de tomar recursos no FMI § várias modalidades, de 3 a 5 anos p/ pagamento; § tamanho em função da quota de cada país; § condicionalidades (supervisão das políticas internas depois que recebem empréstimo) v Também papel de coordenar cambio e restrições a pagamentos internacionais dos países 2. Todas as moedas conversíveis serão aceitas como meios de pagamentos internacionais Moeda conversível: �taxa fixa em relação ao ouro (e outras moedas) e �livre movimentação de capital (não existência de restrições relevantes na conversão 3 em outra moeda)
Os acordos firmados 3. Liberdade de fluxos é o ideal, mas permitido temporariamente que países imponham controles sobre movimentação de capitais Sobre a conta de capital e financeira mais permanente (5 a 10 anos) Sobre movimentações na conta corrente: temporariamente (3 a 5 anos) 4. Sistema de cambio fixo ajustável (com possibilidade de variações supervisionados pelo FMI) Países fixam suas taxas de cambio (debates sobre a taxa), oscilações: +/- 1% sem problema, 3. entre 1 e 10% comunicação ao FMI (consultas sem aprovação) 4. Acima de 10% autorização do FMI (Em caso de déficits estruturais no BP) 4. Ajustes automáticos do cambio fixo flexibilizados pelo FMI 5. Empréstimos com condicionalidades
Mudança do sistema de BW em relação ao PO. . . Ajustável moedas conversíveis dólar Controles flexibilização
Acordos implicavam inicialmente uma certa simetria mas rapidamente o sistema se tornou assimétrico
As regras: da simetria: Contexto inicial: pagamentos internacionais e reservas em diferentes moedas todas as moedas potencialmente podem ser usadas nas transações - inclusive com FMI EUA não único provedor de moeda internacional taxas fixas em relação ao ouro ou a qualquer moeda atrelada ao ouro EUA também poderiam desvalorizar sua taxa (sob supervisão do FMI) o não implicaria em alteração da relação Libra – Au, mas possibilidade de mudar paridade Libra - US$ 7
As regras: da simetria à assimetria (II) Afasta-se das ideias iniciais de diversas moedas conversíveis Ø A manutenção de controles cambiais (limitando a conversibilidade) enquanto países não se recuperarem plenamente no pós guerra Ø Só uma moeda é plenamente conversível e, junto com o ouro, aceita como moeda nas transações internacionais: o dólar US$ - unidade de referência e principal (única) reserva internacional EUA - passa a ser provedor de liquidez internacional Passou-se de um regime cambial de taxas fixas para um regime de padrão dólar-ouro EUA fixa valor do U$ em Ouro (1 onça troy =31, 1 g= 35 US$) e outros países fixam suas taxas em U$ (Brasil 18
O caso da GB no pós Guerra: tentativa frustrada de dar conversibilidade a libra Gb: sai da guerra com problemas : destruição física (mas em parte até que menores em relação ao resto da Europa) Inflação (avanço menor – imposição de forte controles de preços) Divida (25 US$ bi) e evasão de reservas (Au/dolar) Dificuldade com exportações inglesas, necessidade de importações para reconstrução Problema maior: emissão de moeda sem lastro, libras espalhadas ao redor do mundo GB impede transformação das libras em dólares, bloqueando uso de saldos existentes por diversos acordos bilaterais realizados no período anterior 1946: EUA empresta 3, 7 bi e pede conversibilidade da Libra Em 1947 libra se torna conversível (antes do prazo do FMI) dado acordo com EUA)
Da escassez de dólares ao desequilíbrio benéfico e à superabundância Um exorbitante privilégio ?
