ANTUNES Antnio Antunes Comunicao pblico e multido em
• ANTUNES, António Antunes. Comunicação, público e multidão em Gabriel Tarde. Disponível no portal: www. bocc. ubi. pt
• O autor pretende discutir a obra do sociólogo Gabriel Tarde (1843 -1904), a partir do papel do indivíduo na comunicação de massa. • Tarde é autor dos livros “L’opinion et la conversation” (1899) e “Le public et la foule” (1901). • Dá grande importância à autonomia do indivíduo na comunicação.
• Atribuiu um papel de destaque à conversação na formação da opinião pública. • Sua obra vem sendo retomada por autores valorizam a recepção.
• O ensaio expõe as principais ideias de Tarde. Num primeiro momento, Antunes mostra que Tarde faz uma separação entre público e multidão: • “O público é um espaço de coesão mental entre indivíduos fisicamente separados. Na multidão existe a valorização da comunicação recíproca, logo a ação do líder inspirador aparece sempre contrabalançada pelos outros indivíduos. A multidão é um espaço de coesão perante interesses materiais, étnicos e de nacionalidade entre indivíduos fisicamente unidos” (p. 2).
• Na introdução, Antunes afirma que, para Tarde, a comunicação ocorre em momentos “interpsicológicos”: • 1) a comunicação unilateral, através da invenção; • 2) a comunicação recíproca, através da imitação. • Essa teoria se origina na concepção de Tarde, para quem “a sociedade é um fato social de imitação na qual apenas existem os indivíduos (esfera psicológica) e as interações entre os indivíduos (esfera intermental ou social)” (p. 3).
• Tarde contraria a posição de Gustave Le Bon, autor da psicologia das multidões. Segundo Tarde, vive-se a era dos públicos, e não das multidões. • O autor faz a história da formação do público. • A palavra “público” nasceu na Antiguidade, e significava “acessibilidade”. “O público designava o acesso comum de vários indivíduos a um mesmo lugar - o lugar ou espaço público” (p. 4). • “No segundo sentido, predomina a ideia de bem comum ou interesse comum. Público referia-se a questões de interesse geral e, concretamente, a matérias relacionadas com a Administração e o Estado” (p. 4).
• “No século XVII e mais tarde no século XVIII com o Iluminismo, o termo público significava a existência de um espaço de discussão crítica operado nos salões, cafés, clubes e na imprensa” (p. 5). • As primeiras tentativas de se estudar o público aconteceram no final do século XIX e início do XX. • Na imprensa, esses fatores foram discutidos, mas com o objetivo de controlar os públicos. Os estudos de Tarde se interessaram por focalizar as relações entre o público e a imprensa.
• Herbert Blummer propõe que “o termo público se utilize para se referir a um grupo de gente que • a) está confrontado por um assunto, • b) se encontra dividido na sua ideia de como perspectivar o assunto, e • c) aborda a discussão desse assunto" (p. 6). • Com o aparecimento dos métodos quantitativos de pesquisa de opinião, com a Mass Communication Research e a Public Opinion Research, • “o público passou a designar, simultaneamente, um meio de discussão crítica, mas também e sobretudo um somatório de opiniões individuais mensurável através de inquéritos, sondagens e audiências” (p. 6)
• Na visão de Vincent Price: • "A concepção sociológica do público contempla este como uma coletividade imprecisamente organizada que surge do decurso da discussão em torno a uma questão. Em contraste com a massa, que se baseia unicamente numa atenção comum face a algum assunto e que está formada por respostas idiossincráticas formadas longe de qualquer debate ou discussão, o público distingue-se por uma resolução de algum problema por meio de argumentos e réplicas (p. 7).
• Para Tarde, o público é uma evolução da multidão. • Segundo ele, uma pessoa pode pertencer a vários públicos diferentes. • Segundo Tarde, antes do século XVI não se pode falar de público. O conceito de público nasce com o surgimento da imprensa tipográfica. “Mas o público surgiu com maior notoriedade nos século XVII e XVIII” (p. 9). • A grande mudança ocorre com a Revolução Francesa, em que as discussões passam dos salões, cafés e clubes para as ruas. • Nos séculos XIX e início do XX, a imprensa aumenta o universo dos públicos e dos publicistas, devido à expansão da imprensa tipográfica, do telégrafo e das ferrovias.
• Para Tarde, há dois tipos de público nos jornais: 1) o público fechado (jornais tradicionais) e 2) flutuantes (jornais populares). • “O público estável é mais difícil de manipular pelos jornalistas. É um público que partilha uma coesão mental mais acentuada por valores tradicionais e está interessado, sobretudo, na informação factual. O público flutuante é mais fácil de manipular pelos jornalistas e publicistas. É um público interessado na emoção” (p. 10).
• Segundo Tarde, o público é o espaço para a manifestação da esfera privada e da comunicação unilateral. Isso, na verdade, facilita a formação da opinião: • “Tarde acredita que os líderes da opinião, e especialmente os jornalistas, têm grande influência sobre o público. Após os indivíduos escolherem um dado jornal e após os jornais descobrirem os gostos dos seus leitores, existe uma acomodação mútua, que permite aos jornalistas manipular o seu público de leitores” (p. 11).
• Para Tarde, o público se estabelece pela necessidade de interação. • Depois de estabelecido o laço com o público, ocorre a comunicação mútua e a sociabilidade. A opinião pública é resultado da comunicação recíproca da público, de “consciência a consciência”, “desligadas do instinto físico próprio da multidão” (12). • Antunes se pergunta em que medida o indivíduo tem liberdade dentro do público. • Confirme Tarde, as pessoas expressam sua individualidade, mas dentro de uma sociedade.
• Tarde compara o efeito sobre a multidão com a hipnose: • • “No âmbito da psicanálise, Tarde defende que existe um estádio de hipnose e sugestão nas multidões: ‘Uma multidão de homens reunidos é muito mais crédula do que cada um deles em separado; porque o fato de ter apenas a sua atenção concentrada sobre um único objeto, numa espécie de monoideísmo coletivo, acerca-os ao estado de sonho ou hipnose, onde o campo da consciência, singularmente reduzido, é invadido por inteiro pela primeira ideia que se lhes ofereça“ (16). • “O monoideísmo coletivo prova que a influência recíproca dos indivíduos na multidão é orientada a partir de respostas emocionais desligadas da argumentação racional. A consciência individual é submetida a uma de hipnose coletiva que resulta da convergência recíproca perante interesses naturais, étnicos e nacionais” (16). [Exemplos: nazismo, violência no futebol].
• Para Tarde, o público também pode ser mau e cometer crimes, mas estes são menos violentos que os cometidos pela multidão”. • Para Tarde, a democracia deve levar em consideração o indivíduo, para não ser uma democracia massificadora.
• Conclusão: • “O público constitui, simultaneamente, um espaço de afirmação da individualidade crítica e uma coletividade de representação linguística intersubjetivamente fundada, pressupondo uma dupla técnica: a afirmação da singularidade racional e a partilha de informações e o opiniões comuns. A multidão consiste numa coletividade amorfa e receptivamente passiva dominada por representações espetacularizadas, através de uma técnica: a instrumentalização exercida por um dado líder. A massa é o momento supremo da alienação do indivíduo, o qual nega o criticismo individual (razão egocêntrica) e coletivo (razão intersubjectivamente fundada), em favor de uma técnica: a adesão às representações linguísticas dominadas pelo espetáculo midiático” (28).
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