A escassez de dólares (1946 – 49) Existe um problema no imediato pos guerra: a liquidez internacional Pouco ouro e poucas moedas conversíveis, a exceção é o dólar Mas Balanço de pagamento dos EUA em um primeiro momento é positivo (US$ 8 bi) Absorvedor de liquidez Capacidade do FMI de fornecer esta liquidez é muito baixo só a Europa precisa de 7, 5 bilhões imediatamente (tem direito a 3) Banco Mundial também poder baixo de injeção de liquidez EUA obrigado a fornecer liquidez abole dividas, faz emprestimos e doações, diminuição saldo Conta Corrente 11
O Plano Marshall (1947) Ø Plano Marshall – joga dinheiro dos EUA para reconstrução internacional – Ø Abriu caminho para a penetração do capital americano na Europa Øforneceu a liquidez internacional, mas apenas em uma moeda - o dolar US$ 12 bilhões em ajuda e US$ 2 bilhões em empréstimos Maiores beneficiários: Inglaterra (24%) França (20%), Alemanha Ocidental (11%) e Itália (10%) Depois de 1952: continua a ajuda para atender a problemas de BP e escassez de dólares Ø Esperança que Plano daria condições para a conversibilidade não ocorre - Restrições (controles) permanecem por mais tempo Dificuldade com exportações dos países permanece Ø necessário uma forte rodada de desvalorização cambial na Europa Ø processo de coordenação a abertura comercial não dá certo (deveria tb se fazer em conjunto com OIC – GATT)
Taxas fixas de câmbio: ajustes no fim dos anos 40 EUA - fixa taxa de cambio em relação a ouro esta permanece a mesma até 1971, Países europeus promoveram uma grande rodada de desvalorização no final dos anos 40 (30% e media) e voltam a fixar taxas em relação a dólar 1948 - França, 1949 – GB, exceção CH e Japão Um elemento FMI fica sabendo 24 horas antes - problema com aviso importante para Grandes discussões em torno desta rodada: a criação da Até onde desvalorizações são competitivas – sistema vale ou não UEP desvalorizações desiguais (EUA aceita) medo de disputa interna na Europa (quem desvalorizou mais se deu melhor) Desvalorização melhorou situação europeia reconstrução – inovação tecnológica Ajustes das contas internas dos países Retomada da economia nos EUA queda do superávit da CC nos EUA) 13
O desequilíbrio benéfico (49 -58) Problemas com falta de divisas diminuem: BP dos EUA passa a ser globalmente deficitário (empréstimos, doações, gastos militares e CC menor) – desequilíbrio benéfico mas ainda existem alguns problemas CC dos EUA menor mas ainda positiva na década de 50) controles ainda se mantém livre conversibilidade na conta corrente só em 1958, demora o dobro do esperado Balança Comercial dos países europeus reverteu pouco a pouco passam a ser positivos e Balança Comercial dos EUA negativa só nos 60 Outras (des)valorizações importantes: Fr(58), Al (61), Depois no final da década dos sessenta: GB (67) e Fr e Al (69)
O problema da confiança e da liquidez: Dilema de Triffin Um país que emite uma moeda internacional tem ganhos: Ø Emite-se uma obrigação sem juros com a qual se pode comprar aplicações com retorno Ø Para mercado internacional necessário emitir quantidade que de a liquidez necessária ao sistema ao mesmo tempo que espera-se que ela tenha um valor estável Problema (1) como convencer usuários que sua moeda possui valor estável – problema da confiança Problema (2) até onde ganhos de confiança implicam em perda de liquidez
Do desequilíbrio benéfico à superabundância: o exorbitante privilégio EUA anos 60: déficit BP (e tb deficit publico) financiado com expansão monetária Guerra do Vietnã amplia problemas Desconfiança em relação a dólares Questão De Gaulle: posição do dólar no centro do sistema: exorbitante privilégio Até onde valor seria mantido (conversibilidade garantida) Banque de France (De Gaulle) não disposto a financiar déficits americanos e manter reservas em dólar Compra de ouro no mercado (transformação das reservas francesas em ouro) o Ataque especulativo contra o dólar Criação dos DES – outros instrumentos de liquidez internacional que não o dólar Moeda entre BC e FMI: ideia keynesiana (limitado) Uma das explicações para o rompimento do sistema em
Fluxos de Capital Controles dos fluxos de capital e tb fluxos associados a conta corrente Próprio sistema financeiro (interno) fortes limitações (vem da década de 30) Financiamento privado internacional pequeno – bancos Empréstimos do Banco Mundial/Eximbank Crescimento do financiamento internacional Investimentos das multinacionais e corrida dos bancos atrás das empresas Liberalização de regras internas e controles Inicialmente diminuição dos Controles de Conta Corrente Depois Conta de Capital Mercado de Eurodólares (final dos anos 50) 18
Mobilidade do Capital na História Moderna – modelo estilizado Padrão-ouro 1880 -1914 Câmbio fixo 1900 Alta 2000 • 1914 • • Câmbio flutuante 1971 -2000 1929 • Baixa • • 1880 1860 1918 • • Bretton Woods 1945 -1971 • 1980 • • 1960 1925 Entre guerras, 1914 -1945 • 1971 1945 1860 19 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 Fonte: “Globalization and Capital Markets”. Maurice Obstfeld e Alan M. Taylor. NBER Conference Paper, May 4 -5, 2001, p. 6.
Proporção de número de países com crises bancárias (1900 -2008) Metodologia: 66 países pesquisados de alta, média e baixa renda Entre-guerras Bretton-Woods Padrãoouro A grande depressão Sistema atual Primeira crise global do século XXI Mercado emergentes, Japão e Países Nórdicos e USA 1ª guerra mundial Pânico de 1907 20 Adaptado de Michael D. Bordo. Victoria University of Wellington - July 16, 2009 in Reinhardt e Rogoff (Oito Séculos de Delírios Financeiros. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2010)
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